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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Santa Missa em Ação de Graças pelos 25 anos de Ordenação Sacerdotal de 14 Presbíteros da Arquidiocese de Brasília

Santa Missa - Bodas de Prata de 14 padres da Arquidiocese de Brasília (arqbrasilia)

A Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida acolheu os padres da Arquidiocese de Brasília que celebram Bodas de Prata Sacerdotal, nesta quinta-feira (28/11).

  • novembro 28, 2024

A Arquidiocese celebrou as Bodas de Prata Sacerdotal de 14 padres, que completaram 25 anos de Ordenação. A Santa Missa, presidida por Dom Denilson Geraldo, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília, foi um momento de profunda gratidão e renovação da fé.

Com a Catedral lotada, fiéis e familiares dos sacerdotes se reuniram para celebrar essa importante data. Durante a homilia, Dom Denilson destacou a importância do sacerdócio e a dedicação desses homens de Deus.

“A vocação sacerdotal é um dom precioso que transforma vidas. Hoje vocês estão fazendo memória daquele dia em que receberam a ordenação aqui na Catedral, pela imposição das mãos de Dom Falcão. Celebrarmos 25 anos do ministério sacerdotal é uma alegria, é uma graça muito grande. E celebrar significa agradecer a Deus por esse dom. Rendemos graças a Deus ainda mais por esse dom que não foi merecido, mas foi dado gratuitamente. Ouvimos a Palavra de Deus em que Jesus, nesta oração sacerdotal, diz: ‘vinde a mim todos vós que estais cansados, com o peso dos vossos fardos, e eu vos aliviarei’. De fato, a grande referência para o Ministério Sacerdotal é a pessoa de Cristo. O nosso ministério, como sacerdotes, não é somente algo funcional para a comunidade, mas é ontológico, porque o nosso ser foi configurado a Jesus Cristo. Essa diferença essencial, então, não é para nos orgulharmos daquilo que Deus fez conosco. O nosso ministério está a serviço do sacerdócio comum, que é o sacerdócio de todo o povo de Deus pelo Batismo”, destacou o Bispo. .

Os padres que completaram o Jubileu, com grande alegria e emoção, renovaram seus votos sacerdotais e agradeceram a Deus por este tempo de serviço à Igreja. “É com imensa gratidão que celebramos este jubileu. Agradeço a Deus por este dom maravilhoso e a todos que nos acompanham nesta jornada. Estou muito feliz pelas maravilhas que Deus fez pelo ministério que me confiou, contando com as minhas limitações!”, disse o Padre Silvio Albertario.

Além dos padres presentes, outros sacerdotes ordenados há 25 anos também foram lembrados na celebração, como o Padre José Luiz Borja, que se encontra na Espanha, e o Padre Cezar Augusto Alvarado Flores, em Salvador.

A Santa Missa também foi um momento de oração pelos padres falecidos que completariam as Bodas de Prata: William, Higinio, João da Silva e Paulo Gonzaga.

“25 anos de Sacerdócio é um marco importante na vida de um padre. As bodas de Prata representam os 25 anos de dedicação à Igreja, de serviço ao povo de Deus e de testemunho do Evangelho”, finalizou Dom Denilson.

Confira os nomes dos padres que celebram os 25 anos de Sacerdócio:

– Padre Silvio Albertario (BSB)

– Padre José Roberto Angelotto (BSB)

– Padre Manuel Sanchez Sanchez (BSB)

– Padre Lázaro Ilzo Daniel (BSB)

– Padre Roberto Crispin (BSB)

– Padre Irineu de Campos Pires (BSB)

– Padre José Eduardo Caetano (BSB)

– Padre José Enrique Matos Martinez (BSB)

– Padre Sandro Wellington M. Da Cunha (BSB)

– Padre Hélio Alves Damascena (itinerante na Bahia)

– Padre Jader Francisco Marques Peres (itinerante no Maranhão)

– Padre Victor Maria Optaciano Cazal Esteche (Pároco em Salinópolis – Pará)

– Padre Jonathan Matchimira Baraquel (itinerante na Manila, Filipinas)

– Padre José Antônio Tejada (itinerante no Mato Grosso do Sul)

– Padre José Luiz Borja (que está na Espanha)

– Padre Cezar Augusto Alvarado Flores (que está em Salvador – Bahia)

Na ocasião também foram ordenados os padres: William, Higinio, João da Silva e Paulo Gonzaga, que o Bom Deus chamou e contemplam a eternidade.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Caridade e Advento: uma atitude a preservar durante todo o ano

Veja | Obturador

Mónica Muñoz - publicado em 28/11/24

O Advento nos prepara para receber o Natal e a atmosfera permeia sentimentos de paz, amor e vontade de fazer caridade. Eu gostaria que essa atitude durasse o ano todo.

São João Paulo II disse na audiência geral de 29 de novembro de 1978 : “Advento significa ‘vinda’. Portanto, devemos nos perguntar: quem é aquele que vem? Ele mesmo responde que até as crianças sabem que é Jesus quem vem para elas e para todos os homens.

O querido São João Paulo II insiste que esta realidade deve recordar-nos que o centro do Natal é o nascimento de Cristo, Deus feito homem, e que “o cristianismo não é apenas uma “religião do Advento”, mas o próprio Advento.

O cristianismo vive o mistério da vinda real de Deus ao homem e, a partir desta realidade, pulsa e pulsa constantemente. Esta é simplesmente a própria vida do Cristianismo.

A caridade é a virtude do Advento

Esta vinda do Senhor Jesus leva-nos às suas origens humildes; e talvez por isso despertem sentimentos de gentileza, empatia e solidariedade. Em suma, a caridade está presente e surge em nós o desejo de ajudar os mais vulneráveis.

Talvez o facto de todos recebermos mais dinheiro, presentes e comida abundante desempenhe um papel; e o espírito festivo invade todos os ambientes para amolecer até os corações mais endurecidos.

Portanto, o amor ao próximo se percebe na mudança de atitudes, na gentileza no tratamento ao próximo, no desapego e na generosidade para compartilhar o que temos.

Advento e caridade o ano todo

Diante do exposto, podemos nos perguntar: não valeria a pena manter essas atitudes o ano todo?

Se, como assegurou São João Paulo II, o Cristianismo é o próprio Advento, não é verdade que devemos ser cristãos comprometidos com o Evangelho 365 dias por ano?

A caridade, portanto, como virtude do Advento, deve estar presente em nosso cotidiano, ações, palavras, intenções e atitudes, porque Jesus historicamente nasceu uma vez na manjedoura de Belém, mas sobrenaturalmente está sempre conosco.

Que o Senhor nos ajude a preservar os nossos corações num Advento quotidiano.

Para ajudar a Aleteia: https://es.aleteia.org/apoya-a-aleteia/?utm_medium=box&utm_campaign=autumn2024&utm_content=inread_banner&utm_source=fr_aleteia

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/11/28/caridad-y-adviento-una-actitud-para-conservarse-todo-el-ano

São Saturnino de Toulouse

São Saturnino de Toulouse (A12)
29 de novembro

Localização: Grécia

São Saturnino de Toulouse

São Saturnino, de provável origem grega, foi um dos sete bispos enviados por Roma no século III para a evangelização das Gálias, atual França. Mesmo ainda a caminho, e em outras viagens, sua pregação fervorosa convertia grande número de pessoas.

Chegou à região de Toulouse, que, desorganizada desde 177 por causa do grande massacre dos mártires de Lyon, contava com poucas comunidades cristãs, ainda resistentes ao crescente paganismo. A chegada de Saturnino deu novo ânimo à vida destes católicos. Ali ele se fixou e fundou a diocese de Toulouse, sendo seu primeiro bispo. Esteve também em Pamplona, na Espanha, onde batizou o futuro São Firmino.

Voltando a Toulouse, onde sua atuação incomodava enormemente os sacerdotes pagãos dos deuses romanos, continuou celebrando a Missa, apesar de um decreto imperial que a proibia e condenasse à morte seus participantes. Durante uma celebração, num domingo, foi descoberto, com outros 48 fiéis. Instado a sacrificar um touro a Júpiter, a quem dizia não temer o poder dos raios, já que não existia, recusou e por isso foi amarrado pelos pés ao pescoço de um touro bravo e arrastado pelas ruas da cidade.

São Saturnino morreu com os membros despedaçados, e seu corpo, abandonado no meio de uma estrada, foi depois recolhido por duas piedosas mulheres, que lhe deram sepultura. Este local chegou a ser esquecido, mas suas relíquias foram encontradas no século VI, e o culto a ele confirmado para o dia 29 de novembro.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A Verdade de Cristo sempre incomodou aqueles que desejam justificar suas iniquidades, seja por meio de deuses fabricados pelos próprios homens, seja pela absurda negação de Deus, que pode ser claramente percebido a partir da Criação – de fato, a noção essencial de um Deus único criador de todas as coisas foi alcançada por Sócrates, Platão e Aristóteles, mesmo sem o benefício da Revelação dada ao povo judeu, com o correto uso da Razão e da observação das realidades existentes. A raiva bestial dos que orgulhosamente não aceitam seu próprio Pai, nem o Seu amor, sempre tentará despedaçar os membros da Igreja, mas ela, Corpo Místico de Cristo, tem a sua vida garantida pela mesma vida eterna Daquele que a gerou. Importa, para nós fiéis, não sacrificar à mentira as nossas almas, mas com caridade viver e anunciar o Evangelho, na certeza de que Deus não nos abandona nas estradas da nossa caminhada terrena, mas firmemente nos conduz para Ele.

Oração:

Deus de amor, que nunca esqueces onde estamos, mas nos envias neste mundo como apóstolos da Vossa paz, fortalecei-nos, pela intercessão de São Saturnino de Toulouse, com os exemplos dos mártires, para termos fidelidade nos trabalhos missionários e conseguirmos proteção para os seus frutos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.

 Fonte: https://www.a12.com/

Papa aos médicos: “Cuidar sempre, nenhuma vida deve ser descartada"

Papa Francisco saúda os profissionais da Universidade de Nápoles Federico II  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Nesta sexta-feira, 29 de novembro, Francisco dirigiu uma saudação aos profissionais da Universidade de Nápoles Federico II, a mais antiga universidade laica do Ocidente, por ocasião do 800º aniversário de sua fundação. O Santo Padre destacou a importância histórica da instituição e sublinhou os valores que devem guiar aqueles que trabalham na área da saúde, inspirados por uma rica tradição ética e cristã.

Thulio Fonseca - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira, 29 de novembro, a comunidade acadêmica da Universidade de Nápoles Federico II, composta por reitores, professores e estudantes do setor de medicina odontológica, e proferiu sua saudação relembrando a fundação da universidade, que, há oito séculos, continua sendo um marco histórico na educação e na ciência. Ao iniciar seu discurso, o Papa elogiou o legado da Universidade e a tradição de excelência que remonta ao imperador Frederico II, seu fundador, que deu origem a uma das mais antigas universidades do mundo. 

Cuidar com compaixão e ternura

O Santo Padre destacou a importância do lema hipocrático que une a lição do grego Hipócrates à autoridade do latino Scribônio: “primum non nocere, secundum cavere, tertium sanare” -“primeiro, não prejudicar; segundo, cuidar; terceiro, curar”. Segundo Francisco, estas máximas continuam a ser um guia indispensável para a prática médica:

“Não prejudicar. Isso pode parecer algo óbvio, mas, na verdade, responde a um saudável realismo: antes de tudo, trata-se de não acrescentar mais danos e sofrimentos àqueles que o paciente já está vivendo.”

Francisco durante a audiência (Vatican Media)

Sobre o cuidado, Francisco ressaltou que esta é a ação evangélica por excelência, como a do bom samaritano, e que deve ser realizada com o "estilo de Deus": “E qual é o estilo de Deus? Proximidade, compaixão e ternura. Não esqueçam: Deus é próximo, compassivo e terno. O estilo de Deus é sempre este: proximidade, compaixão e ternura.” Em seguida, o Papa compartilhou uma experiência pessoal:

“Eu me recordo de quando, aos vinte anos, tiveram que retirar parte do meu pulmão, que estava doente. Sim, me davam os medicamentos, mas o que mais me dava força era a mão dos enfermeiros que, após aplicar as injeções, seguravam minha mão... Esta ternura humana faz tanto bem!”

Tecnologia e ética: uma união indispensável

Sobre o ato de curar, o Papa afirmou que, neste aspecto, os médicos podem se assemelhar a Jesus, que curava todas as doenças e enfermidades entre o povo, e destacou os desafios modernos da prática médica em um mundo de rápida evolução tecnológica.

“A medicina jamais deve negligenciar a dignidade humana, que é igual para todos. Caso contrário, corre o risco de se prestar aos interesses do mercado ou da ideologia, em vez de se dedicar ao bem da vida nascente, da vida sofrida e da vida necessitada. O médico existe para curar o mal: cuidar sempre! Nenhuma vida deve ser descartada. Nunca! Mesmo quando alguém diz: ‘Mas este paciente não tem mais jeito...’ Acompanhe-o até o fim.”

Ciência a serviço da dignidade humana

Por fim, Francisco exortou os profissionais de saúde e acadêmicos da universidade a cultivarem uma ciência com respeito e a serviço da pessoa humana, e expressou sua gratidão pela dedicação e competência da instituição, que segue formando gerações há oito séculos.

“Depois de 800 anos, vocês continuam a fazer escola!” E, como de costume, pediu: “Não se esqueçam de rezar por mim!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

A chegada do tempo do Advento: um convite à esperança e à preparação

Tempo de Advento (YouTube)

A CHEGADA DO TEMPO DO ADVENTO: UM CONVITE À ESPERANÇA E À PREPARAÇÃO

Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR) 

O Advento marca o início de um novo Ano Litúrgico na Igreja, um tempo especial de preparação para a celebração do Natal. É um período de quatro semanas em que os cristãos são chamados a refletir, vigiar e renovar a esperança na vinda do Senhor. Mais do que uma contagem regressiva para o Natal, o Advento nos convida a olhar para três dimensões da vinda de Cristo: Sua encarnação há mais de dois mil anos, Sua presença constante no meio de nós e Sua segunda vinda, no final dos tempos. 

A palavra “Advento” vem do latim adventus, que significa “chegada” ou “vinda”. Esse tempo litúrgico está profundamente ligado à espera ativa e confiante no cumprimento das promessas de Deus. Ele nos recorda que o Senhor, que já veio ao mundo em humildade na manjedoura, virá novamente em glória. 

As leituras bíblicas do Advento reforçam essa dupla perspectiva. Nos primeiros domingos, a ênfase recai sobre a vigilância e o chamado à conversão, preparando-nos para a segunda vinda de Cristo. Nos últimos dias, o foco se volta para os acontecimentos que antecedem o nascimento de Jesus, destacando Maria e João Batista como modelos de fé e serviço. 

Os símbolos litúrgicos do Advento também são ricos em significado. A cor roxa usada nas vestes do sacerdote e na decoração da igreja representa penitência e preparação, enquanto a coroa do Advento, com suas quatro velas, simboliza a luz que cresce à medida que nos aproximamos de Cristo, a verdadeira Luz do mundo. 

Cada vela da coroa tem um significado especial: 

1.Primeira vela – a vela da esperança, nos lembra da promessa do Messias. 

2.Segunda vela – a vela da paz, nos convida a preparar os caminhos do Senhor. 

3.Terceira vela – a vela da alegria, marca o Domingo Gaudete, quando a alegria do Senhor se torna mais palpável. 

4.Quarta vela – a vela do amor, celebra a proximidade do nascimento de Cristo. 

Um Chamado à Conversão e Vigilância 

O Advento é um convite à conversão pessoal. Assim como João Batista pregou no deserto: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4), também somos chamados a preparar o nosso coração para acolher Jesus. Esse tempo não é apenas uma preparação externa, com decorações e festas, mas, sobretudo, uma transformação interior. 

Além disso, o Advento nos exorta à vigilância. Jesus nos alerta: “Vigiai, pois não sabeis quando virá o dono da casa” (Mc 13,35). Esse chamado nos lembra que nossa vida deve ser vivida como uma espera constante e atenta pela vinda do Senhor. 

Maria, Modelo de Esperança e Serviço 

Maria, a Mãe de Jesus, é a figura central do Advento. Ela nos ensina como esperar o Senhor com fé e humildade. Sua resposta ao chamado de Deus – “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) – é um modelo de abertura e confiança. Assim como Maria, somos convidados a abrir nosso coração para que Cristo nasça em nossa vida. 

Vivendo o Advento Hoje 

Como podemos viver esse tempo de maneira concreta? 

Na oração: Reservar momentos diários de oração para meditar sobre as promessas de Deus e renovar nosso compromisso com Ele.

Na caridade: Praticar gestos de solidariedade, ajudando aqueles que mais necessitam e sendo instrumentos da paz de Cristo.

Na reconciliação: Buscar o sacramento da confissão, reconhecendo nossas falhas e recebendo o perdão que renova a alma.

O Advento nos recorda que a verdadeira preparação para o Natal não está apenas nos presentes ou nas festas, mas na abertura do coração para acolher Jesus. É tempo de vigiar, de esperar e de nos alegrarmos na certeza de que Deus é fiel às Suas promessas. 

Que este Advento seja um tempo de graça e renovação para todos nós. Assim como a luz das velas da coroa aumenta a cada semana, que também cresça em nossos corações a esperança, a paz, a alegria e o amor que vêm de Cristo. E que, ao celebrarmos o Natal, possamos dizer com alegria: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). 

Vinde, Senhor Jesus! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Uma breve história do cristianismo: MONGES E EREMITAS (II)

São Martinho (Aleteia)

Uma breve história do cristianismo

MONGES E EREMITAS

Por Geoffrey Blainey

UM DILEMA CONSTANTE: ENFRENTAR OU RECUAR?

            A grande quantidade de eremitas e mosteiros foi surpreendente. A vida de Jesus pouco indicava que viessem a existir cristãos afastados do mundo. Embora tivesse passado quarenta dias e noites no deserto, preparando-se para a nova vida de evangelista, nos anos seguintes Jesus preferiu estar acompanhado, na cidade ou no campo. Ele gostava de celebrar, de ensinar e conversar. Embora rezasse com frequência, não costumava dedicar a maior parte do dia à oração ou à leitura de textos sagrados. Comer em silêncio e afastar as mulheres com certeza eram ideias que não o atraíam.

            O objetivo do ministério de Cristo era levar sua mensagem ao mundo, enquanto monges e eremitas geralmente buscavam o isolamento. Cristo, ao percorrer a Galileia, preocupou-se porque “a safra é realmente abundante, mas os trabalhadores são poucos.” Então, se o mundo precisava de mais mestres e pregadores, por que permitir que homens e mulheres devotos procurassem o silêncio e o isolamento de mosteiros e conventos? Suas vozes eram necessárias nas estradas, nas sinagogas – onde quer que houvesse pessoas reunidas.

            Os reclusos eram quase todos homens, mas cada vez mais mulheres – solteiras e viúvas, em geral – desejavam formar grupos. Elas se uniam para cuidar de membros da congregação que adoecessem. No Império Romano, poucas mulheres eram alfabetizadas, mais muitas se interessaram em aprender a ler, para transmitir a Bíblia às crianças. No sabbath, elas organizavam corais e, quando havia necessidade de mais pompa, procissões. As mulheres passaram a usar roupas semelhantes, bem simples.

            Aquele foi um passo na direção  de reunir as devotas na mesma casa, como monjas. Sendo as mulheres mais numerosas do que os homens nas congregações cristãs, não foi difícil recrutar novas monjas. Enquanto no Antigo Testamento a mulher sem filhos despertava piedade, o cristianismo adotava uma atitude diferente. Alguns líderes cristãos acreditavam que as jovens serviam melhor a Deus quando não eram casadas. Um defensor desse ponto de vista foi o conhecido teólogo Jerônimo, que diligentemente produzia a Bíblia Vulgata, o texto oficial dos católicos, pelos mais de mil anos seguintes. Ele insistia que as mulheres deviam viver em mosteiros exclusivamente femininos, evitando assim os momentos em que “o desejo excita os sentidos”, e exaltava as mulheres solteiras de rosto pálido e aparência frágil, “por causa do jejum”. Já naquele tempo a anorexia tinha seus adeptos.

            A administração de um mosteiro representava uma tarefa angustiante para mulheres e homens sérios. Basílio, o Grande, nascido em 330 Capadócia, na Turquia central, pretendia tornar-se professor de retórica, mas foi tocado por Macrina, sua irmã, fundadora de um mosteiro nas terras de propriedade da família. Depois de visitar eremitas e monges que viviam no Egito, ele fundou o próprio mosteiro – o primeiro, perto do que havia sido criado pela irmã – que foi usado como base de seu trabalho filantrópico. Basílio seria o fundador espiritual de uma longa linha de mosteiros que se espalhou pela Rússia e por outras terras eslavas.

CASAMENTO: SIM OU NÃO?

            Os líderes do Império Romano tendiam à promiscuidade. Os cristãos como reação, tomaram o caminho do puritanismo. Os primeiros monges do Egito evitavam o sexo, e muitos cristãos esperavam que seus bispos e sacerdotes vivessem castamente. Mas o cristianismo iniciante, tal como o judaísmo, não proibia o casamento. A questão mais importante era com quem eles se casavam.

            Em volta de 305, uma década antes de Constantino passar a proteger e apoiar a Igreja, líderes cristãos, espanhóis em sua maioria, reuniram-se em Elvira, no sul da Espanha. Sua disposição era clara: eles defendiam a respeitabilidade e a castidade. Os sacerdotes já casados deveriam abster-se do sexo. Se a partir de então tivessem filhos, seriam afastados. No entanto, esses eram ideias e não regras absolutas.

            O Influente Concílio de Niceia, reunido em 325, de modo geral repetiu o clamor espanhol por moderação. Somente aos escalões inferiores do clero seria permitido o casamento – uma regra ainda seguida pela Igreja Ortodoxa, onde os padres de paróquias são casados.

            No Ocidente, o comportamento do clero não era tão rigidamente imposto.

NA FRANÇA, NOS CEM ANOS SEGUINTES AO ANO DE 942, HOUVE TRÊS BISPOS CASADOS, COM FILHOS.

Na França, nos cem anos seguintes ao ano de 942, houve três bispos com filhos, e até alguns papas tiveram filhos ilegítimos.

            As regras da Igreja eram infringidas com tanta frequência no Ocidente, que alguns reformistas consideravam o casamento dos sacerdotes uma solução conciliatória. Outros observadores, também pragmáticos, discordavam; achavam que devia ser evitado a todo custo o casamento formal de bispos ou padres, porque eles poderiam transferir para os filhos parte das riquezas da Igreja.

Fonte: Livro "Uma breve história do cristianismo", de Geoffrey Blainey, Editora Fundamento Educacional, págs 77/86, Ano 2012.

Santa Catarina Labouré

Santa Catarina Labouré (A12)
28 de novembro
Localizção: França (Borgonha)
Santa Catarina Labouré

Catarina Labouré nasceu numa aldeia da Borgonha, França, em 2 de maio de 1806. Nesta numerosa família de pobres camponeses, ela desde os nove anos teve que assumir o cuidado dos irmãos menores, por causa do falecimento prematuro da mãe. Mais tarde, abril de 1930, com permissão do pai, entra no noviciado das Filhas da Caridade, Congregação fundada por São Vicente, voltada para a assistência dos pobres, doentes, crianças e idosos.

Em 19 de julho do mesmo ano, Nossa Senhora lhe aparece a primeira vez; na noite de 27 de novembro, na Sua terceira e última aparição, a Virgem lhe apresenta uma imagem, dizendo: “Manda cunhar uma medalha por este modelo; as pessoas que a trouxerem com fé e devoção receberão grandes graças”. Dois anos depois, após severo inquérito canônico para verificar a autenticidade das aparições, o arcebispo de Paris autorizou a fabricação das medalhas.

Na imagem desta medalha de Nossa Senhora das Graças, raios saem de Suas mãos para a Terra, sendo, segundo a Virgem, “… o símbolo das graças que derramo sobre todas as pessoas que as pedem”. Só no período de quatro anos, foram cunhadas 20 milhões de cópias, pois, como disse o Papa Pio XII, “...desde o primeiro momento, [esta medalha] foi instrumento de tão numerosos favores, tanto espirituais como temporais, de tantas curas, proteções e sobretudo conversões, que a voz unânime do povo a chamou desde logo medalha milagrosa.

 Após o noviciado, Irmã Catarina foi enviada a um asilo em Paris, para cuidar dos idosos e doentes. Durante 46 anos trabalhou nos serviços mais humildes e desprezíveis, lavando, cozinhando, limpando os velhos enfermos, sempre com amor. Durante toda a sua vida, ninguém, exceto o seu confessor, soube que ela era a vidente da revelação de Nossa Senhora, fato notabilizado somente após a sua morte em 31 de dezembro de 1876, aos 70 anos de idade.

Seu corpo, exumado em 1933, permanecia incorrupto, mesmo a cor dos olhos; está hoje num caixão de cristal sob o altar das aparições, no Santuário da Medalha Milagrosa, Rue du Bac, Paris. Canonizada, sua festa foi colocada no dia da última aparição, 27 de novembro.

Reflexão:

“Mas, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita” (Mt 6,3). A caridade deve ser praticada sem alarde, sem vanglória, mas somente com o espírito de amor a Deus e ao próximo. Santa Catarina não quis ser conhecida como uma privilegiada de Deus, agraciada com o contato direto e particular da Virgem Maria, nem que o bem praticado no seu trabalho fosse reconhecido e admirado. Ao contrário, tudo o que nela foi exaltado revelou-se quando já não poderia receber nenhum retorno terreno, pois a verdadeira glorificação é obra somente de Deus. Certamente é questão da mais rasa justiça reconhecer o valor do próximo, mas a vaidade pelo que fazemos corretamente contradiz a razão, já que fazer o melhor possível aquilo que devemos fazer é o mínimo diante de Deus; de fato, é Ele mesmo que nos dá as graças, dons e condições sem as quais nada teríamos nem poderíamos fazer. A prática da caridade traz a felicidade e a paz por si mesma, e a recompensa infinita no Céu.

Oração:

Ó Santa Catarina Labouré, escolhida como mensageira da vontade de Nossa Senhora, obtende-nos de Deus servir ao próximo com amor, humildade e constância, e a confiança plena e tranquila nos desígnios do Pai e no favor de Maria Santíssima. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

A alegria do Evangelho: Um chamado para todo cristão

O Papa Francisco durante a Audiência Geral  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Na Audiência Geral desta quarta-feira, 27 de novembro, o Papa Francisco destacou a ‘alegria evangélica’, que se reflete na vida do sacerdote Thiago Henrique Guimarães, que relembra seu encontro com o Pontífice em Aparecida-SP: “Já demonstrava sua alegria nos encontros”.

Fagner Lima – Vatican News

A alegria foi o fruto do Espírito Santo destacado pelo Papa Francisco, na última quarta-feira (27/11), em mais uma catequese dirigida aos fiéis do mundo, direto da Praça São Pedro, no Vaticano. Desde o início de seu pontificado, o Santo Padre recorda da alegria que se deve ter o cristão.

O sacerdote da Arquidiocese de Aparecida, no interior de São Paulo, Thiago Henrique Guimarães, compartilha seu testemunho, ao celebrar cinco anos de ordenação presbiteral, desta alegria fruto do Espírito Santo que brota em sua vida na decisão de seguir a Cristo em sua vocação.

A alegria do cristão

“A alegria deveria ser a marca registrada do cristão”, destaca o presbítero, que recorda de modo particular os discursos do Santo Padre. “O Papa Francisco sempre nos lembra de São Felipe Neri, considerado o ‘santo da alegria’, que mesmo diante das tribulações de sua vida mantinha esse sentimento, não de forma passageira, mas sim de maneira constante em sua vida”.

Ressaltando ainda os desafios do cotidiano, ele pontua que “vemos muitos motivos que sugam nossas alegrias”, porém, encoraja que o cristão “nunca pode perder esse fruto que vem do Espírito Santo. Devemos saber ter nele a centelha que ilumina as sombras que insistem em apagar o brilho de nossa alegria”.

Um sentimento que permanece

Padre Thiago elucida que a alegria que vem do Espirito Santo é permanente: “E ao me referir em ‘alegria’, não estou falando naquela momentânea, efusiva e até mesmo escandalosa. Mas, no sentimento que permanece, que caminha de mãos dadas com a esperança. São como irmãs: alegria e esperança a guiar nossos passos.”

O sentimento desse júbilo vem do encontro pessoal com Cristo, pontua o sacerdote, recordando a figura de Francisco. “Veja nosso Papa Francisco, a alegria que transparece em cada encontro. Porque ali temos uma pessoa que se encontrou com Cristo verdadeiramente e que quer levar este mesmo Cristo aos outros”, fazendo alusão ainda a uma frase da homilia do primeiro Domingo de Ramos de seu pontificado:

“Não sejais nunca homens, mulheres tristes: um cristão jamais pode sê-lo. Nunca vos deixeis vencer pelo desânimo. A nossa alegria não nasce do fato de possuirmos muitas coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus”

Recordando do sucessor de Pedro, o sacerdote compartilha a experiência de seu encontro pessoal com o Papa recém-eleito ainda em 2013: "Nosso querido Papa Francisco, a quem já tive a oportunidade de trocar breves palavras na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, quando ele passou em Aparecida-SP. Já demonstrava sua alegria nos encontros, com os bispos ou autoridades, ou com os cozinheiros e seguranças. Sempre um sorriso, um afago e, dentro da possibilidade do tempo, uma pequena brincadeira”, destacando que essa é a verdadeira alegria do Ressuscitado.

"É aquela 'alegria do Ressuscitado' que proclamamos na Páscoa. É a alegria do 'Cristo Menino na Manjedoura' que iremos anunciar em breve no Natal, alegria que não cabe somente a nós, mas que é proclamada aos demais", complementa.

Alegrai-vos no Senhor

O presbítero conclui, encorajando aos cristãos. “Então, não percamos tempo! Hoje, temos tantas possibilidades de levar a alegria do Evangelho aos nossos irmãos e irmãs”, e compartilhando de sua vida cotidiana, recorda que em pequenos gestos conseguimos anunciar a ‘alegria evangélica’: “Eu mesmo, como dizem alguns amigos, tenho às vezes uma leve sutileza nos assuntos seja pelas mídias sociais ou nos encontros pessoais, para trazer o riso em alguns momentos ainda que mais formais”.

E finaliza, recordando as duas ‘irmãs’: “Sigamos a Cristo com coragem, fé e estas irmãs, esperança e alegria, e assim, testemunhemos seu bonito amor por cada um de nós!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Conheça o significado dos símbolos da Medalha Milagrosa

Nossa Senhora das Graças (A12)
27 de novembro
Nossa Senhora das Graças

Conheça o significado dos símbolos da Medalha Milagrosa

Ao celebrarmos o Dia de Nossa Senhora das Graças, vamos conhecer um pouco mais da mensagem apresentada em sua medalha milagrosa.

Escrito por Rádio Aparecida

27 NOV 2024 - 07H00 (Atualizada em 27 NOV 2024 - 07H35)

Hoje a Igreja celebra Nossa Senhora das Graças, a Virgem da Medalha Milagrosa. Sua devoção teve início, em 1830, com as aparições da Virgem Maria à Santa Catarina Labouré, na época freira do convento das Filhas da Caridade. Confiando-lhe a missão de mandar cunhar uma Medalha, a Virgem disse à irmã: 

“Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo, disse Nossa Senhora. As pessoas que a trouxerem com confiança receberão muitas graças, sobretudo se a trouxerem ao pescoço.” 

Compreendemos que o título Nossa Senhora das Graças está intimamente ligado à revelação da Medalha Milagrosa. Porém, as graças distribuídas por Nossa Senhora não dependem do uso da medalha e sim de pedir a ela com fé e devoção. Tanto que, em uma de suas aparições, Nossa Senhora se queixou a Santa Catarina Labouré dizendo: “Tenho muitas graças para distribuir…, mas as pessoas não me pedem”.

A medalha e Deus realizou muitos milagres e alcançou muitas graças aos que a utilizam. Mas, o que indicam os símbolos que aparecem na Medalha e qual é a sua mensagem?

#1 Triunfa sobre Satanás 

Na frente da Medalha Milagrosa, aparece a Virgem Maria esmagando a cabeça da serpente que está sobre o mundo: Ela, a Imaculada, tem todo poder em virtude de sua graça para triunfar sobre Satanás.

#2 Evoca o Apocalipse

As doze estrelas da cabeça de Maria e a cor de seu manto mostram a mulher vestida de sol, do Livro do Apocalipse.

#3 Raios das graças

Suas mãos estendidas, transmitindo raios de graça, são sinal de sua missão de Mãe e Medianeira das graças que derrama sobre o mundo e a quem lhes peça.

#4 Sinal da Imaculada

A famosa inscrição “Oh Maria” afirma a Imaculada Conceição da Virgem, manifestada a Santa Catarina nesta aparição em 27 de novembro de 1830, muito antes do dogma ser proclamado em 1854. Do mesmo modo, indica a missão de intercessão da Mãe de Deus, a quem podemos procurar com confiança.

#5 A realeza de Maria

globo, que representa a terra, está sob os pés da Virgem Maria, porque Ela é a rainha do céu e da Terra.

#6 Mãe do crucificado

Na parte de trás da Medalha está a letra “M”, símbolo de Maria e da sua maternidade espiritual. A cruz é o mistério da redenção e sustenta a letra “Yota” do alfabeto grego ou a “I”, que é um monograma do nome “Jesus”. Tudo isso simboliza a Mãe de Cristo crucificado.

#7 A Igreja com os Corações Sagrados

As doze estrelas são um símbolo da Igreja que Cristo fundou nos Apóstolos. Enquanto os Sagrados Corações de Jesus e Maria se referem à devoção que os cristãos devem ter a ambos os corações.

Reze a Oração a Nossa Senhora das Graças

a12 · Rádio Aparecida: Oração a Nossa Senhora das Graças

https://www.a12.com/radio/noticias/conheca-o-significado-dos-simbolos-da-medalha-milagrosa

Fonte: acidigital.com

VIRTUDES CARDEAIS: A prudência é a verdadeira razão prática (II)

Alegoria de três das quatro virtudes cardeais: fortaleza, prudência e temperança (falta justiça), Rafael, Stanza della Segnatura, Vaticano

VIRTUDES CARDEAIS

Arquivo 30Giorni nº. 11 - 2000

A prudência é a verdadeira razão prática

Para Aristóteles, a prudência era a maior virtude do político, a capacidade de ver coisas boas para si e para os outros homens. Para São Tomás, guiou as outras virtudes para o meio-termo dourado. Em vez disso, Kant relegou-o para fora da esfera moral.

por Giovanni Franchi

O declínio da prudência e da filosofia moderna 

A doutrina moral de Tomás de Aquino estabeleceu, como vimos, uma ligação firme entre o trabalho do intelecto e o da vontade: este admirável equilíbrio foi perdido no século XIV com o “nominalismo”. É sobretudo Guilherme de Ockham (ca. 1280-1349) quem contesta a ideia de que a vontade já está em si orientada para o bem, e que portanto as escolhas que o homem faz livremente estão enraizadas numa verdade de razão que as precede. Os “nominalistas” negam, na prática, a ideia de uma “liberdade de qualidade” (entendida como a discricionariedade de tornar ou não um bem cognoscível por meio do intelecto) e afirmam, em vez disso, uma “liberdade de indiferença” ( como simples possibilidade de escolher entre opostos) (13) . A grande fratura entre o intelecto e a vontade, entre a teoria e a prática, que caracteriza a Escolástica tardo-medieval, tem consequências muito importantes que chegam até aos nossos tempos e condicionou o destino de uma virtude como a prudência, cuja tarefa é precisamente mediar entre os dois diferentes esferas. Da “fratura” nominalista surge, de fato, por um lado, a redução “moderna” da prudência à simples “prudência” ou “astúcia” individual voltada à sobrevivência em um mundo hostil, como, por exemplo, no espanhol o jesuíta Baltasar Gracián (1601-1658) (“ Que a circunspecção do prudente concorra com a atenção do observador... ” (14) ); por outro, a sua expulsão do papel de guia das ciências políticas e jurídicas: se Aristóteles tivesse ligado estreitamente a frónhsiw e a política, e Tomás de Aquino tivesse falado especificamente de uma "prudência política" cujo objectivo é o bem da sociedade (15) , o pensamento político moderno , livre do condicionamento dos princípios morais, encontra seu fundamento na voluntarista "liberdade de indiferença" de indivíduos empíricos únicos e pode, assim, dar vida ao direito natural “contratual” (16) . A partir de Thomas Hobbes (1588-1679), ganha cada vez mais espaço uma linha de pensamento que busca estudar a política por meio de um método rigoroso, baseado em princípios matemáticos e das ciências naturais. Assistimos assim à transição da clássica prudentia civilis ou prudentia política à ciência de câmara esclarecida, na qual o trabalho técnico dos governos se torna central para o bem-estar económico e social das nações (17) .

Um verdadeiro “golpe de graça” à virtude da prudência foi infligido por Immanuel Kant (1724-1804) em seus Fundamentos da Metafísica da Moral. Para o filósofo prussiano, o princípio supremo da moralidade é a plena autonomia da vontade individual. Isto é expresso num “imperativo categórico” “a priori”: “ Aja apenas de acordo com aquela máxima através da qual vocês possam juntos querer que ela se torne uma lei universal ” (18) . A Prudência ( Klugheit ), que Kant define como «a capacidade de escolher os meios para o máximo bem-estar» (19) , tem uma natureza "heterônoma", "a posteriori" (ou seja, depende de um fim externo à vontade) , sendo, consequentemente, relegado para fora da verdadeira esfera moral, próximo da simples habilidade técnico-prática (20) . 

A "reabilitação da filosofia prática" e os caminhos para a recuperação da prudência 

O triunfo do Iluminismo e dos princípios positivistas nas ciências morais e políticas coincide com o completo esquecimento da prudência e, mais genericamente, do estudo das virtudes. Somente no final do século XIX houve um retorno parcial à filosofia antiga e medieval: no contexto católico, o Papa Leão XIII fez do pensamento de Tomás de Aquino a doutrina filosófica e teológica oficial da Igreja (encíclica Aeterni Patris , 1879). No entanto, a abordagem ainda fortemente racionalista e dogmática do neotomismo impede um interesse específico pela ética e pela "razão prática": na verdade, foi apenas em 1936 que o filósofo alemão Josef Pieper (1904-1997) dedicou um breve mas importante ensaio sobre a prudência, dentro de uma tetralogia de escritos sobre as virtudes cardeais (21) . Ao mesmo tempo, no contexto “secular”, no início do século XX, especialmente na Alemanha, assistimos a um renovado interesse pelo pensamento antigo, tanto que se falava mesmo de um “neohumanismo alemão” (U. von Wilamowitz-Moellendorff, W. Jaeger, P. Natorp etc.) (22) . Neste contexto Max Scheler (1874-1928) e Nicolai Hartmann (1882-1950) elaboram uma doutrina moral baseada na intuição de "valores" objetivos (23) , enquanto Othmar Spann (1878-1950) fala explicitamente das virtudes como orientação humana para a perfeição (24) .

No entanto, foi depois da Segunda Guerra Mundial que o interesse pela ética antiga e, portanto, também pelo problema das virtudes se desenvolveu de forma mais aprofundada e coerente. Graças aos trabalhos de autores como Leo Strauss (1899-1973), Eric Voegelin (1901-1985) e Hannah Arendt (1906-1975), movimento que tomou o nome de «reabilitação da filosofia prática» (K.-H Ilting, HG Gadamer, J. Ritter, M. Riedel etc.) que se refere ao. frónhsiw de Aristóteles em oposição ao cientificismo marxista e neopositivista (25) . Na França, Pierre Aubenque dedicou um ensaio à prudência em Aristóteles (26) ; na Inglaterra Gertrude Anscombe e Georg H. von Wright, ambos alunos de Ludwig Wittgenstein, em oposição ao modelo "nomológico-dedutivo" dos neopositivistas deram vida a uma lógica baseada no silogismo prático, enquanto nos Estados Unidos, Alasdair MacIntyre, com Depois da virtude (1981) (27) , tornou-se um dos protagonistas da virada na filosofia anglo-saxônica em direção a um renascimento de temas humanísticos e metafísicos. Finalmente, mesmo na Itália, após a longa temporada de neo-idealismo, houve um renascimento do interesse pela filosofia antiga, especialmente com Giovanni Reale, da Universidade Católica de Milão, que com a sua escola tratou principalmente de Platão, e com Enrico Berti , ex-aluno de Marino Gentile e professor em Pádua, atualmente um dos mais importantes estudiosos do pensamento de Aristóteles.

Como, podemos perguntar-nos neste ponto, é possível recuperar plenamente o papel da prudência no método das ciências filosóficas e sociais que ainda não ocorreu? Certamente deverá passar por uma reconsideração da importância das virtudes no contexto de uma antropologia filosoficamente fundamentada. Em segundo lugar, então, também através de uma redescoberta da sua centralidade em toda ação política e social que não renuncia nem a um fundamento racional nem a uma distinção do simples “fazer” da tecnologia: nesta direção eles se moveram nos últimos anos, alguns autores (28) . Além disso, é importante reconhecer a correção lógica do raciocínio prudente, isto é, do silogismo prático, uma correção que agora encontrou amplo reconhecimento como, por exemplo, no próprio Berti (29). Por outro lado, o resultado especificamente prático de tal raciocínio, necessário à vida civil e política dos indivíduos, parece finalmente não poder ser plenamente alcançado por aqueles que, embora em parte estejam na origem da própria "reabilitação" da filosofia prática, como Hans Georg Gadamer, do frónhsiw, acentuou particularmente o momento da “interpretação”, isto é, do questionamento histórico e sempre “aberto” do objeto (hermenêutica), em detrimento de uma obrigatoriedade resposta racional capaz de qualificar a ação e responsabilizar as pessoas pelos seus efeitos (30) . 

Notas: 

13 Sobre isso cf. S. Pinckaers, op. cit ., pág. 444 e segs.
14 Cf. G. Macchia , Os moralistas clássicos , Milão 1989, p. 25 e pág. 261 e segs. e diretamente B. Gracián, Manual oráculo e arte da prudência , Milão 1991.
15 São Tomás de Aquino, A soma teológica , cit., questão 47, artigos 10-12.
16 Só depois da Revolução Francesa Joseph de Maistre pôde ser irónico sobre o conceito de liberdade no Iluminismo: o liberal John Locke identificou erradamente a liberdade com a simples capacidade de agir e com a “vontade livre”; mesmo o seu discípulo Condillac «troca o resultado ou sinal externo da liberdade, isto é, a ação física, com a própria liberdade, que é um facto moral. “Liberdade é capacidade de fazer”! E o que isso significa? Talvez um homem preso e oprimido por correntes não tenha capacidade de ser culpado de todos os crimes, mesmo sem agir? Tudo o que ele precisa fazer é querer." Na verdade, a vontade não pode ser forçada (não seria mais vontade), mas apenas atraída pelo bem ou pelo mal. J. de Maistre, As Noites de Petersburgo , Milão 1986, pp. 315-319.
17 Ver V. Sellin, Política , Veneza 1993, em parte. pp. 57-95.
18 I. Kant, Fundação da metafísica dos costumes , Milão 1995, p. 151.
19 Ibid. , pág. 137. 20 Sobre tudo isso cf. P. Pellegrin, op. cit.
, pp. 1205-1206.
21 Ver nota 8.
22 Assim em E. Berti, Aristotele nel Novecento , Bari 1992, p. 15 e segs.
23 M. Scheler , Der Formalismus in der Ethik und die material Wertethik , Halle 1913-1916; N. Hartmann, Ethik , Berlim 1926.
24 O. Spann, Gesellschaftsphilosophie , Munique 1928.
25 Sobre a “reabilitação da filosofia prática” cf. L. Cortella, Aristóteles e a racionalidade da práxis. Uma análise do debate sobre a filosofia prática aristotélica na Alemanha , Roma 1987; G. Fornero, A reabilitação da filosofia prática na Alemanha e o debate entre "neo-aristotélicos" e "pós-kantianos" , em N. Abbagnano, História da filosofia , vol. IX, Filosofia contemporânea 3 , Milão 1996, p. 195 e seguintes; E. Berti, op. cit ., pág. 186 e segs.
26 Ver nota 2.
27 A. MacIntyre, After Virtue , Milão 1988.
28 Por exemplo, de um ponto de vista tomista, cf. U. Galeazzi, Ética filosófica em Tomás de Aquino , Roma 1990; Id., Introdução a Tomás de Aquino Os vícios mortais , Milão 1996, p. 5 e seguintes; G. Abbà, Lex e virtus. Estudos sobre a evolução da doutrina moral de São Tomás de Aquino , Roma 1983; Id., Felicidade, boa vida e virtude. Ensaio sobre filosofia moral , Roma 1995; Id., Que abordagem para a filosofia moral ? , Roma 1996. 

29 Ver E. Berti, Racionalidade prática entre ciência e filosofia , em Id., Os caminhos da razão , Bolonha 1987, p. 55 e segs. 

30 Veja, por exemplo HG Gadamer, Hermenêutica como filosofia prática , em Id., Razão na era da ciência , Gênova 1999, p. 87 e segs., onde, equiparando filosofia prática e hermenêutica, afirma: «Uma interpretação definitiva seria em si uma contradição. A interpretação está sempre em movimento” (p. 104).

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF