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domingo, 23 de fevereiro de 2025

Reflexão para o VII Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Jesus nos recomenda que sejamos misericordiosos, como o Pai celeste é misericordioso. A identidade do cristão é o amor.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Celebramos neste domingo o sétimo do Tempo Comum. A primeira parte do Tempo Comum vai até a semana que vem, quando, na Quarta-feira de Cinzas, 5 de março, tem início o tempo da Quaresma.

Estamos próximos de finalizar o segundo mês do ano civil e podemos nos perguntar: o que temos feito até agora? O tempo da Quaresma se aproxima; é momento de rever nossa vida e buscar um recomeço. Se ainda precisamos mudar algo, que comecemos a partir deste terceiro mês do ano, que se inicia no próximo sábado, dia 1º. Aproveitemos o tempo do jubileu que vivemos.

Participemos em família da Santa Missa, pois família que reza unida permanece unida. Se ensinarmos nossos filhos e netos a participarem da missa desde pequenos, eles se acostumarão com o ambiente da Igreja e sentirão gosto pela oração. No Evangelho de hoje, Jesus nos ensina a amar a todos, inclusive aqueles que são nossos inimigos. Por isso, se temos alguém que consideramos inimigo ou de quem não gostamos, não devemos desejar o mal a essa pessoa nem pagar o mal com o mal, mas sim pagar o mal com o bem, pois foi assim que Jesus nos ensinou.

Estamos no Ano Jubilar da Esperança, um ano de graça em que recordamos os dois mil e vinte e cinco anos do nascimento de Jesus. Ao longo deste ano, somos convidados a confiar na misericórdia do Senhor, e, no Evangelho de hoje, Jesus nos ensina a sermos misericordiosos do mesmo modo que o Senhor é misericordioso conosco. Não cabe a nós julgar ninguém nem apontar o dedo condenando. Somente Deus julgará os atos de cada um.

A primeira leitura da missa deste domingo é do Primeiro Livro de Samuel (1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23). Nesse trecho, acompanhamos a decisão de Davi de não se vingar de seu “inimigo” Saul. Mesmo tendo a oportunidade de matá-lo, Davi desiste de fazê-lo. Essa leitura está em sintonia com o que encontramos no Evangelho, quando Jesus ensina que não devemos pagar o mal com o mal. Davi atravessou para o outro lado e parou num alto monte, ao longe, deixando um grande espaço entre eles. Então, ele afirmou que estava com a lança do rei e que alguém de seu exército fosse buscá-la. “O Senhor retribuirá a cada um conforme a sua justiça e fidelidade.”

Por isso, meus irmãos, não estendamos a mão contra ninguém e não paguemos o mal com o mal, mas sim com o bem. Rezemos por nossos inimigos, pois o Senhor, justo juiz, nos retribuirá de acordo com nossas atitudes.

O Salmo Responsorial é o 102(103), cujo refrão diz: “O Senhor é bondoso e compassivo.” Todos nós devemos ser bondosos e compassivos com os outros, à semelhança do Senhor, ou seja, perdoando aquilo que o próximo fez contra nós, do mesmo modo que Deus nos perdoa.

A segunda leitura da missa deste domingo é da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,45-49). Nesse trecho, Paulo faz uma comparação entre o primeiro Adão e o segundo Adão. O primeiro Adão foi tirado da terra e, por meio dele, o pecado entrou no mundo. Já o segundo Adão veio do céu, foi revelado a nós pelo Espírito Santo e, através de seu sangue derramado na cruz, perdoa nossos pecados. O homem terreno é o primeiro Adão, e Jesus é o segundo Adão, o homem espiritual.

O Evangelho desta missa de domingo é de Lucas (Lc 6,27-38). Nele, encontramos a síntese de tudo o que já dissemos até aqui e que foi expresso na primeira leitura. Jesus nos orienta a amar nossos inimigos e a rezar por eles. Se alguém fez algo contra nós, não devemos retribuir na mesma moeda, mas sim orar por essa pessoa e seguir nossa vida, pois a recompensa que receberemos será muito maior.

Precisamos colocar em prática aquilo que rezamos no Pai-Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” Ou seja, se pedimos o perdão de nossas faltas a Deus, também devemos perdoar aqueles que nos ofenderam. Por mais difícil que seja, precisamos agir conforme Jesus nos orienta. Se nos derem uma bofetada numa face, devemos oferecer a outra. Jesus nos ensina a amar a todos, pois o amor vem de Deus.

Jesus nos recomenda que sejamos misericordiosos, como o Pai celeste é misericordioso. A identidade do cristão é o amor. Se somos verdadeiramente discípulos de Jesus, devemos amar a todos, inclusive aqueles que nos querem mal. Como já dissemos, estamos no Ano Santo Jubilar da Misericórdia; portanto, devemos pedir a Deus que nos conceda sua misericórdia e, a exemplo d’Ele, sermos misericordiosos com o próximo.

Assim, conforme disse Jesus, não devemos medir nem julgar ninguém, pois, com a mesma medida com que julgarmos, seremos julgados. Aquilo que hoje apontamos no outro pode ser apontado contra nós no futuro. Vivamos bem com Deus e com o próximo, peçamos o perdão e ofereçamo-lo da mesma forma, pois assim age o verdadeiro discípulo de Jesus.

Celebremos com alegria este sétimo domingo do Tempo Comum e nos preparemos para finalizar mais um mês e iniciar o próximo com o início da Quaresma e a preparação para a Páscoa. E não nos esqueçamos de ser misericordiosos, do mesmo modo que o Senhor é misericordioso conosco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A justiça social é uma exigência do Evangelho

Justiça Social e Fé (Catholicus)

A JUSTIÇA SOCIAL É UMA EXIGÊNCIA DO EVANGELHO 

Dom Itacir Brassiani
Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

A ONU estabeleceu 20 de fevereiro como Dia Mundial da Justiça Social. Como ocorre com outras datas, ninguém se ilude imaginando que basta dedicar um dia no calendário anual para que a justiça social vigore como planta robusta e frutuosa. A definição de uma data tem o papel de trazer à pauta uma questão vital que corre o risco de ser esquecida. 

Causa-me tristeza constatar que ainda há cristãos que se ofendem ou irritam quando suas igrejas põem a Justiça Social na sua pauta pastoral ou espiritual. Para eles, essa é uma questão que não deveria sair da esfera política ou jurídica, e a Igreja deveria se ocupar de questões menos polêmicas e de caráter mais espiritual ou privado. 

Ocorre que as igrejas cristãs, especialmente a Igreja católica romana, desenvolve uma Doutrina Social há mais de 130 anos (DSI). Este ensino tem unidade e coerência, e decorre da Fé na salvação integral da pessoa humana e da criação; da Esperança em uma Justiça plena; e da Caridade que considera que todas as pessoas são verdadeiramente irmãs. 

Acolhendo o plano de Deus sobre a História, a Igreja propõe a todos os fiéis “um humanismo integral e solidário, capaz de animar uma nova ordem social, econômica e política”. Esta “nova ordem social” tem seu fundamento na dignidade incondicionada e na liberdade inegociável da pessoa humana, e se realiza na justiça e na solidariedade (cf. CDSI, Compêndio de Doutrina Social da Igreja, 19). 

Com sua doutrina social, “a Igreja atualiza a mensagem de libertação e de redenção de Cristo, o Evangelho do Reino”.Anunciando o Evangelho, ela testemunha e proclama a dignidade própria e vocação à comunhão dos homens e mulheres concretos, e ensina-lhes as exigências e os caminhos da Justiça e da Paz (cf. CDSI, 63). 

Ninguém pode ignorar que existem laços profundos entre o anúncio do Evangelho e a promoção humana.  Como a Justiça Social está mais ligada à imagem cristã de Deus que à filosofia política, boa parte do ensinamento social da Igreja é uma resposta da fé aos problemas sociais mais urgentes de cada época da história (cf. CDSI, 66; 77; 81). 

A Justiça é um valor intrinsicamente cristão, e consiste no reconhecimento do outro como pessoa. “A plena verdade sobre o homem” pede a superação de uma visão contratualista da Justiça (dar a cada um o que a lei estabelece) por uma visão cristã de Justiça, no horizonte da solidariedade e do amor (dar a cada um o que ele necessita) (cf. CDSI, 201). 

Essa doutrina tem consequências nos vários campos da vida social. São João Paulo II, por exemplo, afirma: “Se a paz é fruto da justiça, hoje pode-se dizer que a paz é o fruto da solidariedade, pois será alcançada mediante a realização da justiça social e internacional”. No campo da produção e do consumo, todas as pessoas “o direito de usufruir das condições de vida social criadas pelo trabalho humano” (cf. CDSI, 102; 167) 

Nesse mesmo horizonte, “a prática da caridade não pode se reduzir à esmola”, e “deve dar atenção à dimensão social e política do problema da pobreza”. A propósito, São Gregório Magno diz: “Quando damos aos pobres aquilo que eles necessitam, não estamos dando, mas devolvemos o que é deles; é um dever de justiça, e não um ato de caridade”. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

As palavras dos Papas sobre o diaconato, a alegria e o serviço

Caminho para os peregrinos que passam pela Porta Santa  (AFP or licensors)

Por ocasião do Jubileu dos Diáconos, oferecemos algumas reflexões dos Papas sobre esse ministério que contribui para a santificação da comunidade cristã em comunhão com o bispo e os sacerdotes.

Amedeo Lomonaco – Vatican News

O diácono é colocado “a serviço do bispo e dos presbíteros”. Pode proclamar o Evangelho e dirigir a oração da assembleia. O Concílio Vaticano II definiu o diaconato como um “grau próprio e permanente da Hierarquia”. A Constituição Dogmática Lumen Gentium, depois de descrever a função dos presbíteros como participação na função sacerdotal de Cristo, ilustra o ministério dos diáconos, “sobre os quais são impostas as mãos não em ordem ao sacerdócio, mas ao ministério”.

“Recordemos, por favor, que sempre para os discípulos de Jesus amar é servir e servir é reinar. O poder está no serviço, e em nada mais”, a frase do Papa Francisco aos Diáconos da ...

A Igreja constitutivamente diaconal

Os Pontífices, em várias ocasiões, se detiveram sobre o serviço oferecido pelos diáconos. Ao se encontrar com os diáconos permanentes da diocese de Roma em 2021, o Papa Francisco sublinhou que “o diaconato, seguindo o caminho elevado do Concílio, conduz-nos assim ao centro do mistério da Igreja”:

Tal como falei de uma “Igreja constitutivamente missionária” e de uma “Igreja constitutivamente sinodal”, assim digo que devemos falar de uma “Igreja constitutivamente diaconal”. Se esta dimensão de serviço não for vivida, todos os ministérios se esvaziam a partir de dentro, tornam-se estéreis, não produzem frutos. E pouco a pouco mundanizam-se. Os diáconos recordam à Igreja que aquilo que Santa Teresinha descobriu é verdade: a Igreja tem um coração queimado pelo amor. Sim, um coração humilde que palpita de serviço. Os diáconos lembram-nos isto quando, como o diácono São Francisco, trazem aos outros a proximidade de Deus sem se imporem, servindo com humildade e alegria. A generosidade de um diácono que se dedica sem procurar as primeiras filas perfuma de Evangelho, conta a grandeza da humildade de Deus que dá o primeiro passo — sempre, Deus dá sempre o primeiro passo — para ir ao encontro inclusive daqueles que lhe viraram as costas.

Os serviços realizados pelos diáconos

O Papa Francisco, na mesma ocasião, também nos recorda que devemos prestar atenção a outro aspecto: “A diminuição do número de sacerdotes levou a um compromisso predominante dos diáconos com tarefas de substituição que, por muito importantes que sejam, não constituem a natureza específica do diaconato. São tarefas de substituição”. Em 2006, o Papa Bento XVI também se deteve no serviço peculiar dos diáconos. Encontrando-se com os diáconos permanentes da diocese de Roma, ele recordou os serviços prestados “com grande generosidade” em numerosas comunidades paroquiais:

Ensinando o Evangelho de Cristo, que vos foi confiado pelo Bispo no dia da vossa ordenação, vós ajudais os pais que pedem o batismo para os seus filhos, a aprofundarem o mistério da vida divina que nos foi doada e o da Igreja, a grande família de Deus, enquanto aos noivos que desejam celebrar o sacramento do matrimônio, anunciai a verdade sobre o amor humano, explicando desta forma que "o matrimônio baseado num amor exclusivo e definitivo se torna o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e vice-versa". Muitos de vós desempenhais uma atividade de trabalho nos escritórios, nos hospitais e nas escolas: em tais ambientes, sois chamados a ser servidores da Verdade. Anunciando o Evangelho, podereis transmitir a Palavra capaz de iluminar e dar significado ao trabalho do homem, ao sofrimento dos doentes, e ajudareis as novas gerações a descobrir a beleza da fé cristã.

A contribuição do diácono casado

A contribuição que um diácono casado faz para a transformação da vida familiar também é importante. Isso foi destacado pelo Papa João Paulo II em 1987, quando se dirigiu aos diáconos permanentes nos Estados Unidos.

O diácono e sua esposa, tendo entrado em uma comunhão de vida, são chamados a ajudar e servir um ao outro (cf. Gaudium et Spes, 48). Sua colaboração e unidade são tão íntimas no sacramento do matrimônio, que a Igreja exige o devido consentimento da esposa antes que o marido possa ser ordenado diácono permanente... O enriquecimento e o aprofundamento do amor sacrificial e recíproco entre marido e mulher constituem talvez o envolvimento mais significativo da esposa de um diácono no ministério público de seu marido na Igreja (Diretrizes, NCCB, 110). Especialmente nos dias de hoje, esse não é um serviço de pouco valor. Em particular, o diácono e sua esposa devem ser um exemplo vivo de fidelidade e indissolubilidade no matrimônio cristão perante um mundo que sente uma profunda necessidade desses sinais. Ao enfrentar os desafios da vida conjugal e as exigências da vida cotidiana com espírito de fé, eles fortalecem a vida familiar não apenas da comunidade eclesial, mas da sociedade como um todo.

A caminho de uma nova meta

Em seu encontro em 1977 com os diáconos do Seminário Maior de Milão, o Papa Paulo VI se deteve na alegria que espera os diáconos chamados a percorrer o caminho do sacerdócio.

Como diáconos, vocês já sentem a alegria de estarem agora associados ao verdadeiro “serviço” da Igreja. Mas, neste momento, suas mentes estão, sem dúvida, voltadas para aquela meta ainda mais elevada, agora próxima, para a qual Deus os chamou a fim de torná-los, por meio do Sacramento da Ordem, seus ministros, os arautos do Evangelho de Jesus Cristo, os dispensadores de seu Sangue e de sua Palavra. Faltam palavras para exprimir toda a grandeza e a responsabilidade dessa missão; uma missão que constitui a confirmação sempre viva da grande promessa do Senhor: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Sim, os sacerdotes são o sinal da continuidade e da presença de Cristo, Mestre e Pastor, entre os homens, e manifestam a vitalidade e a perpetuidade da Igreja. Como disse o Concílio Vaticano II, “sob a autoridade do Bispo, santificam e governam a porção do rebanho do Senhor a si confiada, tornam visível, no lugar em que estão, a Igreja universal e prestam uma grande ajuda para a edificação de todo o Corpo de Cristo”.

Neste Ano Santo da Esperança, se abre nestes dias um evento jubilar dedicado ao diaconato. De 21 a 23 de fevereiro, a Igreja celebra o Jubileu dos Diáconos, ministros que se colocam no seguimento de Cristo, a serviço da Igreja e dos últimos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Policarpo

São Policarpo (Cruz Terra Santa)
23 de fevereiro
São Policarpo

Origens

Policarpo, conhecido também como São Policarpo de Esmirna, foi discípulos de São João Evan­gelista. Ainda no tempo dos Apóstolos, foi nomeado bispo da cidade de Esmirna, na atual Turquia. O grande Santo Irineu, bispo de Lyon, foi seu discípulo, continuador e biógrafo. Policarpo nasceu numa família cristã, rica e nobre, no ano 69, em Esmirna. Foi discípulo de São João e teve a graça de conhecer outros apóstolos do grupo dos doze, que conviveram com Jesus. Batizado, tornou-se exemplo íntegro de fé e vida, respeitado até pelos adversários.

Bispo de Esmirna, amigo de santos

Sua dedicação e exemplo de santidade levaram São João Evangelista a sagra-lo bispo de Esmirna. O bispo Policarpo foi amigo pessoal de Santo Inácio Antioquia. Este mártir esteve em sua residência quando caminhava para o martírio em Roma, no ano 107. Inácio escreveu cartas a Policarpo e à Igreja de Esmirna antes de ser entregue às feras no Coliseu Romano. Nessas cartas, ele enaltece as qualidades de Policarpo, zeloso bispo.

Divergências e união

No tempo do Papa Aniceto, São Policarpo visitou a cidade de Roma, como representante das igrejas da Ásia. Sua missão era discutir com os coirmãos a mudança da celebração da Páscoa, que, então, era comemorada em dias diferentes no Ocidente e no Oriente. Apesar de, naquela época, não chegarem a um acordo, despediram-se celebrando a liturgia juntos, numa demonstração de união na fé, que não foi abalada pelas divergências em questões de liturgia.

Pastor

São Policarpo foi um bispo menos interessado na administração eclesiástica. Sua vocação era a de Pastor. Sua alegria era fortalecer a fé das ovelhas de seu rebanho. Neste sentido, ele escreveu inúmeras cartas. Infelizmente, porém, somente uma ficou preservada. Esta foi enviada aos filipenses, em 110. Nela, São Policarpo exalta a fé em Jesus Cristo, fé que precisa ser confirmada no trabalho árduo, diário e no dia a dia dos cristãos. Ela também cita trechos da famosa Carta de São Paulo aos Filipenses e os Santos Evangelhos. Policarpo repetiu ainda nesta carta as muitas e preciosas informações que ele próprio recebera diretamente dos apóstolos, especialmente de São João Evangelista. Por isso, a Igreja concedeu a ele o título de "Padre Apostólico". Assim, aliás, foram chamados os primeiros discípulos dos doze apóstolos.

Mártir

Durante a dura perseguição do imperador Marco Aurélio, São Policarpo, em oração, teve uma visão profética acerca do martírio que o aguardava. Tal visão aconteceu três dias antes de ele ser preso. Por isso, ele avisou aos irmãos na fé que seria queimado vivo. Assim, estando ele em oração, foi preso pelas forças do imperador romano e levado a julgamento.

Testemunha fiel

São Policarpo foi julgado por um pro cônsul chamado Estácio Quadrado. Este insistia raivosamente para que o santo renegasse a Jesus Cristo. Policarpo, porém, disse em alta voz no tribunal: "Eu tenho servido a Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Redentor? Ouça bem claro: eu sou cristão"! Por isso, ele foi condenado à morte pelo fogo. Ele próprio fez questão de subir os degraus para a fogueira. De lá, gritou para todo o povo que assistia seu martírio: "Sede bendito para sempre, ó Senhor; que o vosso nome adorável seja glorificado por todos os séculos".

A profecia não se cumpriu

De certa forma, porém, a profecia de São Policarpo não se cumpriu exatamente como ele previra. Os relatos narram que, mesmo com toda a intensidade da fogueira à sua volta e a seus pés, o fogo não lhe fez mal algum. Impressionados, os carrascos decidiram matá-lo à espada. Somente depois de morto seu corpo foi queimado. Nesse momento ele exalou um forte aroma de pão cozido. Os discípulos de São Policarpo recolheram o que restou de seus ossos e depositaram numa sepultura digna. Seu martírio foi descrito um ano após sua morte, numa carta de 23 de fevereiro de 156. A carta foi enviada pelos cristãos de Esmirna aos irmãos da igreja de Filomélio. Esta carta é, aliás, o registro mais antigo que existe do martirológio cristão.

Oração a São Policarpo de Esmirna

“Ó Deus, que destes a São Policarpo a graça de conhecer-vos tão profundamente a ponto de entregar sua vida pelo testemunho do vosso Santo Nome, dai-nos, por sua intercessão, o amor e a coragem para testemunharmos a fé onde quer que seja preciso, para a glória do vosso Nome, amém. São Policarpo, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-sao-policarpo/317/102/

sábado, 22 de fevereiro de 2025

CRISTANDADE: A oração de Santo Afonso Maria de Ligório pela visita ao Santíssimo Sacramento

Gaetano Andrisani, Uma oração de Santo Afonso (Ensaios históricos de Caserta 19), Caserta 2008, 158 pp., | 30Giorni

Arquivo 30Giorni n. 02/03 - 2008

A oração de Santo Afonso Maria de Ligório pela visita ao Santíssimo Sacramento.

Crítica de Don Giacomo Tantardini

«Na hora das vésperas entrei numa igreja deste mundo. Uma oração que conheço estava sendo recitada ali, diante de Jesus Eucarístico exposto. Era uma oração da minha infância: percebi que a lembrava quase que inteiramente de cor." Estas são as palavras do escritor e jornalista Gaetano Andrisani, de oitenta anos, e a oração recitada naquela igreja foi escrita há mais de dois séculos por Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787). Foi justamente uma visita casual à noite em San Nilo, uma paróquia na área de Gaeta, que deu origem ao livro Una preghiera di sant'Alfonso , que Andrisani concebeu para celebrar, como ele anuncia na epígrafe, a conclusão de seus "quatro quintos de um século". O autor oferece suas "reflexões pessoais", seus "sentimentos e aspirações" decorrentes da leitura de uma oração que "desde que foi escrita, adaptada à linguagem e aos usos atuais, mas sempre intacta em sua estrutura e conteúdo [...], foi repetida e se repete infinitas vezes em todas as igrejas do mundo".

Composta por um "santo das minhas terras, um grande santo, a quem com seu decreto de 11 de março de 1871 Pio IX conferiu merecidamente o título de Doutor da Igreja", a oração, cujo texto é relatado na íntegra no livro, foi dividida em trinta partes, trinta frases que dão título a outros tantos capítulos com reflexões do autor. Os comentários de Andrisani também são pontuados por memórias pessoais. Como a tocante, apenas sugerida, de Montini, que o autor, quando jovem, teve a oportunidade de conhecer: «Giovan Battista Montini, sempre problemático e intenso, então substituto na Pontifícia Secretaria de Estado, depois Paulo VI, ditou-nos meditações na Domus Pacis, durante os três dias dos presidentes diocesanos da Juventude Católica organizada...».

Trinta capítulos, foi dito. Provavelmente o número trinta, como múltiplo de três, não é acidental, pois o próprio Andrisani identifica nesta oração uma estrutura ternária, «na qual não nos desagrada ver a devoção do santo à Trindade: três são as ações do Senhor que permanece noite e dia no sacramento: ele espera, ele chama, ele acolhe. Há três atitudes básicas da pessoa que reza: eu creio em você, eu te adoro, eu te agradeço. Três declarações: Eu te saúdo, eu te amo, eu te dou. [...] Três atos finais: eu me uno, eu ofereço, eu rezo."

Para realizar este trabalho sobre uma oração “ditada pelo coração” e cheia “de aberturas caridosas para com os outros”, Andrisani consultou muitos textos, especialmente o Catecismo da Igreja Católica e “ Jesus de Nazaré de Joseph Ratzinger, nosso amado e estimado Papa Bento XVI”. O livro é especialmente valioso porque pode ser um convite para repetir esta bela oração.

Justamente por isso, decidimos publicar abaixo o discurso na íntegra, dividido em trinta frases e, ao lado de algumas delas, um pensamento do autor. 

1. Meu Senhor, Jesus Cristo, Tu és meu Senhor, meu tudo. Meu Deus e tudo . A posse indicada pelo adjetivo pressupõe uma escolha, que certamente é minha no sentido de que é uma aceitação consciente da sujeição, mas é também do Senhor que lhe dá confiança e crédito. Você não me escolheu, mas eu escolhi você 

2. que pelo amor que tendes aos homens, Bento XVI, na sua primeira carta encíclica, precisamente Deus caritas est , aborda a diferença entre “eros” e “ágape” e afirma que o eros de Deus pelo homem é ao mesmo tempo totalmente ágape , não só porque é dado de forma totalmente gratuita, sem qualquer mérito prévio, mas também porque é um amor que perdoa. 

3. Permaneceis noite e dia neste Sacramento, 

4. Cheio de Piedade e Amor, 

5. Esperando, chamando e acolhendo todos aqueles que vêm visitar-vos, 

6. Creio que estais presente no Sacramento do Altar; O Papa Montini escreve: "Cremos em tudo o que está contido na Palavra de Deus, escrita e transmitida, e que é proposto pela Igreja como divinamente revelado." 

7. Eu te adoro do abismo do meu nada. A expressão usada por Alphonsus Maria de' Liguori, o abismo do meu nada, é indicativa da virtude do santo certamente, mas ainda mais da altura de sua oração de adoração. A humildade é o fundamento da oração, mas também é a disposição necessária para receber livremente o dom da oração. Agostinho de Tagaste diz que o homem é um mendigo de Deus. 

8. e eu te agradeço por todas as graças que me deste; 

9. especialmente por ter-te entregado a mim neste Sacramento, para permanecer dia e noite assim escondido entre nós." 

10. por me ter dado a vossa Santíssima Mãe Maria como minha Advogada, 

11. e por me ter chamado para vos visitar nesta igreja. 

12. Hoje saúdo o teu Coração amantíssimo, e pretendo fazê-lo por três motivos. A indiferença religiosa é a praga do nosso tempo: certamente é melhor ter alguém que fale contra ela do que alguém que não tenha nenhum interesse no assunto. 

13. Primeiro, em agradecimento por este grande presente. 

14. Em segundo lugar, para compensá-lo por todas as injúrias que você recebeu de todos os seus inimigos neste Sacramento. 

15. Em terceiro lugar, pretendo com esta visita adorar-te em todos os lugares da terra onde és menos venerado e mais abandonado no sacramento. 

16. Meu Jesus, eu te amo de todo o meu coração.
Santo Agostinho diz: viver bem nada mais é do que amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as ações. 

17. Arrependo-me de ter tantas vezes no passado desgostado de tua infinita bondade. 

18. Proponho, com sua graça, não ofendê-lo mais no futuro. Depois, há a graça de Deus que Santo Afonso invoca e que, santificando e divinizando, dom gratuito que Deus faz da sua vida, é infundida na nossa alma pelo Espírito Santo para curá-la do pecado e santificá-la. 

19. E agora, miserável como sou, consagro-me inteiramente a ti. 

20. Dou-te e renuncio a ti toda a minha vontade, afeições, desejos e todas as minhas coisas. 

21. De hoje em diante, você pode fazer comigo e com minhas coisas o que quiser; Tudo o que você gosta não pode deixar de me agradar, porque você é bondade infinita, a plenitude do ser, a alegria da existência. 

22. Só te busco e quero o teu santo amor, 

23. perseverança final, A oração, porém, é indispensável para a salvação. É o próprio Santo Afonso quem escreve: quem reza certamente é salvo, quem não reza certamente é condenado. 

24. e o perfeito cumprimento da tua vontade. 

25. Recomendo-vos as almas do purgatório, especialmente as mais devotas do Santíssimo Sacramento e de Maria Santíssima. 

26. Recomendo também a todos os pobres pecadores. Quem é que pecou? Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra. Mulher, vai e não peques mais. Que seus pecados sejam perdoados. A misericórdia de Deus é infinita e depositamos toda a nossa confiança nela. 

27. Finalmente, meu querido Salvador, uno todos os meus afetos aos afetos do teu amantíssimo Coração, 

28. e assim unidos os ofereço ao teu Eterno Pai: 

29. Rogo-lhe em teu nome que os aceite e os conceda por teu amor. A santa humanidade de Jesus é o caminho pelo qual o Espírito nos ensina a orar a Deus nosso Pai. A invocação do santo nome de Jesus é a maneira mais simples de oração contínua. Repetida muitas vezes por um coração humildemente atento, ela não se dispersa em muitas palavras, mas guarda a Palavra e produz frutos com perseverança. 

30. Amém.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Como romper com o hábito de reclamar constantemente?

Shutterstock/Daniel M Ernst
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Yohana Rodríguez - publicado em 10/02/25 - atualizado em 10/02/25

Embora pareça inofensivo reclamar e desabafar, na verdade nos faz esquecer as bênçãos que recebemos. Leia estes conselhos para romper com esse mau hábito.

Você já pensou quantas vezes você reclama por dia?

Quando nós desabafamos, somos dominados pelos sentimentos. E, embora possa ser bom liberar o que nos machuca ou nos incomoda, há ocasiões em que transmitimos nossos sentimentos de forma não construtiva e negativa, o que não gera benefício para quem nos escuta.

"Fazei tudo sem murmurar nem questionar" (Filipenses 2, 14)

São Paulo, em sua carta aos Filipenses, nos ensina a fazer tudo sem reclamações e sem murmurações. Mesmo na leitura dos textos bíblicos, vemos que Jesus, em nenhum momento, fez uma reclamação diante dos sofrimentos que estava passando; ao contrário, Ele os ofereceu por todos nós.

Conheça esses conselhos para erradicar esse hábito e começar a viver uma vida mais plena:

1 Identifique a origem

Tire um momento para ir a um lugar tranquilo e fazer uma introspecção. Pergunte a si mesmo: De onde surge essa necessidade de expressar negativamente o que me acontece? É por hábito? Eu aprendi isso com alguém? Eu tenho uma tendência ao pessimismo?

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2 Detecte os temas pelos quais você reclama

Existem situações ou pessoas que podem gerar esses sentimentos negativos, por isso é importante localizá-los para saber como lidar com eles. Pergunte-se: São questões de trabalho? De família, cônjuge e filhos? Amizades? Doenças? Ou sobre você mesmo?

3 Esteja consciente do que você fala

Agora que você já sabe o porquê reclama e sobre quais temas tende a reclamar, é importante se dar conta do mal que pode estar causando a si mesmo e aos outros. Porque, embora pareçam inofensivas, reclamar constantemente pode ser desgastante e levá-lo por um caminho onde tudo parece deprimente e irritante, fazendo você esquecer as bênçãos que Deus nos dá todos os dias.

4 Peça ajuda

Diga às pessoas com quem você costuma desabafar que você está tentando erradicar esse mau hábito, para que, sempre que ouvirem você reclamar, te façam perceber isso. Isso vai facilitar a conscientização. Você pode até perguntar a elas como se sentiram com o seu desabafo.

Embora possa parecer um pouco frustrante no início, lembre-se de que esse é o processo para que você tenha conversas mais saudáveis e agradáveis.

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5 Busque soluções

A reclamação pode ocorrer, por exemplo, diante de um problema que precisamos resolver e que nos custa. Portanto, buscar soluções pode ser uma excelente forma de evitá-la. Por exemplo: se você reclama de estar com sono pela manhã, pode ser uma boa ideia começar a dormir mais cedo, mudando seus hábitos de sono.

6 Ofereça seus sofrimentos

Aquilo que não for possível solucionar, ofereça a Deus. Dedique momentos do seu dia para conversar com Ele e contar tudo o que te incomoda. Ele será o melhor confidente, sem dúvida.

7 Faça um diário de agradecimentos

O melhor antídoto contra o pessimismo da vida cotidiana é lembrar todas as bênçãos que recebemos.

Você pode começar um diário onde anote todas as coisas positivas que vivenciou naquele dia, pelas quais você deseja agradecer a Deus. Comece com três coisas boas e, depois, pode adicionar mais. Garantimos que há motivos suficientes para preencher uma página inteira!

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/02/10/como-romper-com-o-habito-de-reclamar-constantemente

Francisco: O Papa da alegria, da esperança e da ternura

Francisco: O Papa da alegria (POM)

FRANCISCO: O PAPA DA ALEGRIA, DA ESPERANÇA E DA TERNURA 

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

A Festa da Cátedra de Pedro, uma das primeiras encontrada nos calendários anteriores ao século IV com o título de Natale Petri de Cathedral, o dia da Instituição ou começo do Pontificado de Pedro como Bispo de Roma. Temos uma cadeira de madeira coberta de bronze e ouro, conservada no grande monumento chamado a glória de Bernini.  

A cátedra era sede onde se assentava Pedro para numa conversa fraterna guiar e pastorear as comunidades eclesiais da urbe de Roma. Os orientais chamam ainda de pope aos padres, nome afetuoso que evoca paternidade espiritual, como certamente o Pater Patrum o Pai dos Padres e da família católica faz lembrar. Ofício de amor ou do amor ou como dizia santo Inácio de Antioquia, a Igreja que tem a primazia ou o primado do amor.  

Tudo isso encontramos no Papa Francisco, que na sua espontaneidade e simplicidade nos dá um testemunho de alegria, esperança e firme ternura. Nos comunicou na Evangelium Gaudium sua encíclica programática, a alegria de evangelizar, de entregar-se por inteiro na missão de fazer acontecer o Evangelho no mundo e na vida das pessoas, da alegria de ser povo e viver intensamente o encontro com os pobres. Alegria transbordante que gera esperança, e consegue como afirma Paulo Freire esperançar todas as situações fechadas de opressão e miséria, despertando para a solidariedade, soerguendo e restaurando vidas e comunidades, fazendo-as acreditar no poder do perdão e da reconciliação construindo um novo modelo civilizatório a partir da amizade social e da fraternidade com todos os povos, culturas e criaturas. Mas nunca esquecendo da ternura, do abraço e conforto aos pequenos, incluindo e abrindo janelas e portas para todos(as), acolhendo no diálogo as pessoas frágeis, quebrantadas e vítimas da rejeição e do preconceito.  

Nestas horas em que vemos o nosso querido Pai sofrer o declínio das forças e da própria saúde, manifestamos além da nossa obediência incondicional, nossa admiração, gratidão e imensa estima de estarmos sob o seu pastoreio, amor e bondade. Dizemos uma vez mais: “O Senhor o conserve e o vivifique e o faça feliz na terra, e não permita que caia nas mãos dos seus inimigos”! Deus salve o Papa 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa não conduzirá o Angelus. Missa para diáconos será presidida por dom Fisichella

A estátua de João Paulo II na entrada do Gemelli.  (AFP or licensors)

A atualização é da Sala de Imprensa do Vaticano. O pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização lerá a homilia preparada por Francisco para a Missa por ocasião do Jubileu do Diaconato Mundial.

Vatican News

Com a hospitalização de Francisco no Policlínico Gemelli - dando continuidade assim às precauções adotadas como explicado na sexta-feira pela equipe médica que o assiste - os compromissos previstos para amanhã, domingo, 22 de fevereiro, seguirão o mesmo procedimento da semana precedente.

Neste sentido, informa a Sala de Imprensa do Vaticano — que nesta manhã informou via Telegram que o Papa "descansou bem" — Francisco não conduzirá a oração do Angelus ao meio-dia, mas naquela hora o texto de sua reflexão será tornado público, como ocorreu no domingo passado.

O Jubileu dos Diáconos

Antes da oração mariana, na Basílica de São Pedro, está prevista a Missa com as ordenações diaconais, às 9h, horário italiano, por ocasião do Jubileu dos Diáconos.

Também neste caso, a Sala de Imprensa da Santa Sé anunciou que o celebrante será o arcebispo Rino Fisichella – pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, Seção para Questões Fundamentais da Evangelização no Mundo – que lerá o texto da homilia preparada por Francisco para a ocasião.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Jubileu dos artistas e do mundo da cultura

Santa Maria do Monte | Opus Dei

Jubileu dos artistas e do mundo da cultura

Homilia do Papa Francisco por ocasião do Jubileu dos Artistas, que se celebra de 15 a 18 de fevereiro de 2025: "A vossa missão não se limita a criar beleza, mas a revelar a verdade, a bondade e a beleza escondidas nos recantos da história, a dar voz a quem não tem voz, a transformar a dor em esperança".

16/02/2025

No Evangelho que acabamos de escutar, Jesus proclama as bem-aventuranças diante dos seus discípulos e de uma multidão de pessoas. Já as ouvimos muitas vezes e, no entanto, não deixam de nos maravilhar: "Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Felizes vós, os que agora tendes fome, porque sereis saciados. Felizes vós, os que agora chorais, porque haveis de rir" (Lc 6, 20-21). Estas palavras contradizem a lógica do mundo e convidam-nos a olhar a realidade com olhos novos, com o olhar de Deus, que vê para além das aparências e reconhece a beleza, até mesmo na fragilidade e no sofrimento.

A segunda parte contém palavras duras e de repreensão: "ai de vós, os ricos, porque recebestes a vossa consolação! Ai de vós, os que estais agora fartos, porque haveis de ter fome! Ai de vós, os que agora rides, porque gemereis e chorareis!" (Lc 6, 24-25). O contraste entre “felizes vós” e “ai de vós” recorda-nos a importância de discernir onde colocamos a nossa segurança.

Vós, artistas e pessoas de cultura, sois chamados a ser testemunhas da visão revolucionária das Bem-Aventuranças. A vossa missão não se limita a criar beleza, mas a revelar a verdade, a bondade e a beleza escondidas nos recantos da história, a dar voz a quem não tem voz, a transformar a dor em esperança.

Vivemos numa época de crises complexas, que são econômicas e sociais mas, antes de mais, são crises da alma, crises de sentido. Coloquemo-nos a questão do tempo e a questão do rumo. Somos peregrinos ou errantes? Caminhamos com uma meta ou andamos à deriva, perdidos? O artista é aquele ou aquela que tem a função de ajudar a humanidade a não se desnortear, a não perder o horizonte da esperança.

Mas atenção: não é uma esperança fácil, superficial e desencarnada. Não! A verdadeira esperança entrelaça-se com o drama da existência humana. Não é um refúgio confortável, mas um fogo que arde e ilumina, como a Palavra de Deus. Por isso, a arte autêntica é sempre um encontro com o mistério, com a beleza que nos supera, com a dor que nos interpela, com a verdade que nos chama. Caso contrário, “ai [de nós]”! O Senhor é severo no seu apelo.

Como escreve o poeta Gerard Manley Hopkins, "o mundo está pleno da grandeza de Deus. / Seu fulgor inflama, qual lâmina fulgurante". Eis a missão do artista: descobrir e revelar essa grandeza escondida, torná-la acessível aos nossos olhos e aos nossos corações. O mesmo poeta ouvia também no mundo um “eco de chumbo” e um “eco de ouro”. O artista é sensível a estas ressonâncias e, com a sua obra, realiza um discernimento e ajuda os outros a discernir no meio dos diferentes ecos dos acontecimentos deste mundo. Os homens e as mulheres de cultura são chamados a avaliar estes ecos, a explicar-no-los e a iluminar o caminho por onde nos conduzem: se são cantos de sereia que seduzem ou apelos da nossa mais verdadeira humanidade. Pede-se-vos a sabedoria para distinguir o que é como "como a palha que o vento leva", do que é sólido "como a árvore plantada à beira da água corrente" e capaz de dar fruto (cf. Sl 1, 3-4).

Queridos artistas, vejo em vós guardiães da beleza que sabe inclinar-se sobre as feridas do mundo, que sabe escutar o grito dos pobres, dos sofredores, dos feridos, dos presos, dos perseguidos, dos refugiados. Vejo em vós guardiães das Bem-Aventuranças! Vivemos num tempo em que se erguem novos muros, em que as diferenças se tornam um pretexto para a divisão em vez de serem uma oportunidade de enriquecimento recíproco. Mas vós, homens e mulheres de cultura, sois chamados a construir pontes, a criar espaços de encontro e diálogo, a iluminar as mentes e a aquecer os corações.

Alguns poderão dizer: “Mas para que serve a arte num mundo ferido? Não há coisas mais urgentes, mais concretas e mais necessárias?”. A arte não é um luxo, mas uma necessidade do espírito. Não é uma fuga, mas uma responsabilidade, um convite à ação, um apelo, um grito. Educar para a beleza significa educar para a esperança. E a esperança nunca está separada do drama da existência: ela atravessa a luta quotidiana, as fadigas da vida, os desafios deste nosso tempo.

No Evangelho que escutamos hoje, Jesus proclama felizes os pobres, os aflitos, os mansos, os perseguidos. É uma lógica invertida, uma revolução da perspectiva. A arte é chamada a participar nesta revolução. O mundo precisa de artistas proféticos, de intelectuais corajosos, de criadores de cultura.

Deixai-vos guiar pelo Evangelho das Bem-Aventuranças e que a vossa arte seja anúncio de um mundo novo. Que a vossa poesia no-lo mostre! Nunca deixeis de procurar, interrogar, arriscar. Porque a verdadeira arte nunca é acomodada; ela oferece a paz da inquietação. E lembrai-vos: a esperança não é uma ilusão; a beleza não é uma utopia; o vosso dom não é um mero acaso, é uma chamada. Respondei com generosidade, com paixão, com amor.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/jubileu-dos-artistas-e-do-mundo-da-cultura/

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER: Parecia a estação de chegada. E em vez disso...(VIII)

Joseph Ratzinger com Hans Maier, Ministro da Educação da Baviera, e o Abade Augustin Mayer, agora Cardeal, durante um intervalo para café no Sínodo de Würzburg em 1971 | 30Giorni

A HISTÓRIA DE JOSEPH RATZINGER

Arquivo 30Giorni n. 07/08 - 2006

Parecia a estação de chegada. E em vez disso...

Ex-alunos falam sobre o último período de ensino de Ratzinger na recém-inaugurada Universidade da Baviera. Cercado pela estima de seus alunos e pelo carinho de seus irmãos, o professor de Teologia Dogmática acredita ter alcançado uma condição ideal. Mas Paulo VI vai frustrar seus planos.

por Gianni Valente

Na escola do livre pensamento

As palestras de Ratzinger são as mais concorridas da Faculdade. Normalmente, elas são frequentadas por 150 a 200 alunos. Mas o que mais impressiona — e desperta alguma inveja — é o grupo cada vez maior de estudantes de toda a Alemanha e do mundo que pedem para realizar seus trabalhos de doutorado ou qualificações de ensino universitário sob sua orientação. Um cenáculo que, por iniciativa de Peter Kuhn, Wolfgang Beinert e do padre de Schönstatt Michael Marmann, já havia inaugurado seu regulamento organizacional em Tübingen, mas que viveu sua época de ouro na década de 1970.

Ratzinger interpreta seu papel como Doktorvater , a figura do “pai-professor” codificada pela tradição acadêmica alemã, de forma atípica. Ele não acompanha seus alunos de doutorado individualmente, pois não teria tempo: seu Schülerkreis (círculo de estudantes) tem muitos deles, quase sempre em torno de 25. Ele os reúne todos em reuniões geralmente marcadas nas manhãs de sábado, a cada duas semanas, no seminário diocesano de Regensburg. O meio dia de convivência extra moenia Universitatis sempre começa com missa. Então, a cada vez, os alunos se revezam fazendo um relatório sobre o progresso de sua pesquisa e submetendo-o ao julgamento crítico dos outros. A amplitude dos temas abordados nas teses atribuídas – de Santo Irineu a Nietzsche, da teologia medieval a Camus, do Concílio de Trento aos filósofos personalistas – é uma confirmação indireta dessa abertura. «Alguns de nós, estudantes», explica o Padre Bialas, «de vez em quando brincávamos com a ideia de estruturar uma escola teológica ratzingeriana. Mas o primeiro a acabar com essas ambições foi o professor. Ele sempre disse que não tinha "sua própria" teologia particular. “A discussão”, relembra Twomey, “reinava suprema. Em cada tópico, o professor analisou todas as objeções, tanto as históricas quanto as dos teólogos contemporâneos, e levou a sério todas as opiniões e hipóteses, mesmo as mais recentes." O toque “maiêutico” com que conduz o debate permite-lhe reduzir ao mínimo as suas intervenções. Ela adota uma atitude imparcial e imparcial mesmo diante das controvérsias que surgem, estimulada por essa forma democrática-assembleia de conduzir o Doktoranden-Colloquium . “Com todo o espectro de opiniões teológicas representadas dentro do grupo”, explica Twomey, “alguma tensão era inevitável”. E, de fato, o Ratzinger Schülerkreis não se parece em nada com um think tank .de pensamento teológico único, ou à fábrica de clones feitos sob medida para o mestre: muito menos a um grupo de carreiristas acadêmicos. Inclui futuros monsenhores da Cúria Romana, mas também graciosas e tímidas moças coreanas; ecumenistas impenitentes, ao lado de religiosos austeros e generosos que dedicarão suas vidas à missão. Nos anos seguintes, mais de um desses teólogos iniciantes – como Hansjürgen Verweyen e Beinert – assumiriam posições muito diferentes daquelas de seu antigo mestre em questões teológicas controversas, como o sacerdócio feminino e a escolha de formular um único Catecismo para toda a Igreja Católica. “Olhando para trás hoje”, admite Zöhrer, “estou surpreso com a liberdade que desfrutamos. Principalmente agora que aprendi como outros Doktorvater com reputação de serem muito liberais espremiam seus alunos em um espartilho apertado e até os puniam assim que surgia um desacordo sobre o conteúdo...».

Desde os dias de Tübingen, o círculo estabeleceu o costume de organizar reuniões de fim de semestre com professores e teólogos famosos fora da Faculdade. Assim, ao longo dos anos, o agora grisalho Doktorvater e seus alunos tiveram a oportunidade de conhecer e dialogar com todos os grandes nomes da cena teológica pós-conciliar: de Yves Congar a Karl Rahner, de Hans Urs von Balthasar a Schlier, de Walter Kasper a Wolfhart Pannenberg até o exegeta protestante Martin Hengel. Ocasiões únicas, que encherão a memória coletiva de lembranças felizes e emblemáticas. Como na ocasião em que o grupo deixou Tübingen e foi para Basileia, para conhecer o grande teólogo protestante Karl Barth. «Por uma feliz coincidência», conta Kuhn, «estamos lá no momento em que ele, que já era professor emérito, dava um seminário com seus alunos sobre a Dei Verbum , a Constituição do Concílio Vaticano II sobre as fontes da Revelação divina. Nós nos juntamos a eles e ficamos surpresos com a seriedade com que Barth e aquele grupo de acadêmicos protestantes exploraram um tópico que nos círculos católicos era frequentemente abordado com superficialidade embaraçosa. Barth estava cheio de curiosidade. Foi ele quem fez perguntas ao nosso professor, muito mais jovem, com uma atitude de grande deferência." Durante o encontro com Balthasar, no entanto, alguns estudantes contestaram a teoria do grande teólogo suíço sobre um inferno vazio. E ele ficou um pouco irritado com isso. 

Teólogos do centro


Ratzinger durante os trabalhos da Conferência Episcopal Alemã em Stapelfeld, em março de 1971 | 30Giorni

A liberdade e o prazer de confrontar abertamente sensibilidades e posições que estão longe das próprias certamente não podem ser interpretados como uma espécie de relativismo teológico. Nos conflitos que abalaram a Igreja naqueles anos, Ratzinger não se retirou para sua feliz ilha de Regensburg. Mantendo-se fiel ao seu estilo, pouco acostumado a lançar anátemas, fez escolhas claras diante do conflito que dividia o "internacional dos teólogos" que haviam participado juntos da aventura conciliar. A fratura também é registrada no seio da Comissão Teológica Internacional, criada em 1969 por Paulo VI por proposta do primeiro Sínodo dos Bispos, da qual Ratzinger faz parte desde o início. É aí que o professor bávaro se encontra ao lado daqueles – Balthasar, Henri De Lubac, Marie-Jean Le Guillou, Louis Bouyer, o chileno Jorge Medina Estévez – segundo os quais o frenesi da “revolução permanente” que contagiou boa parte dos ambientes teológico-acadêmicos é uma distorção, uma caricatura da reforma indicada pelo Concílio Vaticano II. Mesmo dentro do órgão de nomeação papal, as discussões estão se tornando dilacerantes. Como o próprio Ratzinger observa em sua autobiografia, "Rahner e Feiner, o ecumenista suíço, acabaram abandonando a Comissão que, na opinião deles, não estava conseguindo nada, porque sua maioria não estava preparada para aderir às teses radicais". O nascimento da revista Communio em 1972 também marcou o fim da “frente única” dos teólogos pós-conciliares em termos de ferramentas editoriais . O próprio Balthasar o patrocina como um polo de atração para todos os círculos teológicos intolerantes ao radicalismo do Concilium., a revista internacional – que tem o próprio Ratzinger entre seus membros fundadores – que nasceu em 1965 como um instrumento unitário de proteção que o lobby dos teólogos, galvanizado pelo papel de liderança que assumiu no Concílio, deveria ter exercido sobre a implementação do programa conciliar. O professor bávaro esteve envolvido no projeto desde o início, e ele imediatamente encontrou uma "teia" – como o próprio Balthasar a chama – de apoiadores internacionais interessados. Entre os mais ansiosos para se juntar à nova frente teológica estão alguns "jovens promissores de Comunhão e Libertação" (como Ratzinger os define em sua autobiografia), incluindo o atual patriarca de Veneza, Angelo Scola. Hans Maier, Ministro da Educação da Baviera, se junta ao conselho editorial da Edição Alemã. A partir de 1974, as edições em outras línguas se multiplicaram: americana, francesa, chilena, polonesa, portuguesa, brasileira... Nas décadas de 1980 e 1990, quase todos os membros do grande grupo de teólogos que o Papa Wojtyla chamou ao episcopado – e depois cooptou muitos deles para o Sacro Colégio Cardinalício – vieram do berçário da Communio : os alemães Karl Lehmann e Kasper, o suíço Eugenio Corecco – falecido em 1995 –, o brasileiro Karl Romer, o belga André Mutien Léonard, o italiano membro da CL Scola, o chileno Medina Estévez, o canadense Marc Ouellet, o dominicano austríaco Christoph Schönborn (que também fez parte do Schülerkreis de Ratzinger , tendo acompanhado as aulas do professor bávaro por alguns semestres em Regensburg). Em 1992, ao celebrar o vigésimo aniversário da Communio , Ratzinger fez um balanço pessoal dessa experiência coletiva, evitando qualquer complacência autocelebratória: «Já tivemos o suficiente dessa coragem? Ou será que preferimos nos refugiar na erudição teológica para demonstrar, um pouco demais, que também estamos à altura dos tempos? Será que realmente enviamos a palavra de fé a um mundo faminto de uma forma que seja compreensível e alcance os corações? Ou não permanecemos principalmente dentro do círculo daqueles que brincam com a linguagem especializada e jogam a bola uns para os outros? 

O convite está confirmado

"A sensação de adquirir minha própria visão teológica cada vez mais claramente", escreveu Ratzinger em sua autobiografia, "foi a experiência mais bela dos anos de Regensburg". Apesar da amargura dos dilacerantes conflitos eclesiásticos, em meados dos anos setenta o teólogo, agora com quase cinquenta anos, já saboreia as alegrias comuns do que lhe parece ser a estação de chegada de sua peregrinação acadêmica: viver em sua Baviera, desfrutar do carinho de seus queridos irmãos, poder levar flores aos seus pais que descansam no cemitério perto de sua casa. E fazer o que mais gosta no trabalho. Durante toda a sua vida, ele não quis fazer outra coisa: estudar e ensinar teologia, cercado por um grupo de colaboradores livres e apaixonados, na esperança de transmitir aos estudantes que vêm ouvi-lo do mundo inteiro, o prazer de haurir dons sempre novos dos Padres da Igreja, da divina liturgia e de todo o tesouro da Tradição. Por isso, no verão de 1976, quando o cardeal arcebispo de Munique Julius Döpfner morreu repentinamente, Ratzinger não levou a sério os rumores que começavam a circular e que o indicavam entre os candidatos à sucessão: «As limitações da minha saúde eram tão conhecidas quanto a minha falta de envolvimento nas tarefas governamentais e administrativas», escreveu novamente na sua autobiografia. Em vez disso, a escolha de Paulo VI recairá precisamente sobre ele.

Reinhard Richardi, que era professor na Faculdade de Direito naqueles anos e formou uma forte amizade com Ratzinger que perdura até hoje, disse ao 30Giorni : «A surpresa foi grande. Evidentemente Paulo VI o apreciava, via nele um grande teólogo alinhado à reforma conciliar e queria envolvê-lo na liderança da Igreja. Isso também foi compreendido pela pressa com que o criou cardeal apenas alguns meses depois de tê-lo nomeado arcebispo. Agora, vendo-o como seu sucessor no trono de Pedro, talvez ele dissesse: Eu tinha certeza de que o Senhor voltaria o seu olhar para ele." Mas o futuro Bento XVI não pensou realmente nessas coisas naquela época. Richardi diz: «Lembro-me bem de quando se espalhou a notícia da sua nomeação como sucessor de Döpfner.

Naquele mesmo dia, minha esposa, meus filhos e eu fomos convidados para sua casa. Ele nos ligou e disse: olha, o convite está confirmado, mesmo que me tenham feito bispo. Até mais". ( Pierluca Azzaro colaborou )

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF