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domingo, 9 de fevereiro de 2025

Mas afinal o que é o pecado?

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Reportagem local - publicado em 08/09/19

O pecado é a rejeição a instaurar com Deus e com os outros uma relação de amor.

O conceito de pecado é bastante simples: basicamente, o pecado é um ato de egoísmo exagerado. É preferir a si mesmo, antepor-se a Deus e aos outros, cedendo às paixões desordenadas, que nos colocam no centro da nossa existência, negando nossa natureza, que só se completa quando se abre ao próximo e a Deus.

O pecado é a rejeição a instaurar com Deus e com os outros uma relação de amor. É um “fechar-se às criaturas” e “rejeitar o Criador”. Em geral, o pecador só deseja os prazeres proporcionados pelas criaturas, e não necessariamente quer rejeitar o Criador.

Mas, ao deixar-se seduzir pelas satisfações fugazes proporcionadas pelas criaturas, o pecador implicitamente está agindo contra o amor do Criador, pois sente que o prazer terreno não o preenche, mas ainda assim não resiste a ele.

Por isso, o pecado fere o próprio pecador, afastando-o da plenitude oferecida por Deus. E, por isso, o pecado ofende Deus: não porque Deus, como tal, se veja afetado, mas porque nós mesmos, ao pecar, nos diminuímos diante da grandeza que Deus nos oferece.

Para Jesus, o pecado nasce no interior do homem (cf. Mt 15, 10-20). Por isso, é necessária a transformação interior, do coração. Para Jesus, o pecado é uma escravidão: o homem se deixa no poder do maligno, valorizando falsamente as coisas deste mundo, deixando-se levar pelo imediato, pelas satisfações sensíveis, que não saciam nossa sede de amor e de plenitude.

Que tipos de pecado existem?

1. O pecado original é a herança que todos nós recebemos dos nossos primeiros pais, Adão e Eva: eles desconfiaram do amor de Deus Pai e cederam à tentação de deixá-lo fora das suas escolhas pessoais. Como filhos de uma humanidade que perdeu a inocência, todos nós nascemos com a natureza caída de pecadores e precisamos da graça de Deus, mediante o sacramento do Batismo, para purificar nossa alma.

2. O pecado atual ou pessoal é o que cometemos como indivíduos, voluntária e conscientemente. Pode ser cometido de quatro maneiras: com o pensamento, com as palavras, com os atos e com as omissões. E pode ser contra Deus, contra o próximo ou contra nós mesmos. O pecado pessoal pode ser mortal ou venial:

2.1. O pecado venial ou leve é aquele que cometemos sem plena consciência ou sem pleno consentimento, ou com plena consciência e consentimento, mas em matéria leve.

2.2. O pecado mortal ou grave é o que envolve três fatores simultâneos: plena consciência, pleno consentimento e matéria grave.

O que é matéria grave e matéria leve?

A “matéria” é o “fato” pecaminoso em si. É grave quando fere seriamente qualquer um dos 10 mandamentos. Alguns exemplos: negar a existência de Deus, ofender Deus, ofender os pais, matar ou ferir gravemente uma pessoa, colocar-se em grave risco de morte sem uma razão justa, cometer atos impuros, roubar objetos de valor, caluniar, cometer graves omissões no cumprimento do dever, causar escândalo ao próximo.

matéria leve é aquela que não fere seriamente nenhum dos 10 mandamentos, ainda que consista em um ato contrário a alguns deles. Por exemplo: roubar é pecado, mas a gravidade desse pecado tem diversos graus. Roubar dez centavos não costuma prejudicar gravemente a vítima do roubo; mas o roubo de uma quantidade cuja perda prejudica a vítima de maneira considerável passa a ser matéria grave.

Quais são os efeitos do pecado?

pecado mortal mata a vida da graça na alma, rompendo a relação vital com Deus; separa Deus da alma; faz que percamos todos os méritos das coisas boas que fazemos; impede que a alma participe da eternidade com Deus.

Como se perdoa o pecado mortal

? Com uma boa confissão ou com um ato de contrição perfeito, unido ao propósito de confessar-se o mais rápido possível.

Quanto ao pecado venial, ele enfraquece o amor a Deus, vai esfriando a relação com Ele, priva a alma de muitas graças que ela receberia de Deus se não pecasse, facilita o pecado grave.

Como eliminar o pecado venial? Com o arrependimento e as boas obras, como orações, missas, comunhão e obras de misericórdia.

E onde entram os pecados capitais?

Os pecados capitais requerem uma atenção especial porque são causa de outros pecados. Podem ser veniais ou mortais, dependendo das condições explicadas antes. Mas sempre são “cabeças” de novos pecados, e daí vem o termo “capital”. São sete:

– Soberba: estima exagerada de si mesmo e o desprezo dos outros.
– Avareza: desejo desmesurado de dinheiro e de possuir.
– Luxúria: apetite e uso desordenado do prazer sexual.
– Ira: impulso desordenado ao reagir com raiva contra alguém ou algo.
– Preguiça: falta de vontade no cumprimento do dever e no uso do tempo livre.
– Inveja: tristeza pelo bem do próximo, considerado como mal próprio.
– Gula: busca excessiva do prazer pelos alimentos e pela bebida.

Existe algum pecado que não pode ser perdoado?

Sim, o pecado contra o Espírito Santo (cf. Mt 12, 30-32). Em que consiste? Na atitude permanente de desafiar a graça divina; em fechar-se a Deus, rejeitar sua mensagem. Essa atitude impossibilita o arrependimento. E, como Deus respeita nossa liberdade e nosso livre arbítrio, Ele se deixa obrigar por nós a não nos perdoar, pois seu perdão depende da nossa aceitação voluntária.

O pecado contra o Espírito Santo pode se manifestar, por exemplo, na perda da esperança na salvação, na presunção de salvar-se sem mérito, na luta contra a verdade conhecida, na obstinação em permanecer no pecado, na impertinência final na hora da morte.

Então, qualquer outro pecado pode ser perdoado, bastando querer sinceramente o perdão?

Sim, claro! Deus quer tanto nossa plena realização com Ele, que não hesitou em morrer na cruz para nos redimir. Deus nos espera sempre com os braços abertos, como um Pai que se esquece de todas as nossas ingratidões, como Ele mesmo deixa claro na belíssima parábola do filho pródigo (cf. Lc 15, 11ss).

Basta querer de verdade seu abraço de Pai!

(Trechos do livro “Jesus Cristo”, do Pe. Antonio Rivero)

Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/09/08/mas-afinal-o-que-e-o-pecado

O Papa no Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança: o bem pode vencer

Santa Missa e Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança (Vatican News)

Em sua homilia, Francisco ressaltou que a presença das Forças Armadas, Polícia e Segurança "em nossas cidades e bairros, o modo como estão sempre do lado da legalidade e dos mais fracos, torna-se ensinamento para todos nós: ensina-nos que a justiça, a lealdade e a paixão cívica continuam sendo valores necessários hoje em dia. Ensina-nos que podemos criar um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno, apesar das forças contrárias do mal".

https://youtu.be/fG5KSkUkpTg

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco presidiu a missa para o Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança, na Praça São Pedro, neste domingo, 9 de fevereiro.

A missa foi concelebrada pelo prefeito do Dicastério para os Bispos, cardeal Francis Prevost, pelo ordinário militar da Itália, dom Santo Marcianò, e pelo arcebispo de Vilnius, dom Gintaras Grušas, presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE). Cerca de 25 mil pessoas participaram da missa na Praça São Pedro. Mais de trezentos foram os concelebrantes, incluindo cardeais, bispos e sacerdotes.

Colocar em primeiro lugar o encontro com os outros

Em sua homilia, o Papa se deteve na atitude de Jesus no lago de Genesaré, descrita pelo evangelista Lucas com três verbos: ver, subir e sentar.

“Jesus não está preocupado em dar uma imagem de si mesmo às multidões, em executar uma tarefa, em seguir um cronograma; pelo contrário, coloca sempre em primeiro lugar o encontro com os outros, a relação, a preocupação com aqueles trabalhos e fracassos que muitas vezes sobrecarregam o coração e tiram a esperança.”

"Foi por isso que naquele dia Jesus viu, subiu e sentou-se", sublinhou o Papa.

Jesus viu. "Ele tem um olhar atento que lhe permite, mesmo no meio de tanta gente, avistar dois barcos atracados na margem e notar a desilusão no rosto daqueles pescadores, que, depois de uma noite que correu mal, lavam as redes vazias. Jesus dirige o seu olhar cheio de compaixão". "Não nos esqueçamos da compaixão de Deus. Das três atitudes de Deus: proximidade, compaixão e ternura. Não se esqueçam: Deus é próximo, Deus é terno e Deus é compassivo, sempre", frisou.

"Jesus olha com aquele olhar cheio de compaixão para os olhos daquelas pessoas, captando o seu desânimo, a frustração de terem trabalhado toda a noite sem apanhar nada, o sentimento de terem o coração vazio, tal como as redes que agora seguram nas mãos", ressaltou Francisco.

Cardeal Prevost enquanto incensa o Crucifixo (Vatican Media)

Jesus sobe na barca da nossa vida

A seguir, o Papa pediu desculpas por não continuar a leitura da homilia por causa da dificuldade de respirar, devido a uma bronquite que o acometeu nos últimos dias. Prosseguiu a leitura, o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dom Diego Giovanni Ravelli.

"Vendo o seu desânimo, Jesus subiu. Pede a Simão que afaste o barco da terra e sobe a bordo, entrando no espaço da vida de Pedro e abrindo caminho naquele fracasso que habita o seu coração. E isto é bonito":

“Jesus não se limita a observar as coisas que não correm bem, como nós fazemos muitas vezes, acabando por nos fecharmos em lamentos e amarguras. Em vez disso, Ele toma a iniciativa, vai ao encontro de Simão, detém-se com ele naquele momento difícil e decide subir na barca da sua vida, que naquela noite regressou à terra sem nenhum resultado.”

Breve vídeo da missa do Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança

https://youtu.be/Id5gAW3zGIk

A esperança que renasce

"Por fim, tendo subido, Jesus sentou-se. Nos Evangelhos", segundo o Papa, "esta é a postura típica do mestre, daquele que ensina. Efetivamente, o Evangelho diz que ele se sentou e ensinou. Depois de ter visto nos olhos e no coração daqueles pescadores a amargura de uma noite de trabalho em vão, Jesus sobe a bordo do barco para ensinar, isto é, para anunciar a boa nova, para levar luz àquela noite de desilusão, para narrar a beleza de Deus no meio das dificuldades da vida humana, para fazer sentir que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há esperança. E é aí que acontece o milagre: quando o Senhor sobe no barco da nossa vida trazendo-nos a boa nova do amor de Deus que sempre nos acompanha e sustenta, então a vida recomeça, a esperança renasce, o entusiasmo perdido retorna e podemos lançar de novo as redes ao mar".

"Irmãos e irmãs, esta palavra de esperança acompanha-nos hoje ao celebrarmos o Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança, a quem agradeço o serviço prestado, saudando todas as Autoridades presentes, as Associações e Academias Militares, bem como os Ordinários castrenses e os Capelães." 

“A vocês é confiada uma grande missão, que abrange múltiplas dimensões da vida social e política: a defesa dos nossos países, o compromisso em prol da segurança, a guarda da legalidade e da justiça, a presença nas prisões, a luta contra a criminalidade e as diferentes formas de violência que ameaçam perturbar a paz social. E recordo ainda aqueles que prestam o seu importante serviço em situação de catástrofes naturais, na salvaguarda da criação, no resgate de vidas em alto mar, na defesa dos mais frágeis, na promoção da paz.”

O Papa Francisco durante a missa do Jubileu das Forças Armadas (Vatican Media)

Uma presença que é ensinamento para nós

"Também a vocês o Senhor pede para fazerem como Ele: ver, subir, sentar-se", disse ainda o Papa. "Ver, porque vocês são chamados a manter um olhar atento, capaz de captar as ameaças ao bem comum, os perigos que pairam sobre a vida dos cidadãos, os riscos ambientais, sociais e políticos a que estamos expostos", sublinhou. "Subir, porque suas divisas, a disciplina que os forjou, a coragem que os distingue, o juramento que prestam, são coisas que os recordam o quanto é importante não só ver o mal, mas denunciá-lo, subir a bordo do barco que está numa tempestade e, com a missão a serviço do bem, da liberdade e da justiça, empenhar-se para que ele não afunde", acrescentou.

“E, por fim, sentar-se, porque a sua presença em nossas cidades e bairros, o modo como estão sempre do lado da legalidade e dos mais fracos, torna-se ensinamento para todos nós: ensina-nos que, apesar de tudo, o bem pode vencer. Ensina-nos que a justiça, a lealdade e a paixão cívica continuam sendo valores necessários hoje em dia. Ensina-nos que podemos criar um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno, apesar das forças contrárias do mal.”

Capelães, presença de Cristo

O Pontífice recordou também os capelães, que são uma presença sacerdotal importante no meio dos militares. "Eles não servem – como por vezes e infelizmente aconteceu na história – para abençoar atos perversos de guerra. Não! Eles encontram-se no meio de vocês como a presença de Cristo, que quer acompanhar, ouvir e oferecer a vocês a sua proximidade, dar-lhes coragem" e apoio "na missão que desempenham todos os dias. Como apoio moral e espiritual, eles caminham com vocês, ajudando-os a realizar suas tarefas à luz do Evangelho e a serviço do bem".

Vigilantes contra a tentação de cultivar um espírito de guerra

Por fim, agradeceu aos militares pelo que fazem, "por vezes correndo riscos pessoais" e os exortou "a não perderem de vista o propósito de seu serviço e de suas ações: promover a vida, salvar a vida, defender sempre a vida".

“Por favor, peço-lhes que sejam vigilantes: vigilantes contra a tentação de cultivar um espírito de guerra; vigilantes para não deixarem se seduzir pelo mito da força e pelo rumor das armas; vigilantes para não serem contaminados pelo veneno da propaganda do ódio, que divide o mundo entre amigos a defender e inimigos a combater. Em vez disso, sejam testemunhas corajosas do amor de Deus Pai, que nos quer todos irmãos. Caminhemos juntos para construir uma nova era de paz, justiça e fraternidade.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Mulheres têm formação sobre maternidade espiritual de sacerdotes em Brasília

Retiro Nacional da Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes, em março de 2023, em Brasília | Arquivo pessoal

Por Monasa Narjara*

7 de fevereiro de 2025

“Formar mulheres que sentem o chamado ou que já rezam pelos sacerdotes”, este é o objetivo da formação sobre a "Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes: uma Vocação Escondida”, que acontecerá amanhã (8), às 8h, na catedral de Brasília, na Esplanada dos Ministérios.  O encontro tem 146 inscritas e é "um convite do grupo Maternidade Santa Faustina”, promovido pelo Apostolado Maternidade Espiritual (AME) da Fraternidade Misericórdia Materna.

Esta formação “é um convite da Santa Igreja feito através do documento do Dicastério para o Clero, ‘Adoração Eucarística pela santificação dos sacerdotes e maternidade espiritual’”, para instruir as mulheres que queiram se “aprofundar nesta missão”, disse à ACI Digital a coordenadora da Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes Santa Faustina, em Brasília, Laura Ata.

A formação será conduzida pelo fundador da Fraternidade Misericórdia Materna, frei Paulo Maria Geovani L. Noronha, e pela formadora da Fraternidade Misericórdia Materna, irmã Teresa Maria da Santa Cruz, coordenadora do AME. Também estará presente no evento o pároco da catedral de Brasília, padre Agenor Vieira.

O encontro de amanhã “incluirá momentos de oração”, abordará alguns temas “para esclarecer sobre a vocação da maternidade espiritual pelos sacerdotes”, como: “por que rezar pelos sacerdotes? Como discernir o chamado? E o sim de Maria”, adiantou Laura Ata.

Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes Santa Faustina

A Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes Santa Faustina “é um grupo de mães espirituais da catedral de Brasília” criado em 15 de novembro de 2023 pela libanesa Laura Ata, assessora diplomática na Embaixada do Líbano, em Brasília.

Laura mora no Brasil há 18 anos. Ela contou que a inspiração de criar esse grupo surgiu diante de uma relíquia da santa Faustina, quando participava de uma missa da festa da paróquia Mãe da Divina Misericórdia, na Asa Norte, cidade satélite de Brasília, celebrada pelo arcebispo cardeal Paulo Cezar Costa.

“A inspiração que me veio foi de iniciar um grupo na cripta da catedral, debaixo do altar, onde são ordenados inúmeros sacerdotes e onde são celebradas as missas mais solenes da arquidiocese”, disse Ata. “Resisti primeiro, mas fui por obediência e conversei no final daquela missa com dom Paulo sobre a inspiração e o desejo que veio no meu coração de iniciar um grupo discreto de mulheres que possam se ofertar pela vida dele, dos bispos auxiliares e consequentemente por todos os sacerdotes da nossa arquidiocese”.

“Ele acolheu com emoção minhas palavras e abriu as portas da arquidiocese e me falou: ‘escolha onde quiser e comece’”. Inspirada em realizar o grupo na cripta da catedral, Laura foi conversar com o pároco, padre Agenor Vieira.  “Ele, com o coração tão sensível de um homem de Deus, acolheu a proposta prontamente e deu o nome ao nosso grupo: ‘Maternidade Espiritual Santa Faustina’”.

A primeira reunião oficial do grupo foi no dia 8 de dezembro de 2023, solenidade da Imaculada Conceição. “O intuito deste grupo é apoiar espiritualmente, rezar no silêncio e nos ofertar pela vida dos nossos sacerdotes. Ser o porto seguro e coração materno na hora da dificuldade”, disse Laura Ata. 

O grupo é composto por 22 mulheres, que se reúne na cripta da catedral de Brasília toda segunda sexta-feira do mês diante do Santíssimo Sacramento e “quando o padre Agenor convocar ou precisar de intercessão”, disse Laura. Ela acredita que agora, com esta nova formação, o “grupo crescerá”.

*Monasa Narjara é jornalista da ACI Digital desde 2022 e foi jornalista na Arquidiocese de Brasília entre 2014 a 2015.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/61201/mulheres-tem-formacao-sobre-maternidade-espiritual-de-sacerdotes-em-brasilia

Reflexão para o V Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Tendo a graça de renunciar a si mesmo, o cristão poderá como São Paulo, na segunda leitura de hoje, dizer: “É pela graça de Deus que sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril.”

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Vemos na primeira leitura a disponibilidade de Isaías. Javé não lhe faz o convite diretamente, mas pergunta a Si mesmo quem enviar? Isaías não se faz de rogado e imediatamente se apresenta e se oferece. Já bem antes, diante da magnífica visão de Deus, Isaías já havia se reconhecido pecador e indigno da visão. Agora, já purificado, sentiu-se fortalecido para colaborar com Deus.

No Evangelho Simão Pedro e seus companheiros fazem uma pesca infrutífera. Jesus aparece, quando eles já se preparam para voltar para suas casas e sobe na barca de Simão, dando-lhe ordem para se afastar da praia. Pedro obedece e Jesus se acomoda em sua barca. Dela ensinava às multidões.

Quando terminou, o Senhor mandou que ele avançasse para águas mais profundas e jogasse as redes para a pesca. Simão contesta dizendo que labutaram toda a noite e nada conseguiram, mas em atenção à palavra d’Ele, iria lançar as redes. Evidentemente a pesca foi abundante e a reação de Pedro foi semelhante à de Isaías, sentindo-se pecador, indigno diante de tal maravilha. Ele se joga aos pés de Jesus e diz: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!”

Do mesmo modo como aconteceu com o profeta, acontece com Pedro. Jesus lhe dá a missão: ser pescador de homens. Então deixaram tudo e seguiram o Senhor. Sem renunciar ao que se possui não é possível servir ao Senhor e a seus irmãos. É preciso esvaziar-se, deixar-se tomar por Deus. Somente assim o cristão poderá penetrar águas mais profundas e tirar das garras da morte aqueles que o mal aprisiona como escravo do dinheiro, do poder, do prazer, transformando seu próprio umbigo no centro do mundo.

Certamente também o Senhor me vocaciona, chamando-me a ser seu apóstolo onde estou. Ele quer depender de meu sim, para que possa agir no coração e na mente das pessoas. Tenho consciência de que preciso me esvaziar para que a graça de Deus possa agir em mim, constituindo-me seu servidor?

Tendo a graça de renunciar a si mesmo, o cristão poderá como São Paulo, na segunda leitura de hoje, dizer: “É pela graça de Deus que sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 8 de fevereiro de 2025

"A verdade nunca é uma posse"

Cristo: Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Catequizar)

NA ESTRADA DE AGOSTINHO

Arquivo 30Giorni n. 02 - 2001

"A verdade nunca é uma posse"

«O próprio Cristo disse que Ele é a verdade e ao mesmo tempo o caminho, a vereda: nós buscamos a verdade, encontramos-a pela graça e recomeçamos a esperá-la». Encontro com o Cardeal Paul Poupard, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.

por Giovanni Cubeddu

«Agostinho é uma pessoa que conheço há cinquenta anos, desde que eu era um jovem padre e acreditava que estava destinado a ser professor. Eu estava com dificuldades para escolher uma disciplina para minha graduação: história, teologia ou filosofia do cristianismo? Finalmente optei pela última opção e escrevi sobre um pensador do século XX, o abade Louis Bautain. E lembro-me que no início de sua obra La philosophie du Christianisme ele colocou uma frase do De vera religione de Agostinho : "A filosofia, que é o estudo da sabedoria, nada mais é do que religião." Hoje, alguns levantariam seus escudos protestando que a distinção epistemológica entre filosofia, teologia, inteligência da fé e fé não é respeitada dessa maneira; Agostinho, por outro lado, parte simplesmente da etimologia, afirmando que a filosofia é o amor à sabedoria, e se assim é, quem pode ser, pergunta Agostinho, um maior amigo da sabedoria do que aquele que segue Jesus Cristo?

O cardeal Paul Poupard paira sobre nós com as altíssimas estantes de sua biblioteca de quinze mil volumes, com a qual ele convive em sua casa de estudos no Palazzo San Calisto, em Roma. Administrar tamanha massa de conhecimento é o dever traiçoeiro deste cardeal de setenta anos – presidente do Pontifício Conselho para a Cultura desde 1988 – que é responsável por navegar na relação entre cultura e fé. E é gratificante poder falar de Agostinho, cujo testemunho e inteligência na fé devem ter muitas vezes restaurado os esforços do cardeal francês, cujo primeiro gesto foi encontrar entre os quinze mil volumes aquele primeiro volume do abade Bautain. Folheando-o mais uma vez, o olhar recai sobre uma frase…

…“Você só conhece a verdade se souber quem a testemunha.”
PAUL POUPARD: Aurélio Agostinho é sempre novo, como todos os grandes Padres da Igreja. E o que ele disse sobre a verdade permanece. Não é abstrato, mas corporificado. Não apenas isso: Agostinho sabe que mesmo aqueles que não buscam a verdade constroem seu raciocínio sobre ela, eles estão ancorados nela. Daí a atitude tipicamente agostiniana de quem, mesmo obrigado a opor-se dialeticamente a alguém, o faz sempre partindo do próprio enunciado a refutar, sem nunca querer desafiar o interlocutor.

A este respeito, eis o que escreve Agostinho, dirigindo-se ao donatista Crescônio: «Vê, pois, quão razoável é a conduta que nós [católicos, ndr .] seguimos. Quando hereges e cismáticos vêm até nós, corrigimos o que eles distorceram, mas reconhecemos e louvamos o que eles preservaram da forma como o receberam. E isto para que, irritados pelos vícios dos homens, não ofendamos as coisas de Deus, indo além do que é justo, ao mesmo tempo em que vemos que o próprio Apóstolo confirmou e não refutou o nome de Deus encontrado no altar dos adoradores de ídolos pagãos."
POUPARD: Esta poderia certamente ser a “magna carta” do Pontifício Conselho para a Cultura, no nosso diálogo com todos. Este pensamento fundamental de Santo Agostinho também é adotado por Santo Tomás, que é um grande leitor de Santo Agostinho. Infelizmente, muitas vezes ensinamos uma história composta de arquétipos errôneos, como a oposição entre Santo Agostinho e São Tomás, o que não é verdade. Basta abrir a Summa Theologiae para descobrir que Tomás responde a todas as perguntas citando Agostinho. E é justamente seguindo Agostinho que Tomás afirma que “toda verdade, venha de onde vier, é inspirada pelo Espírito Santo”. Agostinho é central na grande visão clássica do catolicismo – da qual participaram desde o início São Justino, Clemente de Alexandria, Orígenes – da semina Verbi , do Logos spermatikos . A verdade não pode deixar de ser una, por seu próprio conceito, e se oposições e duelos são fundados nela, mesmo na Igreja, é devido às limitações e pecados dos homens. Na história da Igreja encontramos a feroz refutação da verdade porque ela foi afirmada por inimigos. Agostinho, ao contrário, com coração e inteligência, diz que mesmo no herege e no cismático não apenas “reconhecemos” a verdade, mas a “louvamos”, isto é, louvamos “o que eles preservaram tal como o receberam”. Este é precisamente o caminho do diálogo que buscamos com todos, seja o diálogo ecumênico, o diálogo inter-religioso, o diálogo com os não crentes ou o diálogo com as culturas. Começamos pelo positivo que existe em cada um de nós. Agostinho sabia disso muito bem, tendo sido atraído pelo maniqueísmo em sua juventude, e que mais tarde lutou contra essa heresia que defendia a oposição absoluta entre o bem e o mal.

Agostinho afirma em De civitate Dei que nesta terra a Igreja e o mundo coexistem juntos, de modo que as duas cidades são perplexae e permixtae …
POUPARD: Um conceito de Agostinho sobre o qual sempre medito e que utilizo com gratidão e eficácia no diálogo com as culturas. Isto é (aqui também tomo emprestado um conceito do meu grande protetor e padroeiro São Paulo, "Eu não faço o bem que quero, mas o mal que não quero") a fronteira entre o bem e o mal não é entre eu que sou perfeito e você que é o mal encarnado, mas passa por cada consciência, cada pessoa e cada sociedade que é precisamente perplexa e permixta.. Portanto, o grande caminho do diálogo salvífico que vem do próprio Jesus não é extinguir em ninguém aquela centelha de bem que ainda brilha fracamente, não sufocar as faíscas, mas partir delas. Nos tempos em que vivemos, creio que isto é o mais necessário, mas também o mais difícil, num contexto civil e eclesial não isento de maniqueísmo. É bastante claro que, ao contrário do maniqueísmo, cada cultura é verdadeira na medida de sua paixão cordial pelo homem e pela humanidade de cada homem. Por isso, no alvorecer do terceiro milênio, eu digo: é preciso retornar a Agostinho e fugir das tentações antagônicas que sempre retornam.

Que tentações, na sua opinião?
POUPARD: O primeiro é típico de alguém que, tendo tomado posse da verdade, blasfema de todo o resto. Destes, São Francisco de Sales disse que “uma verdade sem caridade é uma caridade sem verdade”. Esta frase me impressiona porque reitera que para nós a verdade não é um conceito abstrato, mas uma pessoa amada, ou seja, Jesus Cristo. Só Ele é o antídoto perfeito para todas as ideologias, porque o homem nunca se deixa reduzir a uma ideia.

A segunda tentação – como bem diz o famoso filme Tout le monde il est beau, tout le monde il est gentil (mas não é verdade que o mundo inteiro é belo e gentil…) – é a do sincretismo, do relativismo que envenena profundamente a cultura dominante, do agnosticismo. Isto é dramático para a Igreja, que tem a responsabilidade de anunciar o Evangelho e ir a todas as nações para dizer que o Senhor é a verdade, a vida e o caminho. Porque neste contexto – está acontecendo na Europa – até mesmo propor Jesus Cristo, a verdade que Ele é, é considerado um gesto de absolutismo e intolerância. Aconteceu de eu dizer isso também em conversa com o Papa, e resumi assim: "Santo Padre, realmente me parece que nossa sociedade de tolerância tolera tudo, absolutamente tudo, exceto a verdade." Retornamos ao início do cristianismo. Recentemente celebrei a Santa Missa em uma conferência em memória do filósofo Maurice Blondel no Panteão de Roma. Fiquei muito impressionado ao celebrar a Eucaristia ali naquele templo já dedicado pelos antigos romanos a todos os deuses, porque no início os romanos consideravam o cristianismo como mais uma religião do Panteão, e com espanto, transformado em raiva, viram que o Deus dos cristãos afirmava ser o único Deus verdadeiro.

E assim, entre as duas tentações – o fundamentalismo que não converteu ninguém e o sincretismo que esvazia tudo – brilha o exemplo de Agostinho, que dá testemunho da sabedoria de São Paulo diante do Areópago, quando, para refutar aqueles que blasfemavam a verdade, ele se servia da inteligência de uma captatio benevolentiae , que era também o grande abraço do seu coração para reconduzir ao Senhor aqueles homens devotados a cultos errados.

Você estava explicando antes que as culturas expressam uma questão em vez de uma posse…
POUPARD: Agostinho fala do coração humano estar inquieto até que descanse em Deus. Como podemos responder a esse coração inquieto? A partir daqui encontramos Cristo. Ele mesmo disse que é ao mesmo tempo a verdade e o caminho, o caminho: a verdade nunca é uma posse, mas nós a buscamos, pela graça a encontramos e começamos a esperá-la novamente. E Pascal, que aqui herda Agostinho, diz: "Vocês não poderiam me procurar se não me tivessem encontrado, e tendo me encontrado, vocês ainda me procuram." O Deus de Santo Agostinho, que é o Deus cristão, não é uma abstração petrificada, mas o rosto doce de uma pessoa viva. Esta é a nossa verdade.

E o mesmo vale para as culturas: uma cultura que quer ser o “totum” é intolerante e, em última análise, leva à morte. Leopold Sedar Senghor, ex-presidente da República do Senegal, poeta e meu amigo, fez parte do primeiro Conselho de Cultura que foi criado há vinte anos, ele sempre repetia que «la culture est dans le métissage», a cultura está no encontro fecundo. A sabedoria nunca é uma posse, mas sim uma abertura, um encontro que se enriquece gradualmente à medida que avança na história.
Entendemos bem isso quando falamos de inculturação: não há uma fé asiática, africana ou americana autorreferencial, mas, de um lado, a fé que se propõe e, de outro, a cultura, isto é, o homem, que em sua liberdade a acolhe: é um mirabile commercium , um mirabilis , um encontro e uma troca estupendos . A vida do cristianismo na história nos mostra isso.

Assim, a cultura floresce como a surpresa de um encontro...
POUPARD: Gostaria de repetir: quando Jesus afirma ser o caminho, a verdade e a vida, ele nos diz que não possuímos a verdade, mas a buscamos em nossa jornada, e podemos acolhê-la porque ela não é uma abstração, mas uma pessoa amada, o filho de Maria. E ao contrário do que Ernest Renan disse que "a verdade é triste", a verdade é cheia de alegria. Então, se a nossa geração pode fazer alguma coisa, se ela tem uma tarefa, é devolver à cultura – certamente, incluindo a cultura católica – a surpresa de uma verdade que é cheia de alegria. Escrevendo recentemente sobre o cristianismo no alvorecer do terceiro milênio, concluí com o Diário de um Pároco de Aldeia, de Georges Bernanos : "Tudo o que fizestes contra a Igreja, fizestes contra a alegria". Lembro-me também daquelas páginas extraordinárias de Agostinho sobre a felicidade: todos os homens a buscam, mas a maior infelicidade advém dos homens que colocam sua esperança de felicidade no lugar errado. Também para Agostinho, posses, prazer e poder são bens terrenos compartilhados por cristãos e não cristãos, bens até que se tornem um ideal absoluto.

Até mesmo certas ideias de Agostinho, depois dele, foram tornadas absolutas.
POUPARD: E a própria história da Igreja nos mostra que sempre que tentamos absolutizar um detalhe de Agostinho, nos desviamos. Assim – e peço desculpas pelo trocadilho – o agostinianismo depois de Agostinho não é agostiniano de forma alguma, e certamente não é agostiniano acreditar que o próprio Agostinho, com De civitate Dei, estava sonhando com a teocracia. Aqui vamos nós outra vez. É fácil para o gênio humano cair no mecanismo de oposições e antagonismos. Para o gênio católico – como testemunha Agostinho – é válido o grande mistério do encontro entre a graça e a liberdade, uma liberdade que quando diz sim à graça é pela graça, porque é a graça que previne e sustenta. Assim, o homem, que permanece responsável por sua resposta, vive a fé pelo que ela é, um dom, assim como sua liberdade é um dom. Não haveria o existencialismo ateu de Jean-Paul Sartre se ele tivesse intuído o mistério da graça.

"A Igreja não tem outra vida senão a da graça." Assim, Paulo VI retomou Agostinho no Credo do Povo de Deus .
POUPARD: Repito. Agostinho é muito moderno, ele expressa a essência da Igreja quando diz que há aqueles que parecem estar na Igreja, mas estão fora dela, enquanto outros que parecem estar fora, na verdade pertencem à Igreja. Porque a realidade profunda da Igreja não é institucional, mas da ordem da graça. Podemos dizer que a graça garante que a instituição possa ser livre e misericordiosa.

É por isso que Dante Alighieri pode colocar papas e bispos no inferno.
POUPARD: Claro que não! Quem parece estar dentro da Igreja está fora, e vice-versa… Dante é um gênio único. Eu o reli recentemente. O exemplar da Divina Comédia que possuo foi-me dado por Paulo VI, que era um ávido leitor de Dante. O Papa Montini foi uma pessoa de grande cultura e profundo humanismo, e para ele Dante era o poeta supremo, e o considerava totalmente católico, como Agostinho e Tomás. Tanto que ele mandou reimprimir uma edição especial da Divina Comédia e distribuiu a todos os padres do Concílio Ecumênico Vaticano II. Nas discussões conciliares sempre houve quem quisesse fazer prevalecer seu ponto de vista, e na intenção de Paulo VI convidar todos a ler Dante significava fazer um apelo ao catolicismo da Igreja que tudo compartilha, valoriza o que é bom e coloca cada coisa em seu devido lugar.

Seu lema episcopal também é tirado de Agostinho: «Vobis enim sum episcopus. Eu sou cristão, veja bem» …
POUPARD: Sim, significa "para vocês eu sou um bispo, mas para vocês eu sou um cristão". Quando chegou a hora de escolher um lema depois de me tornar bispo, pensei imediatamente naquelas belas páginas em que Agostinho contrasta longamente ser bispo com ser cristão, o peso de uma responsabilidade que pode ser uma ocasião maior de pecado com a generosidade e a alegria da fé. Então meu maravilhoso amigo Agostinho acrescentou: "o primeiro título é meu tremor e o segundo é minha paz. O primeiro é meu trabalho e o segundo é meu descanso."

Fonte: https://www.30giorni.it/

A função pedagógica do sofrimento humano

O Sofrimento Humano e o Silêncio de Deus (Diocese Valadares)

A FUNÇÃO PEDAGÓGICA DO SOFRIMENTO HUMANO

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

O sofrimento humano é uma realidade inescapável da existência. Todos, em algum momento da vida, enfrentam dores físicas, emocionais ou espirituais. Mas qual é a razão do sofrimento? Seria ele um absurdo sem sentido ou pode ser compreendido como parte de um processo de crescimento e aprendizado? A partir de uma reflexão teológica, especialmente baseada na Carta aos Hebreus (12,4-7.11-15), e do pensamento de filósofos como Søren Kierkegaard, Emmanuel Lévinas e Viktor Frankl, podemos considerar o sofrimento sob uma perspectiva pedagógica e redentora. 

A Carta aos Hebreus nos ensina que o sofrimento não deve ser visto como uma punição sem propósito, mas como um meio pelo qual Deus educa seus filhos. O autor sagrado nos exorta a perseverar na luta contra as estruturas de pecado que se opõem ao Reino de Deus: “Vós ainda não resististes até ao sangue na vossa luta contra o pecado” (Hb 12,4). Essa luta traz consigo dores e tribulações, mas também purifica e fortalece o espírito. Como um pai corrige o filho a quem ama, Deus permite que seus filhos passem por provações para que possam crescer na santidade e na justiça: “Pois qual é o filho a quem o pai não corrige?” (Hb 12,7). Embora nenhuma correção seja prazerosa quando ocorre, ela gera frutos de paz e justiça naqueles que foram exercitados por ela (cf. Hb 12,11). 

A vida cristã comporta desafios e exige coragem, resiliência e uma profunda comunhão com Cristo. Ele, sendo inocente, sofreu até o extremo da cruz e, por sua obediência ao Pai, conferiu ao sofrimento um sentido redentor. A dor não é um fim em si mesma, mas um caminho para a purificação e a santificação: “Firmem as mãos cansadas e fortaleçam os joelhos enfraquecidos” (Hb 12,12). 

Søren Kierkegaard, em O Desespero Humano (1849), considera o sofrimento essencial à existência humana. Ele pode levar à angústia e ao desespero, mas também à fé verdadeira. Para ele, a dor confronta o ser humano com a finitude e fragilidade da vida e o conduz a um “salto de fé” em Deus, abrindo caminho para uma relação autêntica com o Transcendente, encontrando um sentido mais profundo para sua existência. 

Para Emmanuel Lévinas, em Ética e Infinito (1982), o sofrimento não pode ser reduzido a uma explicação racional. Ele nos interpela e exige uma resposta ética e compassiva. A dor do outro nos desafia a sair do egocentrismo e assumir a responsabilidade ética por ele. Assim, o sofrimento transcende a experiência individual e se torna um chamado moral à solidariedade e ao amor ao próximo. 

Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, em Em Busca de Sentido (1946), argumenta que o sofrimento pode ter significado quando vivido com propósito. Mesmo nas condições mais extremas, como nos campos de concentração nazistas,  Frankl observou que aqueles que encontravam um sentido em seu sofrimento eram mais resilientes. Para ele, não é o que nos acontece que nos define, mas a maneira como reagimos diante do sofrimento. 

Frankl propõe que buscar um sentido para a vida pode transformar a dor em um caminho de crescimento. Essa visão se alinha à perspectiva cristã, que vê o sofrimento como um meio de santificação e participação no mistério redentor de Cristo. 

O sofrimento humano pode parecer absurdo sob uma perspectiva materialista. No entanto, a teologia e a filosofia mostram que ele pode ter uma dimensão pedagógica, redentora e ética. A Carta aos Hebreus nos ensina que Deus permite o sofrimento como forma de educação espiritual. Kierkegaard demonstra que a dor pode levar à fé autêntica, enquanto Lévinas nos chama à responsabilidade pelo sofrimento alheio. Por fim, Frankl nos lembra que o sofrimento pode ser suportado quando encontramos um sentido nele. 

Longe de ser um absurdo, o sofrimento pode nos conduzir ao crescimento, à transcendência e à solidariedade. Como afirma a Escritura: “Meus irmãos, tende por motivo de grande alegria o passardes por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé produz perseverança” (Tg 1,2-3). 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Designer brasileiro reconstrói o rosto de São Nicolau, o verdadeiro Papai Noel

Cortesia / Cícero Moraes
Reconstrução digital de São Nicolau de Mira realizada por especialistas.

Isabella H. de Carvalho - publicado em 05/12/24

Um designer brasileiro, junto a outros especialistas, reconstruíram a imagem de São Nicolau de Mira, um bispo do século IV que inspirou a figura do Papai Noel.

O designer brasileiro Cícero Moraes já criou imagens digitais de várias figuras religiosas, como São Vicente de Paulo, Santa Catarina de Gênova e Santo Antônio de Pádua. Desta vez, com a equipe dele, ele decidiu dar vida a São Nicolau de Mira, um bispo que viveu no século IV, na Ásia Menor (atualmente Turquia) e que inspirou a figura do Papai Noel.

“Nós temos uma tradição de aproximar faces de santos há mais de 10 anos,” explicou Cícero Moraes a Aleteia. Em dezembro 2024 ele decidiu pedir ao seu colega de equipe, Dr. José Luis Lira, especialista na vida dos santos católicos, que tentassem recriar o rosto de São Nicolau de Mira. Com a ajuda do dentista Dr. Thiago Beaini, eles começaram o trabalho a partir de dados e medidas sobre a estrutura óssea do santo, fornecidos pelo Centro Studi Nicolaiani. Essas informações haviam sido coletadas por pesquisadores na década de 1950, durante a renovação da cripta da Basílica de São Nicolau, em Bari (Itália), onde os restos de São Nicolau estavam guardados.

Cortesia / Cícero Moraes

A equipe reconstruiu a imagem 3D do santo usando uma reconstrução facial forense (RFF) ou aproximação facial forense (AFF), que é “uma técnica auxiliar de reconhecimento que reconstrói/aproxima a face de uma pessoa a partir do seu crânio,” conforme explicado em um artigo científico escrito pela equipe e publicado pela Ortog Online, que detalha o processo.

“Aproximar a face dos santos, permite dar as relíquias um rosto humanizado, que gera mais identificação e empatia. Além disso, é uma oportunidade de examinar os restos mortais e descobrir um pouco mais sobre a vida da figura religiosa,” explicou Cícero Moraes. “Em relação à veneração, dar uma face pode criar uma identificação única, mas certamente isso pouco influencia na fé, que é muito mais ligada ao que o santo representa, do que como ele era.” 

A história de São Nicolau

São Nicolau de Mira, também conhecido como São Nicolau de Bari, nasceu entre 250 e 270 em Patara, na atual Turquia, no Império Romano. Embora não existam muitas informações históricas sobre sua vida, sabe-se que ele foi nomeado Bispo de Mira, também na Ásia Menor, e depois foi exilado e preso durante a perseguição aos cristãos sob o império de Diocleciano. Após sua libertação, em 325, participou do Concílio de Nicéia e faleceu em Mira, em 343.

A tradição diz que, em uma de suas ações de generosidade, São Nicolau jogou, pela chaminé, um pouco de dinheiro na casa de um vizinho que tinha três filhas, mas não tinha dinheiro suficiente para pagar o dote para elas se casarem. Sem a ajuda, as jovens corriam o risco de serem forçadas à prostituição. Graças a esse presente, a filha mais velha do vizinho conseguiu se casar.

Foi a partir dessa história que surgiu a tradição de dar presentes para crianças na festa de São Nicolau, cuja figura, ao longo do tempo, evoluiu para o Papai Noel de bochechas rosadas que conhecemos hoje.

Fontehttps://pt.aleteia.org/2024/12/05/designer-brasileiro-reconstroi-o-rosto-de-sao-nicolau-o-verdadeiro-papai-noel

S. Josefina Bakhita, virgem

Bakhita (Vatican News)

SANTA JOSEFINA BAKHITA, VIRGEM

08 fevereiro

Aquela menininha nunca pusera um vestido desde o dia em que os dois homens surgiram do nada nos campos, tapando o caminho e apontando-lhe um facalhão ao lado, para em seguida a levarem consigo, como se rouba uma galinha de um galinheiro. Naquele dia, em que a sua vida é sugada num pesadelo, aquela menina de 9 anos por medo esquece tudo, até mesmo o próprio nome e o nome da mãe e papá com quem morava serena.

Escrava

E assim pensam os mercantes árabes de escravos não em vesti-la, mas rebatizá-la. "Bakhita", eles a chamam, "afortunada". Uma ironia atroz para aquela menina nascida em 1869 numa aldeia de Darfur, no Sudão do Sul, e que agora se torna mercadoria humana que passa de mão em mão nos mercados de El Obeid e Cartum. Um dia, enquanto estava ao serviço de um general turco, lhe é gravada com faca uma "tatuagem" no corpo, 114 cortes e as feridas cobertas de sal para permanecerem evidentes …

A luz

Bakhita sobrevive a tudo e um dia um raio de luz atinge o inferno. O agente consular que a compra dos traficantes de Cartum chama-se Callisto Legnami e naquele dia Bakhita-Afortunada veste pela primeira vez um vestido, entra numa casa, a porta é fechada e 10 anos de brutalidades indescritíveis ficam para trás. O oásis dura dois anos, quando o oficial italiano, que a trata com carinho, é forçado a repatriar sob a pressão da revolução mahdista. Bakhita se recordará daquele momento: "ousei pedir-lhe que me levasse a Itália com ele". Callisto Legnami aceita e, em 1884, Bakhita desembarca na península, onde para a pequena ex-escrava um destino inimaginável espera por ela. Ela se torna a menina de Alice, a filha dos esposos Michieli, amigos de Legnami, que moram em Zianigo, uma aldeia de Mirano Veneto.

Irmã Moreta

Em 1888, o casal que a hospeda deve sair para a África e durante 9 meses Bakhita e Alice são confiadas às Irmãs Canossianas de Veneza. Depois do corpo, Bakhita começa a revestir também a alma. Ela conhece Jesus, aprende o catecismo e, em 9 de janeiro de 1890, Bakhita recebe o Batismo, a Confirmação e a Primeira Comunhão do Patriarca de Veneza, com o nome de Giuseppina, Margherita, Fortunata. Em 1893, entra no noviciado das Canossianas, três anos depois emite os votos e, durante 45 anos, será cozinheira, sacristã e, acima de tudo, uma porteira do convento de Schio, onde aprenderá a conhecer as pessoas e a gente aprenderá a apreciar o sorriso dócil, a bondade e a fé daquela "morèta", "mourinha", e as crianças querendo provar a "irmã de chocolate”.

Beijo as mãos aos negreiros

Para todo o convento de Schio é um dia de luto quando Giuseppina Bakhita morre aos 8 de fevereiro de 1947 por pneumonia. Foi realmente ‘afortunada’ a sua vida e o dirá ela mesma: "Se encontrasse aqueles negreiros que me sequestraram e mesmo aqueles que me torturaram, eu me colocaria de joelhos para beijar as suas mãos, porque se tudo isso não tivesse acontecido, eu não seria agora cristã e religiosa”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Educar em amizade

 Educar em amizade

"O ideal dos pais concretiza-se, sobretudo, em conseguir ser amigos dos filhos", dizia S. Josemaria. Só assim se cria a confiança que torna possível a sua educação.

10/12/2011

O mais importante da educação não consiste em transmitir conhecimentos ou aptidões: é, em primeiro lugar, ajudar o outro a crescer como pessoa, a desenvolver todas as suas potencialidades, que são um dom que recebeu de Deus.

Logicamente, também é necessário instruir, comunicar conteúdos, mas sem nunca perder de vista que educar tem um sentido que vai além de ensinar capacidades manuais ou intelectuais. Implica pôr em jogo a liberdade do educando e, com ela, a sua responsabilidade.

Daí que, em questões de educação, é preciso propor metas, objetivos adequados que, dependendo de cada idade, possam ser entendidos como algo sensato que dá significado e valor à tarefa empreendida.

EDUCAR COM A AMIZADE

Simultaneamente, não se pode esquecer que, especialmente nas primeiras fases do crescimento, a educação tem uma importante carga afetiva. A vontade e a inteligência não se desenvolvem a margem dos sentimentos e das emoções. Mais: o equilíbrio afetivo é requisito necessário para que a inteligência e a vontade se desenvolvam; se não, é fácil que se produzam alterações na dinâmica da aprendizagem e talvez, mais adiante, desequilíbrios na personalidade.

Mas, como conseguir essa ordem e medida nos afetos da criança e depois nos do adolescente e do jovem? Talvez nos encontremos diante de uma das perguntas mais árduas para a tarefa pedagógica, entre outras razões porque se trata de um assunto prático que incumbe a cada família. De qualquer forma, pode-se avançar uma primeira resposta: é vital gerar confiança.

Pais: não vos excedais ao repreender os vossos filhos, não suceda que se tornem pusilânimes [1], recomenda o Apóstolo. Quer dizer, os nossos filhos tornar-se-iam tímidos, sem audácia, com medo de assumir responsabilidades. Pussillus animus: um espírito pequeno, mesquinho.

GERAR CONFIANÇA TEM A VER COM AMIZADE, QUE É O AMBIENTE QUE PROPORCIONA O SURGIMENTO DE UMA AÇÃO VERDADEIRAMENTE EDUCATIVA

Gerar confiança tem a ver com amizade, que é o ambiente que proporciona o surgimento de uma ação verdadeiramente educativa: os pais devem procurar fazer-se amigos dos filhos. Assim o aconselhava São Josemaria reiteradamente: "Não é caminho acertado para a educação a imposição autoritária e violenta. O ideal dos pais concretiza-se antes em chegarem a ser amigos dos filhos: amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consultam os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável" [2].

À primeira vista não é fácil entender o que pode significar “fazer-se amigo dos filhos”. A amizade supõe-se entre pares, entre iguais, e essa igualdade contrasta com a assimetria natural da relação paterno-filial.

É sempre muito mais o que os filhos recebem dos pais do que o que eventualmente podem chegar a dar-lhes. Nunca será possível saldar a dívida que têm para com eles. Os pais não costumam pensar que se sacrificam pelos filhos quando de fato o fazem; não veem como privação o que para os seus filhos é oferta. Reparam pouco nas suas próprias necessidades ou, melhor, convertem em próprias as necessidades dos filhos. Chegariam a dar a vida por eles e, de fato, habitualmente a estão dando sem perceber isso. É muito difícil encontrar uma gratuidade maior entre pessoas.

No entanto, é também verdade que os pais se enriquecem com os filhos; a paternidade é sempre uma experiência inovadora, como o é a própria pessoa. Os pais recebem algo muito importante dos filhos: em primeiro lugar, carinho, algo que nenhuma outra pessoa lhes poderá dar por eles, pois cada pessoa é única; e, além disso, a oportunidade de sair de si próprios, de se “despojar” na entrega ao outro – o marido à mulher, a mulher ao marido, e ambos aos filhos – e assim crescer como pessoas.

A pessoa só pode encontrar a sua plenitude no amor. Como ensina o Concílio Vaticano II, “o homem, única criatura terrena a quem Deus amou por si mesmo, não pode encontrar a sua própria plenitude se não for na entrega sincera de si mesmo aos outros” [3]. Dar e receber amor é a única coisa que consegue encher a vida humana de conteúdo e “peso”: “amor meus, pondus meum”, diz Santo Agostinho [4]. Mas o amor é mais vivo em quem é capaz de sofrer pela pessoa que ama, do que quem só é capaz de se passar bons momentos com ela.

O amor implica sempre sacrifício e é lógico que gerar essa atmosfera de confiança e amizade com os filhos também o requer. O ambiente de uma família não é algo que já nasce feito, deve ser construído. Isto não implica que se trate de um projeto difícil, ou que necessite uma especial preparação: supõe estar atento aos pequenos detalhes, saber manifestar em ações o amor que se leva dentro.

O ambiente familiar relaciona-se em primeiro lugar com o carinho que os esposos têm e demonstram; poderia dizer-se que o carinho que os filhos recebem é a superabundância do que os pais se demonstram mutuamente. As crianças vivem desse ambiente, ainda que talvez o captem sem ter consciência da sua existência.

Logicamente, essa harmonia torna-se ainda mais importante quando se trata de ações que afetam diretamente os filhos. No campo da educação, é fundamental que os pais caminhem em uníssono; por exemplo, uma medida tomada por um deles, deve ser secundada pelo outro; se a contraria, educa-se mal.

Os pais devem educar-se também entre si e educar-se para educar. Um pai e uma mãe mal-educados dificilmente serão bons educadores. Devem crescer cuidando do seu vínculo matrimonial, melhorando as suas virtudes. Procurando juntos reforços positivos para os filhos.

EDUCAR PARA A AMIZADE

A confiança é o “caldo de cultura” da amizade. E a amizade, por seu lado, cria um ambiente amável e confiante, seguro, sereno; gera um clima que não só torna possível uma adequada comunicação entre os cônjuges, mas que também facilita o intercâmbio com os filhos e entre os filhos.

Neste sentido, os conflitos entre os cônjuges são diferentes dos que se verificam entre os irmãos. É frequente, e até normal, que haja lutas entre estes; todos, de um modo ou de outro, competimos pelos recursos, mais ainda se são limitados; cada irmão quereria ir sempre pela mão da mãe, ou no assento dianteiro do automóvel, ou ser o preferido do pai, ou ser o primeiro a desembrulhar um brinquedo novo. Mas essas lutas podem tornar-se também muito educativas e ajudar na socialização. Dão oportunidade aos pais para ensinar a querer o bem do outro, a perdoar, a saber ceder ou a manter a posição, se for necessário. As relações com os outros irmãos, bem orientadas, fazem com que o carinho natural à própria família reforce a educação em virtudes, e forje uma amizade que durará toda a vida.

Mas na família também se deve pensar na forma de reforçar a amizade entre os cônjuges. Com frequência, as discussões no seio do casal costumam ter origem em problemas de comunicação. As causas podem ser muito variadas; uma diferente forma de ver as coisas, ter permitido que a rotina se apodere do dia a dia, deixar que irrompa um momento de mau humor… Em qualquer caso, perde-se o diálogo.

É preciso examinar-se, pedir desculpa e perdoar. "Se tivesse que dar um conselho aos pais, dir-lhes-ia sobretudo o seguinte: que os vossos filhos vejam – não alimenteis ilusões, eles percebem tudo desde crianças e tudo julgam – que procurais viver de acordo com a vossa fé, que Deus não está apenas nos vossos lábios, que está nas vossas obras, que vos esforçais por ser sinceros e leais, que vos quereis e os quereis de verdade" [5].

O que os filhos esperam dos pais, não é que sejam muito inteligentes ou especialmente simpáticos, ou que lhes deem conselhos acertadíssimos; nem sequer que sejam grandes trabalhadores ou os encham de brinquedos, ou lhes possibilitem férias ótimas.

O que os filhos desejam verdadeiramente é ver que os pais se amam e se respeitam e que os amam e os respeitam; que lhes deem um testemunho do valor e do sentido da vida encarnado numa existência concreta, confirmado nas diversas circunstâncias e situações que se sucedem ao longo dos anos [6].

Certamente, como São Josemaria dizia, a família é o primeiro e o mais fecundo negócio dos pais, se é levado com critério. Implica um empenho constante por crescer na virtude e um esforço ininterrupto para não baixar a guarda. A dificuldade está em como o conseguir: Como dar um testemunho válido do sentido da vida? Como manter em cada momento uma conduta coerente? Em última instância, como educar para a amizade ou, dito de outro modo, para o amor, para a felicidade?

Já se referiu que o amor que os cônjuges manifestam entre si e sabem dar aos filhos responde em parte a estas perguntas. Além disso, há dois aspectos da educação especialmente significativos com vista ao crescimento da pessoa e à sua capacidade de socialização e, portanto, referidos diretamente à sua felicidade. Motivos heterogêneos, mas cada um deles relevante à sua maneira.

O primeiro, que em certas ocasiões não se valoriza suficientemente, é saber brincar. Ensinar o filho brincar exige muitas vezes sacrifício e dedicação de tempo, um bem escasso que todos queremos esticar, também para descansar.

O TEMPO DOS PAIS É UM DOS MAIORES DONS QUE O FILHO PODERÁ RECEBER

No entanto, o tempo dos pais é um dos maiores dons que o filho poderá receber; é a demonstração de proximidade, um modo concreto de amar. Só por isso, brincar juntos já contribui para gerar um ambiente de confiança que desenvolve a amizade entre pais e filhos. Mas, além disso, a brincadeira cria atitudes fundamentais que estão na base das virtudes necessárias para enfrentar a existência.

O segundo campo é o da própria personalidade; o modo de ser do pai e da mãe, na sua diversidade, tempera o caráter e a identidade do menino ou da menina. Se os pais estão presentes e intervêm positivamente na educação dos filhos – sorrindo, perguntando, corrigindo, sem desânimos – ensinar-lhes-ão, quase por osmose, um modelo de ser pessoa, de como se comportar e enfrentar a vida.

Ao lutar para ser melhores, ouvir, serem alegres e amáveis, dão aos filhos uma resposta gráfica à pergunta de como levar uma existência feliz, com os limites terrenos.

Esta influência chega ao mais profundo do ser, e a sua importância e implicações só se apreciam à medida que o tempo passa. Nos modelos que o pai e a mãe oferecem, o filho descobre a contribuição de ser homem ou mulher na configuração de um verdadeiro lar; descobre também que a felicidade e a alegria são possíveis graças ao amor mútuo; aprecia que o amor é uma realidade nobre e elevada, compatível com o sacrifício.

Em resumo, de modo natural e espontâneo, o ambiente familiar faz com que o filho ponha na sua vida os pontos firmes que o ajudarão a orientar-se para sempre, apesar dos desvios que possam imperar na sociedade. A família é o lugar privilegiado para experimentar a grandeza do ser humano.

Tudo o que foi dito constitui um aspecto peculiar desse amor sacrificado dos pais. Por um lado, experimentaram a alegria de se perpetuar e por outro, constatam o crescimento de quem pouco a pouco vai deixando de ser parte deles para ser, cada vez mais, ele mesmo.

Os pais também amadurecem como pais na medida em que veem com alegria o crescimento dos filhos, que começam a depender menos deles. A partir de determinadas raízes vitais – que permanecerão sempre – vai-se operando natural e paulatinamente o desabrochar de uma nova biografia, inédita, que pode não corresponder às expectativas alimentadas, mesmo antes do nascimento.

A educação dos filhos, o seu crescimento, o seu amadurecimento, até a sua independência, enfrentar-se-á com mais facilidade se o casal fomenta também um ambiente de amizade com Deus. Quando a família se sabe uma igreja doméstica [7], a criança assimila com simplicidade algumas práticas de piedade, poucas e breves, aprende a colocar o Senhor na linha dos primeiros afetos fundamentais, aprende a tratar a Deus como Pai e a Virgem Maria como Mãe, aprende a rezar seguindo o exemplo dos pais [8].

J.M. Barrio e J.M. Martín


1. Cl 3, 21.

2. São Josemaria, É Cristo que passa, n. 27.

3. Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 24.

4. Santo Agostinho, Confissões, XIII, 10.

5. São Josemaria, É Cristo que passa, n. 28.

6. Ibid.

7. Cfr. 1 Co 16, 19.

8. São Josemaria, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, n. 103.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/educar-em-amizade/

Campanha da Fraternidade 2025: conheça o tema, a identidade visual e a oração

Campanha da Fraternidade 2025: conheça o tema, a identidade visual e a oração

  • 06/08/2024

A cada ano, os bispos do Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), acolhendo as sugestões vindas dos regionais, dos organismos do Povo de Deus, das ordens e congregações religiosas e dos fiéis leigos e leigas, escolhem um tema e um lema para a Campanha da Fraternidade, com o objetivo de chamar a atenção sobre uma situação que, na sociedade, necessita de conversão, em vista do bem de todos.

Em 2025, motivados pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; pelos 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si’; pela recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum; pelos 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM) e pela realização da COP 30, em Belém (PA), a primeira na Amazônia, acolhendo a sugestão da Comissão Episcopal Especial para a Mineração e a Ecologia Integral, foi escolhido o tema: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).

A Ecologia é a questão mais tratada pelas CF’s ao longo destes 61 anos de existência. Foram 8 as CF’s que de alguma forma abordaram essa temática:

na CF 1979, Por um mundo mais humano: Preserve o que é de todos”; 

na CF 1986, Fraternidade e a Terra: Terra de Deus, terra de irmãos; 

na CF 2002, Fraternidade e povos indígenas: Por uma terra sem males; 

na CF 2004, Fraternidade e água: Água, fonte de vida; 

na CF 2007, Fraternidade e Amazônia: vida e missão neste chão; 

na CF 2011, Fraternidade e a Vida no Planeta: “A Criação geme em dores de parto” (Rm 8,22); 

na CF 2016, Casa comum, nossa responsabilidade: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,17) e 

na CF 2017, Fraternidade: Biomas Brasileiros e defesa da vida: “Cultivar e guardar a Criação” (Gn 2,15). 

Portanto, neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025). 

“Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado”.

A Ecologia reaparece no conjunto das CF’s de uma forma nova, como Ecologia Integral, conceito tão caro ao Papa Francisco e que é tão importante no seu projeto de um Novo Humanismo Integral e Solidário, para o qual são bases a Amizade Social, tratada na CF 2024, a Educação, tratada na CF 2022 e no Pacto Educativo Global, o Diálogo, tratado na CF 2021 e a misericórdia ou Compaixão, tratada na CF 2020.

“Para nós, a Ecologia Integral é também espiritual. Professamos com alegria e gratidão que Deus criou tudo com seu olhar amoroso. Todos os elementos materiais são bons, se orientados para a salvação dos seres humanos e de todas as criaturas. Assim, “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31)”.

Os elementos da identidade visual 

A identidade visual da Campanha da Fraternidade 2025 é de autoria do Paulo Augusto Cruz, da Assessoria de Comunicação da CNBB. Nela estão representados os seguintes elementos:

CNBB

São Francisco de Assis

Em destaque no cartaz, São Francisco de Assis representa o homem novo que viveu uma experiência com o amor de Deus, em Jesus crucificado, e reconciliou–se com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. Esta reconciliação universal ganha sua maior expressão no Cântico das Criaturas, composto por São Francisco há precisos 800 anos. O recorte é da obra do período barroco “Êxtase de São Francisco de Assis”, de Jusepe De Ribera. 

A cruz

No centro, a Cruz é um elemento importante na espiritualidade quaresmal e franciscana. No cartaz, ela recorda a experiência do Irmão de Assis com o crucifixo da Igreja de São Damião, em Assis, na Itália, onde Francisco ouviu o próprio Cristo que falava com ele e o enviava para reconstruir a sua Igreja. No início, Francisco entendeu que era a pequena Igreja de São Damião. Mais tarde, compreendeu que se tratava de algo bem maior, a Igreja mesma de Deus. A Quaresma é este tempo de reconstrução de cada cristão, cada comunidade, a sociedade e toda a Criação, porque somos chamados à conversão. 

A natureza

araucária, o ipê amarelo, o igarapé, o mandacaru, a onça pintada e as araras canindés, representam a fauna e a flora brasileiras em toda a sua exuberância, que ao invés de serem exploradas de forma predatória, precisam ser cuidadas e integradas pelo ser humano, chamado por Deus a ser o guarda e o cuidador de toda a Criação. 

As cidades

Os prédios e as favelas refletem o Brasil a cada dia mais urbano, onde se aglomeram verdadeiras multidões num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida. Cada um de nós, seres humanos, o campo, a cidade, os animais, a vegetação e as águas fomos criados para ser, com a nossa vida, um verdadeiro “louvor das criaturas” ao bom Deus. 

A colagem

O uso do estilo de colagem é uma escolha artística e simbólica. A técnica possibilita a união de elementos diferentes em uma única composição, refletindo a diversidade e a interligação entre tudo o que existe, entre toda a Criação. A escolha do estilo também faz referência à Ecologia Integral, onde todos os aspectos da vida – espiritual, social, ambiental e cultural – são considerados e valorizados. Cada pedaço na colagem, apesar de único, contribui para a totalidade da imagem, assim como cada pessoa e cada parte do meio ambiente tem um papel crucial na criação de um mundo sustentável e harmonioso. 

Oração da CF 2025

A Oração é um resumo orante e suplicante a Deus daquilo que desejamos com a CF 2025. Junto ao cartaz é o subsídio mais popular, que alcança maior público durante a sua realização. São muitas as pessoas e comunidades que rezam a Oração da CF. “Desejamos que ela alcance também os céus e nos obtenha a graça do arrependimento e da conversão integral”, salienta o padre Jean Poul Hansen, secretário executivo de Campanhas da CNBB.

Confira:

Ó Deus, nosso Pai, ao contemplar o trabalho de tuas mãos, viste que tudo era muito bom! O nosso pecado, porém, feriu a beleza de tua obra, e hoje experimentamos suas consequências.

Por Jesus, teu Filho e nosso irmão, humildemente te pedimos: dá-nos, nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento e da conversão de nossas atitudes.

Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão que de ti recebemos: cultivar e guardar a Criação, no cuidado e no respeito à vida.

Faz de nós, ó Deus, promotores da solidariedade e da justiça. Enquanto peregrinos, habitamos e construímos nossa Casa Comum, na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que preparaste para nósnoCéu.Amém!

Fonte: CNBB Nacional

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF