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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Música litúrgica e o encontro pessoal com Cristo

Música litúrgica (Presbíteros)

Música litúrgica e o encontro pessoal com Cristo

16 de outubro de 2024

Não há muito tempo a música era considerada, nos documentos magisteriais, apenas como um elemento potenciador da piedade dos fiéis. Neste momento, ensina-se que ela faz parte integrante e necessária da liturgia solene. Ou seja, ela é também, por fazer parte da Liturgia, epifania do Mistério celebrado. Como evoluiu até nós esta visão tendo em conta os documentos do magistério?

Como se sabe o movimento litúrgico e outros fatores levaram a uma evolução na conceção da Liturgia, a considera-la mais do que simples ritualidade, atribuindo-lhe uma dimensão teológica. Antes do Vaticano II os sacramentos eram considerados apenas como instrumentos da graça. Ou seja, o importante eram os elementos para a validez dos mesmos. O resto era apenas cerimónia litúrgica e tinha o objetivo de suscitar a devoção dos fiéis.

No motu próprio de Pio X, «Tra le solicitudine », logo no primeiro ponto ainda se diz: «A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis.» Ao ler estas palavras, poder-se-ia pensar que se estava a abrir lugar para afirmar a sacramentalidade da música sacra pois, na medida em que ela participa do fim da própria liturgia, poderia, portanto, contribuir para manifestar o Mistério de Cristo. [2]  Porém, veja-se como prossegue o mesmo ponto:

«A música concorre para aumentar o decoro e esplendor das sagradas cerimônias; e, assim como o seu ofício principal é revestir de adequadas melodias o texto litúrgico proposto à consideração dos fiéis, assim o seu fim próprio é acrescentar mais eficácia ao mesmo texto, a fim de que por tal meio se excitem mais facilmente os fiéis à piedade e se preparem melhor para receber os frutos da graça, próprios da celebração dos sagrados mistérios.»

Ou seja, mais do que epifania de salvação ou do Mistério Pascal, a música tem um «ofício»: dispor os fiéis para receber a graça de Deus.

Na mesma linha segue Pio XI, na Bula Divini Cultus, de 20 de dezembro de 1928:

«É, portanto, muito importante que tudo o que é destinado à beleza da liturgia seja regulado por leis e prescrições da Igreja, de modo que as artes sirvam verdadeiramente, como é mister, quais nobres servas do culto divino[3]

E este carácter de nobre serva irá permanecer ainda em 1947, pois, Pio XII, na Mediator Dei, apresenta o gregoriano como uma música que contribui para aumentar a fé e a piedade dos presentes. Nessa linha continua Pio XII em 1955 na encíclica Musicae sacrae disciplina ao afirmar que a música sacra:

«Ocupa lugar de primeira importância no próprio desenvolvimento das cerimônias e dos ritos sagrados. Por isso, deve a Igreja, com toda diligência; providenciar para remover da música sacra, justamente por ser esta a serva da sagrada liturgia, tudo o que destoa do culto divino ou impede os féis de elevarem sua mente a Deus[4]

A perspectiva no pré-concilio é a de que a música, mais do que lugar de experiência do Mistério, dispõe para isso, excitando a devoção dos fiéis.

Com a Sacrosanctum Concilium dá-se uma mudança profunda:

«A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene.»[5]

Estas últimas palavras são chave e, no contexto dos pontos 5 a 7 da mesma constituição, em que se dá o passo da tal visão da liturgia como mera ritualidade para lugar de experiência pessoal do Mistério de Cristo, elas irão adquirir especial força.

Porém, o ponto 112 continua logo a seguir sublinhando «a função ministerial da música sacra no culto divino». Elena Massimi[6] afirma mesmo, depois de estudar o iter redacional da constituição conciliar, que este ponto talvez não tivesse a intenção de afirmar que a música litúrgica é, efetivamente, epifania do Mistério como tem sido citado. Admite que este ponto foi lido depois em ligação com os pontos iniciais da SC, mas considera que os padres conciliares não estariam ainda firmes nesta visão e que, por isso, SC vai ser um documento de transição para uma visão mais profunda e teológica da liturgia e, dentro desta, da música sacra.

Com a carta apostólica Desiderio Desideravi do Papa Francisco apresenta-se uma visão da liturgia que permite olhar para a música litúrgica vendo-a como potenciadora desse encontro pessoal com o Mistério de Cristo. Este carácter epifânico pode ser deduzido de pontos como os seguintes:

«A encarnação para além de ser o único acontecimento novo que a história conhece, é também o método que a Santíssima Trindade escolheu para nos abrir a via da comunhão. A fé cristã ou é encontro com Ele vivo, ou não é.[7]

«A Liturgia garante-nos a possibilidade desse encontro. Não nos basta ter uma vaga recordação da última Ceia: nós precisamos de estar presentes nessa Ceia, de poder ouvir a sua voz, de comer o seu Corpo e beber o seu Sangue: precisamos d’Ele. Na Eucaristia e em todos os sacramentos é-nos garantida a possibilidade de encontrar o Senhor Jesus e de ser alcançados pela potência da sua Páscoa.»[8]

Mas, este encontro como se dá?

« Esta implicação existencial acontece – em continuidade e coerência com o método da encarnação – por via sacramental. A Liturgia é feita de coisas que são exatamente o oposto de abstrações espirituais: pão, vinho, azeite, água, perfume, fogo, cinzas, pedra, tecido, cores, corpo, palavras, sons, silêncios, gestos, espaço, movimento, ação, ordem, tempo, luz.»[9]

Olhemos, então, para os sons. Eles ajudam a exprimir o Mistério, a tocá-lo, a entrar em contacto com ele.

«A Liturgia não nos deixa sós na busca individual de um suposto conhecimento do mistério de Deus, mas toma-nos pela mão, juntos, como assembleia, para nos conduzir para dentro do mistério que a Palavra e os sinais sacramentais nos revelam. E fá-lo, em coerência com o agir de Deus, seguindo a via da encarnação, através da linguagem simbólica do corpo que se prolonga nas coisas, no espaço e no tempo.»[10]

A liturgia, com tudo o que a integra, torna presente o Mistério Pascal e permite-nos vivenciá-lo. E a música é, sem dúvida, um elemento de especial importância.[11] Assim o expressam Gianni Cavagnoli e Elena Massimi no editorial da revista litúrgica dedicada aos sons da liturgia:

«Na liturgia não nos limitamos a cantar, ou a escutar melodias; na liturgia somos imersos num verdadeiro e próprio ambiente sonoro: o som dos passos, da água derramada, o tinir do turíbulo, o fruir do ar nos tubos do órgão… Todo o universo sonoro que se cria contribui para imergir o fiel na celebração, no mistério. E numa liturgia entendida em geral como rito, mesmo aquilo que é aparentemente secundário, torna-se epifania do mistério».[12]

Pedro Boléo Tomé


[1] Artigo inspirado em MASSIMI, E., La musica nella liturgia: epifania del Mistero. Riflessioni alla lucce del “magistero recente”.

[2] Assinalamos que não será qualquer música que poderá adquirir essa qualidade.

[3] «È dunque molto importante che tutto ciò che è destinato alla bellezza della liturgia sia regolato da leggi e prescrizioni della Chiesa, in modo che le arti servano veramente, come è doveroso, quali nobili ancelle al culto divino»

[4] Pio XII, Musica sacra e sacra liturgia n. 13

[5] SC 112

[6] MASSIMI, E., La musica nella liturgia: epifania del Mistero. Riflessioni alla lucce del “magistero recente”

[7] DD 10

[8] DD 11

[9] DD 42

[10] DD 19

[11] A Igreja não deixa de cantar aos domingos, festas e solenidades porque sabe que, sem a música, realidades como a alegria da Ressurreição, a união com a liturgia celeste, a transformação do cosmos num canto de louvor à Trindade, etc., seriam facilmente reduzidas a “ideias” ou “conteúdos mentais”, quando na realidade se trata de realidades sobrenaturais, chamadas a implicar toda a pessoa, tanto na sua corporalidade, como na sua dimensão espiritual. Isto é, a Igreja quer que os seus filhos cantem a ação litúrgica não por capricho ou extravagância, mas porque há aspetos do mistério de Deus que foram confiados ordinariamente à mediação da experiência musical: REGO, J., Apontamentos de uma conferência para sacerdotes dada em Roma (16:XII.2023)

[12] CAVAGNOLI. G. e MASSIMI, E., Una liturgia di suoni, RIVISTA LITURGICA trimestrale per la formazione liturgica, Quinta serie, anno CX, fascicolo 4, ottobre–dicembre 2023.

fonte: Celebração Litúrgica

https://presbiteros.org.br/musica-liturgica-e-o-encontro-pessoal-com-cristo1/

São Josafá

São Josafá (A12)
12 de novembro
Localização: Ucrânia
São Josafá

João Kuncewycz nasceu de família cristã ortodoxa da Ucrânia, em 1580. Estudou filosofia e teologia. Aos 20 anos tornou-se monge na Ordem de São Basílio, recebendo o nome de Josafá, e em pouco tempo era nomeado superior do convento. Possuía enorme capacidade intelectual e vivência da caridade cristã.

Além disso, São Josafá era um monge exemplar no seguimento das regras monásticas. Com apenas 37 anos assumiu o arcebispado de Polotsk, e dedicou-se imediatamente à formação do clero e à catequização dos fiéis (o que ainda hoje é urgentemente necessário).

 Na sua época, sentia-se já o grave problema da divisão das igrejas ortodoxas orientais, que haviam se separado de Roma por volta do ano 1000, não reconhecendo a autoridade do Papa. Josafá muito trabalhou para a reconciliação, ao longo da sua vida. Em 1596, o sínodo de Brest reuniu os rutenos com Roma, mas este exemplo não foi seguido por outras igrejas orientais, que se sentiram traídas, tendo os cismáticos passado a perseguir os católicos.

Por causa do seu zelo na reunificação, São Josafá foi caluniado e teve que enfrentar muitos contratempos, acabando por se tornar vítima de martírio: numa visita pastoral, a 12 de novembro de 1623, sua comitiva foi atacada e muitos dela covardemente assassinados, matança à qual o santo bispo se opôs perguntando aos agressores: “Meus filhos, por que matais os meus familiares? Se procurais a mim, aqui estou!”.

Logo o maltrataram horrivelmente e o mataram. Porém, quase todos os seus assassinos, depois processados e condenados, abjuraram o cisma e se converteram, um fruto da caridade de Deus e, certamente, da firmeza exemplar de São Josafá.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O desejo de Cristo de formar um único rebanho, sob a autoridade de um único pastor, na unidade de uma única Igreja é algo que não pode ser negligenciado. A separação dos católicos (“diabo” significa dividir) é um mal para a Igreja e o mundo. São Josafá lutou contra o Cisma, a ponto de doar a própria vida, e por isso é reconhecido como precursor do Ecumenismo (movimento que busca a boa convivência entre os diferentes cristãos e, mais essencialmente, a reunificação dos diversos cismáticos com a Igreja Católica). Porém, de forma alguma a Verdade pode ser “adaptada” em nome de uma união baseada em mero consenso de conveniências e interesses; isto seria uma união de oposição a Deus! O correto senso ecumênico está centrado no reconhecimento da única Igreja diretamente fundada por Cristo, por meio dos Apóstolos chefiados por São Pedro, assistida perenemente pelo Espírito Santo e tendo por legítima Mãe a Virgem Maria – a Igreja Católica (= universal, para todos os seres humanos, filhos de Deus), Apostólica (confiada diretamente aos Apóstolos por Jesus mesmo), Romana (referência ao local da morte – entrada na vida celeste – de São Pedro, chefe inequívoco dos Apóstolos, nas palavras de Cristo: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja […] Eu te darei as chaves do reino dos céus […]” (cf. Mt 16, 15-19); e “Apascenta as Minhas ovehas.” (cf. Jo 21, 17); ora, quem apascenta as ovelhas é o pastor, que tem sobre elas autoridade…).

Oração:

Deus Eterno e Todo-Poderoso, que a Vossos pastores associastes São Josafá, a quem destes a graça de lutar pela justiça até a morte, concedei-nos, por sua intercessão, suportar por Vosso amor as adversidades, sem jamais abrir mão da Verdade, e correr ao encontro de Vós, que sois a nossa vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Origem das Fake News

Árvore do Conhecimento (YouTube)

ORIGEM DAS FAKE NEWS

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

A difusão global da língua inglesa introduziu a expressão “fake news” no vocabulário dos povos ao redor da terra. É o novo nome para a velha “mentira”, a qual é uma bola de neve, quanto mais rola, tanto mais aumenta. Algo bem ao gosto de nossa época que julga a mentira tanto melhor, quanto mais verdadeira aparece. 

Fake news, se olharmos no dicionário equivale a nossos conceitos de falso, engano, fraude, falsificação, todos estes conceitos tem como pano de fundo a mentira. Reparemos que a notícia falsa que passa por verdade tem de fato, um famoso fundador: a serpente que tenta Adão e Eva no jardim do Paraíso (cf. Gn 3,1-7). A serpente é o diabo, “o pai da mentira (Jo 8,4). 

A sedução teve lugar à sombra de uma árvore que é um símbolo, mais que uma espécie botânica: a árvore do “bem e do mal”, ou seja os dois polos extremos, dentro dos quais situa-se a lei moral, aquilo que é bom ou mal para o ser humano. É a “arvore do conhecimento”! 

Esta árvore pertence a Deus e é Ele, nosso criador que nos dá estes valores para serem vividos para nosso bem. Os valores morais nos precedem e nos superam, são mandamentos de Deus. Caminho para a felicidade. O ser humano, ao violar a lei de Deus, se coloca no lugar de Deus, rejeitando seu Criador e tomando seu lugar.  

O problema não é querer ser semelhante a Deus, isto o somos por criação, o problema é querer ser semelhante a Deus rejeitando o próprio Deus. Deus que é verdade, ao rejeitar Deus, opta-se pelo caminho da mentira e da falsidade. Simplesmente porque o homem é de natureza humana e não de natureza divina. É criatura. 

Na recusa de aceitar os mandamentos da Lei de Deus, o ser humano é impulsionado pelas “fake news”, propostas pela serpente. A serpente sussurra aos ouvidos de Eva que Deus tem inveja do ser humano. Ele não deseja seu crescimento no conhecimento e na liberdade. Portanto, o ser humano é que deve decidir tudo por si mesmo, sem precisar de Deus para nada. É o ateísmo pratico, celebrado por nossa cultura, cada vez mais com o nome de secularismo. 

A serpente esconde de Eva que esta atitude é um ato de rebelião, que tem como consequência o “pecado original”, ou seja, a desorganização do mundo maravilhoso como Deus o criou. O mundo governado pelo homem sem Deus se torna terra de catástrofes: a terra ao invés de ser cultivada como um jardim, é explorada como  uma mina de carvão, em todas as suas dimensões. O ser humano põe fogo na casa…Não é o que vivemos? 

A falsidade prolifera e se propaga hoje em dia como verdade objetiva e convincente, mas na realidade, faz mal e tem consequências devastadoras. Os mentirosos estão na origem de todos os crimes que assolam a terra, dizia Plutarco, sábio da Grécia antiga. Há pessoas que mentem pelo prazer de mentir, porque a mentira se torna também um vício. Assim temos hoje uma comunicação doente com a doença da “fake news”, que é a mentira com aparência de verdade. O mentiroso quer sempre ter razão, apesar dos desmentidos que evidenciam a mentira. É o que vemos nas redes sociais todo dia. 

Porém, a consciência humana só encontra repouso na verdade. Quem mente, ainda que não seja descoberto, tem em si próprio a punição: a degradação de sua consciência nesta vida. E na eternidade: “o lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte”(Apocalipse 21,8). 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Onde andam os corações? – breve síntese da “Dilexit nos”

Papa Francisco durante a Viagem Apostólica ao Timor Leste - foto Lusofonias  (Tony Neves, Espiritanos em Roma)

O Papa Francisco acaba de nos surpreender, em plena Assembleia Sinodal (24.10), com a publicação da sua quarta encíclica: ‘Amou-nos!’. O tema é absolutamente inesperado: o Coração de Jesus, sugerindo a evolução de uma devoção tradicional para uma espiritualidade moderna.

P. Tony Neves, em Roma

Eu já li, já sublinhei e expliquei à Vaticanews o que acho que o Papa Francisco quer. Penso que o seu objetivo maior é que os cristãos olhem para Cristo, como o grande ‘cardiologista’ que tem um grande coração, mas que, sobretudo, tem uma grande capacidade de tratar corações. O que eu acho interessante neste documento, é que é estudado, de uma forma muito profunda e radical, o mundo que, em muitos aspetos e momentos, parece ter perdido o seu coração, porque se notam muitos problemas ‘cardíacos’ na humanidade hoje: muita injustiça, muita fome, muita violência, muita guerra, muita desigualdade, também muito afastamento de Deus, que é o ‘cardiologista’ por excelência.

E esses valores - segundo o Papa, segundo esta encíclica -  resultam de alguma incapacidade que as pessoas têm demonstrado em olhar para Deus como a fonte do amor e, por isso, o ‘Amou-nos!’ remete para o essencial da vida, para o essencial da humanidade, para o essencial da Igreja: a urgência de amar, pois  Cristo disse: ‘como o Pai me amou, Eu também vos amei e vocês serão meus amigos se vos amardes uns aos outros como irmãos’. Quer dizer, no fundo no fundo, é esta a mensagem para um mundo que tem problemas ‘cardíacos’, ou seja, tem alguma dificuldade de amar: a solução está na fonte, o Coração de Jesus e, por isso, é necessário olhar para este coração trespassado, para este Deus que se oferece, que se dá pela vida dos outros e torna-se urgente aumentar os índices de amor na humanidade.

Podemos dizer que esta encíclica é a chave de interpretação deste pontificado. Li também diversos comentários nesse sentido e concordo. Esta encíclica acaba por resumir as grandes linhas do pensamento do Papa Francisco: a misericórdia, a ternura, a escuta dos outros, a atenção a quem é pequenino, o ter muito cuidado com a falta de humanidade em atitudes, em decisões políticas, em decisões económicas, em partilhas sociais. Eu creio que isso tudo está muito presente na encíclica e, sobretudo, há propostas… porque o que eu acho de bom neste Papa Francisco, seguindo a tradição da Igreja, é que ele não passa a vida a deitar abaixo, a denunciar. Nós denunciamos o que é de denunciar, mas sobretudo nós anunciamos, propomos, lançamos reflexões que abrem caminhos de felicidade, de mais humanidade, de Salvação…  dizemos nós, em linguagem mais cristã –  assim concluí a minha reflexão partilhada na Rádio Vaticano.

P. Tony Neves nos estúdios da Rádio Vaticano (Vatican Media)

Volto ao texto da encíclica para destacar algumas frases que mais me marcam: ‘É necessário que todas as ações sejam colocadas sob o “controle político” do coração’ (13); ‘É aí, nesse Coração, que finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar’ (30); ‘O resultado é negativo quando vivemos, muitas vezes, um cristianismo que esqueceu a ternura da fé, a alegria do serviço, o fervor da missão pessoa-a-pessoa, a cativante beleza de Cristo, a gratidão emocionante pela amizade que Ele oferece e pelo sentido último que dá à vida (80);  É por isso que a oração mais popular, dirigida como um dardo ao Coração de Cristo, diz simplesmente: ‘Eu confio em Vós’. Não são necessárias mais palavras’ (90); ‘Mas sempre vencerá a misericórdia, que alcançará a sua expressão máxima em Cristo, palavra definitiva de amor’ (100); ‘S. Teresinha, quando tinha quinze anos, encontrou uma maneira de resumir a sua relação com Jesus: ‘Aquele cujo coração batia em uníssono com o meu’ (134); ‘Os Santuários consagrados ao Coração de Cristo, espalhados por todo o mundo, são uma atraente fonte de espiritualidade e fervor’(149); ‘Reconhecer que diante d’Ele sempre estamos em débito, nunca em crédito’ (159); ‘Isto convida-nos agora a procurar aprofundar a dimensão comunitária, social e missionária de toda a autêntica devoção ao Coração de Cristo.

Com efeito, o Coração de Cristo, ao mesmo tempo que nos conduz ao Pai, envia-nos aos irmãos. Nos frutos de serviço, fraternidade e missão que o Coração de Cristo produz através de nós, cumpre-se a vontade do Pai’(163); ‘É preciso voltar à Palavra de Deus para reconhecer que a melhor resposta ao amor do seu Coração é o amor aos irmãos’ (167); ‘S. João Paulo II dizia também que ‘para construir a civilização do amor’, a humanidade de hoje precisa do Coração de Cristo. Precisa da vida, do fogo e da luz que vêm do Coração de Cristo’(184).

E conclui o Papa Francisco: ‘O que está expresso neste documento permite-nos descobrir que o que está escrito nas encíclicas sociais Laudato si’ Fratelli tutti não é alheio ao nosso encontro com o amor de Jesus Cristo, pois bebendo desse amor tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum’ (217).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

São Martinho de Tours

São Mrtinho de Tours (A12)
11 de novembro
País: Hungrua
São Martinho de Tours

Martinho nasceu na Hungria por volta do ano 316 e pertencia a uma família pagã. Seu pai era comandante do exército romano. Por curiosidade começou a frequentar uma igreja cristã. Para evitar a conversão do filho, o pai o alistou no exército, mas foi inútil. Martinho já tinha sido escolhido por Jesus para tornar-se um homem santo.

Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio do manto. Diz a história que diante de um mendigo que passava frio, Martinho se comoveu e repartiu com ele seu manto. Na mesma noite, Martinho teve um sonho no qual Jesus apareceu a ele vestido com o manto doado. Foi o sinal para a conversão do jovem.

Fez-se batizar e com 22 anos tornou-se monge e discípulo de Santo Hilário, que o ordenou diácono e lhe cedeu um terreno para a construção de um mosteiro, o primeiro edificado na França, em Poitiers. Em breve, este ficou cheio de jovens candidatos à vida monástica. Martinho, de acordo com Santo Hilário, permitia aos seus monges a ordenação sacerdotal, prática desconhecida no monaquismo do Oriente. Visitando as pessoas dos meios rurais, chamados de pagos (e daí o termo “pagãos”), Martinho e seus monges convertiam inúmeros habitantes e construíam igrejas; no caso de resistências, fundava um mosteiro, que pela irradiação da vida cristã obtinham, em tempo, as conversões (a irradiação dos mosteiros beneditinos, a partir de São Bento, tinha a mesma característica de estabilizar, pela santidade e exemplo, a conversão de muitas regiões da Europa). Tal obra foi acompanhada de muitos sinais e milagres.

Quando ficou vaga a diocese de Tours, em 371, o povo o aclamou para ser Bispo. Martinho aceitou, apesar de resistir no início. Visitava todas as paróquias, zelava pelo culto e continuou o trabalho de conversão dos pagãos, exercendo sempre exemplar caridade. Modelo de mansidão e humildade, os frutos do seu zelo espalharam-se por toda a França. Após 25 anos de bispado, faleceu em 8 de novembro de 397; sua festa foi colocada no dia 11, o do seu sepultamento, um evento excepcional, com a presença de mais de 2.000 monges e enorme multidão em prantos.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Martinho despertou para a fé quando ainda menino e depois, mesmo soldado da cavalaria do exército romano, jamais abandonou os ensinamentos de Cristo. A sua vida foi uma verdadeira luta em favor do cristianismo. Existem 4.000 igrejas dedicadas a ele na França, e o seu nome é dado a milhares de localidades, povoados e vilas. "Senhor, se o Vosso povo precisa de mim, não vou fugir do trabalho. Seja feita a Vossa vontade" dizia Martinho, enfermo, aos 81 anos de idade. Como São Paulo, “combateu o bom combate”, da caridade, zelo apostólico e humildade, os termos comuns para a vida e ação de qualquer católico, cada qual no seu campo particular.

Oração:

Ó Deus, que aos Vossos pastores associastes São Martinho de Tours, animado de ardente caridade e da fé que vence o mundo, dai-nos, por sua intercessão, perseverar na caridade e na fé, para participarmos de sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

O Papa aos siro-malankar: sinodalidade e ecumenismo são inseparáveis

O Papa na audiência com os membros do Santo Sínodo da Igreja Siro-Malankar Mar Thoma  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Francisco recebeu pela primeira vez, no Vaticano, o Santo Sínodo da Igreja herdeira das tradições siríacas dos cristãos de São Tomé e da reformada: "Devemos caminhar juntos, rezar juntos e trabalhar juntos". "Espero que um dia se possa celebrar um Sínodo ecumênico sobre a evangelização, todos juntos", disse o Papa.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, nesta segunda-feira (11/11), os membros do Santo Sínodo da Igreja Siro-Malankar Mar Thoma que visita a Igreja de Roma pela primeira vez.

"Este é certamente um dia de alegria na longa história das nossas Igrejas", disse Francisco no início de seu discurso. A seguir, Francisco deu as boas-vindas aos membros do Santo Sínodo, pedindo-lhes para que transmitam seus melhores votos de boa saúde ao seu Metropolita, Sua Beatitude Theodosius Mar Thoma, estendendo também sua saudação a todos os fiéis.

Vocação ecumênica

"A sua Igreja, herdeira tanto da tradição siríaca dos cristãos de São Tomé quanto da tradição reformada, se define justamente como uma “Igreja ponte” entre o Oriente e Ocidente", disse o Papa, ressaltando que "a Igreja Mar Thoma tem uma vocação ecumênica, e não é por acaso que se envolveu desde cedo no movimento ecumênico, estabelecendo muitos e vários contatos bilaterais com cristãos de diferentes tradições". O Pontífice lembrou que "os primeiros encontros com a Igreja de Roma foram retomados na época do Concílio Vaticano II, no qual Sua Graça Philipose Mar Chrysostom participou como observador. "É a abordagem dos pequenos passos que são dados", acrescentou o Papa.

Nos últimos anos, a Providência permitiu o desenvolvimento de novas relações entre as nossas Igrejas. Lembro-me em particular de quando em novembro de 2022 tive a alegria de recebê-lo, caro Metropolita Barnabé. Estes nossos contatos levaram ao início de um diálogo oficial: o primeiro encontro realizou-se em dezembro passado, em Kerala, e o próximo se realizará dentro de algumas semanas.

“Alegro-me com o início deste diálogo, que confio ao Espírito Santo e que espero que apresse o dia em que poderemos partilhar a mesma Eucaristia, cumprindo a profecia do Senhor: "Muitos virão do Oriente e do Ocidente, e sentarão à mesa”.”

Neste caminho de diálogo, o Papa destacou duas perspectivas: sinodalidade e missão.

Com relação à sinodalidade, Francisco ressaltou o fato de a Igreja Siro-Malankar Mar Thoma "fazer esta visita como Santo Sínodo", pois ela "é, por tradição, essencialmente sinodal". "Como vocês sabem, há poucos dias a Igreja Católica concluiu um Sínodo sobre a sinodalidade, no qual participaram também delegados fraternos de outras tradições cristãs que enriqueceram as nossas reflexões", ressaltou o Papa. "Uma das convicções expressas foi a de que a sinodalidade é inseparável do ecumenismo, porque ambos se baseiam no único Batismo que recebemos, no sensus fidei em que todos os cristãos participam em virtude do próprio Batismo", sublinhou.

Caminho de sinodalidade ecumênica

Segundo o Papa, o Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade "afirma que não devemos apenas «prestar mais atenção às práticas sinodais dos nossos parceiros ecumênicos, tanto no Oriente quanto no Ocidente», mas também «imaginar práticas sinodais ecumênicas, incluindo formas de consulta e discernimento sobre questões de interesse comum e urgente»".

“Tenho certeza de que sua Igreja pode nos ajudar neste caminho de sinodalidade ecumênica.”

Lembro-me do que o grande Zizioulas disse sobre a unidade cristã. Era um grande homem, aquele homem; homem de Deus. Ele disse: “Conheço bem a data do encontro total, da união total entre as Igrejas”. Qual é a data? “No dia seguinte ao Juízo Final”, disse Zizioulas, “mas, enquanto isso, devemos caminhar juntos, rezar juntos e trabalhar juntos”. Todos juntos. Todos juntos.

Um Sínodo ecumênico sobre a evangelização

A seguir, o Papa passou à segunda perspectiva: a missão. "A sinodalidade e o ecumenismo são inseparáveis também porque ambos têm como objetivo um melhor testemunho dos cristãos. No entanto, a missão não é apenas o fim do caminho ecumênico, é também o meio", sublinhou.

“Estou convencido de que trabalhar juntos para testemunhar o Cristo Ressuscitado é a melhor maneira de nos aproximar. É por isso que, como propôs o nosso recente Sínodo, espero que um dia se possa celebrar um Sínodo ecumênico sobre a evangelização, todos juntos.”

E esse Sínodo será para garantir, rezar, refletir e comprometer-se juntos por um melhor testemunho cristão, “para que o mundo creia”.

"Também neste caso", concluiu o Papa, "estou certo de que a Igreja Mar Thoma, que traz em si essa dimensão missionária, pode oferecer muito. Mas, todos juntos".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 10 de novembro de 2024

5 maneiras de cuidar da alma e do corpo à maneira católica

Catarina Trimarchi | Obturador

Bogna Białecka - publicado em 11/10/24

Como cuidar da alma e do corpo segundo os valores de um católico, aliando a oração ao cuidado diário?

Os católicos podem e devem cuidar de si mesmos? Curiosamente, a pesquisa mostra que o ascetismo (negar as coisas que dão prazer e oferecê-las) e os sacrifícios são bons para o corpo e a psique, não apenas para a alma. Então, talvez um católico ainda deva estar mortificado?

1 - Comece o seu dia com oração

Nada organiza melhor o seu dia do que alguns momentos de oração assim que você acorda. A oração da manhã é um momento de agradecer a Deus pela vida, por mais um dia que temos a oportunidade de viver. Você pode começar com o Pai Nosso ou simplesmente agradecer a Deus pelo que você tem. Você pode confiar nele o seu dia. A oração fundamenta uma perspectiva espiritual na vida cotidiana. Um padre que conhecemos chamava a oração de oxigênio da alma. Sem ele, a alma morre, como um corpo sem oxigênio.

Permite que você comece o dia com mais paz no coração. Ajuda você a se concentrar no que é realmente importante, em vez de sucumbir à pressão das tarefas diárias. Curiosamente, numerosos estudos científicos destacam que cuidar do aspecto espiritual é importante para a nossa saúde.

2 - Cuide do seu corpo, templo do Espírito Santo

PeopleImages.com - Yuri A | Obturador

Cuidar da saúde e da condição física é responsabilidade do católico. Alimentação saudável, atividade física regular e sono adequado são elementos do autocuidado físico que nos ajudam a manter a saúde e o bem-estar. Além disso, a graça é baseada na natureza.

Uma ótima forma de aliar a oração à atividade física é caminhar com o terço, de preferência em um parque. Estas caminhadas são uma forma de atividade que alivia o stress e permite a reflexão diária.

São Paulo nos lembra: “Vocês não sabem que o seu corpo é templo do Espírito Santo que está em vocês, que vocês recebem da parte de Deus?” (1 Coríntios 6:19). Ao cuidar do nosso corpo, demonstramos gratidão pelo dom da vida.

3 - Envolva-se em ajudar os outros

Cuidar de si mesmo significa não apenas cuidar das suas próprias necessidades, mas também estar aberto às necessidades dos outros. Ajudar os outros não é apenas um dever do cristão, mas sobretudo uma fonte de profunda alegria e satisfação.

Lembremo-nos de que “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” ( Mt 5,7 ). E ainda: “Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). É importante ressaltar que a investigação científica sobre o autocuidado também enfatiza o valor de nos abrirmos aos outros e o impacto benéfico desta abertura na nossa saúde mental.

4 - Descanse ao ritmo de Deus

Por Dentro da Casa Criativa | Aleteia

Comemorar um dia de descanso, ou seja, o domingo, é mais que uma obrigação. É uma oportunidade para recarregar as baterias espirituais passando momentos com a família, participando da Eucaristia e permitindo-se um descanso que renova o corpo e a alma.

O descanso de acordo com o mandamento de Deus restaura o equilíbrio da vida. Como diz o livro de Gênesis, até Deus descansou depois de criar o mundo (Gênesis 2:2). Ao nos darmos tempo para nos regenerarmos, respeitamos o dom do nosso corpo e espírito.

5 - Pratique a gratidão

A gratidão é outro elemento importante da vida espiritual católica. E um item de autocuidado comprovado cientificamente e com inúmeros benefícios para a saúde física e mental. Todos os dias vale a pena encontrar um momento para agradecer a Deus pelas pequenas coisas: pela saúde, pelos entes queridos, pelas pequenas bênçãos do dia a dia. Manter um diário de gratidão pode ser uma ferramenta útil nesse processo.

Paulo escreveu: “Em tudo dai graças” (1 Tessalonicenses 5:18). Praticar a gratidão nos ensina a ver o que há de bom em nossas vidas e abre nosso coração para a ação de Deus. Este é um passo pequeno, mas poderoso, em direção a maior alegria e paz.

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/11/10/5-maneras-de-cuidar-tu-alma-y-cuerpo-al-estilo-catolico

Papa: a oração do Rosário em apoio à paz deve ser difundida entre os jovens

Beato Bartolo Longo, fundador do Santuário de Pompeia (Vatican News)

Carta de Francisco ao delegado pontifício do Santuário da Bem-Aventurada Virgem Maria do Santo Rosário de Pompeia por ocasião do ano jubilar pelo 150º aniversário da chegada da pintura de Nossa Senhora que Bartolo Longo quis levar à população de Pompeia para difundir o culto à Mãe Celeste. “Um instrumento simples e ao alcance de todos”, a oração mariana do Rosário “pode apoiar a renovada evangelização à qual a Igreja é chamada hoje”, escreve o Pontífice.

Tiziana Campisi – Cidade do Vaticano

É preciso redescobrir “nas famílias e nas casas” “a beleza do Rosário”, oração que é “de ajuda na construção da paz”. O convite de Francisco consta da carta enviada ao arcebispo prelado de Pompeia, dom Tommaso Caputo, por ocasião da abertura do Ano Jubilar pelos 150 anos da chegada do quadro da Bem-Aventurada Virgem Maria do Santo Rosário, preservado no santuário fundado por Bartolo Longo.

Na pequena cidade da Campânia o aniversário será celebrado com diversas iniciativas pastorais e o Papa quis unir-se espiritualmente aos fiéis e a quantos se recolherão em oração no “templo mariano pompeiano, para encontrar conforto e esperança no doce rosto da Mãe Celeste”. 

A sua carta foi lida esta manhã, 10 de novembro, durante a Missa presidida por dom Tommaso no santuário e depois distribuída aos fiéis. No texto, Francisco faz votos que Deus possa falar “por meio da mensagem de Nossa Senhora de Pompeia à humanidade necessitada de redescobrir o caminho da harmonia e da fraternidade”,  na esperança de “que os seus numerosos devotos espalhados pelo mundo possam aderir sempre mais fielmente ao Senhor, testemunhando proximidade aos irmãos, especialmente aos mais necessitados”.

Uma oração a ser proposta aos jovens

“Instrumento simples ao alcance de todos” e que “pode apoiar a renovada evangelização à qual a Igreja é chamada hoje”, o Rosário deve ser proposto em particular aos jovens, recomenda o Pontífice, para que o sintam não repetitivo e monótono , “mas um ato de amor que nunca se cansa de ser derramado”. “Fonte de consolação para os doentes e sofredores e, como a definiu Longo, “doce corrente que nos liga a Deus”, a oração mariana é “também uma corrente de amor que se torna abraço para os últimos e marginalizados”, sublinha Francisco.

Precisamente deles assumiu o cuidado o advogado apuliano que do Vale de Pompeia difundiu a devoção a Maria “com inúmeras iniciativas e escritos, e sobretudo com os seus 'Quinze Sábados'”. “Por isso, encorajo-vos a continuar com renovado empenho, por meio das múltiplas iniciativas do Santuário – escreve o Papa -, a grande história de caridade que ele iniciou”, que é também “o mais belo legado espiritual deixado por ele”.

Santuário de Nossa Senhora da Pompeia (Vatican News)

A devoção ao Santo Rosário

Na carta ao delegado pontifício para o Santuário de Pompeia, o Papa repassa a história da pintura - que retrata Nossa Senhora entronizada com Jesus nos braços entregando a coroa do Rosário a Santa Catarina de Sena e a São Domingos - que chegou ao vale aos pés do Vesúvio, em 13 de novembro de 1875.

Foi Bartolo Longo quem levou o quadro à população de Pompeia para difundir a devoção ao Santo Rosário, depois de ter ouvido, um dia, "no fundo da sua alma" uma voz: "Se buscas salvação, propague o Rosário”.

Francisco recorda também a “longa série de pronunciamentos” de seus antecessores, “especialmente de Leão XIII”, que aprofundaram o significado desta devoção, “até à Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae de São João Paulo II, que a relançou no limiar do terceiro milênio, convocando um Ano do Rosário", e considera providencial "que o jubileu do quadro de Nossa Senhora de Pompeia coincida com o iminente Ano Jubilar, centrado em Jesus nossa esperança, e com o XVII centenário do Concílio de Niceia (325), à qual deu particular ênfase ao mistério divino-humano de Cristo, à luz da Trindade”. “É belo redescobrir o Rosário, nesta perspectiva – afirma o Papa – para assimilar os mistérios da vida do Salvador, contemplando-os com o olhar de Maria”.

A bênção de Francisco

Por fim, o Pontífice recorda a sua peregrinação a Pompeia no dia 21 de março de 2015, e recordando “com gratidão as manifestações de fé vividas” no “oásis mariano”, invoca “todas as graças para a terra da Campânia, de modo especial para quem vive situações de dificuldades” e assegura a sua bênção a todos aqueles que participarão nos eventos pelos 150 anos da chegada do quadro da Virgem do Rosário.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

“Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.”

A viúva de Serepta (bibliaon)

“Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.”  (Mc 12,43) | Palavra de Vida Novembro 2024 

Organizado por Letizia Magri com a comissão da Palavra de Vida   publicado e modificado em 16/10/2024

Estamos na conclusão do capítulo 12 do Evangelho de Marcos. Jesus está no templo de Jerusalém, observa e ensina. Por meio do seu olhar, assistimos a uma cena repleta de personagens: pessoas indo e vindo, os encarregados do culto, figuras ilustres ​​com longas túnicas, pessoas ricas depositando suas fartas oferendas no tesouro do templo.

De repente entra em cena uma viúva. Ela faz parte de uma categoria de pessoas social e economicamente desfavorecidas. Despercebida na multidão, ela deposita duas moedinhas no tesouro. Mas Jesus a percebe, chama seus discípulos e os instrui:

“Em verdade eu vos digo: ela [essa viúva], da sua pobreza, ofereceu [ao tesouro do templo] tudo o que tinha para viver.”

“Em verdade eu vos digo […]”. São essas as palavras que introduzem os ensinamentos importantes. O olhar de Jesus, concentrado na viúva pobre, convida-nos a olhar na mesma direção: é ela o verdadeiro modelo do discípulo.

A sua fé no amor de Deus é incondicional: seu tesouro é o próprio Deus. E, ao entregar-se totalmente a Ele, a viúva deseja também doar tudo o que pode em favor dos mais pobres. Esse abandono confiante no Pai é, de certo modo, a antecipação do mesmo dom de si que Jesus realizaria em breve com a sua paixão e morte. É a “pobreza em espírito” e a “pureza de coração” que Jesus proclamou e viveu. 

Isso significa “depositar a nossa confiança não nas riquezas, mas no amor de Deus e na sua providência. […] Somos ‘pobres em espírito’ quando nos deixamos nortear pelo amor para com os outros. É então que partilhamos o que temos, colocando-o à disposição de quem quer que esteja em necessidade: um sorriso, o nosso tempo, os nossos bens, as nossas capacidades. Tendo doado tudo por amor, somos pobres, ou seja, estamos esvaziados, anulados, livres, e temos o coração puro.1”

A proposta de Jesus revoluciona a nossa mentalidade: no centro do seu pensamento estão os pequenos, os pobres, os últimos.

 “Ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver.”

Esta Palavra de Vida nos convida, antes de tudo, a renovar a nossa plena confiança no amor de Deus e a nos confrontarmos com o seu olhar, para ver além das aparências, sem julgar e sem depender do julgamento dos outros, a realçar o positivo de cada pessoa.

Ela nos sugere que a lógica do Evangelho é a       doação total, que constrói uma comunidade pacificada porque nos impulsiona a cuidarmos uns dos outros. Ela nos anima a viver o Evangelho no dia a dia, sem alarde; a doar com generosidade e confiança; a viver com sobriedade, na partilha. Ela nos convoca a dedicar atenção aos últimos, para aprender com eles.

Venant nasceu e foi criado no Burundi. Ele conta: “Na aldeia, minha família podia orgulhar-se de ter uma ótima propriedade, que garantia uma boa colheita. Nossa mãe, consciente de que tudo era providência do Céu, recolhia os primeiros frutos e os distribuía regularmente na vizinhança, começando pelas famílias mais necessitadas e destinando a nós mesmos apenas uma pequena parte do que sobrava. Com esse exemplo aprendi o valor da doação desinteressada. Assim, entendi que Deus estava me pedindo que eu desse a Ele a melhor parte; mais ainda, que desse a Ele toda a minha vida”. 

1) Cf. LUBICH, Chiara. Pobreza que é riqueza. Palavra de Vida, novembro de 2003. 

Organizado por Letizia Magri com a comissão da Palavra de Vida

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/editorial/inspira/4035-ela_da_sua_pobreza_ofereceu_tudo_o_que_t

O Óbolo da Viúva

Cardeal Dom Paulo Cezar Costa - Arcebispo de Brasília (Arqbrasilia)

O ÓBOLO DA VIÚVA

Cardeal Dom Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

32º Domingo do Tempo Comum (B)

O Evangelho deste domingo nos apresenta Jesus que ensina no templo de Jerusalém (Mc 12, 38-44). Na primeira parte do Evangelho, Jesus critica a atividade dos escribas que se movem pela cultura da aparência. Gente que parece boa, religiosa, que externamente parece boa, cumpridora dos preceitos religiosos, mas que internamente, no coração, está longe dos preceitos de Deus. Jesus acusa os escribas de “[devorarem] as casas das viúvas e [simularem] fazer longas preces”. As viúvas eram desprotegidas no tempo de Jesus. Eles são acusados de se aproveitarem dos desprotegidos, daquelas que não tinham ninguém por si.

A denúncia de que os escribas devoravam as casas das viúvas, de certa forma, faz a ligação entre a primeira parte do Evangelho e a segunda. Agora, Jesus sentado frente ao tesouro do templo observa como as pessoas fazem suas ofertas. A multidão que lançava pequenas moedas e muitos ricos que lançavam muitas moedas. Era a fé do povo que se expressava, também, na sua capacidade de ajudar o templo. O ir ao templo manifestava a fé do povo simples que buscava fazer de Deus o tudo de suas vidas, que, na sua simplicidade, afirmava o primado de Deus. Entre tantos que doavam, Jesus observa a atitude de uma pobre viúva que está no templo e faz a sua oferta: ela doa duas moedinhas, isto é, um quadrante. Jesus chama os discípulos e diz que essa viúva, que é pobre, lançou mais do que todos os que ofereceram moedas no tesouro, pois os outros deram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver (Mc 12, 43-44). Essa viúva é pobre e generosa. Os outros dão do seu supérfluo, mas ela não, ela dá tudo que possui para viver. É uma mulher de profunda fé e de profunda generosidade. Dar tudo é um ato de fé absoluta, de confiança e abandono. Aqui, ninguém a incita a doar, a ser generosa com promessas absurdas de recompensa de Deus. Há a gratuidade e a generosidade. Por isso, Jesus vê, no ato dessa mulher, a antecipação da sua entrega, da sua doação. Aquela mulher deu tudo; também Jesus dará tudo, dará a própria vida por amor a nós, pela nossa salvação.

A atitude dessa mulher admirada por Jesus e que os Evangelhos narram quer nos iluminar hoje. Quer nos fazer sair da exterioridade e hipocrisia que marcavam a vida e atitude dos escribas e entrar na dinâmica da conversão do coração, da liberdade do coração. Essa viúva que podia ser explorada não se deixa dominar pela amargura, não perde a liberdade do coração. Só quem tem um coração livre dá tudo como essa viúva do Evangelho e Jesus. Só quem trabalhou a sua interioridade e tornou-se livre doa tudo. O religioso, a religiosa, o presbítero é alguém que busca dar tudo. Também, nas nossas comunidades, encontramos inúmeras pessoas que dão, na sua gratuidade, tudo que têm: o tempo, os dons, o serviço nas pastorais e movimentos, o dízimo para manter a vida da comunidade. Que a liberdade dessa viúva e a liberdade de Jesus que deu a vida por nós interpele-nos na nossa capacidade de doar-nos, de amar, de servir.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF