Translate

domingo, 16 de fevereiro de 2025

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Os anos difíceis de Tübingen (IV)

Joseph Ratzinger e, ao fundo, a Universidade de Tübingen | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni  n. 05 - 2006

Os anos difíceis de Tübingen

Antigos colegas e ex-alunos falam de Ratzinger como professor na cidadela teológica de Tubinga. Onde a sua adesão impenitente à reforma conciliar foi submetida ao teste dos novos triunfalismos clericais e das rebeliões burguesas.

por Gianni Valente

Em meados da década de 1960, para todo teólogo alemão que se preze, Tübingen parecia uma espécie de Terra Prometida. Com sua história centenária como um centro teológico “papista” que se converteu ao luteranismo desde o início, e com sua faculdade de Teologia Católica que começou com vigor em meados do século XIX, a cidadela teológica da Suábia parece o local de desembarque ideal para aqueles que desejam experimentar as novas efervescências conciliares e examinar os “sinais dos tempos” reconectando-se e comparando-se com uma grande e prestigiosa tradição.

Em 1966, Joseph Ratzinger ainda não tinha quarenta anos, mas seus cabelos já estavam brancos e sua fama de menino prodígio da teologia alemã já havia sido consagrada por sua intensa e decisiva participação na aventura conciliar. O Vaticano II está prestes a terminar, o ar ainda está vibrante com esperanças confiantes. Mas a espera por um bom momento para a Igreja no mundo é marcada por outros avisos estranhos. Já naquele ano, em uma de suas conferências resumindo o Concílio, José da Baviera fez um relato dessa condição de claro-escuro. «Parece-me importante», diz ele, «mostrar as duas faces do que nos encheu de alegria e de gratidão no Concílio […]. Penso que também é importante salientar o novo e perigoso triunfalismo em que muitas vezes caem os denunciantes do triunfalismo passado. Enquanto a Igreja for peregrina na terra, ela não tem o direito de se gabar. Essa nova forma de ostentação pode se tornar mais insidiosa do que tiaras e cadeiras gestacionais que, de qualquer forma, são hoje mais motivo de sorriso do que de orgulho."

Quem puxou os cordelinhos para que a faculdade católica de Tübingen enviasse a sua vocação ao professor que leciona em Münster há apenas três anos foi Hans Küng, apoiado pelo seu outro jovem colega Max Seckler, que hoje recorda a 30Giorni : «Houve uma rotatividade nesse período geracional com a aposentadoria de vários professores seniores. Para fortalecer o corpo docente, alguns pressionaram para chamar professores mais maduros e com perfil mais consolidado para a cadeira de Teologia Dogmática. Em 66 eu tinha trinta e nove anos, Küng trinta e oito. Fomos nós que lutamos para chamar outro jovem. E Ratzinger, então, era o homem do futuro." O gentil e reservado professor bávaro e seu impetuoso e polêmico colega suíço se conhecem desde 1957. Eles colaboraram como especialistas teológicos na última sessão do Concílio e divergências evidentes já surgiram entre eles sobre como o período conciliar deveria fluir de volta para o grande rio da vida cotidiana da Igreja. Mas então, como Ratzinger explica em sua autobiografia, "nós dois consideramos isso como uma diferença legítima em posições teológicas" que "não afetaria nosso consenso básico como teólogos católicos". Desde 1964, ambos estão entre os membros fundadores do Concilium , a revista internacional da “frente única” dos teólogos conciliares. Seckler explica: «Küng sabia que ele e Ratzinger pensavam de forma diferente sobre muitas coisas, mas ele disse: você pode negociar e colaborar com os melhores, são os mesquinhos que criam problemas». O professor Wolfgang Beinert, antigo aluno de Ratzinger em Tübingen, acrescenta: «Küng talvez tenha chamado Ratzinger precisamente porque queria que os alunos pudessem comparar-se com outro teólogo do Concílio diferente dele, que pudesse servir de contrapeso à sua teologia unilateral. Outros professores, mais fechados, nem sequer percebiam as distâncias entre os dois, e até viam Ratzinger como um perigoso reformador liberal. Eles disseram: um Küng é suficiente para nós." 

Um gravador para o best-seller

No novo começo de Tübingen, Ratzinger se envolve, como sempre, sem se conter. De seu novo cargo, ele espera estabelecer relacionamentos frutíferos com os teólogos evangélicos do corpo docente protestante. Seu entusiasmo e a textura inconfundível de suas lições – teologia substancial alimentada pelos Padres e pela liturgia, linguagem luminosa e leve com nuances poéticas, abordagem sem censura de todas as questões daqueles tempos confusos – acendem correspondências inesperadas nos corações de muitos estudantes de teologia, e não só. Suas palestras imediatamente ficaram lotadas, com mais de quatrocentos alunos. Mesmo os seminários são muito concorridos, então eles são selecionados com um teste de admissão em grego e latim. O Prelado Helmut Moll, que mais tarde colaborou por muitos anos com seu antigo professor na Congregação para a Doutrina da Fé, relembra: «Para participar de um seminário sobre Mariologia, tive que fazer um pré-exame sobre textos marianos dos primeiros séculos em grego e latim. Mas não havia comparação entre Ratzinger e os outros. As palestras que ouvi em Bonn de professores de orientação neoescolástica pareciam secas e frias, uma lista de definições doutrinárias exatas e nada mais. Quando ouvi em Tübingen como Ratzinger falava sobre Jesus ou o Espírito Santo, às vezes parecia que suas palavras tinham indícios de oração."

Em 1967, Ratzinger realizou um projeto que vinha cultivando há dez anos: um curso de aulas aberto não apenas aos estudantes de teologia, estruturado como uma exposição do Credo dos Apóstolos , que, abrangendo todos os fermentos e ansiedades da época, repetisse "o conteúdo e o significado da fé cristã", que para o novo professor aparece "hoje envolta em um halo nebuloso de incerteza, como talvez nunca antes na história". De manhã cedo, estudantes universitários de todas as faculdades, bem como párocos, religiosos e religiosas, e fiéis comuns vêm ouvi-lo. Peter Kuhn, que Ratzinger chamou para Tübingen como assistente, está acostumado a estudar até tarde da noite e nem sempre consegue manter a atenção nas primeiras aulas. “Quando eu adormecia”, ele diz, “meus vizinhos me cutucavam, porque viam que o professor havia notado. Tentei contornar isso assumindo uma postura pensativa." Em troca, Kuhn leva seu volumoso gravador para essas palestras e depois pede para sua secretária desenrolar as fitas. Dessas gravações nasceu o volume Introdução ao Cristianismo , o primeiro best-seller de Ratzinger, publicado pela editora Heinrich Wild: dez edições só no primeiro ano, foi depois traduzido para vinte idiomas. No mesmo ano, o novo professor participou ativamente das iniciativas organizadas por ocasião do centésimo quinquagésimo aniversário da Faculdade Católica de Teologia. Ele considera uma oportunidade propícia para traçar novas perspectivas, mergulhando no estudo da famosa Escola de Tübingen, a equipe de teólogos reunida em torno de Johann Adam Mohler, que nas primeiras décadas do século XIX deu um impulso decisivo ao surgimento da teologia histórica, inspirando aquela abordagem histórico-salvífica que o próprio Ratzinger favoreceu desde seus estudos em Freising e Munique. Seria bom – pensa Ratzinger – recuperar também a lição de Mohler e seus companheiros para dar força ao caminho do testemunho no mundo moderno sugerido pelo Concílio. Mas o clima da faculdade é condicionado e distraído por dinâmicas totalmente diferentes. «Ratzinger», Kuhn interrompe, «talvez esperasse reconectar-se com a grande tradição de Tübingen. Mas quando chegamos, essa grande tradição não existia mais."

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa: agradeço pelas orações com que me acompanhais nestes dias de internação

Fiéis no Policlínico Gemelli, onde o Papa se encontra internado deste sexta-feira, 14 de fevereiro (Vatican Media)

Internado no Hospital Policlínico Gemelli devido a uma bronquite de que foi acometido, Francisco entregou o Angelus dominical, difundido pela Sala de Imprensa da Santa Sé. No texto, o Pontífice agradece pelo carinho, a oração e a proximidade com que está sendo acompanhado nestes dias, assim como aos médicos e profissionais de saúde deste Hospital por seus cuidados. O Santo Padre se dirige aos artistas por ocasião de seu Jubileu e pede orações pelos países em guerra.

Raimundo de Lima – Vatican News

A seguir, o texto do Angelus do Papa Francisco, difundido ao meio-dia deste domingo (16/02) pela Sala de Imprensa da Santa Sé:

Hoje, no Vaticano, foi celebrada a Eucaristia dedicada em particular aos artistas que vieram de várias partes do mundo para viver os Dias do Jubileu. Agradeço ao Dicastério para a Cultura e a Educação pela preparação desse evento, que nos lembra a importância da arte como linguagem universal que difunde a beleza e une os povos, ajudando a trazer harmonia ao mundo e a silenciar todo grito de guerra.

Cumprimento aos artistas por ocasião de seu Jubileu

Quero cumprimentar todos os artistas que participaram: eu gostaria de ter estado no meio de vós, mas, como sabeis, estou aqui no Policlínico Gemelli porque ainda preciso de tratamento para minha bronquite.

Dirijo minhas saudações a todos os peregrinos presentes em Roma hoje, em particular aos fiéis da Diocese de Parma, que vieram em uma peregrinação diocesana, conduzidos por seu Bispo.

Orações pelos países em guerra

Convido todos a continuarem a rezar pela paz na atormentada Ucrânia, na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio, em Mianmar, no Kivu e no Sudão.

Agradeço-vos pelo carinho, a oração e a proximidade com que me acompanhais nestes dias, assim como gostaria de agradecer aos médicos e profissionais de saúde deste Hospital por seus cuidados: eles fazem um trabalho precioso e tão cansativo, vamos apoiá-los com a oração!

E agora confiemo-nos a Maria, a “Cheia de graça”, para que nos ajude a ser, como Ela, cantores e artífices da beleza que salva o mundo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 15 de fevereiro de 2025

O ano Jubilar e a Pastoral Juvenil

Jubileu 2025 (CNBB - Regional Sul 2)

O ANO JUBILAR E A PASTORAL JUVENIL

Dom Antônio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

Na agenda das celebrações do Ano Jubilar em Roma, também os jovens são contemplados e não poderia ser diferente, uma vez que nos últimos anos a Igreja Católica tem dedicado especial atenção à juventude. Fato extraordinário foi a realização de um Sínodo mundial sobre os jovens que se concluiu com a Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus Vivit.  

Na Bula de proclamação do Ano Santo, «Spes non confundit – a esperança não engana» (Rm 5,5), o Papa Francisco cita seis vezes os jovens. Os jovens são chamados a “olhar para o futuro com esperança”, mas isso comporta a necessidade da educação para a maternidade e paternidade responsáveis e toda a sociedade deve ser corresponsável por isso (cf. SNC,9).  

Desafios do mundo juvenil 

Os jovens que são sinais de esperança têm necessidade dela; mas muitas vezes veem desmoronar-se os seus sonhos; é triste ver jovens sem esperança vivendo o presente na melancolia, no tédio, na incerteza, sem estudos, sem perspectiva de trabalho… É triste ver jovens no mundo da ilusão das drogas, confusos, na transgressão, na busca do efémero, com gestos autodestrutivos e perdendo o sentido da vida.  Por isso, afirma o Papa Francisco: “que o Jubileu seja, na Igreja, ocasião para um impulso a favor deles: com renovada paixão, cuidemos dos adolescentes, dos estudantes, dos namorados, das gerações jovens! Mantenhamo-nos próximo dos jovens, alegria e esperança da Igreja e do mundo!” (SNC,12). 

A partir das perspectivas colocadas pelo Papa Francisco, os educadores-pastores-missionários dos jovens são convidados a acolher o Ano Jubilar como uma oportunidade muito significativa para o relançamento da pastoral juvenil em diversas dimensões promovendo muitas atividades. A finalidade primordial é sempre aquela de estimular processos de formação e evangelização dos jovens contribuindo para o crescimento integral deles a partir da situação em que sem encontram e no mundo em que vivem. O pressuposto principal é aquele de que a Celebração do Jubileu tem como finalidade a experiência de um caminho de conversão.  Possíveis atividades com os jovens 

Para que o Ano Jubilar seja significativo para os jovens é necessário que se tenha sensibilidade pedagógica para que melhor possam compreender o que se vai propor-lhes; para isso, além da oração e de variadas práticas religiosas, é essencial a catequese educativa, bem como, experiências socioafetivas, caritativas, missionárias. É preciso evitar o intimismo que é sempre despido de compromissos sociais.  Vejamos alguma dimensões e possíveis atividades educativo-pastorais:   

Na dimensão humana: 

Promover reflexões sobre a beleza da vocação humana e o sentido da Vida;  

Organizar rodas de conversas sobre os males provocados pelos vícios e a beleza da prática das virtudes; 

Programar dinâmicas de grupos sobre a importância das sadias relações humanas: acolhida, respeito, gentileza, comunicação, delicadeza, não violência, perdão etc;     

Estimular e desafiar os jovens e adolescentes no exercício de bons hábitos no uso do celular, dando prioridade às pessoas; não levar o celular para as refeições, autodisciplinar-se, evitando a dependência tecnológica;   

Programar experiências recreativas para estimular a convivência, integração, cooperação, o fortalecimento dos laços de amizade;  

Apresentação de modelos de homens e mulheres, como os santos, com suas mais variadas virtudes, atitudes, ações e boas linhas de comportamento que abraçaram (assistir filmes dos santos, com tempos de partilha). 

Na dimensão catequética e espiritual: 

Favorecer aos jovens momentos semanais ou mensais de oração em grupo pelas juventudes, sobretudo pelas mais sofredoras;   

Celebrações de adoração, vigílias de oração e noites de louvor oferecendo momento de pregação, testemunhos e do sacramento da reconciliação; 

Proporcionar experiências de retiro para os jovens com temas relativos à esperança, sentido da vida, reconciliação;  

Celebração da Via Sacra, relacionando as estações com as realidades juvenis – (Cf. Via Sacra das Campanhas da Fraternidade dos Anos 1992 e 2013);  

Oferecer aos jovens celebrações litúrgicas especiais para concessão das indulgências plenárias com os devidos compromissos;   

Organizar peregrinações à Catedral, por Vicariatos (regiões episcopais) ou paróquias com uma programação catequética;  

Pensar na possibilidade de eventos públicos: musicais, caminhadas etc. 

Estimular a sinodalidade e a comunhão entre as expressões juvenis em vista de fortalecer no Setor Juventude a participação ativa na vida das comunidades; 

Corresponsabilizar as pastorais, grupos, movimentos pela promoção da pastoral juvenil em vista de rejuvenescê-los com a presença de mais jovens;  

Promover a Leitura Orante da Bíblia, sobretudo, com textos dos evangelhos;  

Celebrar um Congresso Juvenil dando possibilidade para um maior aprofundamento da realidade juvenil e assunção de compromissos sociopastorais; 

Preparar mutirões de confissões para os jovens, dentro de uma celebração penitencial;  

Nas rodas de conversa ou podcasts refletir sobre a inseparabilidade entre Cristo e a Igreja; “cristo sim, Igreja não”, é uma mentalidade errada!  

Na dimensão socio-missionária: 

Favorecer aos jovens o conhecimento do território da paróquia oferecendo-lhes a possibilidade de perceber necessidades e possibilidades de evangelização;  

Visitar as pessoas que vivem em condição de pobreza, abandono e miséria (ou moradores de rua, migrantes) que moram nas áreas com menos atenção pastoral; 

Visitar escolas e promover um evento catequético falando do sentido do Ano Santo;  

Organizar com os jovens o encontro com moradores de rua e visita à instituições terapêuticas, hospitais, abrigos de idosos e de crianças, ou onde for possível, unidades carcerárias;  

Desenvolver campanhas de solidariedade com múltiplos serviços e envolvendo instituições públicas e empresas;  

Estimular a experiência do voluntariado;  

Relacionar o Ano Santo com a questão ecológica, proporcionando aos jovens o compromisso de harmonia com a natureza e estimulando ações como o plantio de árvores, limpeza de praças, parques, praias, coleta seletiva; 

Onde for possível, articular algum evento ecumênico e de diálogo inter-religiosos estimulando a Paz e a fraternidade, contra a intolerância religiosa;  

Promover mutirões missionários programando a visita missionária de casa em casa concluindo à noite com uma celebração festiva;  

Fazer o mapeamento na paróquia sobre pessoas lesadas em seus direitos e estimular o serviço voluntários de profissionais para ajudá-los;  

Visitar os meios de comunicação como Rádios e TV para deixar uma mensagem sobre o Ano Santo;  

Produzir podcasts, entrevistas, vídeos… etc. sobre o Ano Santo para serem lançadas nas Redes Sociais fortalecendo a PASCOM. 

Na dimensão lúdica: 

Promover festivais artísticos e culturais (teatro, músicas, danças, exposições, coreografias…) com temas como reconciliação, amizade, libertação, esperança;  

Realizar gincanas envolvendo grupos juvenis com diversas atividades como questionário bíblico, esportivas, artísticas, culturais, religiosas, sociais;   

Organizar corridas, caminhadas, torneios, trilhas, passeios e outras atividades esportivas com os jovens tendo como meta a reflexão do tema do Ano Santo;   

Promover o Oratório Festivo, como espaço de entretenimento (com jogos de mesas, ping-pong, pebolim, músicas, esporte e outras atividades) para estimular a convivência entre jovens e adolescentes em clima de família. 

Enfim, muitas são as possibilidades pastorais que podemos oferecer aos jovens. Mas isso requer sensibilidade pedagógica, criatividade e foco na finalidade do Ano Jubilar. São muitos os meios que podemos utilizar para veicular boas mensagens e educar os jovens. O Papa Francisco na Exortação Apostólica Christus Vivit afirma: “Misericórdia, criatividade e esperança fazem crescer a vida” (CV, 173). Essas três realidade tem tudo a ver com Ano Jubilar, mas precisa ser programado.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Tradição e Liberdade: Lições do Jovem Joseph (III)

Basílica de São Pedro durante o Concílio Ecumênico Vaticano II | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni n. 03 - 2006

Tradição e Liberdade: Lições do Jovem Joseph

Os primeiros anos de ensino do Professor Ratzinger conforme relembrados por seus alunos. «A sala estava sempre lotada. Os alunos o adoravam. Ele tinha uma linguagem bonita e simples. A linguagem de um crente».

por Gianni Valente

Invidia clericorum

O círculo de estudantes de doutorado de Ratzinger inclui dois estudantes ortodoxos, Damaskinos Papandréou e Stylianos Harkianakis, ambos hoje metropolitas do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Mas o Conselho da Faculdade rejeitou o pedido dos dois para obter um doutorado na Faculdade Católica. Durante uma viagem de Ratzinger a Roma para o Concílio, as notas de alguns de seus alunos foram rebaixadas por seus detratores. Até mesmo a tese do aluno Johannes Dörmann sobre as novas aquisições em relação ao evolucionismo introduzidas pelos estudos de Johann Jacob Bachofen (o primeiro a teorizar a existência de um matriarcado original primitivo) é contestada com o argumento de que não se trata de uma obra teológica. Ratzinger relembra o drama que vivenciou durante seu exame de qualificação, quando seu coorientador, o professor de Teologia Dogmática Michael Schmaus, tentou rejeitar sua tese sobre São Boaventura, acusando-a de modernismo. E ele entende que é hora de mudar de cenário.

Em 1962, a cátedra de Teologia Dogmática na prestigiosa Universidade de Münster ficou vaga: o grande teólogo dogmático Hermann Volk, nomeado bispo de Mainz, pediu que Joseph Ratzinger fosse chamado para sucedê-lo. Viktor Hahn relembra: «O professor inicialmente recusou o chamado: ele não queria deixar Bonn, também para evitar se mudar de Colônia, onde a colaboração com Frings havia começado. Mas quatro meses depois ele voltou atrás em sua decisão e aceitou. Certamente a hostilidade em torno dele aumentou com sua nomeação como especialista do Conselho. Perguntei ao Professor Jedin se foram os outros professores que o abandonaram. Ele me respondeu: você pode não estar errado." Botterweck, em fofocas entre colegas, se gabará de ter "feito ele fugir" de Bonn.

Em Münster, Ratzinger instalou-se com sua irmã Maria em uma pequena vila na avenida Annette von Droste Hülshoff, perto do lago artificial Obrigado. No andar de cima, dois de seus alunos, os “mais fiéis” Pfnür e Angulanza, encontrarão acomodação e o ajudarão na universidade como colaboradores científicos. De manhã cedo, ele celebra a missa na capela de um asilo perto de sua casa e depois vai de bicicleta até a faculdade. Peter Kuhn diz: «Münster é uma cidade na planície, não muito longe da Holanda, onde todos se locomoviam de bicicleta, como muitos fazem hoje. Eu disse ao Pfnür para comprar uma para o nosso professor, mas ele é um cara econômico e encontrou uma usada, tão surrada que eu ainda hoje o provoco, dizendo que é por causa daquela bicicleta que os joelhos do Papa ainda doem..." Em Münster, o círculo de estudantes que desejam fazer doutorado com ele está crescendo. A tradição dos almoços bávaros continua com os amigos mais próximos. Às vezes, o grupo de teólogos e seu professor se encontram comendo em uma pousada no lago que parece feita sob medida para eles: é chamada Zum Himmelreich , Para o Reino dos Céus.

O clima que Ratzinger encontra na Faculdade é cordial e estimulante. «A de Münster», recorda Pfnür, «era uma faculdade em ascensão, que oferecia mais espaço e possibilidades financeiras do que Bonn. E a teologia dogmática era o campo de ação mais adequado para o Professor Ratzinger, onde sua preparação patrística e escritural era mais valorizada." As vertentes “clássicas” do ensinamento de Ratzinger são repropostas à luz do que está acontecendo no Concílio atualmente em andamento em Roma. Em 1963 seus cursos foram dedicados à Introdução à Dogmática e à Doutrina da Eucaristia. O seminário se concentra no tema “Escritura e Tradição”. Em 1964 e 1965, os seminários se concentraram na constituição Lumen gentium do Concílio Vaticano II . No semestre de inverno de 65-66, um dos cursos de Teologia Dogmática consiste em uma retrospectiva do Concílio recentemente concluído, enquanto o seminário se inspira na constituição conciliar Dei Verbum sobre a Revelação.

Não há problemas com colegas. Joseph Pieper ensina Filosofia. Na Teologia há o combativo Erwin Iserloh, conhecido por seu caráter contraditório. Naqueles anos, outras jovens promessas da teologia alemã foram adicionadas ao corpo docente, como Walter Kasper e Johannes Baptist Metz, o fundador da teologia política, com quem Ratzinger discutiria nos anos seguintes. Mas na era Münster ninguém parece sofrer com a preferência que os estudantes reservam a ele. Pfnür continua: «Havia cerca de 350 pessoas matriculadas no curso, mas uma média de 600 ouvintes assistiram às aulas. Estudantes de outras faculdades, como Filosofia e Direito, também vieram ouvir Ratzinger. Imprimimos os folhetos do curso de Eclesiologia sobre a centralidade da Eucaristia e vendemos 850 cópias." Kuhn brinca: «Em Münster, Pfnür montou uma pequena gráfica. As palestras foram mimeografadas e, em seguida, pacotes inteiros delas foram enviados por toda a Alemanha, para os fãs de Ratzinger espalhados pelas outras faculdades teológicas."

A crescente fama do Professor Ratzinger se deve à sua intensa participação no Concílio. Ele escreve opiniões para seu cardeal e é encarregado de redigir modelos de documentos alternativos aos preparados pela Cúria Romana. Ele frequentou e colaborou com todos os grandes teólogos do Concílio: Yves Congar, Henri de Lubac, Jean Daniélou, Gérard Philips, Karl Rahner. «Ele nos disse, estudantes», recorda Pfnür, «que ficou particularmente impressionado com os teólogos e bispos latino-americanos». Quando retornou à Alemanha no final das sessões romanas, ele prestou contas públicas do trabalho do concílio em conferências lotadas. Oportunidades de reflexão nas quais o julgamento de Ratzinger também se distancia do neotriunfalismo progressista e da excitação polêmica que já parece contagiar outros teólogos "reformistas" do Concílio. “Sempre que voltava de Roma”, ele conta em sua autobiografia, “encontrava um estado de espírito cada vez mais agitado na Igreja e entre os teólogos. Crescia cada vez mais a impressão de que não havia nada estável na Igreja, que tudo podia ser sujeito a revisão." Pfnür explica hoje: «Ele registrou os primeiros sinais de caos não tanto na Faculdade, mas nas paróquias. Os párocos começaram a mudar a liturgia para adequá-la ao seu gosto, e ele imediatamente fez julgamentos muito críticos sobre isso."

«Joseph sempre dizia: quando você está dando uma palestra, a melhor coisa é quando os alunos deixam as canetas de lado e ouvem você. Enquanto eles continuarem tomando nota do que você diz, você não os impressionou. Mas quando eles largam a caneta e olham para você enquanto você fala, então talvez você tenha tocado o coração deles. Ele queria falar aos corações dos estudantes. Eles não estavam interessados ​​apenas em aumentar seus conhecimentos. Ele costumava dizer que as coisas importantes do cristianismo são aprendidas apenas se aquecerem o coração» <br>(Alfred Läpple)

Na Faculdade, as coisas continuam indo bem. Ratzinger goza da estima unânime de colegas e alunos. Hahn conta ao 30Giorni um episódio emblemático: «Um dia encontrei a sala de aula cheia: todos queriam assistir a uma disputatio pública entre o professor Metz e o teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, que criticava sua teologia política. Metz pediu a Ratzinger para coordenar o debate. Nosso professor, entre uma intervenção e outra dos dois concorrentes, resumiu seus pensamentos com uma riqueza de exposição que tornou claras e interessantes até as passagens mais obscuras dos dois. No final, o público aplaudiu Metz e von Balthasar respeitosamente. Mas os aplausos mais longos e entusiasmados foram reservados ao árbitro."

Os cursos lotados, os colegas que o estimam, as relações que ele estabeleceu com bispos e teólogos do mundo inteiro… O que leva Ratzinger a deixar Münster? 

A “vocação” de Küng 

O professor mundialmente famoso não é daqueles que se escravizam e ignoram seus entes queridos para seguir o ídolo de uma carreira acadêmico-eclesiástica. Sua irmã Maria, que o acompanha com dedicação quase maternal, não conseguiu se estabelecer na bela cidade da Vestefália. Para ela, o lugar mais bonito de Münster é a estação, de onde partem muitos trens para a Baviera. Hahn diz: «Alguns anos depois, quando perguntei por que ele foi embora, ele confirmou que sua irmã não estava feliz em Münster. Ela dedicou sua vida a ele, e ele não podia ignorar sua nostalgia." Então, quando em 1966 surgiu a convocação para a segunda cadeira de Teologia Dogmática da Faculdade Católica de Teologia de Tübingen, Ratzinger não pensou muito sobre isso. Na primeira viagem à cidade da Suábia, ele é acompanhado pelo habitual Pfnür, que cuidará da mudança. Quem os recebeu foi um teólogo que Ratzinger conhecia desde 1957 e que ele também conheceu no Concílio. Alguém que o respeita e que interveio junto aos seus colegas de faculdade apenas para tê-lo em Tübingen. Ele os convida para almoçar e se mostra cheio de atenção e cordialidade para com a nova aquisição da Faculdade de Tübingen. O nome dele é Hans Küng. continua… (Pierluca Azzaro colaborou)

Fonte: https://www.30giorni.it/

A arte a serviço da fé e da evangelização

Juizo FInal, na Capela Sistina  (Vatican Media)

A relação entre arte e fé sempre foi estreita na Igreja. Para artista sacro brasileiro, não se trata “apenas expressão estética, mas um belo elo entre o homem e o divino”.

Victor Hugo Barros - Cidade do Vaticano

O Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, que acontece de sábado (15) a terça-feira (18), é mais um marco na relação entre fé e arte, sempre cultivada pela Igreja. Ao longo da história, foram vários os momentos em que o Evangelho foi traduzido por meio de símbolos e imagens que levam a contemplação do Deus invisível.

“A arte sempre esteve a serviço da Igreja, pois ao encarnar-se Deus concedeu à humanidade um rosto visível. Desta forma, a arte sacra não apenas representa o divino, mas o torna acessível a contemplação”, afirma o artista sacro Ezequiel Arantes.

Basta caminhar pelos corredores da Basílica de São Pedro, no Vaticano, ou das antigas catacumbas romanas para ter um verdadeiro encontro com a arte que ajuda a rezar. Por meio de obras artísticas e arquitetônicas, a fé pode ser melhor entendida e se torna acessível até mesmo para aqueles que possuem pouca instrução.

“Ao longo da história, a antropologia evidencia a necessidade humana do belo, capaz de elevar a alma à transcendência. Não é por acaso que a Igreja é a maior guardiã das obras de arte no mundo”, explica.

Não apenas no Coração Espiritual da Igreja o casamento entre fé e arte evangeliza. “Qual o edifício mais belo da sua cidade? Para muitos, a resposta será uma igreja. E por que? Porque nela habita Cristo vivo no sacrário e a Ele se deve o maior esforço artístico que uma cidade pode oferecer. Mais do que uma construção, uma igreja materializa a fé de um povo”, reflete o artista.

A contemplação não fica restrita apenas a quem vê a obra terminada. Ezequiel garante que, também ele, reza durante o processo de produção das obras.

“A arte sacra não é apenas expressão estética, mas um belo elo entre o homem e o divino. Uma oferenda que busca refletir, ainda que de modo imperfeito, a beleza de seu criador. Mesmo durante o meu processo criativo, busco sempre a espiritualidade. Enquanto estou esculpindo, desenhando, costumo orar, invocando a devoção que estou tentando representar. Muitas vezes trabalho com o foninho de ouvido, meditando sobre o sentido daquela obra”, destaca Ezequiel, que há 22 anos esculpe peças sacras em madeira.

Sua história com a arte é transmitida pelo sangue. O artista vem de uma família que há quatro gerações trabalha dando formas e cores à madeira. Seu primeiro trabalho, aos 12 anos, foi a restauração de um altar. Desde então, não parou mais.

“A arte é uma ferramenta,  uma forma de expressão, uma linguagem simbólica que Deus nos concedeu para tocar os corações. E sempre que somos tocados sentimos a sua presença. Eu, em meus trabalhos, busco criar um ambiente contemplativo, no qual a arquitetura transmite, de forma eloquente, que ali é o lugar de Deus”, define Arantes.

Deus, que nos criou com mãos de artista, não apenas se serve da arte para transmitir a sua presença, mas também Ele é fonte de inspiração para muitos outros que, com seus talentos, enchem a vida de beleza. Na história, são diversos os testemunhos que provam que “o cristianismo, em virtude do dogma central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um horizonte particularmente rico de motivos de inspiração” (João Paulo II, Carta aos Artistas, 1999).

Esta divina inspiração move não apenas as mãos, mas também os pés dos artistas que se farão peregrinos em Roma durante as celebrações deste fim de semana. Ao todo, mais de dez mil integrantes do mundo da cultura e das artes se inscreveram para participar do evento, vindos de mais de 100 países dos cinco continentes.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O dia em que o Papa Francisco levou cartão vermelho

Antoine Mekary | ALETEIA | I.Media

Alver Metalli - publicado em 30/09/14 - atualizado em 14/02/25

O técnico do San Lorenzo revela que já expulsou Bergoglio "para não desconcentrar os jogadores" antes de uma partida.

O Papa que aconselha a jogar para valer, chutar para frente, jogar no ataque, e que na Jornada Mundial da Juventude convidou os jovens a jogar no time de Jesus, tem um "cartão vermelho" no seu passado.
 
O simpático episódio foi relatado pelo diretor técnico argentino Alfio Basile, que na década de 90 foi treinador do San Lorenzo – o time do coração de Bergoglio. Coco Basile, como é conhecido, foi entrevistado pelo programa de televisão "Linha do Tempo", do Canal 7, e na conversa contou que assumiu o time em 1998, em uma etapa não muito gloriosa do clube.
 
Naquele dia, conta Basile, ele estava dando a motivação ao time antes do jogo, quando Fernando Miele, presidente do clube, lhe disse que um padre "queria entrar no vestiário".

O padre que gostava de cumprimentar os jogadores

"É um padre que sempre vem cumprimentar os jogadores antes das partidas", explicou Miele. Mas Basile não queria que ninguém desconcentrasse o time e, por isso, pediu a Miele que expulsasse o tal padre. O recado foi dado e o sacerdote foi embora.
 
Aquela visita de Bergoglio era ocasional? Ele realmente queria cumprimentar os jogadores no vestiário? As lembranças do técnico não vão além disso. Depois, a história foi como contam as crônicas: a época de Basile no clube terminou prematuramente e sem glória, o San Lorenzo teve de esperar até 2001 para ser campeão e Bergoglio foi eleito Papa.
 
"Em abril do ano passado, encontrei Miele em um restaurante. Ele me disse: 'Você viu quem é o Papa? É Bergoglio, o padre que você expulsou do vestiário do San Lorenzo'. Vou visitá-lo em Roma e lhe contarei isso", disse o treinador na frente das câmeras.
 
Muito tempo passou e o San Lorenzo voltou a levantar a copa de campeão no mesmo ano da eleição de Bergoglio, 2013, e depois a Libertadores, em abril deste ano, dedicando ao Papa Francisco os dois triunfos.

(Artigo publicado originalmente por Tierras de América)

Fonte: https://pt.aleteia.org/2014/09/30/o-dia-em-que-o-papa-francisco-levou-cartao-vermelho

O sexto dia da criação e a Campanha da Fraternidade 2025

Sexto dia: O dia da Criação (CNBB Norte 2)

O SEXTO DIA DA CRIAÇÃO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

14 de fevereiro de 2025

por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). Este lema da Campanha da Fraternidade 2025 ajude-nos a ver na criação a beleza das coisas, pois Deus criou o universo, os seres vegetais, espirituais, animais e humanos com infinito amor. É importante perceber a forma como o Senhor criou as coisas a partir de Santo Ambrósio, bispo de Milão, no século IV, uma vez que ele fez uma análise das coisas de Deus criadas a serviço do ser humano e como é possível o cuidado para com todos os seres vivos.

O sexto dia

A criação foi feita por Deus Pai Criador em seis dias. O sexto dia tem uma relevância particular porque antes da criação do ser humano teve a criação dos quadrúpedes, serpentes, os animais da terra e rebanhos, os répteis. Deus viu que era bom para em seguida Ele fazer o ser humano (cfr. Gn 1,24-26)[1]. Deus criou as coisas para o serviço do ser humano e não para o seu domínio. É claro que muitas delas, servem como alimento, sem misturas, mas com grandes sabores para a vida humana.

A terra produza os frutos

Santo Ambrósio afirmou o dom da terra, criado por Deus que produza frutos para a vida humana. A graça da terra foi dada para todas as pessoas. Ele teve presentes o caso de Eliseu (cfr. 2 Rs 4, 38-43)com o seu servo que tinha dez pães de cevada para cem pessoas, de modo que o profeta disse que ele daria o suficiente e todos comeriam, porque como disse o Senhor, “comerão e ainda sobrarão” (cfr. 2 Rs 4,43). A fé nas coisas plantadas dá e dará colheita abundante, a comida na realidade humana pela realização das palavras do Senhor[2].

A beleza da criação

Deus fez as coisas em seis dias de modo que tudo foi feito de uma forma maravilhosa, bonita, bela. O bispo de Milão teve presentes as palavras do Senhor ditas em Isaias (cfr. Is 40,22) pois “Quem mediu a água com a mão e o céu com a palma, e toda a terra com a mão fechada?! Quem colocou os montes, os rochedos e os pratos na balança?!”. Foi com grande amor que o Senhor criou todas as coisas e os seres humanos. Uma outra pergunta levantou o bispo de Milão: “Qual é pois, o ser humano que ousa reivindicar para si uma sabedoria igual à de Deus tendo o seu conhecimento, próprio de Deus?![3]. O poder de Deus na criação manifestou a sua beleza no qual tudo converge para o bem das coisas, dos seres humanos e da própria glória de Deus.

O sexto dia nas gerações

Santo Ambrósio teve presentes as palavras da Escritura onde Deus afirmou que a terra produza a alma vivente dos rebanhos, dos animais e répteis (Gn 1,24). Este ponto significou que a Palavra de Deus correu por toda a criação na constituição do mundo, de modo que fossem produzidas da terra as espécies de seres vivos que Deus determinou, de modo que todas viessem a ter uma sucessão conforme a sua espécie e semelhança. Na ordem do Criador a espécie gera outra espécie de modo que o leão gera leão, o tigre gera tigre, o boi gera boi, a vaca gera a vaca, o cisne gera cisne, a águia gera águia[4]. Cada espécie gera a sua própria espécie. Desta forma, o ser humano gera o ser humano.

O Senhor é digno de louvor

Santo Ambrósio seguiu as palavras do salmista que disse: “Quão imensas são tuas obras, ó Senhor! Fizeste todas com sabedoria” (Sl 104,24). Todas as coisas foram feitas com perfeição. A sabedoria divina penetra todas, de modo que é mais forte o testemunho da natureza do que o argumento da doutrina[5]. O bispo de Milão teve presentes o conhecimento dos animais, e também dos seres humanos em se salvaguardarem diante dos perigos, a resistência e a coragem de todos os seres criados. Este movimento vem do próprio Criador. Os animais discernem pelo cheiro os alimentos nocivos e os salutares, porque a melhor mestra da verdade é pois a natureza[6]. A natureza das feras é simples, desconhecendo fraudes à verdade. Foi o Senhor, segundo Santo Ambrósio que Ele dispôs este poder de uma forma conveniente a todas as criaturas[7].

A sabedoria divina na humanidade

A Sabedoria dada às coisas pelo Senhor fizeram-nas prosseguir na existência de modo que Ele criou tudo com ordem, assim da mesma forma criou o ser humano com sabedoria[8]. Tudo procedeu de seu imenso poder para com todas as criaturas. Santo Ambrósio seguiu a Palavra de Deus que disse: “Admirável, de fato é o Senhor nas alturas”(Sl 93,4)[9].

A criação humana

O sexto dia colocou também a ordem de Deus que disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”(Gn 1,26). O verbo ‘façamos’ coloca Deus Uno e Trino na criação humana. O Senhor não disse estas coisas aos anjos mas ao ser humano ao criá-lo com amor. O ser humano é criado, segundo as Escrituras, à imagem do Deus invisível e com o Primogênito de toda a criatura, Jesus Cristo (cf. Cl 1, 13-15)[10]. A criação humana dada na imagem do Criador e Redentor é para servir as criaturas e não para dominá-las. Ele foi percebido, criado segundo Santo Ambrósio para edificar a casa[11]. Ele tinha presente que a casa de Deus é comum ao pobre e ao rico[12] de modo que todos tem os mesmos compromissos e deveres diante do Criador. Todos os seres vivos veem as coisas mas somente ao ser humano foi dada a graça de ver o universo e contemplar o seu Criador[13].

Santo Ambrósio falou que o sexto dia criado por Deus fez as coisas, os animais domésticos e selvagens, e a totalidade da obra do mundo foi concluída, com a criação do ser humano, sendo o principado de todos os seres vivos, o ponto mais alto do universo, a graça dada para toda a criação[14]. Nós somos chamados a viver a Palavra de Deus no contexto humano, ecológico, eclesial, social e um dia nós sejamos participantes do Reino de Deus pelo amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.

Notas:

[1] Cfr. Examerão, 2,3 Os seis dias da criação. In: Santo Ambrósio. São Paulo: Paulus, 2009, pgs. 226-227.

[2] Cfr. Idem,2,6,  pg. 228.

[3] Cfr. Ibidem, 2,7, pg. 229.

[4] Cfr. Ibidem, 3,9, pg. 230.

[5] Cfr. Ibidem, 4, 21, pg. 237.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 237.

[7] Cfr. Ibidem,4, 22, pg. 238.

[8] Cfr. Ibidem, 4, 27, pg. 243.

[9] Cfr. Ibidem, 6,36, pg. 247.

[10] Cfr. Ibidem, 7,40, pg. 251.

[11] Cfr. Ibidem, 8,51, pg. 261.

[12] Cfr. Ibidem, 8,52, pg. 262.

[13] Cfr. Ibidem, 9,67, pg. 272.

[14] Cfr. Ibidem, 10,75, pg. 277.

Fonte: https://cnbbn2.com.br/

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Tradição e Liberdade: Lições do Jovem Joseph (II)

Joseph Ratzinger, especialista do Concílio Ecumênico Vaticano II, em uma foto do outono de 1964 | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni n. 03 - 2006

Tradição e Liberdade: Lições do Jovem Joseph

Os primeiros anos de ensino do Professor Ratzinger conforme relembrados por seus alunos. «A sala estava sempre lotada. Os alunos o adoravam. Ele tinha uma linguagem bonita e simples. A linguagem de um crente».

por Gianni Valente

Ratzinger e Schlier tornam-se amigos 

A liberdade pouco convencional do jovem professor bávaro também emerge da sua afinidade eletiva com figuras consideradas pelo establishment como estando na fronteira teológica da época. Foi em Bonn que Ratzinger conheceu e começou a frequentar Heinrich Schlier, o grande exegeta luterano que se converteu ao catolicismo em 1953. Pfnür explica: «Schlier, como aluno de Rudolf Bultmann, era um mestre do método exegético histórico-filológico. Quanto à questão do Jesus "histórico", para Schlier é certamente possível reconstruir traços decisivos da vida de Jesus, mas o Jesus da fé não é acessível através da reconstrução do histórico, mas apenas através dos quatro Evangelhos como únicas interpretações legítimas. Entretanto, o existencialismo teológico de Bultmann corria o risco de reduzir a Ressurreição a um fenômeno interno, mental e psicológico vivenciado pelos discípulos dentro de sua própria visão de fé. Enquanto para Schlier os Evangelhos, tal como lidos e interpretados pela Igreja, descreviam eventos reais, e não visões interiores produzidas pelos sentimentos religiosos dos apóstolos. Foi com base nessa percepção compartilhada que Ratzinger e Schlier se tornaram amigos." Uma abordagem que assume e valoriza com discernimento crítico também traços importantes da lição de Bultmann sobre como abordar as Sagradas Escrituras, sem fechamentos apriorísticos. Entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, os dois professores liderariam juntos as semanas de estudo para jovens teólogos organizadas em Bierbronnen, na Floresta Negra. Schlier também será convidado para os encontros teológicos periódicos dos alunos de doutorado de Ratzinger, que começaram sistematicamente durante seu período de ensino em Tübingen. Mas durante os anos de Bonn, a simpatia de Ratzinger pelo grande exegeta não pareceu ser compartilhada pelo resto do corpo acadêmico. Após sua conversão ao catolicismo, que o impediu de lecionar na Faculdade Evangélica, Schlier não encontrou vaga na Faculdade Católica de Teologia, e acabou “estacionado” na Faculdade de Filosofia, lecionando Literatura Cristã Antiga. Estudantes de toda a Alemanha, Holanda e Bélgica se aglomeram para ouvi-lo. «Mas alguns professores», recorda Peter Kuhn, «eram hostis a ele. Eles tinham inveja da amplitude de seu horizonte humano e intelectual."

Outra amizade “de fronteira” que marcou os anos de Ratzinger em Bonn foi a com o indologista Paul Hacker, cujo gênio também é delineado em cores fortes na autobiografia de Ratzinger. Partindo do luteranismo, Hacker também se tornou católico, com um caminho feito de "noites inteiras" passadas "conversando com os Padres ou com Lutero, diante de uma ou mais garrafas de vinho tinto". Ratzinger faz uso do amplo conhecimento de Hacker sobre o hinduísmo quando ele precisa estruturar as aulas sobre história das religiões que fazem parte do curso de Teologia Fundamental. Naqueles anos, os interesses de Ratzinger no mundo das religiões concentravam-se precisamente no hinduísmo. “Alguns alunos”, lembra Kuhn, “reclamavam e brincavam sobre isso. Eles disseram: Ratzinger está totalmente imerso no hinduísmo, ele só nos fala sobre Bhakti e Krishna, não aguentamos mais...". Mas aqueles anos também testemunharam o primeiro encontro significativo de Ratzinger com uma personalidade do mundo judaico: o estudioso Charles Horowitz, que ministrava seminários na Faculdade Teológica Evangélica. 

Os Anos do Concílio 

Naqueles anos, na Faculdade de Teologia da capital alemã muitas cátedras eram ocupadas por professores de prestígio. Há o grande historiador da Igreja Hubert Jedin, que, segundo alguns estudiosos da época, foi o patrocinador do chamado de Ratzinger para Bonn. Há o historiador do dogma Theodor Klauser, a estrela da Faculdade, sempre elegante, que circula pela cidade em seu Mercedes flamejante (Ratzinger usa transporte público ou vai a pé, ele pode ser reconhecido de longe por sua inevitável boina, que ele mesmo ironicamente chama de "meu capacete de prontidão"); há o outro dogmático bávaro Johann Auer, que Ratzinger reencontrará como colega durante seus anos de ensino em Regensburg. Um pequeno círculo de estudantes também começou a se formar em torno do professor: Pfnür, Angulanza e alguns outros. Aos domingos, Ratzinger os convida para almoçar em sua pequena vila na Wurzerstrasse, em Bad Godesberg, para onde se mudou depois de deixar sua acomodação inicial no internato teológico Albertinum. Sua irmã Maria, que também é uma boa cozinheira, mora com ele. Auer também às vezes participa desses encontros bávaros. Em Bonn, Ratzinger também convocou seu primeiro assistente: Werner Böckenförde, que faleceu há dois anos. Um munsteriano com uma personalidade forte que às vezes dá a impressão de querer “direcionar” seu professor. Angulanza explica: «Böckenförde estimava Ratzinger como teólogo, mas ele estava mais interessado em processos e eventos político-eclesiásticos, que ele julgava de forma muito crítica. O relacionamento entre os dois era formalmente correto, mas não familiar."

No entanto, a atmosfera dinâmica e serena em que o trabalho acontece em Bonn está destinada a desaparecer. As centenas de estudantes que lotam as palestras do professor de trinta anos despertam a inveja de professores mais velhos, como Johannes Botterweck (Antigo Testamento) e Theodor Schäfer (Novo Testamento). Angulanza também lembra: «Eu não saberia julgar Schäfer, porque nunca assisti às suas aulas secas, onde ele se limitava a citar servilmente o seu Compêndio na introdução ao Novo Testamento . Para nós, estudantes, Botterweck parecia cheio de si, presunçoso e polêmico." Os ciúmes acadêmicos aumentaram quando João XXIII convocou o Concílio Vaticano II, e o cardeal de Colônia Joseph Frings, após ouvir uma conferência do jovem professor bávaro sobre a teologia do Concílio, o escolheu como seu consultor teológico com vistas a participar das sessões conciliares. Frings e seu secretário Hubert Luthe – futuro bispo de Essen e colega de Ratzinger na Universidade de Munique – enviaram ao seu colaborador os esboços dos documentos preparados pela Comissão Preparatória para obter sua opinião. Ratzinger, como ele mesmo relata em sua autobiografia, tira delas "uma impressão de rigidez e falta de abertura, de uma ligação excessiva com a teologia neoescolástica, de um pensamento muito professoral e pouco pastoral". Foi Ratzinger quem escreveu a famosa conferência lida por Frings em Gênova em 19 de novembro de 1961 sobre “O Concílio Vaticano II diante do pensamento moderno”, que resume as expectativas de reforma suscitadas pela iminente assembleia eclesial em boa parte dos episcopados europeus. Quando o Concílio começa, Frings leva seu conselheiro consigo para Roma e obtém para ele a nomeação oficial como teólogo do Concílio. Ele será auxiliado por ele na elaboração das intervenções que representam as razões da ala reformista da assembleia conciliar. E proporcionará ao seu colaborador a oportunidade de se tornar um dos protagonistas “nos bastidores” do Conselho. Mas em Bonn, a valorização do talento teológico de trinta e cinco anos não é bem-vinda por todos. E o ar fica pesado.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Tratado de Latrão, Parolin: esperamos uma paz duradoura, não à deportação de palestinos

O cardeal Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, e o presidente da República Italiana, Sergio Mattarella  (ANSA)

O secretário de Estado vaticano, à margem da cerimônia no Palazzo Borromeo, Roma, disse que aqueles que nasceram e vivem em Gaza devem poder permanecer em sua própria terra. Sobre a Ucrânia, o cardeal disse que está certo de que há vislumbres de esperança para o fim da guerra, mas a paz deve ser “justa e duradoura”. Ele abordou ainda a questão dos migrantes: “são necessários protocolos de colaboração”. Fim da vida, um tópico a ser abordado em outra sede.

Alessandro Guarasci – Vatican News

Defesa da família, crises internacionais, desde o Oriente Médio até a Ucrânia, migrantes. Estes são alguns dos tópicos discutidos na noite deste 13 de fevereiro, no encontro de cúpula entre a Itália e a Santa Sé no Palazzo Borromeo, em Roma, por ocasião do aniversário da assinatura do Tratado de Latrão. Presentes os principais líderes institucionais, incluindo o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, o presidente da República, Sergio Mattarella, e a primeira-ministra, Giorgia Meloni.

A solução no Oriente Médio continua sendo a solução de dois Estados

A Santa Sé está sempre atenta ao que está ocorrendo em Gaza. A população palestina deve poder permanecer em sua terra: “nenhuma deportação e esse é um dos pontos fundamentais”, disse o cardeal Parolin à margem da cerimônia. “Alguém destacou, do lado italiano, como isso criaria tensão na região. Os países vizinhos não estão dispostos, ouvimos, por exemplo, o rei da Jordânia recentemente que disse absolutamente 'não', precisamos encontrar uma solução e a solução, em nossa opinião, é a dos dois estados, porque isso também significa dar esperança às pessoas”. O Ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, também aponta que a situação pode evoluir, enfatizando que há alguns vislumbres positivos de esperança de progresso: “estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para garantir que a trégua seja consolidada, portanto, espero que os reféns sejam libertados”.

Uma paz justa para a Ucrânia

Em relação à Ucrânia, a diplomacia está fazendo seus movimentos, também à luz do recente telefonema entre o presidente dos EUA, Trump, e o presidente russo, Putin. O cardeal Parolin reiterou que “é necessária uma paz justa” e que “há muitos movimentos, muitos vislumbres”. “Esperamos”, acrescentou, “que eles se materializem e esperamos que possamos chegar a uma paz que, para ser sólida, duradoura, deve ser uma paz justa, envolver todos os atores que estão em jogo e levar em conta os princípios do direito internacional e as declarações da ONU. Tudo o que é proposto é útil porque precisamos pôr um fim a essa carnificina”. O ministro italiano Tajani, por sua vez, acrescenta que, de qualquer forma, a UE e Kiev devem participar das negociações.

A lei de suicídio assistido da região italiana Toscana

Por outro lado, a questão do suicídio assistido não foi abordada, seguindo a recente lei da região italiana da Toscana, que poderia ser tratada em outras ocasiões. Quando perguntado se a lei seria contestada, o ministro Tajani respondeu: “É uma questão de competência nacional, falaremos sobre isso, mas é estranho que aqueles que são contra a autonomia queiram fazer uma lei na Toscana sobre suicídio assistido, e em outra região não. Se dependesse de mim, sim, mas vamos conversar sobre isso. Não é uma questão de competência regional, precisamos de competência nacional sobre esse assunto”.

Também foi mencionado o tema dos migrantes. O cardeal Parolin relatou que, durante as conversas bilaterais, falou-se sobre “a acolhida e a colaboração para a acolhida e a integração de migrantes na Itália. A Igreja está fazendo muito, mas são necessários protocolos de colaboração em nível regional”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Cirilo e São Metódio, co-patronos da Europa

São Cirilo e São Metódio (Templário de Maria)

Data da publicação – 13/02/2025

14 DE FEVEREIRO

SÃO CIRILO E SÃO METÓDIO

São Cirilo abandonou tudo para viver uma grande aventura santa com seu irmão que já era monge: São Metódio. Juntos, movidos pelo Espírito, foram ao encontro dos povos eslavos, conheceram a cultura e se inculturaram. A língua, os costumes, o amor àquele povo, tudo isso foi fundamental para que São Cirilo, juntamente com seu irmão, para que pudessem apresentar o Evangelho vivo, Jesus Cristo.

São Cirilo – Monge (826-868)

Constantino nasceu em 826 na Tessalônica, atualmente Salonico, Grécia. Seu pai era Leão, um rico juiz grego, que teve sete filhos. Constantino o caçula e Miguel o mais velho, que mudaram o nome para Cirilo e Metódio respectivamente, ao abraçarem a vida religiosa.

Cirilo tinha catorze anos quando o pai faleceu. Um amigo da família, professor Fócio, que mais tarde ajudou seu irmão acusado de heresia, assumiu a educação dos órfãos em Constantinopla, capital do Império Bizantino. Cirilo aproveitou para aprender línguas, literatura, geometria, dialética e filosofia. De inteligência brilhante, se formou em tudo.

Rejeitando um casamento vantajoso, ingressou para a vida espiritual, fazendo votos particulares, se tornou bibliotecário do ex-patriarca. Em seguida, foi cartorário e recebeu o diaconato. Mas sentiu necessidade de se afastar, indo para um mosteiro, em Bósforo. Seis meses depois foi descoberto e designado para lecionar filosofia. Em seguida, convocado como diplomata para a polêmica questão sobre o culto das imagens junto ao ex-patriarca João VII, o Gramático. Depois foi resolver outra questão delicada junto aos árabes sarracenos que tratava da Santíssima Trindade. Obteve sucesso em ambas.

Seu irmão mais velho, que era o prefeito de Constantinopla, abandonou tudo para se dedicar à vida religiosa. Em 861, Cirilo foi se juntar a ele, numa missão evangelizadora, a pedido do imperador Miguel III, para atender o rei da Morávia. Este rei precisava de missionários que conhecessem a língua eslava, pois queria que o povo aprendesse corretamente a religião. Os irmãos foram para Querson aprender hebraico e samaritano.

Nesta ocasião, Cirilo encontrou um corpo boiando, que reconheceu ser o papa Clemente I, que tinha sido exilado de Roma e atirado ao mar. Conservaram as relíquias numa urna, que depois da missão foi entregue em Roma. Assim, Cirilo continuou estudando o idioma e criou um alfabeto, chamado ‘cirílico’, hoje conhecido por ‘russo’. Traduziu a Bíblia, os Livros Sagrados e os missais, para esse dialeto. Alfabetizou a equipe dos padres missionários, que começou a evangelizar, alfabetizar e celebrar as missas em eslavo.

Isto gerou uma grande divergência no meio eclesiástico, pois os ritos eram realizados em grego ou latim, apenas. Iniciando o cisma da Igreja, que foi combatido pelo então patriarca Fócio com o reforço de seu irmão. Os dois foram chamados por Roma, onde o papa Adriano II, solenemente recebeu as relíquias de São Clemente, que eles transportavam. Conseguiram o apoio do Sumo Pontífice, que aprovava a evangelização e tiveram os Livros traduzidos abençoados.

Mas, Cirilo que estava doente, piorou. Pressentido sua morte, tomou o hábito definitivo de monge e o nome de Cirilo. Cinquenta dias depois, faleceu em Roma no dia 14 de fevereiro de 868. A celebração fúnebre foi rezada na língua eslava, pelo papa Adriano II, sendo sepultado com grande solenidade na igreja de São Clemente. Cirilo e Metódio foram declarados pela Igreja como ‘apóstolos dos eslavos’. O papa João Paulo II, em 1980, os proclamou junto com São Bento de ‘Patronos da Europa’.

São Metódio – Bispo (814-885)

Miguel, primogênito dos sete filhos do juiz grego Leão, nasceu em 814 na Tessalônica, atual Salonico, Grécia. Tinha vinte e seis anos e era prefeito de Constantinopla, capital do Império Bizantino, quando seu pai morreu. Irmão de Constantino, foi aluno de Fócio, que assumiu a educação dos órfãos. Miguel e Constantino mudaram o nome para Metódio e Cirilo, ao se consagrarem sacerdotes.

Com a morte do pai, em 840, abandonou tudo e se recolheu no convento de Policron, no monte Olímpio, e se fez monge. Foi o imperador Miguel III quem o convocou para a missão evangelizadora da Morávia, da qual participou também seu irmão. Depois, os dois foram para Roma, onde Cirilo, doente, acabou falecendo.

Metódio foi ordenado sacerdote pelo papa Adriano II em 868 e, depois da cerimônia do sepultamento do irmão, foi nomeado delegado apostólico, consagrado bispo, e estabelecido como arcebispo para a Iugoslávia e Morávia. Uma carta, que o credenciava junto aos principados eslavos, continha a aprovação sem reservas para a liturgia na língua eslava.

Os acontecimentos políticos impediram que Metódio retornasse a Morávia. Ficou, então nos domínios do principado iugoslavo, que tinham sido evangelizados até a Áustria. Ali foram inevitáveis os desencontros entre o clero latino e o novo clero eslavo. Inclusive, Metódio foi preso, traído diante do concílio de Ratisbona e condenado ao exílio na Suécia.

O então papa João VIII, em 878, interveio energicamente e ele foi solto, mas reprovou as suas novidades linguísticas na liturgia. Porém, Metódio, estava fortalecido pela aprovação do papa anterior, podendo dar continuidade à evangelização iniciada. Depois de um ano de tranquilidade, novos protestos se elevaram contra ele, sendo acusado de heresia.

Convocado a se apresentar em Roma pelo papa João VIII, não só se justificou como o convenceu a lhe dar seu apoio. Com uma carta oficial da Santa Sé, ele foi confirmado nas funções, e autorizado a usar o eslavo na liturgia, mas pedindo que o Evangelho fosse lido em latim antes que em eslavo. Porém o imperador germânico preferia outro bispo, que celebrava a liturgia em latim. A confusão estava formada. Tudo se complicou quando surgiu uma falsa carta do papa, que dizia o oposto da anterior apresentada por Metódio.

Em 881 a Santa Sé, negou formalmente a falsa carta. Mas isto não pôs fim à dificuldade, o clero alemão continuou sua oposição. Nesta época, Metódio, foi para Constantinopla a convite do imperador, para se juntar ao então patriarca Fócio, seu antigo professor e amigo da família. Assim, continuou com seus discípulos o seu apostolado e a tradução da Bíblia e dos Livros Litúrgicos a quem precisasse.

Morreu em 6 de abril de 885 em Velehrad, Tchecoslováquia, onde foi sepultado na igreja da Catedral. Atualmente se ignora o local exato onde foram colocadas suas relíquias. Metódio e Cirilo são considerados pela Igreja como ‘apóstolos dos eslavos’ e venerados no dia 14 de fevereiro, dia da morte de Cirilo. Em 1980, o papa João Paulo II os proclamou ‘Patronos da Europa’ ao lado de São Bento.

Fonte: https://templariodemaria.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF