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sábado, 14 de dezembro de 2024

Decálogo do pregador

Cardeal Raniero Cantalamessa (Presbíteros)

Decálogo do pregador

1. Não se dirija ao ambão sem que antes saiba o que vai dizer. E quando o tenha dito, saia de lá: não alongue o discurso inutilmente.

2. Faça um esquema do que vai pregar: no papel ou na cabeça.

3. Procure despertar o interesse dos ouvintes pelo que diz. Senão, desconectarão de sua pregação.

4. Que aquilo que diz seja proveitoso para o ouvinte. A missão do pregador não é entreter, mas evangelizar.

5. Ser breve não é o supremo valor da pregação: não devemos sacrificar o importante para sermos breves. Mas também é verdade que aquilo que “é bom e breve é duplamente bom”.

6. Fale com naturalidade: o teatral pode tornar-se repulsivo.

7. Procure falar de modo que todo mundo o entenda, mas com toda precisão para que as pessoas cultas aceitem o que se diz.

8. Para comunicar uma ideia é necessário que você esteja convencido daquilo que diz: não pregue aquilo que você não vive.

9. Cuide para que os aparelhos de som e microfone funcionem perfeitamente. É um desperdício para o Evangelho usar aparelhos ruins enquanto o mal se difunde com técnica excelente. A tecnologia de ponta pode ser colocada a serviço da evangelização.

10. Não almeje seu próprio êxito pessoal, mas o bem das almas. O êxito só deve ser buscado para facilitar a evangelização.

  1.  

Escrito originalmente pela redação da página www.vidasacerdotal.org e publicada em “Cuestiones Pastorales”.

Fonte: https://presbiteros.org.br/decalogo-do-pregador/

Nossa Senhora ajudou são João da Cruz a escapar de uma terrível prisão

São João da Cruz contemplando Cristo crucificado (imagem recortada) | Sailko - Wikimedia Commons (CC BY 4.0 DEED)

*Por Abel Camasca

14 de dez de 2024

A Igreja celebra hoje (14) o grande são João da Cruz, carmelita descalço e doutor da Igreja. Num dos momentos mais difíceis que teve de viver, Nossa Senhora apareceu a ele e mostrou-lhe o caminho para escapar de uma prisão, onde foi colocado por outros religiosos.

No livro Vidas dos Santos, do padre Alban Butler, é narrado que são João da Cruz (1542-1591), em plena reforma carmelita que levou ao surgimento dos Carmelitas Descalços, recebeu uma ordem do Carmelita Provincial de Castela para voltar ao convento de Medina del Campo.

São João não aceitou a ordem, dizendo que o núncio do papa o havia enviado a Ávila. O provincial não quis ouvir os motivos e enviou vários homens armados para levá-lo à força até Toledo.

Ali foi pedido ao santo que desistisse de suas ideias de reforma, mas como não aceitou, foi trancado numa pequena e escura cela, onde foi cruelmente espancado e cujas marcas ficaram com ele por toda a vida.

Um dia, na véspera da festa da Assunção da Virgem, um prior entrou na prisão onde são João estava detido. O local tinha um cheiro insuportável. Ao ver o santo deitado, o religioso o chutou. São João imediatamente pediu desculpas por não poder cumprimentá-lo, pois estava fraco e sem forças para se levantar.

O prior perguntou-lhe o que estava pensando e ele lhe disse que queria poder celebrar a missa no dia seguinte, na festa de Nossa Senhora. Então, o religioso respondeu: “Você não fará isso enquanto eu for superior”.

Na festa da Assunção da Virgem Maria, ao cair da noite, a Mãe de Deus apareceu a são João e pediu-lhe que tivesse paciência porque esta provação terminaria em breve. Dias depois a Virgem apareceu-lhe novamente e numa visão mística mostrou-lhe uma janela, dizendo-lhe: “Por aí sairá e eu te ajudarei”.

Após nove meses de prisão, são João teve a oportunidade de se exercitar por alguns minutos. O santo aproveitou a oportunidade para encontrar a janela que Nossa Senhora lhe mostrara. À noite conseguiu abrir a porta de sua cela e com uma corda que havia feito com lençóis e roupas pendurou-se na janela e escapou.

São João refugiou-se e continuou seu trabalho reformador. Algum tempo depois, os Carmelitas Reformados obtiveram permissão para a criação de uma província separada, como Carmelitas Descalços.

O santo dedicou-se a escrever as suas obras espirituais que o tornaram um grande Doutor da Igreja. “Onde não há amor, ponha amor e você terá amor”, dizia são João da Cruz.

*Abel Camasca é comunicador social. Foi produtor do telejornal EWTN Noticias por muitos anos e do programa “Más que Noticias” na Radio Católica Mundial.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/56922/nossa-senhora-ajudou-sao-joao-da-cruz-a-escapar-de-uma-terrivel-prisao

Para fazer resplandecer o espírito do Natal!

O espírito do Natal (Sincope)

PARA FAZER RESPLANDECER O ESPÍRITO DO NATAL! 

Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! O espírito do Natal nos pede para olhar além do nosso círculo familiar e de amizades; para olharmos com amor para aquelas realidades que é comum se fazerem presentes em nossa vida e em nossa sociedade, mas que nós muitas vezes fingimos não ver. Mas eu e você sabemos que existem. Não adianta querermos ignorar, porque o espírito do Natal irá nos recordar.  

Portanto, abra as portas do seu coração, com um sorriso nos lábios, abra os braços para um abraço. Vá ao encontro daqueles que precisam da sua presença, do seu carinho, do seu amor e do seu gesto de solidariedade. Para fazer isso, não precisa viajar milhares de quilômetros, basta apenas alguns passos. A oportunidade para fazer o bem, dentro do espírito do Natal, pode estar dentro da sua casa, ou quem sabe na casa ao lado, ou estar logo na quadra seguinte ou no bairro vizinho. 

Sem gestos concretos de amor e solidariedade, a nossa celebração de Natal pode ser apenas uma formalidade superficial. A estrada interior, que parte do coração, e que fomos convidados a percorrer neste tempo do Advento, em preparação ao Santo Natal, nos levar a contemplar a alegria estampada no sorriso das crianças, a esperança no futuro, presente nos passos dos jovens, as preocupações com as realidades que envolvem o cotidiano da vida dos adultos, e as marcas deixadas no rosto, pelos longos anos vividos, às vezes com muita renúncia e sofrimento, pelos nossos idosos.  

O caminho do Advento, percorrido através de pequenos passos, a partir do coração, nos aproxima dos irmãos e irmãs que conosco querem encontrar o Senhor e celebrar a vida e o amor de Deus.  Esse amor pode ser manifestado através de pequenos gestos e fazem muito bem para a nossa saúde espiritual, física e psíquica, na vida pessoal e familiar, no ambiente de trabalho e na comunidade.  

Estimados irmãos e irmãs! As grandes coisas começam sempre a tomar forma ou a acontecer pelas pequenas decisões e pelos pequenos passos que damos no dia a dia. Por isso, mesmo estando o seu coração fragilizado e ferido pela dor, mantenha o espírito de oração, que alimenta a sua esperança, a confiança e o dom da gratidão a Deus. O “Senhor Jesus”, cujo nascimento celebramos no Santo Natal, é o senhor da vida! Que você possa encontrá-lo, percorrendo o caminho do coração, para ter vida e vida em abundância. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

CRISTANDADE: A oração, os milagres, a virgindade de Maria, a humanidade de Jesus (III)

Jesus cura um aleijado , painel de madeira policromada da igreja de San Martino, Zillis, Suíça | 30Giorni

Arquivo 30Giorni nº. 12 - 2011

A oração, os milagres, a virgindade de Maria, a humanidade de Jesus

Bento XVI no Advento e no Natal

Audiência geral
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Oração e milagres

O Doador é mais precioso que a dádiva concedida; o presente é concedido "além"

Hoje gostaria de refletir convosco sobre a oração de Jesus ligada à sua prodigiosa ação curativa. Nos Evangelhos são apresentadas diversas situações em que Jesus ora diante da obra benéfica e curativa de Deus Pai, que atua através dele. É uma oração que, mais uma vez, manifesta a relação única de conhecimento e comunhão com o Pai. , enquanto Jesus se deixa envolver com grande participação humana nas dificuldades dos seus amigos, por exemplo de Lázaro e da sua família, ou de tantos pobres e doentes que Ele quer ajudar concretamente.

Um caso significativo é a cura do surdo-mudo (cf. Mc 7, 32-37). A história do evangelista Marcos – acabada de ouvir – mostra que a ação curativa de Jesus está ligada à sua intensa relação tanto com o próximo – o doente – como com o Pai.

Mas o ponto central deste episódio é o facto de Jesus, ao realizar a cura, procurar diretamente a sua relação com o Pai. A história diz, de fato, que Ele “olhando... para o céu, suspirou” (v. 34). A atenção ao doente, o cuidado de Jesus para com ele, estão ligados a uma atitude profunda de oração dirigida a Deus. E a emissão do suspiro é descrita com um verbo que no Novo Testamento indica a aspiração por algo de bom que ele deseja. ainda está faltando (ver Rm 8, 23).

A história como um todo mostra, então, que o envolvimento humano com o doente leva Jesus à oração. Mais uma vez ressurge a sua relação única com o Pai, a sua identidade de Filho Unigénito. Nele, através da sua pessoa, torna-se presente a ação curativa e benéfica de Deus. Não é por acaso que o comentário final do povo depois do milagre recorda a avaliação da criação no início do Gênesis: «Ele fez tudo bem» ( Marcos 7, 37). A oração entra claramente na ação curativa de Jesus, com o olhar voltado para o céu. A força que curou o surdo-mudo é certamente causada pela compaixão por ele, mas provém do apelo ao Pai. Estas duas relações se encontram: a relação humana de compaixão com o homem, que entra na relação com Deus, e assim se torna curativa.

Catecismo da Igreja Católica comenta assim a oração de Jesus na história da ressurreição de Lázaro: «Introduzida pela ação de graças, a oração de Jesus revela-nos como pedir: antes de o dom ser concedido, Jesus adere àquele que dá e quem em seus dons ele se dá. O Doador é mais precioso que o presente dado; ele é o “Tesouro”, e nele está o coração do seu Filho; o dom é concedido “além” (cf. Mt 6, 21 e 6, 33)”. Isto me parece muito importante: antes que o dom seja concedido, adira Àquele que dá; o Doador é mais precioso que o presente. Portanto, também para nós, além daquilo que Deus nos dá quando O invocamos, o maior presente que Ele nos pode dar é a sua amizade, a sua presença, o seu amor. Ele é o tesouro precioso que sempre devemos pedir e valorizar.

Com a sua oração, Jesus quer levar à fé, à confiança total em Deus e na sua vontade, e quer mostrar que este Deus que amou o homem e o mundo a ponto de enviar o seu Filho Unigênito (cf. Jo 3,16 ) ), é o Deus da Vida, o Deus que traz esperança e é capaz de reverter situações humanamente impossíveis.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O Papa: a música tem uma grande capacidade de criar unidade e promover a comunhão

O Papa saúda um dos participantes do “Concurso de Natal” e do Concerto de Natal de 2024  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

No encontro com cantores e músicos que se apresentam, neste sábado, no palco do Auditorium della Conciliazione, em Roma, Francisco os convidou "a promover, com a arte e com a vida, onde quer que estejam, a cultura da fraternidade e a cultura da reconciliação de que precisamos mais do que nunca hoje".

Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, neste sábado (14/12), na Sala Clementina, no Vaticano, os promotores e artistas do Concerto de Natal que se realiza no Auditorium della Conciliazione, em Roma.

Em seu discurso, o Pontífice agradeceu a todos os que colaboraram na realização deste evento. A seguir, refletiu sobre dois valores importantes, para os quais eles podem dar uma valiosa contribuição: a paz e a esperança.

Promover a cultura da fraternidade e a cultura da reconciliação

"A paz. É bom lembrar, aqui com vocês, cantores e músicos, que no nascimento de Jesus, no silêncio da noite, o hino de paz de “uma multidão do exército celestial” encheu de alegria o céu e a terra", disse o Papa, acrescentando:

“Isso é de fato verdade: a música, falando de maneira especial e direta ao coração humano, tem uma grande capacidade de criar unidade e promover a comunhão. Convido-os, portanto, a serem também “anjos da paz”, investindo seus talentos o máximo possível para promover, com a arte e com a vida, onde quer que estejam, a cultura da fraternidade e a cultura da reconciliação de que precisamos mais do que nunca hoje!”

A seguir, Francisco refletiu sobre a esperança.

Apreciei a escolha de dedicar o concerto de hoje a esse tema, que é o tema de seus testemunhos artísticos e de seus testemunhos também de solidariedade, particularmente em apoio aos missionários salesianos, que trabalham com os jovens em todo o mundo. Isso os coloca em sintonia com o caminho de toda a Igreja para o Jubileu: “peregrinos da esperança”.

Afundar suas raízes no solo fértil da comunhão com o Senhor

"O Natal nos recorda que a esperança é, antes de tudo, um dom de Deus e que, como tal, «é fundada na fé e alimentada pela caridade»", disse o Papa, citando um trecho da Bula de Proclamação do Jubileu 2025 Spes non confundit.

“Portanto, ela precisa, por um lado, afundar suas raízes no solo fértil da comunhão com o Senhor e, por outro lado, crescer e florescer em escolhas concretas de amor, de modo a preencher o presente com significado, abrindo novos horizontes para o amanhã.”

O Papa encorajou a encher as estradas do mundo de "paz e esperança", entregando-o assim às gerações futuras. "Muitas pessoas esperam, nesse sentido, um presente de vocês", disse ainda Francisco, pensando nos jovens do Concurso de Natal (Christmas Contest), que serão acompanhados hoje no palco pelos promotores e artistas, "com um gesto que expressa um pacto virtuoso e saudável entre as gerações".

"Amigos, o mundo e a Igreja também precisam muito do seu talento, de sua idealidade criativa, precisam de sua capacidade de doação, de sua paixão pela justiça e pela fraternidade. Por isso, invoco abundantemente as bênçãos do Senhor sobre vocês e seus entes queridos, desejando-lhes um bom concerto e um Feliz Natal", concluiu Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São João da Cruz

São João da Cruz (A12)
14 de dezembro
Localização: Espanha (Ávila)
São João da Cruz

Juan de Yepes nasceu em Ávila, Espanha, em 1542. Com a morte do pai, a mãe mudou para Medina, onde Juan trabalhava num hospital de dia e estudava gramática a noite. Aos 21 anos entrou na Ordem Carmelita, adotando o nome de João da Cruz, e logo demonstrou vocação para vida austera e penitencial. Foi estudar teologia na Universidade de Salamanca, e nos tempos livres visitava doentes nos hospitais, servindo-os como enfermeiro. Sacerdote aos 25 anos, e insatisfeito com a (in)disciplina nos mosteiros carmelitas, cogitou fazer-se trapista.

Conheceu então Santa Teresa de Ávila, que o convenceu a, com ela, reformar o Carmelo. Esta reforma implicava na oposição dos muitos que se sentiam desconfortáveis com uma vida mais fiel ao espírito original da Ordem, e por isso ele sofreu perseguições e calúnias, chegando a ficar encarcerado nove meses na prisão de um dos conventos que se opunham à reforma. Conseguiu fugir e continuar a sua obra.

Pedia insistentemente a Deus três coisas: primeiro, dar-lhe forças para trabalhar e sofrer muito; segundo, não deixá-lo sair deste mundo como superior de uma Ordem ou comunidade; e terceiro, que o deixasse morrer desprezado e humilhado pelos homens, e em tudo foi atendido.

Através das penitências e sofrimentos, João chegou a um altíssimo grau de santidade, que incluiu êxtases e visões. Profundamente contemplativo, deixou obras essenciais de temas ascéticos e místicos, de valor perene e que lhe conferiram o título de Doutor da Igreja. Mas sua poesia lírica é também uma das mais expressivas da literatura espanhola.

 Faleceu após penosa doença, em 14 de dezembro de 1591, com apenas 49 anos de idade, na Espanha, após novas incompreensões e calúnias – foi exonerado de todos os cargos na comunidade, passando os seus últimos meses no abandono e na solidão.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

São João da Cruz é uma daquelas raras vocações que, pela via voluntária de enormes sofrimentos, procura identificar-se com Cristo na Sua dolorosa Paixão, e por consequência atinge igualmente raros níveis de santidade. Para a maior parte dos fiéis, Deus pede apenas a boa vontade de aceitar os sofrimentos mais correntes desta vida, que sim incluem também doenças, injustiças, dificuldades, mas em graus muito mais brandos. E, na verdade, mesmo isso já nos é muito difícil. Sejamos humildes na compreensão da nossa pequenez, para não ofendermos a Deus pretendendo ser mais do que somos, e ao mesmo tempo agradeçamos pela Sua proteção e Providência, que nunca permitem sejamos expostos ao que não podemos suportar; e esta humildade, se pura e sincera, nos alcançará santidade tão grande como a dos maiores canonizados, pois não é propriamente no peso específico da nossa cruz que está o valor para Deus, mas sim no amor com que o carregamos.

Oração:

Ó Pai de misericórdia, que conheceis as nossas limitações e desejais o nosso bem, concedei-nos, por intercessão de São João da Cruz, a coragem e perseverança de alegremente aceitar as dificuldades que nos permitis viver, como caminho certo de salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Santa Maria, Vossa e nossa Mãe. Amém.

Fonte\; https://www.a12.com/

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Papai Noel e a gratuidade cristã

DGLimages | Shutterstock

Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 24/12/23

Papai Noel não é só a degradação consumista do espírito natalino. Ele é a confirmação que nossa cultura, por mais consumista e interesseira que seja, não consegue apagar em nosso coração o desejo de gratuidade e bondade sem limites.

Existe um curioso ponto de convergência entre as “análises críticas marxistas” mais ortodoxas e as reflexões cristãs mais sinceras: a veemente condenação da mercantilização das festas, em particular a do Natal. Todos nós já ouvimos, e já falamos, como o consumismo desvirtua o verdadeiro espírito do Natal, como as pessoas esquecem-se do mais importante neste período.

As tais análises críticas marxistas costumam mostrar a mercantilização de todas as esferas da vida humana, a transformação da festa em mais uma ocasião para incentivar o consumo que só visa o lucro, para sujeitar-nos ao mercado. Os católicos (entre os quais eu mesmo) criticam a transformação de uma festa religiosa numa festa de consumo. A abjeta troca do anúncio maravilhoso de um Deus que se fez homem para sofrer conosco e por nós, por um fictício bom velhinho com ridículas roupas vermelhas e presentes materiais que nunca chegariam aos pés do sentido da vida doado pelo Deus feito homem.

Marxistas e cristãos, obviamente, irão discordar totalmente nas motivações para a crítica, mas se encontrarão na condenação a esse comportamento… Mas, como resistir aos olhos deslumbrados e às risadas felizes das crianças diante de seus presentes? Creio que marxistas e católicos estão cheios de razão. Mas sempre me pareceu faltar alguma coisa nestas críticas. Algo como um delicado sopro de verdade e a fraca luz de uma vela que pudessem refrescar e iluminar nosso caminho neste mundo, algo que nos ajudasse a nos comover com a alegria dos pequenos de modo que a obrigatória distinção entre Papai Noel e Cristo não se tornasse um exercício moralista, mas sim o natural desenvolvimento do entendimento do que são o mundo e a vida.

Defendendo Papai Noel

Com o passar dos anos, descobri o que me parecia faltar. Papai Noel não é só a degradação consumista do espírito natalino. Ele é a confirmação que nossa cultura, por mais consumista e interesseira que seja, não consegue apagar em nosso coração o desejo de gratuidade e bondade sem limites. No mundo real, só a lógica do próprio interesse, do poder e da ganância parecem mover os atos humanos. Mas, com Papai Noel, o desejo de bondade e de gratuidade retorna a nosso coração e nosso horizonte, mesmo que vindo das terras da fantasia, da irrealidade.

No fundo, sonhamos com velhos bons e sábios, cuja felicidade venha não de seus êxitos, sua fortuna ou seus poderes, mas de sua capacidade de levar alegria a todos nós. Por mais que nos digam que isso é tolice, continuamos a ansiar por encontrar pessoas boas e sermos, nós mesmos, também bons.

Sim, Papa Noel é realmente uma figura com conotações claramente consumistas. Sim, é verdade que – no imaginário de nossas crianças – ele pode tomar o lugar do Menino Jesus. Mas também é verdade que ele representa o desejo mais puro de bondade e dom de si que existe em nosso coração. O verdadeiro segredo de Papai Noel é que esse desejo pode se realizar – melhor, já se realizou na história do mundo e continua se realizando cotidianamente em nossa vida. Mas, para que isso aconteça, precisamos reconhecer nosso desejo infinito de gratuidade e de bondade, precisamos tirá-lo da fantasia imaginária do “bom velhinho” inexistente para encontrá-lo no Deus que existe.

Quando fazemos essa transição, a mercantilização e o consumismo deixam de ser as palavras mais fortes – e o Papai Noel ganha, inclusive para as crianças, o justo papel de um símbolo de algo maior, que elas algumas vezes conseguem nomear, outras vezes não, mas que com certeza encontrarão ao longo de suas vidas.

E se Papai Noel for um fdp?

Na década de 1980, uma banda de rock punk paulista, os Ratos de Porão, cantava que “Papai Noel fdp rejeita os miseráveis […] presenteia os ricos e cospe nos pobres”. A linguagem grosseira chocava muita gente, aliás, era usada exatamente com esta intenção, mas também este outro lado da moeda exige uma reflexão. O tempo de Natal também é uma daquelas ocasiões nas quais a dor pelas nossas injustiças sociais deveria ser mais evidente para todos nós, uma época de um retomado compromisso de transformação social.

Não se trata aqui de apenas participar de obras assistenciais para dar presentes e ceias aos necessitados, nesse período. Isso é bom, mas insuficiente… Também não se trata de um novo moralismo, agora de cunho político. A questão não é o que fazemos em dezembro ou qual discurso ideológico abraçamos ao longo do ano. Deus é infinitamente bom para conosco, para com cada ser humano… Mas delegou-nos a função de sermos bons para com nossos irmãos mais necessitados.

Quando não procuramos amar gratuitamente nosso irmão mais necessitado, quando ao longo da vida não nos comprometemos com o bem desse irmão (inclusive nos aspectos políticos), não conseguimos também descobrir o amor gratuito de Deus para conosco.

Não se trata de querer, nesta época, fazer o que não se fez ao longo do ano, isto pode dar a muitos que sofrem um consolo bem-vindo, mas ainda longe do compromisso evangélico ao qual somos convidados. Papai Noel parecerá um “velhinho fdp” sempre que aquela bondade que vemos nele parecer uma ilusão impossível ao longo do ano. Papai Noel será um símbolo alegre e simpático sempre que ele recordar uma bondade que, mesmo de forma imperfeita, experimentamos e praticamos no cotidiano.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/12/24/papai-noel-e-a-gratuidade-crista

Mulheres e sinodalidade na missão da Igreja no Golfo

Bahrein. Vicariato do Norte da Arábia: dom Berardi, mulheres “essenciais” para a “prosperidade da missão”

O Vicariato do Norte da Arábia promoveu um evento de dois dias sobre o tema, com a participação de personalidades vaticanas e religiosas da Ásia. Irmã Milagros Sandoval: uma experiência “estimulante” e cheia de “desafios”. Dom Berardi: mulheres “essenciais” para a “prosperidade da missão”. Em tempos “de escuridão”, este encontro se torna “luz de esperança”

Vatican News

Uma experiência “estimulante” e, ao mesmo tempo, cheia de “desafios” para delinear o papel das mulheres em uma Igreja cada vez mais sinodal e no contexto da sociedade árabe e do Golfo. Foi o que enfatizou a irmã Milagros Sandoval, uma religiosa filipina da Congregação das Irmãs Servas do Espírito Santo (SSpS), falando no encontro de dois dias promovido pelo Vicariato do Norte da Arábia sob o slogan: “Discipulado e participação das mulheres em uma Igreja Sinodal em Missão”.

Tratou-se de uma reflexão durante a qual aprofundou o tema a partir de uma perspectiva missionária e espiritual, com foco nas “possibilidades e oportunidades abertas às mulheres” no Bahrein e sua “contribuição” para a “vida” e “missão” da Igreja local.

Valorização da presença da mulher na Igreja

“Em conversas informais e no compartilhamento de trabalho com as mulheres do Bahrein, percebe-se que um grande número delas - prossegue a religiosa - está ativamente envolvido em seus vários ministérios”. Em particular, “como catequistas, em celebrações eucarísticas (como ministras da Eucaristia e leitoras) e visitando pessoas em prisões e centros de detenção”.

“Nestes tempos de escuridão, divisão e conflito em todas as formas de sociedade, o programa para mulheres no Vicariato Norte (Avona) - conclui ela - é luz e esperança para as pessoas”, bem como um meio de valorizar sua presença.

Participação de personalidades vaticanas

O evento foi realizado no final de novembro no Bahrein por iniciativa do vigário apostólico do Norte da Arábia, dom Aldo Berardi, da Ordem da Santíssima Trindade e dos Escravos, que está à frente há quase dois anos em um território que também inclui o Kuwait, o Catar e a Arábia Saudita.

Com o prelado e a religiosa, falaram também Pascale Debbane, oficial da seção de migrantes e refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, e o padre Joseph Savarimuthu, do mesmo dicastério vaticano.

Garantir a participação ativa das mulheres na Igreja

Os dois dias de encontros e discussões foram realizados na Paróquia do Sagrado Coração e na Catedral de Nossa Senhora da Arábia, com o objetivo de capacitar as mulheres dentro da Igreja e inspirar sua participação ativa nas missões da Igreja.

Em seu pronunciamento, o vigário da Arábia, que primeiro apoiou a iniciativa, lembrou que “as mulheres não são apenas parte integrante de nossas comunidades de fé, mas também são essenciais para a prosperidade da missão de nossa Igreja. E este encontro - continuou dom Berardi - é um testemunho de nosso compromisso de garantir a plena participação delas”.

Integrar as mulheres nos processos de tomada de decisão

Pascale Debbane aprofundou o tema de uma visão “mais ampla” da sinodalidade e do papel “significativo” que as mulheres podem desempenhar para “moldar a missão e a direção” da Igreja. O programa teve uma participação entusiasmada e gerou discussões animadas sobre maneiras de integrar ainda mais as mulheres nos processos de tomada de decisão e melhorar sua visibilidade nas doutrinas e práticas da Igreja.

Na conclusão do evento, foi enfatizado o compromisso das mulheres do Vicariato Apostólico do Norte da Arábia de “se empenharem em fomentar o diálogo, promover a educação e apoiar iniciativas que elevem o papel das mulheres na Igreja”. “O sucesso desse programa - concluíram os promotores - marca um passo significativo no sentido de responsabilizar as mulheres em seu caminho espiritual e missionário”.

(com AsiaNews)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Do livro sobre a virgindade, de Santo Ambrósio, bispo

Santa Luzia (Liturgia das Horas Online)

Do livro sobre a virgindade, de Santo Ambrósio, bispo

(Cap. 12,68.74-75; 13,77-78: PL 16 [Edit. 1845], 281.283.285-286                (Sec. IV)

Com o esplendor da alma, iluminas a graça do teu corpo

Tu, uma dentre o povo, uma da plebe, sem dúvida, uma das virgens que com o esplendor da alma iluminas a graça do teu corpo, – e por isso és uma imagem fiel da Igreja! – em teu leito, durante a noite, medita sempre em Cristo e aguarda sua chegada a todo o momento.

Eis o que  Cristo deseja de ti, eis por que te escolheu. Ele entra, já que a  porta está aberta; não pode faltar, pois prometeu que viria. Abraça aquele que procuravas; aproxima-te dele e serás iluminada; segura-o, roga-lhe que não parta logo, suplica-lhe que não se afaste. Porque o Verbo de Deus corre, não se deixa deter pelo tédio ou por negligência. Que tua alma vá encontrá-lo em sua palavra; segue atentamente a doutrina celeste, porque ele passa depressa.

Que diz a esposa do Cântico dos Cânticos? Procurei-o e não o encontrei; chamei-o e não me respondeu (Ct 5,6). Se partiu tão depressa aquele que chamaste, a quem suplicaste e a quem abriste a porta, jaó julgues ter-lhe desagradado. Muitas vezes ele permite que sejamos postos à prova. Afinal, o que disse no Evangelho às multidões que lhe pediam para não se afastar? Eu devo anunciar a palavra também a outras cidades, porque para isso é que fui enviado (Lc 4,43). Mas, se te parece que se afastou de ti, sai e procura-o novamente.

Quem deve te ensinar como reter o Cristo, senão a santa Igreja? Ou melhor, já ensinou, se compreenderes o que lês: Mal eu passei pelos guardas, diz, encontrei aquele que meu coração ama; retive-o e não o deixarei partir (Ct 3,4).

Com que laços se retém o Cristo? Não é com laços de injustiça nem com nós de corda, mas com laços da caridade, com as rédeas do espírito e pelo afeto da alma.

Se queres também reter o Cristo, tenta fazê-lo e não tenhas medo dos sofrimentos. Pois, não raro, é no meio dos suplícios do corpo, nas mãos dos perseguidores, que o encontramos mais facilmente.

Mal eu passei pelos guardas, diz. De fato, num breve espaço de tempo, num instante, ao te livrares das mãos dos algozes, sem sucumbir aos poderosos do mundo, Cristo virá ao teu encontro e não mais permitirá que se prolongue o teu sofrimento.

Aquela que assim busca a Cristo e o encontra pode dizer: Retive-o e não o deixarei partir, até que tenha introduzido na casa de minha mãe, no quarto daquela que me concebeu (Ct 3,4). Qual é a casa de tua mãe e o quarto senão a intimidade mais profunda do teu ser?

Guarda bem esta casa, limpa todos os seus recantos. Assim, quando ela não tiver nenhuma mancha, se erguerá como morada espiritual, fundada sobra a pedra angular, para ser um sacerdócio santo, e o Espírito Santo nela habitará.

Aquela que assim busca a Cristo, que assim lhe suplica, não será por ele abandonada; ao contrário, será visitada por ele com frequência, pois está conosco até o fim do mundo.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Segunda Pregação do Advento 2024

O Papa e a Cúria Romana durante a Segunda Pregação do Advento   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Na manhã desta sexta-feira (13/12), na Sala Paulo VI, a segunda das três meditações para o Natal do pregador da Casa Pontifícia, sobre o tema “A porta da confiança”. Escolha corajosa, e não mero otimismo, a confiança mantém viva a esperança mesmo nas provações e é um antídoto contra o egoísmo. O exemplo de São José, testemunha luminosa da gratuidade.

Isabella Piro - Vatican News

Em uma época marcada por uma tendência coletiva ao egoísmo, podemos falar de confiança? E nos momentos difíceis da vida, naquelas passagens cruciais em que tememos perder algo imensamente importante, será que ainda podemos confiar em algo e em alguém? Essas são as perguntas subjacentes colocadas no centro da segunda meditação de Advento do Padre Roberto Pasolini, franciscano capuchinho e pregador da Casa Pontifícia, proposta ao Papa e a seus colaboradores na Cúria Romana na manhã desta sexta-feira, 13 de dezembro, na Sala Paulo VI. O tema escolhido para as três reflexões é “As portas da esperança. Rumo à abertura do Ano Santo através da profecia do Natal”.

A segunda Pregação do Advento (em italiano)

https://youtu.be/atf2e01ULqA

A confiança, fundamento das relações humanas

Depois da primeira meditação do dia 6 de dezembro, dedicada à “Porta do estupor”, nesta sexta-feira (13/12) o Padre Pasolini nos convida a atravessar “a porta da confiança”, aquela atitude fundamental que sustenta as relações humanas, alimenta a coragem de enfrentar os desafios cotidianos e abre o nosso olhar para o futuro. A confiança não é um otimismo ingênuo, enfatiza o pregador, "mas uma escolha corajosa que nasce de uma visão profunda da realidade, mantendo viva a esperança mesmo nos momentos difíceis".

O rei de Judá, Acaz

Para testemunhar isso, o Padre Pasolini cita três figuras: o rei de Judá, Acaz; um centurião romano anônimo e São José. O primeiro é o monarca que, durante a guerra sírio-efraimita, não confia no Senhor e, em vez de permanecer firmemente em Jerusalém, conforme instruído pelo profeta Isaías, prefere aliar-se à Assíria, tornando-se seu vassalo. Acaz, em essência, não acredita na providência de Deus, mas, apesar disso, Deus não desvia seu olhar dele, pelo contrário: o momento de desconfiança do monarca abre a profecia de Emanuel: “a virgem conceberá e dará à luz um filho que chamará Emanuel” (Isaías 7:9).

Um momento da pregação na Sala Paulo VI (Vatican Media)

O olhar de Deus nos coloca em caminho

Essa confiança na qual Deus permanece perto de nós mesmo quando nos mostramos pouco confiáveis, explica o frade capuchinho, vai além do simples otimismo, porque o Senhor está convencido de que sua voz é “como a chuva e a neve” que não descem do céu sem produzir efeitos na terra. Não somente: sendo desde o início Amor e tendo nos criado livres, Deus está persuadido de que a confiança é sempre o olhar a ser preferido e assumido, porque “somente a confiança nos liberta”. E é justamente o seu olhar que, nos momentos de provação e desânimo, nos permite sair das dificuldades e retomar o caminho. “Deus respeita a nossa liberdade e fica feliz quando a usamos para nos tornarmos semelhantes a Ele”, acrescenta o padre Pasolini, ”Ele respeita essa liberdade mesmo quando escolhemos nos fechar em nós mesmos e no egoísmo. No entanto, se nos afastarmos de seu olhar, Deus não pode desviar seu olhar de nós. Ele continua a nos reconhecer como filhos amados, demonstrando confiança em nossa capacidade de retornar a Ele e a nós mesmos”.

O centurião romano

A segunda figura citada pelo Padre Pasolini é o centurião anônimo do exército romano descrito no Evangelho de Lucas: embora pagão, esse homem decide confiar em Jesus e pede que ele cure seu servo doente. Atento à vida e às necessidades dos outros, o centurião também tenta não colocar o Salvador em apuros, evitando-o, sabendo que um judeu observador como o Salvador se contaminaria ao entrar na casa de um pagão. De fato, ele se dirige a Jesus com uma “frase maravilhosa” que mais tarde foi incorporada à liturgia cristã: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dize uma palavra e eu serei salvo”. Essas palavras, explicou o pregador, expressam uma grande confiança no Senhor Jesus e no fato de ele ser a Palavra definitiva de salvação de Deus.

O Papa Francisco escutando a meditação (Vatican Media)

A ligação entre fé em Deus e cuidado com o próximo

O frade capuchinho também destaca outro aspecto: o centurião romano mostra que a fé em Deus e a atenção ao próximo não são “separáveis” ou “assimétricas”. Pelo contrário: “nossa fé em Deus é autêntica na medida em que acreditamos que a confiança e a bondade nunca são supérfluas nos relacionamentos que vivemos”. Não se trata simplesmente de demonstrar alguma cordialidade, mas de“ sempre encontrar o tempo e a maneira de nos colocarmos no lugar do outro”, de seguir o Senhor que nunca nos deixa desconfortáveis, “nem mesmo quando escorregamos no pecado”, porque “é o amor que se aproxima do outro, a luz que sempre brilha, mesmo na escuridão”.

Ser crente significa expandir nossa humanidade

O centurião que confia em tudo e em todos, mesmo em um contexto em que não faltam dificuldades, é a manifestação de uma humanidade “límpida, aberta, saudável, visível”, é “um forte chamado para nós e para nossas jornadas de fé”, nas quais muitas vezes nos encontramos fechados, desconfiados e egoístas”. Ser crente, reitera o Padre Pasolini, significa expandir e aumentar nossa humanidade e bondade amorosa, caso contrário, nos iludimos pensando que estamos “nos refugiando na sombra de Deus para nos permitir ter um pouco menos de confiança” Nele, em nosso próximo e em nós mesmos.

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São José, ícone de confiança

O frade capuchinho então se detém em São José - a quem o Papa Francisco dedicou a Carta Apostólica Patris corde - descrevendo-o como “um ícone de confiança” na medida em que ele está disposto a “redefinir-se não a partir de si mesmo, mas a partir das circunstâncias”. Não é coincidência que, em uma sociedade em que as mulheres eram definidas pelos homens, José seja chamado de “o esposo de Maria”. Embora perplexo com a gravidez inconcebível de Maria, ele não reage com raiva, não foge, mas fica e se mantém ao lado dos mais fracos: a Virgem e a criança. José não pede e não faz justiça a si mesmo, reitera o padre Pasolini, mas se ajusta à situação em que se encontra. Longe de qualquer atitude passiva ou renunciatória, ele é, portanto, um exemplo de “protagonismo corajoso”.

Exceder-se no amor

Ao confiar no Senhor, José percebeu algo importante: é necessário amar mais do que ele imaginava. Um ensinamento que também é válido para nós: quando nos encontramos em situações complicadas, observa o frade capuchinho, tomados pelo pânico ou pela raiva, não paramos para pensar, mas apenas tentamos evitar o problema, com medo de “olhar a realidade de frente, porque não gostaríamos de ser forçados a reconhecer nela um chamado para nos envolvermos mais com a vida dos outros”. Colocados nas cordas, “tendemos a querer mudar as circunstâncias”.

A luz de Deus brilha mesmo nos momentos mais sombrios

No entanto, lembra o Padre Pasolini, “o ato mais autêntico de justiça nunca consiste em consertar o que nos incomoda ou o que não gostamos, mas em tentar mudar a nós mesmos, reformulando nossas expectativas de acordo com as necessidades ou dificuldades daqueles que nos rodeiam”. Assim, como São José, nas passagens cruciais e mais sombrias de nossas vidas, quando parece que estamos perdendo algo imensamente importante, Deus sempre ilumina, estimulando nossa criatividade e nos ensinando a não desistir de nossos sonhos, mas a vivê-los de forma diferente.

A castidade, abstenção do egoísmo

Padre Pasolini continua enfatizando um outro ponto: a prontidão encarnada por São José para aceitar a realidade não é outra coisa senão a castidade, entendida não no sentido estritamente físico, mas, em um sentido mais amplo, como abstenção do egoísmo e “a capacidade de permanecer em relação com o outro respeitando seus ritmos e tempos”, “em uma troca de cuidado e atenção mútuos”. “Em uma época marcada por uma maior atenção a nós mesmos, evitando sacrifícios inúteis e prejudiciais à nossa humanidade”, acrescenta o pregador, ”o risco coletivo pode ser o de cair em um egoísmo no qual o outro fica em segundo plano. Isso explica por que tantos caminhos de amor e consagração são facilmente interrompidos”. No entanto, precisamente neste momento da história, todos nós sentimos um profundo desejo de “relações autênticas, enraizadas em um coração livre, como o de José”, que é “uma testemunha luminosa da gratuidade”.

Abraçar a realidade confiando no Senhor

No tempo do Advento, conclui o pregador, o convite é, portanto, para atravessar aquela “porta da confiança” indicada pelos profetas, pelo centurião romano e por São José, porque somente dirigindo o nosso olhar para Deus e encontrando a confiança Nele, em nós mesmos e nos outros, saberemos “ver o bem ao nosso redor” e “abraçar a realidade mesmo quando ela é incômoda e quase repulsiva, tentando não buscar a justiça, mas ajustar o nosso coração”, entendendo como ela pode ser “um espaço de felicidade, porque é o lugar onde o Senhor escolheu estar conosco, para sempre”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF