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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Os anos difíceis de Tübingen (VI)

Joseph Ratzinger com Karl Rahner | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni  n. 05 - 2006

Os anos difíceis de Tübingen

Antigos colegas e ex-alunos falam de Ratzinger como professor na cidadela teológica de Tubinga. Onde a sua adesão impenitente à reforma conciliar foi submetida ao teste dos novos triunfalismos clericais e das rebeliões burguesas.

por Gianni Valente

Um arrependido do Concílio? 

A mudança de Ratzinger de Tübingen para Regensburg é frequentemente rotulada como o momento da metamorfose, quando o teólogo reformador do Concílio, traumatizado pela experiência de Tübingen, começou sua transformação em um conservador lúcido (ou insidioso, dependendo da mentalidade da pessoa que repropõe o clichê). Aqui nasceram os mitos de Ratzinger como um titã da contraofensiva ortodoxa aos males da época, e o mito oposto de Ratzinger como um criptoconservador que tirou a máscara de teólogo reformista e revelou seus impulsos reacionários viscerais. O primeiro a escapar repetidamente do papel de arrependido que tanto a direita quanto a esquerda querem lhe impor foi o próprio Ratzinger. “Eu não mudei, eles mudaram”, disse ele em 1984 no livro-entrevista editado por Vittorio Messori, falando dos teólogos que escreveram com ele sobre o Concilium . «A mesma relutância em reconhecer uma mudança radical na própria visão das coisas a partir de Tübingen», diz Victor Hahn, o redentorista que foi o primeiro aluno a «doutorar-se» com Ratzinger, «já se encontra na entrevista dada pelo nosso professor ao semanário diocesano de Munique em 1977, pouco depois da sua nomeação como arcebispo da capital da Baviera».

O que muda não é o coração e o olhar do teólogo do Concílio, mas as circunstâncias que ele enfrenta. Para ele, como para muitos protagonistas entusiastas da temporada conciliar – Congar, De Lubac, Daniélou, Le Guillou –, a espera ansiosa para ver amadurecer os bons frutos das cem flores do Concílio transformou-se na desolação de uma celebração perdida. O desmoronamento de todas as práticas mais ordinárias e de todos os dados essenciais da Tradição teorizados no seio das faculdades teológicas parece-lhe um verdadeiro processo de autodemolição da Igreja. Mas o claro reconhecimento da condição em que a Igreja se encontra nunca transborda na abjuração ou na damnatio memoriae da fonte conciliar. Peter Kuhn diz: «Lembro-me que na época em que nós, seus alunos, ainda estávamos eufóricos com o Concílio, ele, citando a imagem do Evangelho, repetia: abrimos a porta para varrer um demônio para fora da casa, esperemos que sete deles não voltem a entrar. Ele também escreveu a mesma coisa em um artigo na revista Hochland , em 1969. Mas nunca o ouvi dizer: o que fizemos, não deveríamos ter feito."

Em Roma, Paulo VI vê as mesmas coisas. «Acreditávamos», disse ele em 29 de junho de 1972, «que depois do Concílio chegaria um dia ensolarado para a história da Igreja. Em vez disso, chegou um dia de nuvens e tempestades, de escuridão, de buscas e incertezas, é difícil dar a alegria da comunhão". Precisamente em 1968, diante da encíclica Humanae vitae , com seu reiterado não aos métodos contraceptivos modernos, a dissidência intereclesial contra o Magistério atingiu seu ápice. O canadense Tremblay vê uma caricatura irônica de Paulo VI em uma revista católica. Ele a acha espirituosa e decide levá-la a uma das reuniões para alunos de doutorado que o professor realiza aos sábados. “Quando mostrei a ele de forma sedutora, ele olhou para mim.” A mensagem é clara: o Papa não é para brincadeira. «Mas precisamente o sentido muito católico e livre que ele tinha da relação com a Sé Apostólica», nota Tremblay, «também o imunizou daquele “fundamentalismo magistral” que hoje me parece estar em voga. A daqueles que abrem a boca apenas para citar frases tiradas de documentos do Vaticano recentemente divulgados." Como padre bávaro, diante da tempestade que atinge com mais força as Igrejas do Norte da Europa, Ratzinger não invoca a intervenção do gendarme romano como uma panaceia. Cabe a cada bispo proclamar a fé dos apóstolos, dos quais são sucessores, e defender os fiéis simples daqueles que envenenam as fontes da graça. «Em 1965», Beinert observa «Ratzinger escreveu, juntamente com Karl Rahner, o livro-chave Primazia e Episcopado, onde em certo sentido a palavra mais relevante era a conjunção que unia os dois termos. Sobre a questão controversa da relação entre o Papa e os bispos, Ratzinger sempre se manteve na linha que expressou no Concílio." Mesmo com seus alunos, ele às vezes faz uma piada espirituosa sobre o conformismo dos círculos acadêmicos romanos. Beinert ainda lembra: «Eu estava em Roma há dez anos. Estudei na Pontifícia Universidade Gregoriana e fui aluno por muito tempo no Pontifício Colégio Alemão. Durante uma conversa com o grupo de alunos de doutorado, o professor fez uma pergunta perguntando o que nós, alunos, pensávamos sobre isso. E então ele acrescentou sorrindo: não adianta perguntar ao Sr. Beinert, ele estudou em Roma e vocês já sabem o que ele pensa e o que ele tem a dizer...". 

Saber sorrir para si mesmo

«Em 1965», observa Beinert, «Ratzinger havia escrito, junto com Karl Rahner, o livro-chave Primazia e Episcopado, onde, em certo sentido, a palavra mais relevante era a conjunção que unia os dois termos. Sobre a questão controversa da relação entre o Papa e os bispos, Ratzinger sempre se manteve na linha que havia expressado no Concílio»

Um episódio marginal ocorrido no final do período de Tübingen é particularmente esclarecedor. No verão de 1969, alguns professores de Tübingen escreveram um artigo no qual lançaram uma proposta sensacional: abolir o mandato vitalício do episcopado, estabelecendo um limite de tempo para o ministério dos bispos residenciais. O texto é publicado com destaque na Theologische Quartalschrift , a prestigiosa revista de Tübingen que ostenta a primogenitura entre os periódicos teológicos alemães. Antes da publicação, todos os professores da faculdade católica, incluindo Ratzinger, assinaram o artigo. As doze páginas densas acumulam argumentos sociológicos para demonstrar que "a estrutura e a concepção da lei da Igreja, comparadas à imagem atual da sociedade, parecem um mundo passado e estranho".

Segundo os autores, mesmo a configuração atual da jurisdição episcopal não se refere “ao Evangelho, nem mesmo à estrutura das primeiras comunidades cristãs, mas apenas a uma tradição surgida depois”, que “em vários aspectos já não é adequada”. Em seguida, eles apresentam sua proposta para adaptar o poder episcopal aos novos tempos. Segundo os professores de Tübingen, "o mandato dos bispos residenciais no futuro deve ser de oito anos. A reeleição ou a prorrogação do período do ministério só são possíveis em circunstâncias excepcionais e por razões objetivas, externas, devido ao contexto político eclesial". Os autores especificam que a proposta "é feita por enquanto apenas com relação à Europa Ocidental" e que "as implicações para a eleição do papado estão além do escopo da presente exposição e, portanto, não são discutidas aqui". Outra desculpa não pedida , dado que a provocação lançada implica ipso facto a possibilidade de se hipotetizar um mandato ad tempus também para o bispo de Roma.

O apoio do professor Ratzinger à proposta de seus colegas não se encaixa bem no perfil de um antagonista ferrenho que se entrincheira para resistir às derivas teológicas da época. Mas não pode sequer ser invocado para confirmar o estereótipo oposto, o de Ratzinger como um teólogo incendiário destinado a mudar de lado pouco tempo depois. O professor Seckler, que foi um dos autores desse artigo e agora o lembra como um “pecado da juventude”, conta ao 30Giorni: «Ratzinger foi o único que não quis assinar o texto no início. Sua concepção de episcopado não era compatível com as teses sustentadas em nossa proposta. Então fui até a casa dele para tentar convencê-lo. Tomamos um café e conversamos por um longo tempo. E quando saí eu já tinha obtido a aprovação dele." Até mesmo seus alunos mais próximos ficaram perplexos naquela época. Trimpe relembra: “O professor geralmente era determinado em defender suas crenças. Nesse caso, talvez ele não tenha lido o artigo com atenção, ou talvez tenha cedido à pressão para manter uma vida fácil. Ele queria evitar mais discussões com colegas." E talvez o que lhe pediam – uma simples adesão a um texto coletivo – não lhe parecesse relevante. Após a publicação do artigo, enquanto estudantes e colaboradores estão preocupados, Ratzinger não parece muito preocupado com sua reputação. Ele mesmo indica uma maneira sutilmente humorística de acalmar suas perturbações. Trimpe relata: “Quando viu que alguns de nós estávamos indignados, ele sorriu e disse: Bem, se vocês estão com raiva, escrevam alguma coisa, escrevam um artigo contra essa proposta, e eu os ajudarei a publicá-lo.” Assim, o assistente Kuhn e Martin Trimpe prepararam um longo artigo que seria publicado em duas partes na revista Hochland , para refutar, por sugestão de seu professor, as teses sobre o episcopado temporário que ele próprio havia subscrito. Kuhn não segura a piada: «Só publicamos esse artigo quando o professor e eu já tínhamos nos mudado para Regensburg. Talvez em Tübingen nos considerassem hereges." continua... (Pierluca Azzaro colaborou)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Esperança é a última que morre

Cruz e Âncora, amor de Cristo Crucificado, esperança do mundo!   (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

"Jesus é o autor da verdadeira esperança. Nele não nos confundimos. É nele que devemos colocar nossa esperança que não se ilude, que não se apaga."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?», pergunta São Paulo na Carta aos Romanos. "Na verdade - explica o Papa na Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025 - é o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes a luz da esperança: mantém-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida. Com efeito - acrescentou Francisco - a esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino".

Dando sequência à sua série de reflexões sobre a virtude teologal da esperança, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje "Esperança é a última que morre":

"A esperança é a última que morre, diz o provérbio popular. O ano jubilar reflete sobre a virtude da esperança que não decepciona. O Catecismo da Igreja católica, afirma que “a esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo” (CIgrC,1817).  A esperança não se apoia em nós mesmos, mas naquele que venceu e Ressuscitou, razão de nossa fé e esperança.

O arcebispo de Juiz de Fora, Minas Gerais, dom Gil Antônio Moreira refletia com grandeza sobre a virtude da Esperança. Escrevia assim: “Esperança é uma palavra vencedora. Quando tudo parece perdido, irremediável, destruído, ela comparece para salvar. Ela é capaz de transformar a derrota em vitória, o perigo em alívio, o desespero em alegria. A esperança é tão poderosa que consegue tirar do domínio da morte os que não veem mais razão para viver.  Indigentes se tornam nobres, miseráveis se tornam ricos, criminosos passam a ser bons, corruptos se convertem, ladrões devolvem quatro vezes mais o que roubaram, como os Zaqueus que se repetem no caminhar da história (cf. Lc 19, 1-10). A esperança transforma as cinzas em fênix, a cruz em sinal de vida, as lágrimas em vitória. A esperança é a última que morre, diz o jargão popular. Ela é desprezada pelos pessimistas, ameaçada pelos gananciosos, agredida pelos incrédulos. Da esperança tudo renasce, ainda que pareça impossível recomeçar. O pecado costuma tirar a esperança, causar o desânimo e desiludir quem ia bem e de repente cai. A esperança é uma senhora que vem dar a mão àquele que se desiludiu consigo mesmo ou com a situação em que foi precipitar-se”[1]. Pois onde humanamente não existe mais esperança nas mais variadas realidades cruciais, é ali justamente que a esperança brota como uma luz no fundo do túnel, ou como o Papa Francisco proclama em seu livro, “La speranza è una luce nella notte" - "A esperança é uma luz na noite". Quando tudo parece perdido, surge um novo horizonte que se descortina, uma nova luz a irradiar nas trevas. É a experiência que os apóstolos sentiram quando tudo pareceu acabar no madeiro da cruz e na sepultura do corpo de Jesus no santo sepulcro.

Na tentativa de conceituarmos a Esperança cristã, o teólogo Achim Schütz, faz algumas reflexões no Caderno do Jubileu número 23, “A Igreja Peregrina rumo à plenitude”, no capítulo 4 intitulado: “A virtude Escatológica da Esperança”.  Falando sobre a esperança na história, aponta assim Schütz: “Com toda a sinceridade, é necessário sublinhar o quão pouco a Tradição Cristã pode reivindicar, exclusivamente, o conceito de esperança. Definem-se como esperança muitas coisas que estão bem distantes de alcançar o ponto autêntico do significado desta virtude e proclamada eclesialmente. Constantemente, as ideias e as atitudes são definidas como esperanças, mas haveriam ser chamadas, ao invés disso, de fantasias ou utopias. Existem, porém, esperanças que merecem certamente esses nomes, sem tocar a essência da Esperança Cristã. A história intelectual europeia está repleta delas”[2].

E completa o autor no Caderno Conciliar – “A igreja é uma autoridade que assegura e tranquiliza. Protege das falsas esperanças. No seu aqui e agora, é garantia da eternidade. Segundo o pleno sentido da palavra, a Igreja tem uma índole escatológica, como já resumido no título do sétimo capítulo da Lumen GentiumNela, não menos importante, terminam e perecem ideias de esperança que tem pouco em comum com a mensagem cristã de salvação. Mesmo que apenas Jesus Cristo tenha direito de ser definido como mediador em sentido completo, a Igreja realiza, contudo, um papel de mediação de muitos modos”[3].

A missão da Igreja, portanto, de cada cristão batizado, é de proteção contra as falsas esperanças, esperanças ilusórias e fantasiosas. Sucumbimos facilmente no mundo hodierno em esperanças sem sentido, utópicas, colocando nossa vida alicerçada na idolatria do dinheiro, sucesso, projetos econômicos e mirabolantes. Jesus é o autor da verdadeira esperança. Nele não nos confundimos. É nele que devemos colocar nossa esperança que não se ilude, que não se apaga."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
___________________

[1] https://www.cnbb.org.br/nao-deixem-que-lhes-roubem-a-esperanca/
[2] SCHUTZ, Achim. A Igreja Peregrina rumo à plenitude, Caderno do Jubileu número 23, Ed. CNBB, 2023, p. 37
[3] Idem, 42.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Dos Sermões contra os Arianos, de Santo Atanásio, bispo

O conhecimento do Pai através da sabedoria criadora e humana (KYRIOS)

Dos Sermões contra os Arianos, de Santo Atanásio, bispo

(Oratio 2,78.81-82: PG 26,311.319)

(Séc. IV)

O conhecimento do Pai através da Sabedoria criadora e humana

A unigênita Sabedoria de Deus é quem cria e dá realidade a tudo. Tudo, como se disse, fizeste na sabedoria; e também: A terra está repleta de tua criação.

Para que as coisas não apenas existissem, mas existissem boamente, aprouve a Deus doar-se, por meio de sua Sabedoria, a todas as suas criaturas, imprimindo-lhes alguma coisa da semelhança e da beleza de si mesmo em todas e em cada uma. Deste modo tornou claro serem todas as criaturas ornadas de sabedoria e obras dignas de Deus.

Assim como nossa palavra ou verbo é a imagem do Verbo, o Filho de Deus, também a sabedoria posta em nós é a sua imagem da sabedoria do Verbo de Deus, isto é, da própria Sabedoria. Na sabedoria posta em nós, tendo a capacidade de saber e de compreender, nós nos tornamos aptos a receber a Sabedoria criadora e, por ela, a conhecer o seu Pai. Porque quem tem o Filho, diz ele, tem também o Pai, e: Quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Por conseguinte, já que uma forma criada da Sabedoria existe em nós e em tudo, é justo que a verdadeira e criadora Sabedoria reconheça pertencer-lhe esta forma e diga: O Senhor me criou em suas obras.

Mas porque, como já explicamos, o mundo não conheceu a Deus pela sabedoria, foi do agrado de Deus salvar os que creem pela estupidez da pregação. Já não mais, como nos tempos antigos, Deus quis ser conhecido pela imagem e sombra da sabedoria existente nas coisas criadas, mas quis que a verdadeira Sabedoria, ela mesma, assumisse a carne, se fizesse homem e padecesse a morte da cruz, a fim de que nela firmados pela fé, todos os que creem pudessem ser salvos de então em diante.

Portanto, é a Sabedoria de Deus, a mesma que anteriormente, por sua própria imagem impressa nas criaturas – e por isso a chamamos sabedoria criada – se fazia conhecer não somente a si, como ainda, através de si, o seu Pai. Depois, ela ainda, que é o Verbo, fez-se carne, como disse São João e, destruída a morte e libertada nossa raça, manifestou-se a si mesma e, em si, também ao Pai, de modo ainda mais claro. Daí estas palavras: Dá-lhes que te conheçam a ti, único verdadeiro Deus, e ao que enviaste, Jesus Cristo.

Por isto, a terra inteira está cheia de seu conhecimento. Na verdade, um só é o conhecimento que temos do Pai através do Filho e do Filho a partir do Pai. O Pai alegra-se com a única e mesma alegria com que o Filho se delicia no Pai, dizendo: Era eu que fazia sua alegria, em sua presença, cada dia, eu me deliciava.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

A liberdade humana

A liberdade humana (Opus Dei)

A liberdade humana

A Igreja considera que a liberdade é sinal eminente da imagem divina no homem. A participação dos homens na bem-aventurança divina é um bem tão grande e tão desejado pelo Amor divino, que Deus quis correr o risco da liberdade humana. Em sentido moral, a liberdade não é tanto uma propriedade natural da pessoa, mas uma conquista, fruto da educação, das virtudes morais possuídas e da graça de Deus.

20/10/2022

1. Deus criou o homem livre

A Sagrada Escritura nos diz que Deus criou o homem como um ser livre. “Desde o princípio Deus criou o ser humano e o entregou às mãos do seu arbítrio. Acrescentou-lhe seus mandamentos e preceitos e a inteligência, para fazer o que lhe é agradável. Se quiseres guardar os mandamentos, eles te guardarão; se confias em Deus, tu também viverás. Diante de ti, ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. Diante do ser humano estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir”[1].

A Igreja considera que a liberdade “é sinal eminente da imagem divina no homem”[2]. E ao mesmo tempo nos ensina porque e para que Deus nos deu a liberdade: “Deus quis ‘deixar ao homem o poder de decidir’, para que assim procure espontaneamente o seu Criador e livremente chegue à perfeição plena e feliz, aderindo a Ele”[3]. Criando o homem à sua imagem e semelhança, Deus coloca em prática seu desígnio de criar seres que sejam capazes de participar da sua própria vida divina e entrar em comunhão com Ele.

Para que os homens possam aderir livremente a Deus, como diz a constituição Gaudium et spes, é necessário que os homens sejam livres, ou seja, capazes de conhecer e afirmar o bem autonomamente. Isto supõe que haja no homem, que é um ser finito e falível, a triste possibilidade de fazer mau uso da liberdade que Deus lhe deu, negando o bem e afirmando o mal. Mas se não fosse verdadeiramente livre, o homem não poderia participar da felicidade divina, que consiste em conhecer e amar o Sumo Bem que é o próprio Deus. Os astros seguem com absoluta exatidão as leis que Deus lhes deu, mas não podem conhecer e amar, e, por isso, não podem participar da felicidade de Deus. Como escreve São Josemaria, “apenas nós, os homens – não falo aqui dos anjos – nos unimos ao Criador mediante o exercício da nossa liberdade”[4]. A participação dos homens na bem-aventurança divina é um bem tão grande e tão desejado pelo Amor divino, que Deus quis correr o risco da liberdade humana. Para entender melhor tudo isso, consideraremos a seguir os diversos sentidos em que se fala de liberdade, a essência da liberdade e depois a liberdade vista do ponto de vista da história da salvação.

2. As dimensões da liberdade humana

A liberdade humana tem várias dimensões. A liberdade de coação é a que tem a pessoa que pode realizar externamente o que decidiu fazer, sem imposição ou impedimentos de agentes externos. Geralmente se entende assim a liberdade em direito e política: fala-se assim de liberdade de expressão, liberdade de reunião etc, para expressar que ninguém pode impedir legitimamente uma pessoa de exprimir o seu pensamento e de se reunir com quem quiser, sempre dentro dos limites estabelecidos pelas leis. Os presos e prisioneiros de guerra, por exemplo, carecem desta liberdade.

liberdade de escolha ou liberdade psicológica significa a ausência de necessidade interna para escolher uma coisa ou outra; já não se refere às possibilidades de fazer, e sim a de decidir autonomamente, sem estar subordinado a um determinismo interior, ou seja, sem que uma força interna diferente da vontade leve a escolher necessariamente uma coisa, impedindo escolher as outras possíveis alternativas. A liberdade psicológica é a capacidade de autodeterminação. Algumas doenças mentais agudas, algumas drogas ou um estado de muita agitação (num incêndio, por exemplo) podem privar total ou parcialmente da liberdade psicológica.

liberdade moral é a que tem uma pessoa que não está escravizada pelas paixões ruins, pelos vícios ou pelo pecado. Entendida neste sentido, a liberdade não é tanto uma propriedade natural da pessoa, mas uma conquista, fruto da educação, das virtudes morais possuídas e da graça de Deus. A Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja falam com frequência da liberdade neste sentido, ao dizer que Cristo nos faz livres.

3. A essência da liberdade

Nas três dimensões que acabamos de explicar, a liberdade se apresenta como negação de algo. A liberdade nega a existência de impedimentos exteriores para agir, de condicionamentos interiores para escolher e de obstáculos morais para exercê-la retamente. A ausência desses impedimentos, condicionamentos e obstáculos é um requisito para que o homem seja livre, mas não manifesta a essência positiva da liberdade. Deus é livre, e a sua liberdade não pode ser a negação de condicionamentos exteriores, nem interiores, porque Ele não tem e nem pode ter. A liberdade tem que consistir em algo diferente da mera ausência de condições determinantes.

Efetivamente, a essência da liberdade (o que tem que existir para haver liberdade) e o seu ato próprio é a adesão autônoma ao bem, ou seja, o amor do bem, que é o ato por excelência da liberdade. Liberdade e amor estão unidos: não há amor verdadeiro que não seja livre, nem verdadeira liberdade que não se exercite como amor a algo ou alguém. A liberdade de Deus, a de Cristo e a dos homens se expressa como reconhecimento e amor do bem enquanto tal, simplesmente pela razão de que é bom.

A adesão autônoma ao bem expressa muito mais a essência da liberdade do que a possibilidade de escolher entre várias alternativas. Para uma boa mãe, não amar seu filho não se apresenta como uma alternativa possível, mas nem por isso o amor a seu filho deixa de ser uma escolha livre. Nem o sacrifício que esse amor pode trazer consigo diminui sua liberdade. São Josemaria o expressa assim: “Reparemos: quando uma mãe se sacrifica por amor aos seus filhos, fez uma opção; e, conforme for a medida desse amor, assim se manifestará a sua liberdade. Se esse amor for grande, a liberdade se mostrará fecunda, e o bem dos filhos procederá dessa bendita liberdade, que implica entrega, e procederá dessa bendita entrega, que é precisamente liberdade”[5].

O sacrifício e a entrega ao que se ama são expressão da liberdade, porque são sacrifício e entrega que nascem do amor, e o amor não pode não ser livre. Na oração no horto das oliveiras, foi muito difícil para Jesus carregar os pecados humanos e enfrentar a sua Paixão redentora, mas Ele entregou a sua vida livremente: “O Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la”[6].

Além disso, em nós, a inclinação ao mal decorrente do pecado original pode fazer com que a livre adesão ao bem seja mais difícil. Como dizia São Josemaria, “a oposição entre liberdade e entrega é sinal de que o amor está vacilante, pois nele reside a liberdade”[7]. Se não houvesse uma adesão autônoma ao bem que requer sacrifício, se não se amasse verdadeiramente o bem que comporta sacrifício, então sim haveria oposição entre a liberdade e a entrega que esse bem requer. “Quereria gravá-lo a fogo em cada um: a liberdade e a entrega de si não se contradizem; apoiam-se mutuamente. A liberdade só pode ser entregue por amor; outro gênero de desprendimento, eu não o concebo. Não é um jogo de palavras, mais ou menos acertado. Na entrega voluntária, em cada instante dessa dedicação, a liberdade renova o amor, e renovar-se é ser continuamente jovem, generoso, capaz de grandes ideais e de grandes sacrifícios”[8].

4. A liberdade do ponto de vista histórico-salvífico

A Sagrada Escritura considera a liberdade humana com a perspectiva da história da salvação. Por causa da primeira queda, a liberdade que o homem tinha recebido de Deus fiou submetida à escravidão do pecado, apesar de não ter se corrompido por completo[9]. São Paulo afirma de modo claro, principalmente na Carta aos Romanos, que o pecado que se introduziu no mundo como consequência do pecado de Adão é mais forte que a inteligência e a vontade humanas, e inclusive do que a lei de Moisés, que ensinava o que se deve fazer, mas não dava a força para fazê-lo sempre. Cada um dos pecados humanos são um ato livre, senão não seriam pecados, mas a força do pecado se manifesta em que de fato, e considerando as coisas em conjunto, os homens, sem a graça de Cristo, não conseguiriam evitar o pecado sempre, porque têm a inteligência obscurecida e a vontade debilitada. Por sua Cruz gloriosa, anunciada e preparada pela economia do Antigo Testamento, “Cristo obteve a salvação de todos os homens. Resgatou-os do pecado que os mantinha na escravidão”[10]. Com a graça de Cristo os homens podem evitar o pecado, como se vê não só na vida dos santos canonizados, mas na vida de tantos cristãos que vivem em graça e evitam os pecados graves e inclusive quase sempre os veniais deliberados. Colaborando com a graça que Deus dá por meio de Cristo, o homem pode gozar da plena liberdade em sentido moral: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”[11].

A possibilidade de que o homem pecasse não fez com que Deus renunciasse a criá-lo livre. A necessidade que o homem tem de ser livre para ser feliz faz com que Deus leve a sério a liberdade humana e as consequências que os nossos atos livres têm no tempo[12]. O modo em que a redenção se realizou, mediante o sangue de Cristo, confirma o valor e o respeito de Deus pela liberdade humana. Nossa liberdade é verdadeira liberdade, o seu exercício tem um grande valor, positivo ou negativo, e traz consigo uma responsabilidade.

5. A liberdade e o bem moral

Como já dissemos, a liberdade está dirigida ao bem moral de modo que a sua posse faz ao homem feliz. Para ajudar a reconhecer e aderir a esse bem, o homem tem à sua disposição a lei moral, que é a capacidade de discernir o bom e o mau da realidade segundo os planos de Deus, que são sempre bons. As demais leis humanas também conduzem ao bem quando estão em harmonia com a lei moral.

De qualquer forma, às vezes, alguns consideram que a lei já delimita sua liberdade, como se a liberdade começasse onde acaba a lei e vice-versa.

A realidade é que o comportamento livre é regulado por cada pessoa de acordo com o conhecimento que ela tem do bem e do mal: realiza livremente o que considera bom e evita livremente o que vê como mau. A lei moral é como uma luz para facilitar a escolha do bom e evitar o mau.

Por isso, o que se opõe à lei moral é o pecado, não a liberdade. A lei certamente indica que é necessário corrigir os desejos de realizar ações pecaminosas que uma pessoa pode experimentar: os desejos de vingança, de violência, de roubar, etc., mas essa indicação moral não se opõe à liberdade, que visa sempre a afirmação livre do bom por parte das pessoas, e também não supõe uma coação da liberdade, que sempre conserva a triste possibilidade de pecar. “Entregar-se ao mal não é uma libertação, mas uma escravidão (...) Revela talvez que se comportou de acordo com as suas preferências, mas não conseguirá pronunciar a voz da verdadeira liberdade, porque se fez escravo daquilo por que se decidiu, e decidiu-se pelo pior, pela ausência de Deus, e nisso não há liberdade”[13].

Uma questão diferente é que as leis e regulamentos humanos, por causa da generalidade e concisão dos termos com que se expressam, podem não ser, em algum caso particular, um indicador fiel do que uma pessoa determinada deve fazer. A pessoa bem formada sabe que nesses casos concretos é preciso fazer o que sabe com certeza que é bom[14]. Mas não existe nenhum caso no qual seja bom realizar as ações intrinsecamente más, ou seja, ações proibidas pelos preceitos negativos da lei moral natural ou da lei divino-positiva (adultério, homicídio deliberado, etc.)[15].

Como dissemos, o homem pode usar mal a sua liberdade, porque tanto o seu conhecimento como a sua vontade são falíveis. Às vezes a consciência moral erra, e considera como bom o que, na realidade é mau, ou como mau o que na realidade não é mau. Por isso, o reto uso da liberdade e o agir segundo a própria consciência não são sempre a mesma coisa, por causa do possível erro da consciência. Daí a importância de formá-la bem, de modo que seja possível evitar os erros de juízo em que frequentemente caem as pessoas que têm pouca formação ou as que têm convicções deformadas pelo vício, ignorância ou superficialidade.

6. O respeito da liberdade

De tudo o que foi dito até agora se entende que a liberdade é um grande dom de Deus, que comporta uma enorme responsabilidade pessoal, e que os homens – as autoridades humanas, civis e eclesiásticas – não devem limitar além do exigido pela justiça e por claros imperativos do bem comum da sociedade civil e da eclesiástica. A este propósito, São Josemaria escrevia: “é necessário amar a liberdade. Evitai esse abuso que parece exasperado nos nossos tempos – está patente e continua se manifestando de fato em nações de todo o mundo – que revela o desejo, contrário à independência lícita dos homens, de obrigar a todos a formar um só grupo no que é opinável, a criar como dogmas doutrinais temporais; e a defender esse falso critério com intenções e propaganda de natureza e substância escandalosas, contra os que têm a nobreza de não se submeterem. (...) temos de defender a liberdade. A liberdade dos membros, mas formando um só corpo místico com Cristo, que é a cabeça, e com seu Vigário na terra”[16].

As relações interpessoais também, já fora do âmbito do governo humano, têm que ser presididas pelo respeito da liberdade e compreensão dos pontos de vista diferentes. E este mesmo estilo tem que ser o do apostolado cristão. “Amamos, em primeiro lugar, a liberdade das pessoas que ajudamos a se aproximarem do Senhor, no apostolado de amizade e confidência, que São Josemaria nos convida a realizar com o testemunho e a palavra (...) A verdadeira amizade implica um sincero carinho mútuo, que é a verdadeira proteção da liberdade e da intimidade recíprocas”[17].

O respeito à liberdade alheia não significa pensar que tudo o que outras pessoas fazem livremente é bom. O reto exercício da liberdade pressupõe o conhecimento do que é bom para cada um. Propor ou ensinar aos outros o que é verdadeiramente bom não é um atentado contra a liberdade alheia. Que uma pessoa livre proponha a verdade a outra pessoa igualmente livre, explicando as razões que a sustentam, é sempre algo bom. O que não se deve fazer é impor a verdade mediante violência física ou psicológica. Apenas a legitima autoridade pode usar a coação nos casos e com as modalidades previstas pelas leis justas.

Ángel Rodríguez Luño


Bibliografia básica

— Catecismo da Igreja Católica, 1730-1748.

— São Josemaria, homilia A liberdade, dom de Deus, em Amigos de Deus, 23-38.

Leituras recomendadas

— Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 9/01/2018.

— E. Colom, A. Rodríguez Luño, Escolhidos em Cristo para ser santos. Curso de Teologia Moral, Quadrante, São Paulo.


[1] Sir 15, 14-18. Ver também Dt 30, 15-19.

[2] Gaudium et spes, n. 17; Cf. Catecismo, n. 1731.

[3] Gaudium et spes, n. 17.

[4] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 24.

[5] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 30.

[6] Jo 10, 17-18.

[7] São Josemaria, junho 1972, citado por dom Javier, Carta 14/02/1997, n. 15.

[8] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 31.

[9] Catecismo, n. 1739-1740.

[10] Ibid., n. 1741.

[11] Ga 5, 1; Cf. Catecismo, n. 1742.

[12] Como se disse antes, “Diante do ser humano estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir” (Ec 15, 18).

[13] São Josemaria, A liberdade, dom de Deus, em Amigos de Deus, n. 37.

[14] Cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I-II, q. 96, a. 6 e II-II, q. 120.

[15] Cf. João Paulo II, Veritatis splendor, nn. 76, 80, 81 y 82.

[16] São Josemaria, Carta 9/01/1932, n. 1-2, no volume: Josemaria Escrivá de Balaguer, Cartas I, ed. crítica preparada por L. Cano, Rialp, Madrid 2020.

[17] Fernando Ocáriz, Carta pastoral 9/01/2018, n. 14.

 Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/tema-7-a-liberdade-humana/

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Os anos difíceis de Tübingen (V)

Estudantes católicos e evangélicos manifestam-se nas ruas de Bonn em maio de 1966 | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni  n. 05 - 2006

Os anos difíceis de Tübingen

Antigos colegas e ex-alunos falam de Ratzinger como professor na cidadela teológica de Tubinga. Onde a sua adesão impenitente à reforma conciliar foi submetida ao teste dos novos triunfalismos clericais e das rebeliões burguesas.

por Gianni Valente

O orgulho profissional dos clérigos

As relações de Ratzinger com seus colegas em Tübingen permaneceram formalmente corretas e corteses até o fim. Em aula, Küng proclama em voz alta sua estima pelo teólogo bávaro e reafirma repetidamente suas visões compartilhadas. Ratzinger também confirma publicamente que não há problemas com seu mentor suíço. Desculpas não são pedidas .

Entre os dois grandes nomes do corpo docente, titulares das duas cátedras de Teologia Dogmática, as diferenças humanas e de caráter sempre foram evidentes. O impetuoso suíço dirige seu Alfa Romeo branco, vestido com elegância burguesa. Jornalistas o procuram quando precisam de alguém para contar histórias fantásticas sobre as polêmicas acaloradas que estão varrendo a Igreja pós-Vaticano II. O gentil bávaro caminha ou usa transporte público, celebra missa todas as manhãs na capela de uma residência estudantil feminina e, de outra forma, estuda e prepara suas aulas, permanecendo fiel ao seu estilo austero e reservado. “Certa vez, quando eu estava viajando com alguns estudantes e paramos em uma taverna para almoçar”, lembra Kuhn, “ele pediu apenas salsichas vienenses para ele e para nós também. Ele achava que éramos todos econômicos como ele. Naquela época não ousamos deixá-lo saber que éramos jovens e famintos. Talvez ele próprio o tenha compreendido e, em outras ocasiões deste género, certificou-se de que todos escolhiam cuidadosamente no menu os pratos que preferiam…». Mas é na experiência concreta da vida docente, entre aulas, seminários, conferências e exames, que, por trás da aparente unanimidade "conciliar", a distância crescente entre Ratzinger e alguns de seus colegas atinge níveis muito mais cruciais.

Ratzinger acredita que todas as coisas importantes que o fizeram exultar durante o Concílio – a renovação bíblica e patrística, a abertura ao mundo, o pedido sincero de unidade com outros cristãos, a libertação da Igreja de todas as armadilhas que a sobrecarregam e a impedem em sua missão – não têm nada a ver com a mania corrosiva e iconoclasta que agita muitos de seus colegas. O papel desempenhado por muitos teólogos na orientação dos trabalhos do Concílio transformou-se, para muitos deles, num orgulho profissional que pretende submeter até os fatores mais elementares da doutrina e da vida da Igreja ao tribunal dos "especialistas". «Durante as aulas», diz Moll, «parecia não haver consenso entre os vários professores, nem mesmo sobre dados essenciais da fé. E nossas cabeças como estudantes giravam. Sempre foi necessário tomar posição sobre coisas que antes pareciam inquestionáveis: o diabo existe ou não? Existem sete sacramentos ou apenas dois? Pessoas não ordenadas podem celebrar a Eucaristia? Existe uma primazia do bispo de Roma ou o papado é apenas um regime despótico a ser derrubado? O redentorista Réal Tremblay, que veio do Canadá para Tübingen em 1969 para obter seu doutorado com Ratzinger e agora é professor na Academia Alfonsiana, arrisca: «Sempre acreditei que uma certa agressividade de Küng também surgiu dos problemas que ele encontrou em Roma como estudante. Ele é um daqueles que não conseguiu expressar o ódio antirromano acumulado em suas próprias experiências pessoais de juventude. Ratzinger não teve esses problemas, também porque não havia estudado em Roma."

O teólogo bávaro, criado na escola de Santo Agostinho, Newman e Guardini, sofre com a nuvem de novo conformismo que parece ter infectado muitos de seus colegas: o exegeta Herbert Haag, o moralista Alfons Auer, o canonista Johannes Neumann. Ele, que no Concílio havia travado amizade com Congar e De Lubac, não escondeu seu não alinhamento com as palavras de ordem do novo triunfalismo “progressista”. O padre Martin Trimpe, um dos alunos mais próximos de Ratzinger durante seus anos em Tübingen e Regensburg, relembra: «Certa vez, em uma sala de aula lotada, houve um debate entre vários professores sobre a primazia do Papa. Küng havia dito que o tipo autêntico de papa era aquele representado por João XXIII, porque sua primazia era pastoral e não jurisdicional por natureza. Ratzinger não falou nada, e então os estudantes começaram a gritar seu nome: Ratzinger! Zoeira de rato! Eles queriam saber o que ele pensava. Ele respondeu calmamente que o quadro descrito por Küng precisava ser corrigido, pois era necessário levar em conta todos os aspectos ligados ao ministério petrino. Caso contrário, ao insistir apenas no aspecto pastoral, corremos o risco de retratar não o pastor da Igreja universal, mas um fantoche universal a ser manipulado a nosso bel-prazer." Ratzinger não se alinha, mantém seu espírito crítico, mas certamente não é aquele que busca polêmica e conflito com seus colegas. Por natureza ele não é um boxeador, não gosta de cruzar luvas e evita brigas acadêmicas. Ele não tem intenção de assumir o papel de opositor que organiza a resistência à tendência crescente. O fato é que durante os anos de Tübingen não houve conflitos evidentes entre Ratzinger e o resto do corpo acadêmico, que até o escolheu como reitor. Até mesmo a relação com Küng se desfaz através de um lento e silencioso distanciamento interno, um afastamento progressivo, mas sem confrontos sangrentos. “Küng atacou Ratzinger apenas uma vez”, observa Seckler, “e não foi por causa da teologia”. Houve um acordo entre os dois de que, a cada semestre, se um lecionasse a disciplina principal de Teologia Dogmática, o outro faria a disciplina de apoio e, assim, teria mais tempo disponível para planejar livremente suas próprias atividades. Quando Ratzinger anuncia que está prestes a deixar Tübingen após receber o “chamado” da nova faculdade de teologia de Regensburg, sua decisão atrapalha os planos do colega, que já havia preenchido a agenda do seu semestre “leve” com compromissos. Seckler continua: «Küng deu tudo de si. Ele atacou Ratzinger com veementes insultos, insistindo em respeitar o acordo. Ratzinger permaneceu calmo, mas inflexível em suas decisões." Antes dessa explosão, para convencer ainda mais Ratzinger de que era melhor mudar de ares, o movimento dos Sessenta e Oito caiu "na velocidade da luz" (como o então prefeito do antigo Santo Ofício expressou em sua autobiografia) sobre aquelas relações já desgastadas pela turbulência pós-conciliar.

Hans Kung | 30Giorni

De Tübingen a Regensburg

A burguesia contesta a si mesma. Crianças de classe média se rebelam contra seus pais. Em Berlim, durante manifestações contra leis de emergência introduzidas para proteger a segurança nacional, alguém morre. A explosão começou nos centros universitários de Berlim e Frankfurt, mas logo atingiu também as faculdades de teologia. É precisamente em Tübingen, na Faculdade de Filosofia, que Ernst Bloch leciona. Em seu livro O Princípio da Esperança, ele indica um messianismo judaico-cristão secularizado como a fonte última do vento revolucionário que está varrendo o Ocidente. Uma perspectiva que – escreve Ratzinger na sua autobiografia – «precisamente porque se baseava na esperança bíblica, distorceu-a, de modo a preservar o fervor religioso, mas eliminando Deus e substituindo-o pela ação política do homem». A fé – explica Ratzinger em seu ensaio introdutório escrito em 2000 para a reedição de seu best-seller Introdução ao Cristianismo – «cedeu à política o papel de força salvadora». Nessa "nova fusão de impulso cristão e ação política global", muitos cristãos experimentam a emoção de serem novamente protagonistas da história. Depois de a cultura ocidental mais avançada ter tentado relegar a religião à esfera subjetiva e íntima, agora com «uma Bíblia reinterpretada numa nova chave e uma liturgia celebrada como pré-conclusão simbólica da revolução e como preparação para ela […] o cristianismo com esta curiosa síntese reentrava no mundo, propondo-se como uma mensagem “de época”». Até mesmo a agenda “democratizante” dos teólogos à la pageé passado com um estrondo. Não se trata mais de fazer ajustes na estrutura eclesial e favorecer sua abertura ao mundo. A forma histórica assumida pela Igreja também deve ser demolida na derrubada do antigo regime. “Sob as batinas de mil anos”, gritam os estudantes das faculdades de teologia; sob as batinas dos padres, a imundície de mil anos. A convulsão revolucionária atinge os interstícios da vida cotidiana docente, derruba e desarticula práticas centenárias no relacionamento entre professores e alunos. Não há zonas seguras para protestos. Em Tübingen, Küng e seus amigos também pagam o preço. Os “rebeldes” também monopolizam a paróquia universitária de St. John e exigem a eleição democrática do capelão. Então eles se deitam nos degraus da faculdade, impedindo a entrada dos professores: não há mais tempo para ouvir palestras inúteis, precisamos nos preparar para a revolução que se aproxima. Ratzinger suporta repetidamente essas “provas populares” por parte dos estudantes. Martin Trimpe relata: «Eles interrompiam a aula gritando, ou subiam na mesa do professor e o forçavam a responder às suas perguntas “revolucionárias”». Outros professores tentam piscar para os manifestantes. O professor bávaro responde com seu argumento lógico e calmo. Mas sua voz fraca é frequentemente abafada por gritos. Seckler também observa: «Ele é muito bom em discussões calmas e fundamentadas. Mas na oposição violenta ele se perde. Ele não consegue gritar, é incapaz de falar de forma autoritária."

No entanto, Ratzinger sente sincera simpatia humana, tingida de tristeza, por muitos dos jovens que complicam sua vida.

Uma delas se chama Karin. Ela é uma linda garota loira e, embora pareça irritante, percebe-se que ela está em busca de algo, que seu sonho revolucionário expressa confusamente a expectativa de uma vida diferente, boa, o desejo de ser feliz. Ratzinger a escuta, ele perde seu tempo. Mas então acontece que Karin morre de repente. Trimpe diz: «Fui eu quem contou ao professor, durante o almoço. Ele ficou triste com isso e não falou mais. Então, tenho certeza, ele teria levado à missa, ao altar, sua compaixão pela vida e pela morte daquela menina, confiando a salvação de sua alma à misericórdia do Senhor."

Mesmo em suas palestras, como é seu costume, Ratzinger inicialmente leva a sério e valoriza as exigências da crítica marxista, que também pode expressar a expectativa de uma salvação histórica real, não encerrada no gueto da individualidade subjetiva. Mas seu choque é tremendo quando o protesto se torna uma paródia sacrílega, uma rebelião burguesa, uma corrosão devastadora das coisas que lhe são mais queridas. O ex-aluno de Ratzinger, Werner Hülsbusch, um pároco aposentado perto de Münster, diz hoje: «Ele não suportava mais ler cartazes que descreviam Jesus e São Paulo como sexualmente frustrados, nem ouvir discursos daqueles que ridicularizavam a cruz como um símbolo de sadomasoquismo. Ele estava se sentindo mal."

O clima cada vez mais venenoso de Tübingen atrasou sua transferência para a nova faculdade de teologia inaugurada em 1967 na Baviera. No último encontro com o círculo de estudantes de doutorado de Tübingen, o professor chega um pouco atrasado no Citroen “Dois Cavalos”, de Peter Kuhn. O motorista freia bruscamente na frente dos estudantes que esperavam, e a placa de Tübingen cai do carro. Todos caem na gargalhada. 

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa está sem febre e prossegue terapia

Novo boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé (Vatican News)

"O Papa Francisco está comovido com as numerosas mensagens de afeto e proximidade que continua recebendo nestas horas; em particular, deseja agradecer àqueles que estão atualmente hospitalizados", diz o comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Vatican News

A Sala de Imprensa da Santa Sé publicou na tarde desta segunda-feira, 17 de fevereiro, o seguinte comunicado:

"O Santo Padre continua apirético e prossegue com a terapia prescrita.

Sua condição clínica é estável.

Esta manhã, ele recebeu a Eucaristia e depois se dedicou a algumas atividades de trabalho e à leitura de textos.

O Papa Francisco está comovido com as numerosas mensagens de afeto e proximidade que continua recebendo nestas horas; em particular, deseja agradecer àqueles que estão atualmente hospitalizados pelo carinho e amor que expressam através de desenhos e mensagens de pronta recuperação; reza pelos doentes e pede orações por ele."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os sete fundadores da Ordem dos Servitas

Os sete fundadores da Ordem dos Servitas (A12)
17 de fevereiro
Localização: Itália
Os sete fundadores da Ordem dos Servitas

Nos séculos XII e XIII, desenvolveram-se na Europa “comunas” de adeptos das artes liberais, nas quais o gosto pelos prazeres, luxo, ganância e domínio inevitavelmente cresceu, gerando conflitos e contrastando com os valores cristãos então vigentes na sociedade. A reação de muitos leigos foi unirem-se em confrarias de penitência ou movimentos propondo uma vivência radical do Evangelho, como por exemplo os Humilhados, os Valdenses, os Pobres Lombardos, mas principalmente as iniciativas de São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão.

Na Itália, em Florença, surgiram os Laudesi, que se encontravam para, diante de uma imagem de Nossa Senhora, rezar e a Ela cantar louvores. Dentre os participantes havia os que mais seriamente queriam se comprometer com uma renovação da vida cristã, através de obras de caridade e de penitência. Sete amigos das mais aristocráticas e tradicionais famílias florentinas, da confraria chamada Associação-mor de Santa Maria, decidiram por este caminho: Amadeo degli Amidei, Manetto dell’Antella, Giovanni Buonagiunta, Alessio Falconieri, Buonfiglio Monaldi, Gherardion Sostegni e Ricovero dei Ugoccioni.

Eram todos prósperos comerciantes de lã, mas deixaram os negócios e venderam todos os seus bens, deixando o suficiente para suas famílias e distribuindo o resto aos pobres. Em seguida mudaram-se para uma casa abandonada na periferia da cidade, mais tarde conhecida como Santa Maria de Caffagio. Ali viviam em perfeita comunhão, numa vida austera dedicada à oração, contemplação, penitência, mendicância e obras de caridade junto aos pobres e doentes.

O bispo de Florença abençoou a iniciativa e solicitou que o governo municipal respeitasse a atuação daqueles “homens de paz”, um testemunho fundamental: a situação social era de guerras, e intrigas entre os guelfos, partidários do Papa, e os gibelinos, partidários do Império Germânico.

Nesta casa, logo acorreram muitas pessoas, animadas com o seu exemplo. Nasceu assim a Ordem dos Servos de Maria, ou Servitas, com hábito negro em sinal de luto, em devoção à Nossa Senhora das Dores ao pé da Cruz. Procurando uma situação mais solitária e contemplativa, eles se mudaram em 1245 para o Monte Senário, numa casa rústica com um oratório dedicado a Maria. Mas mesmo a 18 quilômetros da cidade, as visitas continuavam, e muitos queriam participar da comunidade (dentre eles o futuro São Filipe Benício, que viria a ser o grande defensor, organizador e propagador da Ordem).

A partir de então, novos conventos foram sendo criados. Dos sete fundadores, apenas Alessio não foi ordenado sacerdote; foi também o último a falecer, com 110 anos. Foram canonizados juntos, como se fossem um só, algo único na História da Igreja. Suas cinzas estão na mesma urna em Senário.

 Em 1267, São Filipe Benício, então Prior Geral, reformulou os Estatutos da Ordem, transformando-a em ordem mendicante. Junto com Santa Juliana Falconieri, sobrinha de Alessio, criou a Ordem Terceira da Congregação dos Servitas.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

O que mais imediatamente chama a atenção nos santos fundadores dos Servitas é a sua profunda amizade, enraizada no Evangelho e na devoção a Maria. Sem dúvida a amizade é um dom de Deus, e os Sete quiseram demonstrá-lo cabalmente com o seu exemplo de vida. Esta perfeita amizade é bem expressa pelo número sete, que na Bíblia indica perfeição... Mas o seu legado vai muito além: demonstra como a verdadeira mentalidade católica torna possível que comerciantes ricos tornem-se mendicantes, por não se apegarem às riquezas materiais, e valorizarem corretamente o tesouro da caridade, multiplicado infinitamente no Céu; e como esta mesma mentalidade levou, numa época onde o mundo civilizado era cristão, à reação espontânea não apenas dos Sete, mas de muitos cidadãos por toda a Europa, a combater as guerras de então e o surgimento das “comunas” liberais, de estilo mundano, com o empenho na formação de grupos, confrarias e movimentos voltados para uma vivência mais radical dos ensinamentos da Igreja. Hoje também vivemos muitas guerras e a ameaça de “comunas” mundanas, e também surgiram muitos movimentos católicos. Que não apenas estes movimentos, mas toda a Igreja, se dediquem a viver melhor o Evangelho, pois esta é a garantia única da boa – e possível – transformação da sociedade, a partir do revigoramento da santidade, pessoal e comunitária.

Oração:

Deus Pai, que quereis Vossos filhos numa única família de mesmo Sangue, o de Cristo, concedei-nos vivenciar a amizade que juntou os Sete Santos Fundadores dos Servitas aos pés da Cruz, com Maria; por sua intercessão, sabermos nos desapegar dos bens materiais para viver a riqueza da caridade para com os irmãos; e pelo exemplo deles reagir com os ensinamentos evangélicos às guerras, tentações, pecados e perseguições deste mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora, que no cenário do Monte Gólgota venceram as dores pelo Amor e levaram à perfeição o seguimento da Vossa vontade. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Solidão como oportunidade de crescimento

Antonio Guillem | Shutterstock

Cibele Battistini - publicado em 14/02/25

Este artigo explora como a fé pode ajudar a transformar a solidão em um espaço de crescimento espiritual e autoconhecimento.

A solidão é uma experiência universal que pode afetar pessoas de todas as idades e origens. Muitas vezes, ela é acompanhada de sentimentos de tristeza, isolamento e desespero. No entanto, a fé pode ser uma poderosa aliada para lidar com esses sentimentos, oferecendo consolo, propósito e um sentido de pertencimento.

1 - Compreendendo a Solidão

A solidão pode ser definida como a sensação de estar desconectado de outras pessoas, mesmo quando se está fisicamente presente. Essa desconexão pode levar a um estado de tristeza e desânimo. É importante reconhecer que a solidão não é apenas a ausência de companhia, mas também uma falta de conexão emocional e espiritual.

2 - A Fé como Conexão

A fé oferece uma conexão com algo maior, seja uma divindade, uma comunidade religiosa ou princípios espirituais. Essa conexão pode servir como um antídoto para a solidão, proporcionando um senso de pertencimento e propósito. Muitas tradições religiosas enfatizam a importância da comunidade e do apoio mútuo, o que pode ajudar a mitigar a solidão.

3 - A Oração e a Meditação

Práticas como a oração e a meditação podem ser especialmente úteis para aqueles que se sentem solitários. Essas atividades permitem um diálogo íntimo com Deus ou uma reflexão interna, criando um espaço seguro para expressar sentimentos e preocupações. A meditação, por exemplo, pode ajudar a acalmar a mente e a encontrar paz interior, mesmo em momentos de solidão.

4 - Solidão como Oportunidade de Crescimento

A solidão pode ser vista como uma oportunidade para o crescimento espiritual. Momentos de introspecção podem levar a uma maior compreensão de si mesmo e da própria fé. Em vez de temer a solidão, é possível abraçá-la como um tempo para refletir sobre a vida, os valores e a espiritualidade.

5 - A Comunidade de Fé

Participar de uma comunidade religiosa pode ser uma forma eficaz de combater a solidão. Grupos de oração, estudos bíblicos e atividades sociais promovem a interação e o apoio mútuo. Essas experiências podem criar laços significativos e ajudar a construir relacionamentos que oferecem suporte emocional.

6 - A Esperança em Tempos Difíceis

A fé também traz esperança. Em momentos de solidão, a crença em um futuro melhor ou em um propósito divino pode fornecer conforto. Essa esperança pode ser um farol em meio à escuridão, lembrando que a solidão é frequentemente temporária e que há um caminho para a reconexão.

7 - A Importância da Reflexão

A solidão pode proporcionar um espaço para a reflexão sobre a própria vida e a fé. Perguntas profundas, como "Qual é o meu propósito?" ou "Como posso servir aos outros?", podem surgir em momentos de solidão, levando a um crescimento espiritual e a uma vida mais significativa.

Conviver com a solidão pode ser desafiador, mas a fé oferece ferramentas valiosas para enfrentar essa experiência. Através da oração, da meditação, da participação em comunidades de fé e da reflexão, é possível transformar a solidão em um tempo de crescimento espiritual. Em última análise, a fé pode não apenas ajudar a aliviar a solidão, mas também enriquecer a vida, proporcionando um sentido de propósito e conexão que transcende as circunstâncias.

solidão, quando abordada com fé, pode se tornar um caminho para a descoberta e a renovação, lembrando-nos de que nunca estamos verdadeiramente sozinhos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/02/14/solidao-como-oportunidade-de-crescimento

Efatá: abre-te ao milagre de Deus

Efatá -"Abre-te!" (Catequizar)

EFATÁ: ABRE-TE AO MILAGRE DE DEUS

Dom Jailton de Oliveira Lino
Bispo de Teixeira de Freitas-Caravelas (BA)

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, 

A Palavra de Deus nos conduz hoje ao encontro de Jesus, que, ao atravessar a região da Decápole, se depara com um homem surdo e com dificuldades para falar. Diante dele, Cristo age com compaixão e amor: leva-o para um lugar à parte, toca seus ouvidos e sua língua, olha para o céu e proclama a palavra transformadora: “Efatá!” – “Abre-te!” (Mc 7,34). 

Este gesto de Jesus não é apenas um milagre físico, mas um sinal profundo daquilo que Ele deseja realizar em cada um de nós. Quantos hoje vivem espiritualmente surdos, incapazes de ouvir a voz de Deus? Quantos, mesmo podendo falar, encontram-se mudos diante das injustiças, do sofrimento do próximo, da necessidade de proclamar a verdade e a esperança? 

O barulho do mundo, a pressa do dia a dia e as preocupações do coração muitas vezes nos tornam insensíveis ao chamado de Deus. Como aquele homem da Decápole, precisamos ser conduzidos até Jesus para que Ele nos toque e nos cure. E Ele o faz com ternura, levando-nos para um encontro pessoal, longe das distrações, onde Sua graça pode agir em nós com plenitude. 

“Efatá!” – Esta palavra ressoa até hoje como um convite para abrirmos nossos corações à escuta do Senhor. É um chamado para deixarmos de lado os medos que nos paralisam, para libertarmos nossa voz e anunciarmos com coragem o amor de Deus. 

O Evangelho nos recorda que, diante do milagre, as pessoas não conseguiram se conter e espalharam a notícia, mesmo após a recomendação de Jesus para que permanecessem em silêncio. Isso porque, quando experimentamos verdadeiramente o toque do Senhor, torna-se impossível não testemunhar Suas maravilhas. 

Que esta Palavra nos inspire a buscar essa abertura interior, permitindo que Cristo cure nossa surdez espiritual e nos dê coragem para proclamar a fé com nossas palavras e ações. Que Maria, aquela que guardava tudo no coração e ouvia atentamente a voz de Deus, nos ensine a escutar e a responder com fidelidade ao chamado do Senhor. 

Efatá! Abre-te ao amor de Deus e deixa-te transformar por Ele. 

Que o Senhor nos abençoe e nos conduza sempre! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

VI Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Que seria de nossa vida, perguntamos? O Senhor que está presente em nossa existência! Ele é a nossa segurança!

Padre Cesar Augusto dos Santos, SJ – Vatican News

A primeira leitura nos fala de quem é feliz em optar por confiar em Deus e da infelicidade e frustração daquele que confia no Homem.

Confiar em Deus supõe muita fé e , ao mesmo tempo, um coração que use a memória e a inteligência para verificar o quanto Deus fez por cada um de nós. À medida em que vamos repassando nossa vida, vamos reconhecendo a ação providente e generosa do Senhor. Quem seríamos nós sem Seu amor, sem seu carinho de Pai, exclamamos! Que seria de nossa vida, perguntamos? O Senhor que está presente em nossa existência! Ele é a nossa segurança!

Diante de uma multidão de pessoas desvalidas, famintas, doentes físicos e psíquicos, economicamente miseráveis, o Senhor proclama em alto e bom som que os pobres que estão diante dele são bem-aventurados, do mesmo modo os famintos, os que choram, os odiados e marginalizados. Ao mesmo tempo o Senhor proclama malditos os ricos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF