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domingo, 1 de dezembro de 2024

Hoje é celebrado São Carlos de Foucauld, que deixou a nobreza para viver a vida oculta de Cristo

São Caros de Foucauld (ACI Digital)

Por Redação central

1 de dez de 2024

A Igreja Católica celebra hoje (1), são Carlos de Foucauld (1858-1916), um eremita e místico francês canonizado em 15 de maio de 2022 pelo papa Francisco.

Foucauld inspirou muitos movimentos e correntes espirituais contemporâneas graças ao seu exemplo de perseverança na busca espiritual e a seu testemunho do que é viver desapegado das seguranças que o mundo de hoje oferece.

Um místico dos tempos modernos

Mas acima de tudo, Foucauld buscou seguir os passos de Cristo. Fê-lo precisamente num momento da história em que a sociedade começava a ser construída não só sem Deus, mas também contra Deus.

Nascido na nobreza francesa, tornou-se militar e aventureiro. Ao encontrar-se com Deus, abandonou tudo para viver para Ele. Assim, Carlos de Foucauld tornou-se um místico nos tempos modernos.

“A fé é incompatível com o orgulho, com a vanglória, com o desejo da estima dos homens. Para crer é preciso humilhar-se”, escreveu o santo.

Dono de um coração insatisfeito

Carlos de Foucauld nasceu em Estrasburgo, França, em 1858, em uma família aristocrática. O santo ficou órfão aos seis anos de idade. Sua mãe morreu em trabalho de parto e seu pai morreu de tuberculose logo depois. Junto com sua irmã, De Foucauld foi deixado aos cuidados de um de seus avós.

Depois de estudar nos colégios jesuítas em Nancy, primeiro, e depois em Paris, De Foucauld entrou no serviço militar em 1876, mas foi dispensado por má conduta alguns anos depois, enquanto estava na Argélia, então colônia francesa na África. Ele voltou ao exército por causa de uma revolta no país africano. Finda a revolta, De Foucauld deixou definitivamente ao exército.

Em 1882 fez uma expedição ao Marrocos. Tendo se tornado um explorador, estudou árabe e hebraico.

Durante a sua viagem, fez-se passar por judeu, mais aceitos pelos muçulmanos marroquinos do que os cristãos. O ex-militar percorreu lugares inóspitos na Argélia e na Tunísia, e descreveu culturas e costumes. De Foucauld foi premiado com a medalha de ouro da Sociedade Geográfica Francesa.

Uma longa viagem interior

Em 1886, Foucauld teve uma profunda experiência de conversão. Tudo começou quando ele percebeu a entrega e o fervor com que os muçulmanos viviam sua fé. Seus olhos se abriram em terras que não eram as suas, mas onde, assim como em sua pátria, havia um Deus a ser venerado. Para Carlos, a religião sempre esteve à margem, longe de seus interesses. A própria ideia de um Deus criador sempre lhe pareceu repulsiva.

Com a ajuda de um sacerdote, o padre Huvelin, Carlos começou a descobrir a verdadeira essência do cristianismo e a perceber que faltava em sua vida o que ele mais desejava. Abrindo o coração ao Senhor, fez uma sincera confissão de vida ao sacerdote.

Depois de fazer uma peregrinação à Terra Santa com a intenção de percorrer os caminhos que Jesus percorreu, Foucauld ingressou no mosteiro de Notre Dames-des-Neiges para ser monge trapista; lá ele adotou o nome de Marie-Alberic. Depois, foi enviado para o mosteiro de Akbes na Síria e depois se estabeleceu em Roma, onde começou a estudar.

Depois, ele decidiu deixar os trapistas e voltar ao norte da África. O objetivo do homem do mundo premiado e invejado era viver oculto, como oculto viveu Jesus entre a infância, narrada nos Evangelhos de Mateus e Luccas, e a vida pública.

Decidiu, então, voltar para o norte da África.

Voltou como peregrino à Terra Santa, onde permaneceu alguns anos, e depois voltou para a França. Depois de retomar os estudos de teologia, foi ordenado sacerdote em 1901.

Espiritualidade do deserto

Já como padre, Carlos de Foucauld foi morar perto do Marrocos.

De Foucauld foi missionário para os tuaregues, povo que habita o deserto do Saara. Ele escreveu vários livros sobre esse povo e traduziu os Evangelhos para o idioma deles. Ele também escreveu o primeiro dicionário tuaregue-francês. O bom Carlos se estabeleceu no coração do deserto do Saara, em Tamanrasset (Hoggar, Argélia), abraçando o estilo de vida eremita e o misticismo.

Em 1909 fundou a União dos Irmãos e Irmãs do Sagrado Coração, tendo como principal objetivo a evangelização das colônias francesas na África. No entanto, ninguém perseverou no projeto e ele ficou praticamente sozinho. Assim, os berberes, etnia do norte da África, se tornaram sua nova família, em seu novo mundo. Muitos deles reconheceram em Carlos um verdadeiro amigo.

“Despojado de tudo”

Em 1º de dezembro de 1916, são Carlos de Foucauld foi assassinado na porta da ermida onde vivia e rezava.

"Creio que é necessário morrer como mártir, despojado de tudo, deitado no chão, nu, coberto de feridas e sangue, de forma violenta e com uma morte dolorosa" escrevera o santo, com extraordinária dureza, prenunciando, sem o saber, o que seria o seu fim.

Dez congregações religiosas e oito associações espirituais inspiraram-se no seu testemunho e carisma.

Carlos de Foucauld foi beatificado pelo papa emérito Bento XVI em 2005. Sua canonização data de 15 de maio de 2022.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/53870/hoje-e-celebrado-sao-carlos-de-foucauld-que-deixou-a-nobreza-para-viver-a-vida-oculta-de-cristo

Reflexão para o 1º domingo do Advento (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Neste domingo, o primeiro do Advento, a liturgia nos fala de reconstrução. Temos, pela frente, um tempo para reconstruir, restaurar nossa vida de acordo com as virtudes teologais; fé, esperança e amor.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

Deus nos abençoa, mais uma  vez, com as graças de um novo Ano Litúrgico. Mais uma vez reviveremos, um por um, os grandes mistérios da Vida de Jesus Cristo em favor de nossa redenção. A Igreja o inicia com o tempo do Advento, a preparação para a vinda definitiva de Jesus e também a celebração da espera pelo seu Santo Natal.

Neste domingo, o primeiro do Advento, a liturgia nos fala de reconstrução. Temos, pela frente, um tempo para reconstruir, restaurar nossa vida de acordo com as virtudes teologais; fé, esperança e amor.

A primeira leitura fala da realização das promessas de restabelecimento da justiça e da paz. Fala do surgimento do descendente de Davi, isto é, do Messias, o Príncipe da Paz.   Contudo Deus deseja que a ação do Cristo seja completada por seus seguidores que, segundo a leitura, são designados pelo sugestivo nome, pela identidade  “O Senhor é nossa Justiça”.

No Evangelho, a visão apocalíptica do cosmos quer nos falar do mundo de hoje, onde, por causa do pecado, a desordem, a violência e a angústia se instalaram. Mas a mensagem de Boa Nova é a própria promessa de Jesus de um mundo novo, que irá se realizar com sua chegada e a consequente libertação de todos os seus seguidores.

Nossa postura, enquanto aguardamos essa realização, deverá ser a de pessoas fiéis à sua palavra e à sua ação renovadora e definitiva, isto é, cabeça erguida, rejeição de consolações enganosas e fugazes. Finalizando, o Senhor nos indica a  vigilância e a oração. Através dela seremos capacitados ao discernimento e, com isso, a conhecermos onde está a presença salvadora de Deus.

Concluindo, as leituras de hoje nos propõem uma atitude madura frente aos problemas da vida, do dia a dia. Ela deve ser marcada pela fé em Jesus, esperando sua ação restauradora da justiça e da paz. Enquanto isso deveremos ir praticando a caridade, o amor e, consequentemente, essa nossa atitude positiva, já estará realizando a chegada de Jesus, a nossa Justiça.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A ESPERANÇA É UMA PESSOA

Jesus é nossa Esperança (CNBB)

CAMPANHA PARA A EVANGELIZAÇÃO 2024: TEMPO DE SER SINAL DE ESPERANÇA PARA A HUMANIDADE

No Advento, a Igreja celebra a encarnação de Jesus num tempo litúrgico que  ensina a esperar a vinda definitiva de Jesus Cristo. De acordo com a assessora da Comissão Episcopal para a Animação Bíblico Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Mariana Venâncio, todo Advento carrega o duplo significado da espera pela celebração do Natal, a memória que atualiza a encarnação de Jesus, e a vinda definitiva do Senhor.

A opinião é compartilhada pelo coordenador de Campanhas da CNBB, padre Jean Poul, para quem o Advento é o tempo da acolhida do menino Jesus, esperança para a humanidade. Esta ideia foi assumida como tema da Campanha para Evangelização 2024: “Jesus, nossa Esperança, habita entre nós. É nossa missão anunciá-lo”.

O padre Jean explica que a Campanha para a Evangelização acontece às vésperas do início do Jubileu dos 2025 da encarnação do verbo cuja abertura será na Noite de Natal deste ano. Isto, segundo ele, foi o que levou à escolha do tema da Campanha para a Evangelização deste ano.

“O primeiro fundamento de nossa Esperança é a vida eterna trazida por Cristo. Não somos só destinatários desta Esperança, somos também anunciadores. Por isto, devemos anunciar que Jesus é nossa esperança e habita entre nós”, reforçou.

A Campanha para a Evangelização, segundo padre Jean, subsidia as ações evangelizadoras das dioceses, regionais e a CNBB. “A Campanha é um tempo de conscientização sobre a responsabilidade evangelizadora de todos os cristãos. Não é apenas uma coleta, é antes uma conscientização sobre a missão de todos nós”, afirmou.

Presença de Cristo no mundo

A assessora da Comissão Bíblico Catequética da CNBB reforça que é importante que a gente sempre tenha em vista é que a nossa Esperança é Jesus. “A Esperança Cristã não é a simples espera por coisas que virão mas a grande espera por Aquele que virá: que é Jesus Cristo”, disse. Ela explica que a grande espera está sempre sustentada por pequenas esperas: sinais do Cristo que virá já no tempo presente.

O Papa Francisco, na Bula de Proclamação do Jubileu, oferece uma série de indicações de como, neste tempo marcado por desesperança, os cristãos podem sinalizar a grande esperança que é Jesus Cristo.

Segundo Mariana, o Papa propõe um caminho muito importante para todos os cristãos. “Para viver, de fato, a Esperança Cristã é necessário que nossa esperança esteja ancorada em Jesus Cristo. Mas o próprio Jesus tem um método que deve ser o nosso método também. Ele anunciou a salvação que trazia marcando a vida das pessoas com pequenos sinais desta salvação, que não era a Salvação definitiva ainda, mas que fazia as pessoas a aprender a esperar, aprender a Esperança”, refletiu.

Aprendizado da Esperança

Segundo a assessora da CNBB, os católicos têm a missão de ajudar o povo, nesse tempo, no aprendizado da Esperança, a partir do jeito mesmo de Jesus ser:  a comunhão em pequenos grupos, marcar a vida das pessoas com o sinal da cura que é Jesus, da reconciliação que ele traz, com pequenos sinais de fraternidade e com o cuidado com a Casa Comum.

De acordo com ela, estes talvez as expressões do jeito de ser de Jesus são uma  profecia da Esperança nos tempos atuais. “Muitas pessoas não têm mais uma perspectiva de futuro e chegam a pensar que  que não precisam cuidar do mundo porque não estarão mais aqui”, disse.

A assessora reforçou que para celebrar bem o Jubileu 2025 é importante saber que além da Esperança será um Jubileu que celebrará a encarnação de Jesus Cristo. “No Advento, celebramos a encarnação de Jesus como aquilo que nos ensina a esperar a vinda definitiva de Jesus Cristo. O Jubileu é a celebração da encarnação do Senhor”, disse.

Neste caminho, ela reforça que ajuda muito a escuta da Palavra de Deus a fonte onde se aprende o método de Jesus de marcar a nossa história e o nosso tempo com os sinais do Senhor, imitando todos os exemplos que Ele nos deixou.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa: em meio às dificuldades, o Advento é uma oportunidade para renovar a esperança

Angelus - 01 de dezembro de 2024 - Papa Francisco (Vatican News)

"Se as preocupações sobrecarregam o coração e nos levam a nos fecharmos em nós mesmos, Jesus, ao contrário, nos convida a erguer a cabeça, a confiar em Seu amor que quer nos salvar e que se aproxima de nós em toda situação de nossa existência", foi a exortação do Papa Francisco em sua reflexão antes da oração mariana do Angelus deste I Domingo do Advento.

https://youtu.be/V99bf4lKXLw

Thulio Fonseca - Vatican News

“O convite de Jesus é este: erguer a cabeça para o alto e manter o coração leve e vigilante.”

Foi o que recordou o Papa Francisco, durante a oração mariana do Angelus deste I Domingo do Advento (01/12), com os fiéis reunidos na Praça São Pedro. Em sua reflexão, o Santo Padre, ao meditar sobre o evangelho proposto pela liturgia neste tempo em que a Igreja convida os fiéis a se prepararem para o Natal, destacou o convite de Jesus para enfrentar as ansiedades da vida com um coração vigilante e livre, confiando no amor divino que nos sustenta.

"O Mestre quer que nossos corações não fiquem pesados pelas angústias ou preocupações", afirmou o Pontífice ao comentar os eventos catastróficos e as tribulações descritas no Evangelho. "Ao contrário, Ele nos convida a erguer a cabeça, confiando em Seu amor e em Sua promessa de salvação, mesmo nos momentos mais difíceis."

Superar o medo com confiança em Deus

O Papa ressaltou que, nos tempos de Jesus, muitos interpretavam os acontecimentos dramáticos como sinais do fim do mundo, sendo tomados pelo medo. No entanto, Francisco enfatizou que Cristo oferece uma perspectiva diferente: "Ele nos liberta das falsas convicções e nos ajuda a interpretar os fatos à luz do projeto de Deus, que realiza Sua salvação mesmo nas situações mais dramáticas da história."

Francisco também convidou os fiéis a refletirem sobre suas próprias vidas: "Meu coração está sobrecarregado pelas preocupações e pelo medo do futuro? Ou consigo olhar para as circunstâncias diárias com os olhos de Deus, em oração, com um horizonte mais amplo?"

Vigilância e oração

Durante sua alocução, o Pontífice destacou ainda a importância de manter a vigilância espiritual, prevenindo que o coração se torne "pesado" com as preocupações mundanas, pois "todos nós, em muitos momentos da vida, nos perguntamos: como ter um coração 'leve', vigilante e livre que não se deixa esmagar pela tristeza?"

"Pode acontecer, de fato, que as ansiedades, os medos e as preocupações com nossa vida pessoal ou com o que acontece no mundo atualmente pesem sobre nós como pedras e nos lancem no desânimo. Se as preocupações sobrecarregam o coração e nos levam a nos fecharmos em nós mesmos, Jesus, ao contrário, nos convida a erguer a cabeça, a confiar em Seu amor que quer nos salvar e que se aproxima de nós em toda situação de nossa existência, a abrir espaço para Ele e, assim, reencontrar a esperança."

Acolher o projeto de Deus

Ao concluir sua reflexão, Francisco expressou seu desejo de que "este tempo do Advento seja uma oportunidade preciosa para levantar o olhar para o Senhor, que alivia o coração e nos sustenta no caminho", e acrescentou:

"Invoquemos a Virgem Maria, que, mesmo nos momentos de prova, esteve pronta para acolher o projeto de Deus."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 30 de novembro de 2024

Tempo do Advento: Preparar a Vinda do Senhor

Tempo do Advento (Opus Dei)

Tempo do Advento: Preparar a Vinda do Senhor

O Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós. O Advento é um tempo no qual a Igreja convida os seus filhos a vigiar, a estar despertos para receber a Cristo que passa, a Cristo que vem. Editorial sobre este tempo do ano litúrgico.

27/11/2022

“Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos.” Essas palavras da oração coleta do primeiro domingo do Advento iluminam com grande eficácia o caráter peculiar desse tempo, em que se dá início ao Ano litúrgico. Imitando a atitude das virgens prudentes da parábola evangélica, que souberam preparar o azeite para as bodas do Esposo [1], a Igreja convida os seus filhos a vigiar, a estar despertos para receber a Cristo que passa, a Cristo que vem.

Tempo de presença

Ao dizer adventus, os cristãos afirmavam, simplesmente, que Deus está aqui: o Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós.

O desejo de sair ao encontro, de preparar a vinda do Senhor[2], nos coloca diante do termo grego parusia, que o latim traduz como adventus, de onde surge a palavra Advento. De fato, adventus pode ser traduzido como “presença”, “chegada”, “vinda”. Não se trata, portanto, de uma palavra inventada pelos cristãos: era usada na Antiguidade em âmbito não cristão para designar a primeira visita oficial de um personagem importante - o rei, o imperador ou um de seus funcionários - por motivo da sua tomada de posse. Também podia indicar a vinda da divindade, que sai da sua ocultação para se manifestar com força, o que se celebra no culto. Os cristãos adotaram o termo para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei que entrou nesta pobre “província”, nossa terra, para visitar a todos, um Rei que convida a participar na festa do seu Advento todos os que creem n’Ele, a todos que estão certos de sua presença entre nós.

Ao dizer adventus, os cristãos afirmavam, simplesmente, que Deus está aqui: o Senhor não se retirou do mundo, não nos deixou sós. Mesmo que não possamos vê-lo ou tocá-lo, como ocorre com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem nos visitar de muitas formas: na leitura da Sagrada Escritura, nos sacramentos, especialmente na Eucaristia, no ano litúrgico, na vida dos santos, em tantos episódios, mais ou menos comuns, da vida cotidiana, na beleza da criação… Deus nos ama, conhece nosso nome, tudo o que é nosso lhe interessa e está sempre presente junto de nós. Esta segurança da sua presença, que a liturgia do Advento nos sugere discretamente, mas com constância ao longo destas semanas, não esboça uma nova imagem do mundo ante nossos olhos? “Essa certeza, que procede da fé, faz-nos olhar o que nos cerca sob uma nova luz, e leva-nos a perceber que, permanecendo tudo como antes, tudo se torna diferente, porque tudo é expressão do amor de Deus.”[3]

Uma memória agradecida

O Advento nos convida a pararmos, em silêncio, para captar a presença de Deus. São dias para voltar a considerar, com palavras de São Josemaria, que “Deus está junto de nós continuamente. - Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um Pai amoroso - quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos -, ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando” [4].

Se esta realidade inundar a nossa vida, se a consideramos com frequência no tempo do Advento, nos sentiremos animados a dirigir-lhe a palavra com a confiança na oração, e muitas vezes durante o dia, lhe apresentaremos os sofrimentos que nos entristecem, a impaciência e as perguntas que brotam de nosso coração. Este é um momento oportuno para que cresça em nós a segurança de que Ele nos escuta sempre. “A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado!” [5]

Compreendemos também como os acontecimentos às vezes inesperados de cada dia são gestos personalíssimos que Deus nos dirige, sinais do seu olhar atento sobre cada um de nós. Acontece que costumamos estar muito atentos aos problemas, às dificuldades, e às vezes mal nos restam forças para perceber tantas coisas belas e boas que vêm do Senhor. O Advento é um tempo para considerar, com mais frequência, como Ele nos protegeu, guiou e ajudou nas vicissitudes de nossa vida, para louvá-lo por tudo o que fez e continua fazendo por nós.

Esse estar despertos e vigilantes perante os detalhes de nosso Pai no céu floresce em ações de graças. Nasce assim em nós uma memória do bem que nos ajuda inclusive na hora escura das dificuldades, dos problemas, da doença, da dor. “A alegria evangelizadora - escreve o Papa - refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos pedir.” [6] O Advento nos convida a escrever, por dizer de alguma forma, um diário interior deste amor de Deus por nós. “Acredito que vós e eu - dizia São Josemaria - ao pensarmos nas circunstâncias que acompanharam a nossa decisão de nos esforçarmos por viver integralmente a fé, daremos muitas graças ao Senhor e teremos a convicção sincera - sem falsas humildades - de que não houve nisso mérito algum da nossa parte.” [7]

Deus vem

A alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos pedir (Papa Francisco)

Dominus veniet![8] Deus vem! Esta breve exclamação que abre o tempo do Advento ressoa especialmente ao longo destas semanas, e depois, durante todo o ano litúrgico. Deus vem! Não se trata simplesmente de que Deus tenha vindo, de algo do passado, nem tampouco é um simples anúncio de que Deus virá, em um futuro que poderia não ter excessiva transcendência para nosso hoje e agora. Deus vem: se trata de uma ação sempre em andamento, está acontecendo, acontece agora e continuará a acontecer conforme passe o tempo. A todo momento, “Deus vem”: em cada instante da história, o Senhor continua dizendo: “Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho”[9].

O Advento nos convida a tomar consciência desta verdade e a atuar de acordo com ela. “Já é hora de despertardes do sono”, “ficai atentos”, “o que vos digo, digo a todos: vigiai!”[10]. São chamadas da Sagrada Escritura nas leituras do primeiro domingo do Advento que nos lembram dessas constantes vindas, adventus, do Senhor. Nem ontem, nem amanhã, mas hoje, agora. Deus não está só no céu, desinteressado de nós e da nossa história; na realidade, Ele é o Deus que vem. A meditação atenta dos textos da liturgia do Advento nos ajuda a preparar-nos, para que a sua presença não passe despercebida.

Para os Padres da Igreja, a “vinda” de Deus -continua e conatural com seu próprio ser- se concentra nas duas principais vindas de Cristo: a de sua encarnação e a da sua volta glorioso no fim da história.[11] O tempo do Advento se desenvolve entre esses dois polos. Nos dias iniciais se sublinha a espera da última vinda do Senhor no fim dos tempos. E, à medida que se aproxima o Natal, abre-se caminho à memória do acontecimento em Belém, no qual se reconhece a plenitude dos tempos. “Por essas duas razões o Advento se manifesta como tempo de uma espera piedosa e alegre” [12].

O prefácio I do Advento sintetiza esse duplo motivo: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez, para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” [13].

Dias de espera e esperança

Um aspecto fundamental do Advento é, portanto, a espera, mas uma espera que o Senhor converte em esperança. A experiência nos mostra que passamos a vida esperando: quando somos crianças queremos crescer, na juventude aspiramos a um amor grande, que nos preencha, quando somos adultos buscamos a realização profissional, o sucesso determinante para o resto de nossa vida, quando chegamos à idade avançada aspiramos ao merecido descanso. No entanto, quando essas esperanças se cumprem, ou quando fracassam, percebemos que isso, na realidade, não era tudo. Precisamos de uma esperança que vá além do que podemos imaginar, que nos surpreenda. Assim, mesmo que existam esperanças maiores ou menores que dia a dia nos mantêm no caminho, na verdade, sem a grande esperança - a que nasce do Amor que o Espírito Santo pôs em nosso coração[14] e aspira a esse Amor-, todas as outras não bastam.

O Advento nos anima a perguntar “O que esperamos?”, “Qual é a nossa esperança?” Ou, de modo ainda mais profundo, “Que sentido tem meu presente, meu hoje e agora?” “Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso” [15].

Um presépio para nosso Deus

Nosso tempo presente tem um sentido porque o Messias, esperado por séculos, nasce em Belém. Juntamente com Maria e José, com a assistência dos nossos Anjos da Guarda, lhe esperamos com o desejo renovado. Cristo, ao vir entre nós, nos oferece o dom do seu amor e da sua salvação. Para os cristãos a esperança está animada por uma certeza: o Senhor está presente ao longo de toda nossa vida, no trabalho e nos afãs cotidianos, nos acompanha e um dia enxugará também nossas lágrimas. Um dia, não tão distante, tudo encontrará o seu cumprimento no reino de Deus, reino de justiça e de paz. “O tempo do Advento nos restitui o horizonte da esperança, uma esperança que não decepciona porque é fundada na Palavra de Deus. Uma esperança que não decepciona, simplesmente porque o Senhor não decepciona nunca!” [16]

O Advento é um tempo de presença e de espera do eterno, um tempo de alegria, de uma alegria íntima que nada pode eliminar: “eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria” [17]. O gozo no momento da espera é uma atitude profundamente cristã, que vemos plasmada na Santíssima Virgem: Ela, desde o momento da Anunciação, esperou “com amor de mãe” [18] a vinda de seu Filho, Jesus Cristo. Por isso, Ela também nos ensina a aguardar ansiosamente a chegada do Senhor, ao mesmo tempo que nos preparamos interiormente para esse encontro, com o desejo de “construir com o coração um presépio para nosso Deus” [19].

Juan José Silvestre


[1] Cfr. Mt 25, 1ss.

[2] Cfr. Tes 5, 23.

[3] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 144.

[4] São Josemaria, Caminho, n. 267.

[5] Missal Romano, I Domingo do Advento, Antífona de entrada. Cf. Sal 24 (25) 1-2.

[6] Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24-XI-2013, n. 13.

[7] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 1.

[8] Cfr. Missal Romano, Feria III (terça-feira) das semanas I-III do Advento, Antífona de entrada. Cfr. Za 14, 5.

[9] Jo 5, 17.

[10] Rm 13, 11; Lc 21, 36; Mc 13, 37.

[11] Cfr. São Cirilo de Jerusalém, Catequese 15, 1: PG 33, 870 (II Leitura do Ofício de Leituras do I Domingo do Advento).

[12] Calendário Romano, Normas universais sobre o ano litúrgico e sobre o calendário, n. 39.

[13] Missal Romano, Prefácio I do Advento.

[14] Cfr. Rom 5, 5

[15] Bento XVI, Homilia I Véspera do I Domingo do Advento, 28-XI-2009.

[16] Francisco, Ângelus, 1-XII-2013.

[17] Jo 16, 22.

[18] Missal Romano, Prefácio II do Advento.

[19] Notas de uma meditação, 25-XII-1973 (AGP, biblioteca, P09, p. 199). Publicado em Álvaro del Portillo, Caminar con Jesús. Al compás del año litúrgico, Ed. Cristiandad, Madrid 2014, p. 21.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/tempo-do-advento-preparar-a-vinda-do-senhor/

Reflexões contemporâneas sobre a detração e sussurro

Sussurrar (Flaticon)

REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS SOBRE A DETRAÇÃO E SUSSURRO  

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

A comunicação humana, desde os tempos antigos até os dias atuais, tem sido uma das principais formas de interação social. Contudo, ela também pode se transformar em um terreno fértil para conflitos e disseminação de ódio, especialmente quando utilizada de forma maliciosa. Santo Tomás de Aquino aborda, na Suma Teológica, dois comportamentos relacionados ao uso inadequado da palavra que merecem nossa atenção: a “detração” e o “sussurro”, analisados em profundidade no tratado sobre a justiça, nas Questões 73 e 74. 

Santo Tomás entende a “detração” como o ato de prejudicar a reputação de alguém por meio de palavras, geralmente ditas em segredo ou na ausência da pessoa. Esse pecado tem como objetivo manchar a boa fama do outro, causando-lhe prejuízo perante os demais. O detrator pode agir de diversas formas, seja atribuindo falsidades à pessoa, seja insinuando algo que comprometa sua honra. Essas atitudes são especialmente graves porque, como destaca Santo Tomás, a boa reputação é um bem valioso. Sua perda pode privar a pessoa de oportunidades de fazer o bem e de participar plenamente da vida social. 

O “sussurro”, embora parecido com a “detração”, é um pecado distinto e igualmente pernicioso. Santo Tomás define o sussurro como a prática de falar mal de alguém com o propósito de criar discórdia entre amigos ou conhecidos. Enquanto o detrator visa destruir a reputação pública, o sussurrador busca semear desconfiança e inimizade entre indivíduos que estão em paz. 

O sussurro é particularmente destrutivo porque ataca o vínculo de amizade, um bem precioso na vida humana. A Escritura nos lembra que “nada se pode comparar com um amigo fiel” (Eclesiástico 6,15), e é justamente esse laço que o sussurrador tenta romper. Exemplo de sussurro seria contar a uma pessoa algo negativo (ou até mesmo verdadeiro) sobre outra, mas com a intenção de causar mal-entendido e rompimento da relação entre elas. 

Santo Tomás também analisa qual desses pecados é mais grave. Embora a detração, que mancha a reputação de uma pessoa, possa parecer inicialmente mais prejudicial, ele considera o sussurro ainda mais sério em muitos casos. Isso se deve ao fato de que o sussurro destrói diretamente a amizade, um bem mais valioso que a própria reputação. Um amigo verdadeiro é um tesouro insubstituível, e quem rompe essa amizade viola o mandamento do amor ao próximo. Enquanto a detração pode afastar várias pessoas, o sussurro tem como alvo a destruição de uma amizade específica, tornando o mal mais pessoal e íntimo. Para Santo Tomás, embora ambos os pecados sejam graves, o sussurro é frequentemente pior por seu objetivo de semear inimizade. O detrator pode agir por inveja ou rivalidade, mas o sussurrador busca deliberadamente causar divisão e discórdia, agindo como um “agente do caos” nas relações humanas. 

O estudo de Santo Tomás sobre a detração e o sussurro é extremamente atual. Em uma era em que as redes sociais e os meios de comunicação facilitam a disseminação de informações (e desinformações) em larga escala, é fácil perceber como esses pecados podem se manifestar. Comentários maliciosos, fofocas e rumores podem destruir reputações em minutos. Amizades e relacionamentos são colocados à prova por palavras ditas com a intenção de semear desconfiança. 

A reflexão sobre a detração e o sussurro nos desafia a examinar cuidadosamente como usamos nossas palavras e o impacto que elas têm na vida dos outros. Precisamos ser cuidadosos tanto no que dizemos quanto no que ouvimos e como reagimos. Resistir à tentação de participar dessas práticas é um desafio moral constante. Em um mundo cada vez mais conectado, o chamado de Santo Tomás à caridade e à verdade é essencial. Que sejamos vigilantes, evitando esses pecados e cultivando palavras que promovam o bem, a paz e a edificação mútua. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Festa de Santo André, mensagem do Papa ao Patriarca Bartolomeu I

Papa Francisco e o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I em novembro de 2014 na Igreja Patriarcal de São Jorge, na Turquia (Vatican Media)

Por ocasião da festa litúrgica de Santo André, padroeiro do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, o Papa Francisco enviou, neste sábado (30/11), uma mensagem ao Patriarca Bartolomeu. A mensagem, entregue pelo cardeal Kurt Koch ao final da solene Divina Liturgia celebrada na Igreja Patriarcal de São Jorge, em Fanar, reforça a importância do diálogo, da oração e do esforço conjunto para alcançar a plena comunhão entre católicos e ortodoxos.

Thulio Fonseca - Vatican News

Neste sábado, 30 de novembro, por ocasião da Festa de Santo André, o Papa Francisco, como já é tradição, enviou uma mensagem por meio do prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, que lidera a delegação da Santa Sé enviada a Istambul para a celebração e as conversas com a Comissão Sinodal do Patriarcado Ecumênico, responsável pelas relações com a Igreja Católica. No texto, o Papa expressa seus sinceros votos ao Patriarca Bartolomeu, ao clero, aos monges e aos fiéis da Igreja de Constantinopla, reiterando suas orações pela intercessão de Santo André. "A renovada fraternidade que vivemos hoje é motivo de grande ação de graças a Deus, mas a plena comunhão, nosso objetivo final, ainda não foi alcançada", afirma o Pontífice, destacando que o esforço pela unidade é um compromisso essencial para todos os cristãos.

A unidade é um dom divino

Ao recordar que, há poucos dias, em 21 de novembro, celebrou-se o 60º aniversário da promulgação do Decreto Unitatis Redintegratio, documento fundamental do Concílio Vaticano II que marcou o compromisso oficial da Igreja Católica com o movimento ecumênico, o Pontífice ressaltou que esse importante texto abriu o caminho para um diálogo frutífero com outras Igrejas, especialmente a Ortodoxa, permitindo a renovação da fraternidade entre elas. No entanto, destacou que a meta final estabelecida pelo decreto, a plena comunhão entre todos os cristãos com a partilha do único cálice eucarístico, ainda não foi alcançada. Mesmo assim, Francisco reafirmou a importância de manter a esperança e o empenho, confiando que a unidade é um dom divino que pode ser acolhido por meio de oração, diálogo e abertura recíproca.

A delegação da Santa Sé liderada pelo cardeal Kurt Koch (Vatican Media)

Diálogo e sinodalidade

Francisco enfatizou a importância do diálogo inter-religioso como um caminho promissor, especialmente em um mundo marcado por divisões e conflitos. Ele também mencionou a recente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada em outubro, como um exemplo de escuta mútua e cooperação, valores que podem inspirar católicos e ortodoxos no caminho da reconciliação.

"Ouvir sem julgar deve caracterizar a jornada conjunta entre católicos e ortodoxos", escreveu o Papa, que também reconheceu o trabalho de representantes ortodoxos, como o Metropolita Job de Pisídia, que participou ativamente do Sínodo, reforçando os laços entre as duas Igrejas.

O legado do Concílio de Niceia

O Santo Padre destacou ainda a iminente celebração dos 1.700 anos do Primeiro Concílio Ecumênico de Niceia, que acontecerá em 2025, e sublinhou o desejo de celebrar esse evento histórico juntamente com o Patriarca Bartolomeu, como testemunho da comunhão crescente entre as Igrejas e como um sinal de esperança para o mundo.

Francisco concluiu a mensagem renovando suas orações pela paz em regiões como Ucrânia, Palestina, Israel e Líbano, e reiterando o compromisso da Igreja Católica com o diálogo e a unidade. "A plena comunhão é um dom de Deus que devemos buscar com oração, conversão interior e abertura mútua", declarou o Pontífice.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Uma breve história do cristianismo: MONGES E EREMITAS (III)

São Bento (Aleteia)

Uma breve história do cristianismo

MONGES E EREMITAS

Por Geoffrey Blainey

O CHAMADO DOS BENEDITINOS

            Bento foi talvez o membro mais importante da Igreja, em seu tempo, e a influência exercida por ele ainda aumentou muito depois de sua morte. Nascido em Nórcia, na Itália central, uma cidade de planície, famosa por produtos de carne de porco e funghi, utilizados na culinária italiana, mudou-se para Roma, por causa dos estudos. Por volta do ano 500, abandonou o que chamava de “males de Roma”, e foi viver como eremita em um caverna perto de Subiaco. Com cerca de vinte anos, possuía a força interior de um líder natural. Seu primeiro passo para exercer essa liderança foi deixar de ser eremita.

            Bento foi assumindo a administração de pequenos mosteiros, até chegar a dez, cada um com doze monges. Como preferia liderar pelo exemplo, manteve a vida contemplativa, em vez de organizar e dar ordens constantemente. Sua última moradia foi o mosteiro que fundou por volta de 529 em Monte Cassino, entre Roma e Nápoles. Pouco afeito a conferências, reunia-se uma vez por ano à irmã, Escolástica, que administrava um convento nas proximidades, para discutirem questões ligadas ao espírito. Ela morreu antes dele, e os dois foram enterrados no mesmo túmulo.

“OS MONGES DEVEM PRATICAR O SILÊNCIO EM TODOS OS MOMENTOS, MAS EM ESPECIAL NAS HORAS NOTURNAS.”

            Bento havia aos poucos desenvolvidos uma combinação própria de ideias acerca da vida monástica, incluindo aí conceitos defendidos por monges e bispos de locais distantes, como o Egito e a França. Depois da morte de Bento, alguns monges incluíram ainda outras regras, em nome dele. Muitas eram semelhantes às adotadas pelos primeiros mosteiros do Egito, embora mais elaboradas. Os beneditinos apreciavam ter um abade firme, devoto e paciente, de preferência eleito pelos colegas.

            A organização adotada por Bento não permitia a propriedade privada nem as conversas, que ele considerava desperdício de tempo. “Os monges devem praticar o silêncio em todos os momentos, mas em especial nas horas noturnas”, determinava a regra de número 42. Nos mosteiros administrados conforme as determinações, até as refeições aconteciam em silêncio, pois os monges deviam dedicar total atenção à leitura das escrituras, feita enquanto comiam. A cada semana um monge era indicado como leitor oficial. Antes que ele começasse a ler, todos diziam três vezes: “Abre, Senhor, os meus lábios, e minha boca entoará o teu louvor.” A oração se espalhou pelo mundo, sendo recitado por milhões de cristãos.

            Havia sempre um monge experiente à porta do mosteiro, inclusive durante a noite, pois alguns viajantes se perdiam e chegavam lá em meio à escuridão. Quando o recém-chegado era peregrino ou um “servo da fé”, os monges acorriam humildemente à porta para bem recebe-lo. A regra 53 lembrava que o abade devia unir-se aos outros para cumprir o sagrado dever, “lavando os pés de todos os hóspedes”.

            Uma das habilidades inusitadas dos beneditinos – pelo menos até o ano de 1100 – era a de fazer cirurgias. Eles fundaram hospitais e enfermarias, plantavam ervas medicinais e tomaram-se os principais curadores da saúde dos habitantes da região em torno do mosteiro. Tal como Cristo, seus servos deviam curar os enfermos.

            A invasão do sul da Itália pelos lombardos afetou diretamente os primeiros beneditinos. O mosteiro de Monte Cassino, o principal, foi atacado em 577, e permaneceu abandonado por cerca de 140 anos. Depois de alvo de sucessivas invasões, sofreu com ataques dos sarracenos e dos normandos, além dos danos causados pelas armas pesadas da Segunda Guerra Mundial, mas passou por várias reconstruções.

            Enquanto isso, os beneditinos se expandiam. Tornaram-se poderosos na França, Alemanha e Holanda, onde fizeram um trabalho importante entre arianos e pagãos, em especial. Das dezessete catedrais que havia na Inglaterra na Idade Média, sete eram controladas por beneditinos, inclusive as de Canterbury (ou Cantuária) e Winchester. A Abadia de Westminster, onde são coroados os monarcas ingleses, era também beneditina.

UMA LUZ NA ESCURIDÃO

            Os beneditinos não sentiram necessidade de se estabelecer maciçamente na Irlanda, já que lá os mosteiros prosperavam, ao contrário da maior parte dos mosteiros da Europa, que enfrentavam dificuldade. Em 560, entre os mosteiros ativos, talvez o de Bangor, perto do Mar da Irlanda e da atual cidade de Belfast, fosse o que estava situado mais ao norte. Fundado por Comgall, o estilo de vida austero do mosteiro, os longos períodos de jejum e os cantos e orações que ocupavam noite e dia atraíam os monges locais. Aquela se tornou a maior casa religiosa da Irlanda, ou talvez das Ilhas Britânicas.

            Da Irlanda, os monges partiram para espalhar sua mensagem em regiões onde o cristianismo não era conhecido ou lutava para sobreviver. Columba deixou a Irlanda para fundar um mosteiro e uma igreja na ilha de Iona, na costa oeste da Escócia, enquanto Columbano partiu de Bangor com doze companheiros, para fundar mosteiros na França.

            A versão do cristianismo exercida pelos beneditinos era peculiar: para determinar a data em que seria comemorada a Páscoa, utilizavam cálculos diferentes dos empregados em Roma; os monges mais instruídos mantinham o conhecimento do idioma grego, mesma muito tempo depois que a liturgia em latim passou a ser adotado em regiões a oeste e ao norte de Roma; os abades irlandeses não aceitavam os bispos – uma forma de administração que pertencia às tradições romanas; adoravam uma cruz desenhada por eles – a cruz celta, que guarda alguma semelhança com a cruz copta.

            Por algum tempo a Europa ocidental viveu duas migrações simultâneas de monges. Os que saíram da Irlanda com a intenção de fundar novos mosteiros rumaram para leste, percorrendo as regiões onde se situam atualmente Escócia, Inglaterra, França, Suíça, Itália e Áustria. Os que viviam em Roma pretendiam fundar instituições próprias em regiões próximas ao Mar do Norte e à costa sul do Mar Báltico. Assim, em 595, seguindo as instruções do papa Gregório I, Agostinho cruzou o Canal da Mancha e chegou a Canterbury, onde fundou a abadia beneditina que se tornou a mais famosa igreja da Inglaterra.

São Beda, o Venerável (Wikipedia)

UM AVISO NO CÉU

            Beda foi um monge beneditino que viveu pela maior parte da vida em Jarrow, a nordeste da Inglaterra. Sua vestimenta habitual era um manto de pele de carneiro. Muito curioso acerca do mundo e criterioso na análise do que via e ouvia, escreveu à mão, em latim, um livro sobre o cristianismo, que completou em 731. Seguindo o exemplo de Isidoro de Sevilha, Beda organizou uma lista do que considerava os eventos mais significativos do mundo moderno, a começar pelo nascimento de Cristo. Diz-se que foi o melhor livro do gênero escrito na Europa, na época.

            Com uma simplicidade encantadora, o livro de Beda começa assim: “A Britânia, antes conhecida Álbion, é uma ilha no oceano.”

            Beda apreciava o clima da Inglaterra e da Irlanda, notando como as videiras floresciam em ambas as ilhas. Realmente, os habitantes das terras frias do norte da Europa devem ter recebido bem aquele período de aquecimento global, na Idade Média. Ele relatava que, ao contrário da Irlanda, havia muitas serpentes na Britânia. Recusando-se a aceitar o mito de que São Patrício eliminava as serpentes da Irlanda, Beda ingenuamente explicou que as serpentes levadas nos navios “morriam ao respirar o ar irlandês”. O livro termina com uma prece “a ti, nobre Jesus”, e com a esperança de poder “viver na tua presença para sempre”. Em uma nota de esclarecimento, Beda se refere aos “que possam ouvir ou ler esta história”. Ouvir ou ler? A sequência de palavras mostra que os seguidores de Beda eram, em maioria, analfabetos e dependiam de alguém que lesse o livro para eles em voz alta.

            Aquele foi um tempo perigoso para todos os cristãos. Em janeiro de 729, um evento agitou a região: dois cometas surgiram no céu, e por duas semanas puderam ser vistos como “tochas incandescentes”, conforme as palavras do próprio Beda. As pessoas deviam acorrer para olhar, porque cometas eram considerados mensageiros de más notícias – possivelmente calamidades. No mesmo período, os muçulmanos conquistaram a Palestina, a Síria e as terras do litoral da África, e avançavam para a Espanha. Significariam aqueles cometas que os mulçumanos estavam prestes a obter uma vitória maciça sobre o cristianismo? Talvez Itália, França e Inglaterra fossem tomadas. Segundo Beda, os cometas aterrorizaram os ingleses.

Fonte: Livro "Uma breve história do cristianismo", de Geoffrey Blainey, Editora Fundamento Educacional, págs 77/86, Ano 2012.

Santo André

Santo André (A12)
30 de novembro
Localização: Israel (Galileia)
Santo André

Filho de um pescador da Galileia, de nome Jonas, e irmão de Simão Pedro, André vivia em Cafarnaum e era um seguidor de São João Batista, antes de ser apresentado a Jesus. Foi um dos doze Apóstolos, honra excelsa, participando dos eventos mais importantes da vida e missão do Senhor: compartilhou da Sua vida pública, estava presente na Última Ceia, viu o Cristo Ressuscitado, testemunhou a Ascensão...

André foi o primeiro a reconhecer, em Jesus, o Messias prometido, a partir das palavras de João Batista: “Eis aí o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36). Imediatamente ele e outro discípulo deixaram de seguir João Batista para acompanhar o próprio Cristo, e o nome de André é o primeiro a ser citado como tendo seguido a Jesus (Jo 1,40). Por isso ele é chamado de Protóclito (protos = primeiro + klitos = chamar). Ainda nesta passagem, ocorre o primeiro diálogo com o Mestre: “‘Rabi (que quer dizer Mestre),onde moras?’ Disse-lhes Jesus: ‘Vinde e vede’. Foram, pois, e viram onde habitava e permaneceram lá aquele dia” (Jo 1,38-39). Há um sentido profundo nestas poucas palavras: vir significa o passo da fé; ver, é a adesão da fé; e permanecer significa a união vital permanente com Jesus (cf. Pe. Pavlos, in: Santo André, o Primeiro Chamado – ECCLESIA).

A seguir, pleno de entusiasmo por ter encontrado o Messias, André inicia a divulgação da Boa Nova, comunicando a descoberta ao seu irmão, Simão Pedro, e depois a outros (Jo 1, 41-42). Dias depois, ocorre o chamado oficial de Jesus para que ambos sejam Seus Apóstolos (Mt 4,18).

Santo André é nominalmente citado nos Evangelhos mais duas vezes, primeiro no episódio da multiplicação dos pães, quando indica a Jesus um jovem que possuía os únicos alimentos ali presentes: cinco pães e dois peixes (Jo 6,8-9), e depois quando intermedeia, com o Apóstolo Filipe, o pedido de alguns gentios de conhecer Jesus (Jo 12,20-22).

 Nada mais se sabe ao certo sobre a vida de Santo André, mas uma tradição diz que por ocasião dos Apóstolos para pregar o Evangelho por todo o mundo, ele teria ido para a região dos mares Cáspio e Negro, ou ainda, que foi evangelizar na Galileia, Cítia, Etiópia, Trácia e, finalmente, na Grécia. Nesta última, teria fundado a comunidade cristã de Acaia, onde morreu martirizado, numa cruz em forma de X, em 30 de novembro do ano 60.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

As ações de Santo André mais explicitadas na Bíblia parecem ser um resumo do núcleo da motivação cristã: buscar a Jesus – reconhecê-Lo como nosso Salvador – aproximar-se Dele pela fé, e permanecer com Ele – anunciá-Lo aos irmãos, primeiramente aos mais próximos – manifestar-Lhe a pequenez dos nossos próprios recursos – interceder pela aproximação de outros a Ele – seguí-Lo até a morte. Assim, seus exemplos são como um roteiro prático para a vida de todos os fiéis.

Oração:

Ó Deus, que a Vossa Igreja exulte sempre no constante louvor do Apóstolo Santo André, para que, sustentada por sua doutrina e intercessão, e com a sua mesma vontade e alegria, entusiasmo e entrega, seja fiel a seus ensinamentos, para reproduzir os seus frutos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Papa Francisco: política e religião têm interesses comuns e compartilhados

Papa recebe os parlamentares do sul da França  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Aos políticos eleitos do sul da França, o Papa solicitou especial atenção aos jovens “fundamentalmente generosos e abertos às questões existenciais” e às pessoas em fim de vida, pois devemos “oferecer cuidados e alívio, mesmo que nem sempre possam se recuperar”. O encontro foi realizado na manhã deste sábado (30/11) no Vaticano.

Vatican News

Na manhã deste sábado (30/11), o Papa Francisco recebeu uma delegação de representantes políticos eleitos das regiões do sul da França. O Papa iniciou sua saudação com um agradecimento pelo passo corajoso “que confirma a vontade de unir suas vidas como crentes às de homens e mulheres em posições de responsabilidade”. Ao se referir à região de proveniência dos presentes, Francisco recordou que “é fortemente caracterizada pela sua dimensão mediterrânea e está localizada em uma encruzilhada, onde diferentes influências e tradições convergem, mas que também dão origem a conflitos aos quais vocês são chamados a resolver”. “Essa é a sua vocação”, disse ainda, “que reiterei durante minha viagem a Marselha: ser um lugar onde diferentes países e realidades se encontram com base na humanidade que todos nós partilhamos, e não em ideologias que separam as pessoas e o país”.

Atenção aos jovens

Em seguida, o Papa falou sobre duas realidades que gostaria de compartilhar com os presentes. “A primeira realidade que os convido a considerar hoje é a urgência de oferecer aos jovens uma educação que os direcione para as necessidades dos outros e saiba incentivar o sentido de compromisso.” Após reiterar que os jovens são fundamentalmente generosos e abertos às questões existenciais, sugeriu:

“Envolver os jovens, envolvê-los no mundo real, em uma visita aos idosos ou aos deficientes, em uma visita aos pobres ou aos migrantes. Isso os abre para a alegria de acolher e doar, oferecendo algum conforto às pessoas que são invisíveis por causa de um muro de indiferença", e completou: “É curioso como a indiferença mata a sensibilidade humana!”.

Francisco com os participantes da audiência (Vatican Media)

Fim da vida e cuidados paliativos

A segunda realidade que o Papa quis compartilhar com os presentes referia-se ao debate sobre a questão essencial do fim da vida, para que possa ser “conduzido na verdade”. Segundo o Pontífice, “trata-se de acompanhar a vida até seu fim natural por meio de um desenvolvimento mais amplo dos cuidados paliativos”. Francisco reiterou que “as pessoas no final da vida precisam ser apoiadas por cuidadores que sejam fiéis à sua vocação, que é a de oferecer cuidados e alívio, mesmo que nem sempre possam se recuperar. As palavras nem sempre são úteis, mas pegar uma pessoa doente pela mão faz muito bem, e não apenas para a pessoa doente, mas também para nós”.

Política e religião

Concluindo o encontro, o Papa agradeceu mais uma vez aos presentes pelo interesse pela mensagem da Igreja, pois “embora distintas, a política e a religião têm interesses comuns e compartilhados e, de diferentes maneiras, estamos todos conscientes do papel que devemos desempenhar para o bem comum. A Igreja deseja despertar as forças espirituais que tornam fecunda toda a vida social, e vocês podem contar com a ajuda dela”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF