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sábado, 1 de março de 2025

Bendita Maria

Imaculada Maria de Deus (Vatican News)

BENDITA MARIA

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Maria de Nazaré, Mãe de Jesus,  representa uma revolução silenciosa e profunda na história das mulheres. Vivendo em uma sociedade onde o poder masculino era absoluto e as obrigações femininas impostas com rigor, Maria se manifesta como um símbolo de autonomia e liberdade. Sua força não está na oposição direta, mas na unidade interior que a faz profetisa da igualdade e dignidade entre homens e mulheres.  

Num contexto machista, onde o amor erótico era reduzido ao satisfazer os homens, Maria opta por um amor maior: o ágape, uma entrega total a Deus. Ela desafia não apenas as normas do seu tempo, mas o julgamento masculino que condenava mulheres ao apedrejamento. Seu “sim” ao anjo Gabriel não é ingênuo, mas um ato de coragem. Ela conhece os riscos caso seu noivo não a acolhesse com seu filho, e mesmo assim, confia plenamente no projeto divino.  Sua liberdade não se opõe à condição de serva do Senhor, mas a fortalece. Maria é a mulher que arrisca tudo pelo chamado de Deus. 

Este vínculo de Maria com Deus não se limita ao espiritual; abrange todo o seu ser e agir. Ela não está confinada a uma dimensão meramente religiosa, mas integra todas as dimensões de sua vida para realizar a vontade do Pai. Ela realiza de modo extraordinário e eficaz os valores humanos e femininos de sua condição, e exorta cada mulher e cada homem a entrar nesse caminho. Seu itinerário é universal: homens e mulheres são chamados a um propósito maior, encontrando sentido na entrega livre e generosa ao Criador.  

Na Mãe de Jesus, encontramos não apenas um modelo feminino, mas um modelo humano. Suas virtudes – fé, abertura, humildade, caridade e disponibilidade – têm valor atemporal. Sua grandeza está na extraordinária simplicidade do cotidiano. Mesmo vivendo sob regras patriarcais, ela é livre para abraçar a maior novidade da história: gerar o Cristo ao mundo. Longe de ser submissa. Maria é uma mulher de decisão. Como noiva prometida, não teme acolher um projeto maior do que o seu e de seu noivo. Acusada e mal interpretada, não hesitou em correr o risco de ser rejeitada e apedrejada. Seu sim é um ato de liberdade, um encontro entre a vontade divina e a coragem de uma jovem de Nazaré.   

A presença de Maria na história da salvação evidencia que o plano divino envolve igualmente homens e mulheres. Maria é o testemunho feminino por excelência, o ícone da Igreja. Desde o início, coopera com os discípulos, assumindo papel essencial no cristianismo nascente. Sua presença é ativa, fecunda e indispensável. Na Mãe de Deus, a mulher é valorizada em sua essência, não como figura secundária, mas como participante fundamental na história da redenção.   

Maria nos recorda que a verdadeira força feminina não está na oposição, mas na plenitude de sua identidade, na coragem de dizer sim ao que é maior que ela mesma, na liberdade que encontra no amor a Deus e ao próximo. Seu testemunho é um chamado para que todos, homens e mulheres, vivam em plenitude e liberdade diante do Criador. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Ramadã: tempo de oração e reconciliação pelo bem da criação

A preparação do Ramadã na Tunísia  (ANSA)

O mês sagrado para o Islã, que prevê jejum, orações e atos de caridade, começa neste sábado, 1º de março. Mustafa Cenap Aydin, sociólogo das religiões, diretor do Instituto Tevere - Centro para o Diálogo: a coincidência deste ano com a Quaresma, que começa em 5 de março, é um abraço entre os filhos de Abraão que caminham juntos.

Francesca Sabatinelli - Vatican News

O Ramadã e a Quaresma são um período, para muçulmanos e cristãos, de profunda reflexão sobre temas comuns. Para ambos, é um período de jejum e contemplação, no qual os fiéis são chamados a refletir sobre sua existência, sua relação com a criação e o Criador.

O muçulmano Mustafa Cenap Aydin, sociólogo das religiões e diretor do Instituto Tevere - Centro para o Diálogo, fala - em conversa com a mídia do Vaticano - sobre o significado do mês sagrado para os muçulmanos, que começa neste sábado, primeiro de março, e que, neste ano de 2025, precede em apenas cinco dias a Quaresma cristã, que começará em 5 de março. Essa coincidência, explica ele, ”eu diria que é um abraço entre dois irmãos, entre os filhos de Abraão, que estão caminhando juntos por motivos diferentes. Um exemplo muito concreto é o documento de Abu Dhabi sobre a fraternidade humana assinado pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb. Esse período pode ajudar muito os muçulmanos e os cristãos a entender melhor as questões fundamentais sobre a vida. Deve-se observar também que as coincidências deste ano não terminam aí: a Páscoa católica coincide com a Páscoa ortodoxa, em 20 de abril, e de 12 a 20 de abril celebramos o Pesah, a Páscoa judaica. Este ano teremos muitas oportunidades de colaboração inter-religiosa, também na vida espiritual”.

Ramadã e Quaresma

Esse período, para cristãos e muçulmanos, também será caracterizado pelo jejum, que não deve ser lido apenas como uma disciplina alimentar, mas sim como um período muito importante para entender melhor o que é espiritualidade. “Os muçulmanos”, ressalta Cenap Aydin, "desde a primeira noite do Ramadã recitarão orações específicas, haverá momentos dedicados à reflexão, por exemplo, sobre o significado do texto sagrado, no qual também serão repetidos os muitos e belos nomes de Deus". Na próxima quarta-feira, 5 de março, será a Quarta-feira de Cinzas para os cristãos, o início da jornada de 40 dias rumo à Páscoa. Eis que esses passos, 30 do Ramadã e 40 da Quaresma, serão passos que, para muçulmanos e cristãos, marcarão uma oportunidade de renascimento, uma oportunidade de compreender verdadeiramente quem somos e que compromisso podemos oferecer ao nosso próximo”.

Os 60 anos da Nostra Aetate

A declaração conciliar Nostra aetate, para a qual os pensamentos do sociólogo se voltam este ano, por ocasião do aniversário de 60 anos de sua promulgação por Paulo VI, em 28 de outubro de 1965, explica que os muçulmanos “também têm estima pela vida moral e adoram a Deus, especialmente por meio da oração, da esmola e do jejum”. “Certamente este período do Ramadã é significativo não apenas pelo jejum, mas também por mostrar mais disponibilidade em relação ao próximo, por ser muito mais caridoso. Uma disponibilidade que, em outro sentido, pode ser chamada de oração. Falamos, portanto, da oração oral, entendida como uma invocação para pedir ao Senhor a sua intervenção para o bem, e falamos da oração que se torna um ato concreto, ou seja, a vontade de construir juntos pela paz, para reparar o que está errado, um conflito, sabendo muito bem que a paz e a reconciliação, pelas quais devemos ser ativistas, nunca poderão ser alcançadas sem a vontade de Deus e, portanto, pedindo a sua ajuda com a oração”.

Oração pelo Papa Francisco

Uma invocação especial neste momento sagrado será então para o Santo Padre, conclui Mustafa Cenap Aydin. “Tentaremos, dessa forma, estar próximos a ele, que é um homem de oração, que a vive em todos os momentos de sua vida. É por isso que, como muçulmanos, mesmo durante o mês do Ramadã, estaremos muito próximos a ele, com nossas orações”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Como ser pobre de espírito e rico neste mundo

PeopleImages.com - Yuri A | Shutterstock

Philip Kosloski - publicado em 27/02/25

Não há nada inerentemente errado em ser rico, embora isso venha com maior responsabilidade; Mas, ao mesmo tempo, será mais difícil ser pobre de espírito.

Não é pecaminoso ter uma conta bancária volumosa, onde você não se preocupa em pagar a próxima conta e tem dinheiro sobrando. No entanto, ser rico vem com maior responsabilidade, pois Deus o responsabilizará sobre como você usou seu dinheiro para o benefício dos outros. É melhor ser pobre de espírito. 

Pobres de espírito 

São Francisco de Sales escreve sobre esse tema em sua Introdução à Vida Devota. Ele explica que devemos reconhecer que nosso dinheiro e posses não são verdadeiramente nossos: 

"Minha filha, nossas posses não são nossas; Deus nos deu para cultivar, para tornar frutíferos e proveitosos em Seu serviço, e assim vamos agradá-Lo. E isso devemos fazer com mais zelo do que os homens mundanos, pois eles guardam cuidadosamente suas propriedades por amor próprio, e devemos trabalhar por amor a Deus”. 

Uma maneira de evitar ser muito ganancioso com nosso dinheiro é doá-lo constantemente: 

"Para isso, ele sempre tem uma parte de seus meios, dando-os de coração aos pobres; você se empobrece com tudo o que dá. É verdade que Deus o devolverá a você, não apenas no outro mundo, mas neste, pois nada traz tanta prosperidade temporal quanto a esmola gratuita, mas enquanto isso você é visivelmente mais pobre pelo que dá. Verdadeiramente é uma pobreza santa e rica que resulta da esmola". 

Amando os pobres 

São Francisco de Sales também explica a importância de simplesmente amar os pobres, o que nos ajudará a permanecer pobres de espírito: 

"Amai os pobres e a pobreza, este amor tornar-vos-á verdadeiramente pobres, porque, como diz a Sagrada Escritura, nos tornamos semelhantes àquilo que amamos. O amor torna os amantes iguais. ‘Quem é fraco e eu não sou fraco?’, diz São Paulo. Ele poderia ter dito: 'Quem é pobre e eu não sou pobre?' porque foi o amor que o tornou como aqueles que amava; e assim, se você ama os pobres, você realmente compartilhará sua pobreza e será pobre como eles”. 

Se não buscarmos os pobres e apenas desejarmos acumular uma grande quantia de dinheiro para nós mesmos, Deus será muito mais duro conosco no dia do julgamento. 

Quando Deus nos dá muitos dons, ele faz para que sejamos generosos com eles, não os guardando para nós mesmos, mas dando-os aos outros.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/02/27/como-ser-pobre-de-espirito-e-rico-neste-mundo

SÃO TOMÁS DE AQUINO: «O princípio da liberdade de cognição está no sentido» (I)

O Triunfo de São Tomás de Aquino (final do século XV), detalhe, Filippino Lippi, igreja de Santa Maria sopra Minerva, Roma | 30Giorni

SÃO TOMÁS DE AQUINO

Arquivo 30Giorni n. 03 - 1999

«O princípio da liberdade de cognição está no sentido»

O intelecto sem os sentidos não pode saber nada. Um diálogo com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti, jovens estudiosos de Aquino.

Entrevista com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti por Lorenzo Cappelletti

Eles não ousam se chamar tomistas, mas sim realistas. Eles não fazem parte de grupos que os obrigam a defender uma escola em detrimento de outra antes mesmo de estudar, ou seja, antes de terem tempo de se apaixonar. Romano Pietrosanti e Paolo Carlani são dois jovens estudiosos, isto é, apaixonados por São Tomás, que estudam não como curiosos, disputares sillabarum , como dizia São Bernardo, ou seja, para fazer minúcias. Dois homens novos , como Bernard e Thomas foram em seu tempo. Não dois monstros sagrados. Melhor assim, em vez de nos assustar, eles nos deixarão mais tranquilos. E tornarão mais fácil e familiar, como deve ser, o retorno aos clássicos (quem mais do que São Tomás?) esperado pelo Cardeal Schönborn (ver 30Giorni n. 2, fevereiro de 1999, pp. 56-61) como antídoto à confusão teológica atual.

Seus primeiros trabalhos apareceram recentemente nas livrarias. A alma humana nos textos de Santo Tomás. Participação, Espiritualidade, Imortalidade , publicada em 1996 pela Edizioni Studio Domenicano, é a tese de doutorado de Romano Pietrosanti que valoriza, publicando pela primeira vez em tradução italiana, um texto pouco conhecido de Tomás de Aquino: a Quaestio de anima . Em 1998, Paolo Carlani publicou o primeiro volume do Tratado sobre a Filosofia do Conhecimento , publicado pela Edizioni Romane di Cultura. O Tratado foi adotado desde o ano passado como um livro-texto de epistemologia na Pontifícia Universidade Lateranense.

Em ambos os seus livros é destacado como para São Tomás o ato fundamental do conhecimento e da vida psíquica é a percepção sensível. Embora os estudiosos possam não se surpreender com o chamado realismo tomista, os leigos se surpreendem que toda a filosofia de um gênio metafísico como São Tomás comece com o toque e a visão. 

PAOLO CARLANI: Não há dúvida de que a perspectiva de Tomás (e de Aristóteles antes dele) é precisamente a de partir da experiência comum, ou melhor, dos dados simples presentes aos sentidos. Todo conhecimento começa com os sentidos: «Principium igitur cuiuslibet nostrae cognitionis est in sensu» ( In Boethii de Trinitate q. 6, a. 2, co.). Afirmação traduzida em poesia num terceto da Divina Comédia , onde Beatriz assim se dirige a Dante: «Falar assim convém à tua mente, / porque só do sensível [do sensível] aprende / o que depois torna digno do intelecto» ( Paraíso IV, 40-42). 

ROMANO PIETROSANTI: Mesmo o conhecimento mais elevado e espiritual começa com alguma experiência sensível. A própria fé. O homem como tal é um espírito encarnado, ele vive, em relação a si mesmo e ao mundo, numa dimensão sensível: isso só pode ser questionado por um pensamento exageradamente representacionista, idealista em sentido geral; um pensamento que, partindo não da percepção do outro, mas de sua própria representação, tem um diafragma em relação ao mundo e em relação a si mesmo como outro que não ele mesmo, isto é, como corpóreo. Claro, também se pode discutir o retorno do intelecto àquilo por meio do qual ele conhece (representações sensíveis, intelectuais, etc.). Mas o problema é quando os meios de conhecimento são confundidos com o objeto do conhecimento. O homem conhece seu próprio intelecto por meio de suas ações. "Ninguém percebe que compreende, a não ser porque compreende alguma coisa" ( Quaestiones disputatae de veritate q. 10, a. 8, co.). 

Portanto, o conhecimento intelectual não é tão evidente no homem. 

CARLANI: É o conhecimento dos sentidos ou sensível (prefiro “sensível”, apesar da ambiguidade, a “sensitivo”, adjetivo que Tomás reserva para o objeto da apreensão) que imediatamente nos é dado conhecer, o que nos é mais evidente: «Apprehensio sensitiva magis est homini in manifesto» ( Summa theologiae II-II, q. 123, a. 8, ad 3). É o conhecimento intelectual que é problemático, no sentido de que deve ser identificado e destacado em suas características específicas, distinguindo-o do conhecimento sensível.

PIETROSANTI: Paradoxalmente, um espírito incorpóreo aprende o intelecto humano com mais facilidade e segurança do que o homem. O diabo conhece a natureza do pensamento humano melhor do que o homem, diz Tomás (cf. Quaestiones disputatae de malo q. 16, a. 8, ad 7).

Os sentidos são o ponto de partida do nosso conhecimento, concordamos. Mas parece que isso acontece por meio da coleta passiva de dados nos quais somente o intelecto é "digno", para usar as palavras de Dante, de trabalhar. 

PIETROSANTI: Não, Santo Tomás diz que os sentidos são como participações incompletas do intelecto (cf. Summa Theologiae I, q. 77, a. 7, co.). O conhecimento sensorial não é qualquer atividade biológica, ele tem todas as características de relações participativas, que são unidirecionais e irreversíveis. Isso o aproxima de outros fenômenos unidirecionais, de todas as relações causais, por exemplo, como geração ou produção, até mesmo da criação, ou do fluxo banal, porém dramático, do tempo: sua irreversibilidade é um mistério do ponto de vista físico. Enquanto a maioria dos processos físicos são reversíveis (por exemplo, aqueles governados pelo princípio de ação e reação) e, portanto, indiferentes ao tempo, o conhecimento sensível já conhece coisas individuais localizadas no espaço e no tempo ("hoc aliquid hic et nunc", diz Thomas). Além disso, dentro de limites físicos bem definidos, cada órgão sensorial é capaz de perceber infinitas variações de seu objeto. O olho percebe infinitas tonalidades de cor e o ouvido percebe infinitas tonalidades de som, e assim por diante. É isso que Thomas chama de "secundum quid" infinito do conhecimento sensível. Em suma, os sentidos também são “capazes” de uma certa infinidade. 

Onde então reside a superioridade do conhecimento intelectual sobre o conhecimento sensível?

PIETROSANTI: É uma hierarquia de mérito, não de honra. Deixe-me explicar. É observando suas operações que podemos dizer que o intelecto supera o conhecimento sensível, que se exerce por meio de órgãos físicos e é necessariamente limitado por estes órgãos. Por não estar vinculado a um órgão específico e, portanto, em virtude de sua espiritualidade, o conhecimento intelectual, comparado ao conhecimento sensitivo, é capaz de conhecer todos os corpos e, portanto, uma infinidade maior, por assim dizer. Mas é preciso ter em mente que o intelecto realiza essas operações a partir da sensibilidade, porque em todo caso a alma intelectual é feita para o corpo, ela é o princípio formal daquele ser único que entende e julga que é o homem. "Hic homo intelligit", repete Thomas frequentemente, isto é, é este homem aqui, esta única pessoa que entende. A forma substancial do homem é una e única: a única alma intelectual própria de cada homem. Uma tese que, mesmo após sua morte, provocaria a ira do conservador Arcebispo de Canterbury sobre Thomas. Foi muito inovador. E pensar que ainda há quem use Tomás como porta-estandarte de programas filosófico-teológicos de cunho restaurativo.

CARLANI: Não que o intelecto não “acrescente” nada; caso contrário, não haveria necessidade de reconhecer sua existência como distinta daquela do significado. Certamente significa mais e mais profundamente. Mas – e aqui reside um dos aspectos peculiares e, na minha opinião, fundamentais da filosofia do conhecimento de Tomás – o intelecto sozinho, isto é, sem sensibilidade, não faz, nem pode fazer, nada.

Suma Teológica I, q.84, a. 7, co.)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Francisco: que a liturgia seja sem ostentações e sem ignorar alegrias e sofrimentos do povo de Deus

O Papa durante uma celebração na Basílica de São Pedro (foto de arquivo)  (ANSA)

Em uma mensagem enviada do Hospital Gemelli de Roma, o Papa se dirige aos participantes da segunda edição do “Curso Internacional de Formação para Responsáveis das Celebrações Litúrgicas do Bispo”, realizado na capital italiana, de 24 a 28 de fevereiro, no Pontifício Santo Anselmo, e os exorta a “propor e encorajar um estilo litúrgico que expresse o seguimento de Jesus, evitando ostentações ou protagonismos inúteis”.

Tiziana Campisi - Vatican News

A liturgia “deve ser sempre encarnada, inculturada”, pois expressa “a fé da Igreja”, “toca a vida do povo de Deus e lhe revela a sua verdadeira natureza espiritual”. Do Hospital Gemelli de Roma, onde está internado desde 14 de fevereiro e continua a realizar as suas atividades, Francisco se dirige em uma mensagem aos participantes do Curso Internacional de Formação para Responsáveis das Celebrações Litúrgicas do Bispo, realizado na capital italiana de 24 a 28 de fevereiro, no Pontifício Sant'Anselmo.

O Pontífice exorta a não ignorar “as alegrias e os sofrimentos, os sonhos e as preocupações do povo de Deus”, porque “possuem um valor hermenêutico”, e a “propor e encorajar um estilo litúrgico que expresse o seguimento de Jesus, evitando ostentações ou protagonismos inúteis”. “Convido vocês a exercer o ministério com discrição, sem se vangloriar dos resultados do seu serviço”, escreve o Papa, que também incentiva a "transmitir essas atitudes aos ministrantes, aos leitores e aos cantores’.

Acompanhar os fiéis no evento sacramental

O Pontífice enfatiza que “toda diocese olha para o bispo e para a catedral como modelos celebrativos a serem imitados” e que o responsável pelas celebrações litúrgicas “é um mestre colocado a serviço da oração da comunidade” e, portanto, “enquanto ensina humildemente a arte da liturgia, deve guiar” os celebrantes, “marcando o ritmo ritual e acompanhando os fiéis no evento sacramental”. É sua tarefa preparar “cada celebração com sabedoria, para o bem da assembleia”; deve garantir que “os princípios teológicos expressos nos livros litúrgicos” se tornem “práxis celebrativa”; acompanhar e apoiar “o bispo em seu papel de promotor e guardião da vida litúrgica”, de modo que o pastor possa “conduzir gentilmente toda a comunidade diocesana na oferta de si mesmo ao Pai, à imitação de Cristo”.

Na liturgia, o encontro com o Senhor

“O cuidado com a liturgia é, antes de tudo, o cuidado com a oração”, enfatiza Francisco, acrescentando que isso significa cuidar do "encontro com o Senhor". Há uma “grande mestra da vida espiritual” que pode servir de exemplo, Santa Teresa d'Ávila, proclamada Doutora da Igreja por Paulo VI, que observou a “sabedoria das coisas divinas e das coisas humanas”. E “preparar e orientar as celebrações litúrgicas significa” precisamente conjugar “sabedoria divina e sabedoria humana”: “a primeira se adquire rezando, meditando, contemplando”, explica o Papa, “a segunda vem do estudo, do empenho em aprofundar, da capacidade de escutar”.

Ter sempre o povo de Deus no coração

Para realizar “essas tarefas”, o conselho de Francisco é “manter o olhar fixo no povo” - que tem o bispo como “pastor e pai” - e isso para entender “as necessidades dos fiéis, bem como as formas e modalidades para favorecer sua participação na ação litúrgica”. Por fim, o Papa espera que aqueles que cuidam da liturgia “tenham sempre no coração o povo de Deus” e o acompanhem “no culto com sabedoria e amor”, e conclui a mensagem pedindo mais uma vez que rezem por ele.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Jubileu da Espiritualidade Mariana, a imagem de Nossa Senhora de Fátima em Roma

A imagem original de Nossa Senhora de Fátima estará na Praça São Pedro para o Jubileu da Espiritualidade Mariana nos dias 11 e 12 de outubro | Vatican News.

O Dicastério para a Evangelização anuncia que, por ocasião da missa na Praça São Pedro, no domingo 12 de outubro, a famosa imagem da Virgem estará presente entre os fiéis participantes, enriquecendo o momento de oração.

Vatican News

Em vista do Jubileu da Espiritualidade Mariana, previsto para 11 e 12 de outubro de 2025, a imagem original de Nossa Senhora de Fátima estará em Roma. A famosa imagem da Virgem, conhecida pelos fiéis do mundo inteiro e símbolo da “Esperança que não decepciona”, estará presente entre os fiéis participantes da Santa Missa na Praça São Pedro no domingo, 12 de outubro de 2025, às 10h30 locais, enriquecendo ainda mais este momento de oração e reflexão. A entrada na Praça São Pedro, para a celebração eucarística, é gratuita e não é necessário ingresso. As inscrições para participar desse evento jubilar já estão abertas no site do Jubileu e serão encerradas em 10 de agosto de 2025.

Em Roma pela quarta vez

Esta é a quarta vez que a imagem sai do Santuário de Fátima para vir a Roma: a primeira foi em 1984, por ocasião do Jubileu Extraordinário da Redenção, quando em 25 de março São João Paulo II consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria; a segunda vez foi no Grande Jubileu do Ano 2000 e a terceira, em outubro de 2013, por ocasião do Ano da Fé com o Papa Francisco.

A mais carinhosa das mães

"A presença da amada imagem original de Nossa Senhora de Fátima permitirá a todos viver a proximidade da Virgem Maria", enfatizou o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, dom Rino Fisichella. "É um dos ícones marianos mais significativos para os cristãos de todo o mundo que, como o Santo Padre enfatiza na Bula de Proclamação do Jubileu Spes non confundit, a veneram como a 'mais afetuosa das mães, que nunca abandona seus filhos'. Em Fátima, de fato, a Virgem disse aos três pastorzinhos o que ela continua assegurando a cada um de nós: 'Eu nunca o abandonarei. O meu Imaculado Coração será seu refúgio e o caminho que o levará a Deus'."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Documentário de Carlo Acutis será lançado no dia da canonização

Źródło: carloacutis.com

J-P Mauro - publicado em 25/02/25

Documentário sobre o primeiro santo millenial terá entrevistas da família e amigos de Acutis, e uma peregrinação de adolescentes em direção ao seu túmulo.

Pouco depois de ter sido anunciado que o Beato Carlo Acutis seria canonizado em 2025 como a primeiro santo millenial, a Fathom Events e a Castletown Media revelaram um documentário intitulado Carlo Acutis: Roteiro para a realidade. Agora, foi anunciada a data para que o filme chegue aos cinemas, e chegará no mesmo dia em que a Igreja receberá o Beato Carlo Acutis no calendário dos santos. 

A Aleteia relatou anteriormente que documentário combinará cenas de animação e ação ao vivo com entrevistas em estilo documentário com sua família e amigos para contar a história de vida do Beato Carlo Acutis. Completado por entrevistas com estudiosos sobre a vida do jovem, espera-se que o documentário seja um olhar abrangente sobre os 15 anos de Carlo.

Entre os entrevistados estão especialistas em tecnologia que explorarão as obras digitais do Beato Carlo Acutis, enquanto examinam como a paisagem virtual atual ameaça a compreensão fundamental do que significa ser humano. O documentário também segue um grupo de estudantes do Ensino Médio da idade de Acutis que fazem uma peregrinação de duas semanas de Dakota do Norte à Itália para visitar seu túmulo. Em sua viagem, eles deixam seus telefones em casa e se desligam completamente da tecnologia. 

Pelo menos 2 dias nos cinemas 

Agora, os cineastas anunciaram quando o documentário será lançado nos cinemas dos EUA. A  pré-estreia será no mesmo dia em que o adolescente italiano será canonizado no Vaticano, 27 de abril, mas o filme manterá a celebração nos cinemas até 29 de abril.  

Tim Moriarty, diretor executivo da Castletown Media e diretor do filme, explicou que Castletown espera que a Fathom Events possa estender o alcance deste importante filme, como fez anteriormente com os filmes religiosos Madre Teresa: Não há Amor Maior, para os Cavaleiros de Colombo, e Jesus Sede: O Milagre da Eucaristia

Moriarty comentou sobre o Beato Carlo Acutis: "Carlo teria 34 anos este ano. Se ele ainda estivesse vivo, tenho certeza de que teria ajudado as pessoas a navegar por essa incrível encruzilhada que estamos enfrentando – gerenciando o impacto da tecnologia sobre os jovens, atraindo-os para uma devoção a Cristo na Eucaristia". 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/02/25/documentario-de-carlo-acutis-sera-lancado-no-dia-da-canonizacao

Papas e Jubileus

Papa abre a Porta Santa (CNBB Sul 1)

PAPAS E JUBILEUS 

Dom Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares (PE) 

Usando uma expressão conhecida, Igreja é “coisa de Deus”. Apropriadamente, ela é assim apresentada pelo Concílio Vaticano na Constituição Dogmática Lumen Gentium: “O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras: ‘cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo’ (Mc. 1,15; cfr. Mt. 4,17). Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo.” (LG n. 5). É definida como “novo povo de Deus”. (LG n. 9) “Ao novo Povo de Deus todos os homens são chamados. Por isso, este Povo, permanecendo uno e único, deve estender-se a todo o mundo e por todos os séculos, para se cumprir o desígnio da vontade de Deus que, no princípio, criou uma só natureza humana e resolveu juntar em unidade todos os seus filhos que estavam dispersos (cfr. Jo. 11,52). (LG n. 13)” A Igreja, mais exatamente, “a Igreja católica foi fundada por Deus, através de Jesus Cristo” (LG n. 14) Como ensina o Catecismo da Igreja Católica e como rezam os católicos na oração do Credo, a Igreja é una, santa, católica, apostólica. Dado que tem a marca pessoas e a face da história, portanto, com expressões efetivas e vicissitudes possíveis de sua fragilidade, Jesus assegura à sua Igreja a assistência do Espírito Santo, a fim de que possa cumprir sua missão, com fidelidade. “O Senhor Jesus, depois de ter orado ao Pai, chamando a Si os que Ele quis, elegeu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar o Reino de Deus (cfr. Mc. 3, 13-19; Mt. 10, 1-42); e a estes Apóstolos (cfr. Luc. 6,13) constituiu-os em colégio ou grupo estável e deu-lhes como chefe a Pedro, escolhido de entre eles (cfr. Jo. 21, 15-17).” (LG n. 19) “A missão divina confiada por Cristo aos Apóstolos durará até ao fim dos tempos (cfr. Mt. 28,20), uma vez que o Evangelho que eles devem anunciar é em todo o tempo o princípio de toda a vida na Igreja. Pelo que os Apóstolos trataram de estabelecer sucessores, nesta sociedade hierarquicamente constituída. Assim, não só tiveram vários auxiliares no ministério mas, para que a missão que lhes fora entregue se continuasse após a sua morte, confiaram a seus imediatos colaboradores, como em testamento, o encargo de completarem e confirmarem a obra começada por eles, recomendando-lhes que velassem por todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo os restabelecera para apascentarem a Igreja de Deus (cfr. At. 20, 28). […] Portanto, os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade, presidindo em lugar de Deus ao rebanho de que são pastores como mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo.” “A Igreja é una pela sua fonte. […] A Igreja é una pelo seu fundador.” Como instituição, “Deus a congrega” na “multiplicidade das pessoas”, na diversidade de seus dons, encargos, condições e modos de vida. Esta nota distintiva da Igreja, ser católica, tem um duplo sentido conforme o ensinamento de seu Catecismo: “Ela é católica porque nela Cristo está presente.” […] Ela é católica porque é enviada em missão por Cristo à universalidade do gênero humano.” “A Igreja é apostólica por ser fundada sobre os apóstolos” e “continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos apóstolos”, “graças aos que a eles sucedem na missão pastoral: o colégio dos bispos, ‘assistido pelos presbíteros, em união com o sucessor de Pedro, pastor supremo da Igreja.”  

No término/passagem do segundo milênio e início do terceiro, destaca-se no ministério de João Paulo II, sucessor de Pedro, a celebração de um Ano Jubilar na Igreja Católica, o Ano Santo, um especial tempo de “graça, perdão e renovação espiritual” na vida dos fiéis. O “Grande Jubileu do Ano 2000” foi proclamado por São João Paulo II na Bula “Incarnationis mysterium”: “O nascimento de Jesus em Belém não é um fato que se possa relegar para o passado. Diante d’Ele, com efeito, está a história humana inteira: o nosso tempo atual e o futuro do mundo são iluminados pela sua presença.” O Jubileu, precedido por um triênio bem preparado, nos termos da Carta Apostólica “Tertio Millennio adveniente” foi vivido sob a inspiração do tema “Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre”. A participação no Jubileu propiciou aos fiéis a graça de receber a Indulgência, observadas as normas previstas: “confissão, Eucaristia, oração para o papa e da renúncia do apego ao pecado”. Na preparação e na celebração do Ano Santo os fiéis rezaram a Oração do Jubileu. São João Paulo II viveu o Jubileu do ano 2000 intensamente, com zelo, doação e amor à Igreja, experimentando o peso do ofício, a limitação da idade e a fragilidade da saúde, como se pôde constatar. 

Já no curso do terceiro milênio do cristianismo, o Papa Francisco, o 265º sucessor de Pedro, convocou a Igreja para celebrar o Jubileu Ordinário de 2025, o Jubileu da Esperança, ao publicar a Bula “Spes non confundit”. Assim começa o texto: “‘Spes non confundit – a esperança não engana’ (Rm 5, 5). Sob o sinal da esperança, o apóstolo Paulo infunde coragem à comunidade cristã de Roma. A esperança é também a mensagem central do próximo Jubileu, que, segundo uma antiga tradição, o Papa proclama de vinte e cinco em vinte e cinco anos. Penso em todos os peregrinos de esperança, que chegarão a Roma para viver o Ano Santo e em quantos, não podendo vir à Cidade dos apóstolos Pedro e Paulo, vão celebrá-lo nas Igrejas particulares. Possa ser, para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, ‘porta’ de salvação (cf. Jo 10, 7.9); com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a ‘nossa esperança’ (1 Tm 1, 1).” Como em qualquer Ano Santo, os fiéis recebem as graças da Indulgência Plenária indo, em peregrinação, a Roma e aos santuários e outros lugares sagrados, indicados em cada Diocese do mundo. A oração do Jubileu mantém os fiéis unidos a Deus e à Igreja ao longo deste tempo de bençãos. No Jubileu da Esperança, o Papa Francisco está revelando um grande amor à Igreja, como Peregrino Esperança, de modo especial, nesse momento de hospitalização, devido à preocupação com o estado de sua saúde. A comunidade cristã, pessoas de outras inspirações religiosas e não crentes o acompanham com proximidade, empatia, afeto, esperança. 

Que São João XXIII, São Paulo VI e São João Paulo II intercedam junto ao Deus da vida para que o Papa Francisco possa continuar servindo à Igreja e à humanidade, com sua simplicidade, generosidade, autenticidade, verdade. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Será Santo Dr. José Gregorio Hernández Cisneros, "médico dos pobres"

Igreja do Colégio La Salle em Caracas (Vatican News)

Além do “médico dos pobres”, o venezuelano José Gregorio Hernández Cisneros, os Decretos que o Papa autorizou a serem promulgados acolhem o pedido de canonização do Beato Bartolo Longo, fundador do Santuário de Pompeia. Entre os novos veneráveis ​​está também Salvo D'Acquisto, o carabineiro que ofereceu a sua vida para salvar um grupo de pessoas de uma represália nazista.

Alessandro De Carolis - Cidade do Vaticano

São histórias de excelência humana antes de serem puramente cristãs, muitas vezes de puro heroísmo, aquelas que emergem dos documentos das novas canonizações e beatificações. Também nos Decretos assinados na segunda-feira por Francisco — que recebeu no Policlínico Gemelli, onde está internado há dias, o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin e o substituto arcebispo Edgar Peña Parra — brilham as figuras de dois futuros santos, um italiano e um venezuelano, muito queridos em seus respectivos países.

O Apóstolo do Rosário de Pompeia

Bartolo Longo é sinônimo internacional de Nossa Senhora de Pompeia. Tendo vivido entre meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX, em Latiano, na Puglia, aquele que viria a se tornar um apóstolo do Rosário viveu uma fase inicial de sua vida com um problema interior muito agudo. Durante seus estudos de Direito em Nápoles, por algum tempo aproximou-se do espiritismo, para depois redescobrir sua fé graças à ajuda de alguns sacerdotes.

Desperta nele o desejo de promover obras de caridade e, tendo se tornado administrador dos bens da condessa Marianna Farnararo, uma viúva com cinco filhos pequenos, trabalhou para garantir que as pessoas pobres que viviam nas terras da nobreza no Vale de Pompeia tivessem uma existência mais digna.

Em 1875 leva a Pompeia uma imagem de Nossa Senhora e em 1876 inicia a construção do santuário destinado a se tornar um local de culto mundial, consagrado a Nossa Senhora do Rosário em 7 de maio de 1891. Bartolo Longo se com a condessa e juntos doam a propriedade do santuário a Leão XIII, que deixa sua a administração ao casal. Para o futuro beato é o início de uma nova vida de total devoção à Virgem, que ele exerce também com um intenso trabalho de escrita e distribuição de livros, folhetos e revistas. Ele faleceu em 1926 e João Paulo II o elevou aos altares em 1980.

Precisamente essa enorme difusão da devoção mariana surgida no Santuário de Pompeia que levou o arcebispo prelado e delegado pontifício do Santuário, Tommaso Caputo, juntamente com o bispo de Acerra Antonio Di Donna, presidente dos prelados da Campânia, a pedir ao Papa a canonização do Beato Bartolo Longo em 2024.

Pedido semelhante foi feito a Francisco pelo cardeal arcebispo de Caracas Baltazar Enrique Cardozo – apoiado por bispos de vários países latino-americanos, mas também dos EUA e da Espanha – para José Gregorio Hernández Cisneros, um médico venezuelano que viveu entre 1864 e 1919, cuja fama como “médico dos pobres” se consolidou internacionalmente por muitos anos. Ao aceitar esses pedidos, o Papa, informa o Dicastério para as Causas dos Santos, “decidiu convocar um Consistório que tratará das próximas canonizações”.

Avental branco, franciscano de coração

Para quem o conheceu, ele já era um santo em vida. José Gregorio Hernández Cisneros, natural de Isnotú, no Estado de Trujillo, na Venezuela, depois de estudos regulares decide matricular-se em Medicina na Universidade de Caracas.

Ele também estudou em Paris e Berlim e se especializou em Microbiologia e Bacteriologia, Histologia Normal e Patológica e Fisiologia Experimental. Tem um forte desejo de se tornar sacerdote, mas se por um lado se prepara para curar os outros, por outro ele próprio tem um ponto fraco em sua saúde.

No entanto, ingressou na Ordem Franciscana Secular e, com a dedicação de uma pessoa consagrada, aproximou-se da profissão médica, preferindo aqueles que não tinham condições. Logo o chamam de “o médico dos pobres”, de quem ele não só não recebe nenhuma compensação, como muitas vezes paga pelos remédios. E foi justamente ao sair de uma farmácia em Caracas, em junho de 1919, onde havia comprado alguns remédios para um paciente idoso, que foi atropelado, vindo a falecer no hospital. Ele foi proclamado beato em 2021 e seus restos mortais são venerados na igreja de Nossa Senhora da Candelária, em Caracas.

Salvo D'Acquisto torna-se Venerável

Nos Decretos que Francisco autorizou a promulgação há outras duas figuras unidas pelo mesmo destino que entrelaça heroísmo, drama e fé. A primeira história diz respeito a Salvo d’Acquisto, um jovem carabiniere napolitano, nascido em 1920, que ingressou na força policial aos 18 anos. Entre 1940 e 1942 foi enviado à Líbia, onde demonstrou com afinco suas convicções quer pela retidão moral como pelos gestos com os quais a acompanhava, a saber: o sinal da cruz em público ou a recitação do Rosário.

Depois de se tornar vice-brigadeiro, foi designado para a estação de Torrimpietra. Após o armistício de 8 de setembro de 1943, em 22 de setembro, uma unidade nazista - agora inimiga em solo italiano - chegou à Torre di Palidoro, localizada na região sob jurisdição da casernal. Alguns soldados localizam e forçam imprudentemente a abertura de caixas contendo dispositivos explosivos, causando uma explosão que mata um soldado e fere outros dois. O comandante suspeita de um atentado e manda prender Salvo D’Acquisto, que, devido à ausência do seu superior, está no comando da estação dos Carabinieri naquele momento. O vice-brigadeiro explica várias vezes que foi um trágico acidente, mas os nazistas decidem por uma represália e reúnem 22 pessoas, obrigam-nas a cavar um grande fosso e preparam-se para fuzilá-las quando Salvo D'Acquisto se acusa de ser o único responsável pelo ocorrido, oferecendo-se em troca da libertação de todos os outros. O carabineiro de 23 anos foi baleado no local enquanto os reféns conseguiram salvar suas vidas. Uma decisão, reconheceu-se, não ditada por "um simples ato de solidariedade cívica e filantropia secular" do novo Venerável, mas sim inserida "num estilo de vida consciente e coerentemente cristão".

A outra história também se passa em um contexto de guerra. Emilio Giuseppe Kapaun é um estadunidense do Kansas, onde nasceu em 1916 em uma família muito religiosa de origem boêmia. Amadurece nele a vocação ao sacerdócio, estuda no seminário e em 1941, após a entrada dos Estados Unidos na guerra, alistou-se como capelão militar. Em 1944, foi enviado para a região indo-birmanesa e então, com a eclosão do conflito na Coreia, Emilio ali desembarca com sua unidade militar.

Durante a Batalha de Unsan, em 1º de novembro de 1950, perto da fronteira com a Coreia do Norte, o capelão se recusou a fugir e permaneceu na zona de batalha para ajudar os feridos. Capturado, foi enviado para o campo de Pyokton, onde realizou trabalho apostólico em meio ao sofrimento e à privação de outros 3.500 prisioneiros. A falta de alimentos e roupas e alguns problemas físicos induzidos pela precariedade de sua prisão o enfraqueceram até que, na semana após a Páscoa de 1951, cai no chão e os carcereiros chineses, que haviam tomado o campo dos coreanos, o enviaram para a “Casa da Morte”, uma estrutura onde os prisioneiros eram deixados sem água, comida e cuidados e onde o Servo de Deus, agora “venerável”, veio a falecer em 23 de maio de 1951.

Nos Decretos fala-se também das virtudes heróicas de três novos veneráveis. Trata-se do espanhol Michele Maura Montaner, nascido em 1843 e falecido em 1915 em Palma de Maiorca, sacerdote diocesano e fundador da Congregación de las Hermanas Celadoras del Culto Eucarístico. Pregador incansável de missões populares, funda também o jornal El Áncora para enfrentar o ateísmo, escolha que o leva a ser perseguido pelo regime da época. Ele dedica seu tempo à formação de sacerdotes e ao apostolado dos trabalhadores.

Contemporâneo a ele é outro sacerdote diocesano, o italiano Didaco Bessi, fundador da Congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Maria do Rosário, nascido e vivido em Iolo entre 1856 e 1919. Seu estilo pastoral tem como pilares o cuidado das famílias, a promoção humana e a educação. Ele dirige-se principalmente às meninas que não eram enviadas à escola e que desde cedo eram obrigadas a tecer palha para fazer chapéus. A escola para as meninas pobres é um dos seus primeiros empenhos, inspirado por uma visão muito moderna, segundo a qual educar não significa simplesmente transmitir informação, mas ajudar os jovens a alcançar a plenitude humana e espiritual.

Com ele figura também a leiga polonesa Cunegonda Siwiec, nascida e vivida entre 1876 e 1955 em Stryszawa – Siwcówka, que aos 20 anos - com um casamento em vista - decide doar-se a Deus, ingressando mais tarde na Ordem Terceira Franciscana e colocando suas energias em várias formas de apostolado. Ela oferece um terreno herdado para a construção de um centro pedagógico-educacional para jovens e adultos, essencialmente uma escola regular, do tipo que ela, uma menina sem oportunidade de estudar, não pôde frequentar.

Muito devota da Eucaristia, “Kundusia”, como era familiarmente chamada, começou a sentir, sobretudo depois da comunhão, “locuções interiores”, revelações de Jesus, de Nossa Senhora e dos santos que confiou ao seu confessor em 1942, que transcreveu as mensagens até à morte da futura venerável. Com sua saúde se deteriorando gradualmente, Kundusia decide oferecer sua vida pela reparação dos pecados e rapidamente se torna um ponto de referência espiritual para muitas pessoas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Catequese Papa: “farejar” a presença de Deus na pequenez

Sala Paulo VI durante uma Audiência Geral  (Vatican Media)

Impossibilitado de conduzir a Audiência Geral devido à internação hospitalar, o Papa Francisco disponibilizou o texto da catequese desta quarta-feira, 26 de fevereiro. No texto, o Pontífice desenvolve uma reflexão sobre a Apresentação de Jesus no Templo e convida a ser como Simeão e Ana, “peregrinos da esperança”, com olhos límpidos, capazes de ver além das aparências.

Vatican News

A catequese do Papa Francisco preparada para a Audiência Geral que estava prevista para esta quarta-feira, 26 de fevereiro, na Sala Paulo VI, mas cancelada por causa da internação do Pontífice no Hospital Agostino Gemelli, foi publicada pela Sala de Imprensa da Santa Sé. 

O texto dá continuidade ao ciclo de catequeses jubilar sobre "Jesus Cristo, nossa esperança: A infância de Jesus" com ênfase na Apresentação de Jesus no Templo.

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje contemplamos a beleza de “Jesus Cristo, nossa esperança” (1 Tm 1,1) no mistério de sua apresentação no Templo.

Nos relatos da infância de Jesus, o evangelista Lucas nos mostra a obediência de Maria e José à Lei do Senhor e a todas as suas prescrições. Na realidade, em Israel não havia a obrigação de apresentar a criança no Templo, mas quem vivia da escuta da Palavra do Senhor e desejava conformar-se a ela, considerava essa prática preciosa. Foi o que fez Ana, mãe do profeta Samuel, que era estéril; Deus ouviu sua oração e, tendo tido seu filho, o levou ao templo e o ofereceu para sempre ao Senhor (cf. 1Sm 1,24-28).

Lucas narra, portanto, o primeiro ato de adoração de Jesus, um ato celebrado na cidade santa, Jerusalém, que será a meta de todo o seu ministério itinerante a partir do momento em que tomará a firme decisão de ir até lá (cf. Lucas 9,51), rumo ao cumprimento da sua missão.

Maria e José não se limitam a inserir Jesus numa história de família, de povo, de aliança com o Senhor Deus. Eles cuidam da sua proteção e do seu crescimento, e o introduzem na atmosfera da fé e do culto. E eles mesmos crescem gradualmente na compreensão de uma vocação que os supera em grande medida.

No Templo, que é “casa de oração” (Lc 19,46), o Espírito Santo fala ao coração de um homem idoso: Simeão, membro do povo santo de Deus, preparado para a espera e a esperança, que alimenta o desejo do cumprimento das promessas feitas por Deus a Israel por meio dos profetas. Simeão sente a presença do Ungido do Senhor no Templo, vê a luz que brilha no meio dos povos imersos “nas trevas” (cf. Is 9,1) e vai ao encontro daquele menino que, como profetiza Isaías, “nasceu para nós”, é o filho que “nos foi dado”, o “Príncipe da Paz” (Is 9,5). Simeão abraça aquele menino que, pequeno e indefeso, repousa em seus braços; mas é ele, na realidade, que encontra o consolo e a plenitude de sua existência ao abraçá-lo. Ele expressa isso num canto cheio de comovente gratidão, que na Igreja se tornou a oração do fim do dia:

«Agora, Senhor, deixai o vosso servo

ir em paz, segundo a vossa palavra,

porque os meus olhos viram a vossa salvação

que preparastes diante de todos os povos:

como luz para iluminar as nações

e para a glória do vosso povo de Israel» (Lc 2,29-32).

Simeão canta a alegria de quem viu, de quem reconheceu e pode transmitir aos outros o encontro com o Salvador de Israel e dos gentios. Ele é testemunha da fé, que recebe como dom e comunica aos outros; ele é testemunha da esperança que não desilude; é testemunha do amor de Deus, que enche o coração do homem de alegria e paz. Cheio desta consolação espiritual, o idoso Simeão vê a morte não como o fim, mas como realização, como plenitude, ele a espera como uma “irmã” que não aniquila, mas introduz na verdadeira vida que ele já anteviu e na qual acredita.

Naquele dia, Simeão não é o único que vê a salvação que se fez carne no menino Jesus. O mesmo acontece com Ana, mulher com mais de oitenta anos, viúva, totalmente dedicada ao serviço no Templo e consagrada à oração. Com efeito, ao ver o menino Ana celebra o Deus de Israel, que redimiu o seu povo precisamente naquele menino, e conta-o aos outros, propagando generosamente a palavra profética. Assim, o cântico da redenção de dois anciãos liberta o anúncio do Jubileu para todo o povo e para o mundo. No Templo de Jerusalém reacende-se a esperança nos corações, porque nele entrou Cristo, nossa esperança!

Queridos irmãos e irmãs, imitemos também nós Simeão e Ana, “peregrinos da esperança” que têm olhos límpidos capazes de ver além das aparências, que sabem “farejar” a presença de Deus na pequenez, que conseguem receber com alegria a visita de Deus e reacender a esperança no coração dos irmãos e irmãs.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF