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segunda-feira, 3 de março de 2025

O significado e a origem das cinzas de Quaresma

Imagem ilustrativa | Unsplash

O significado e a origem das cinzas de Quaresma

Por Yhonatan Luque Reyes*

3 de março de 2025

A Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas, quando acontece o rito da imposição das cinzas. Mas qual é o significado e a origem das cinzas usadas neste tempo litúrgico?

Significado das cinzas na Quaresma

Bento XVI disse durante uma audiência geral que a cinza é um sinal que convida os cristãos à penitência e a intensificar o compromisso de conversão para seguir cada vez mais o Senhor.

Segundo Antonio Lobera y Abio, padre do século XIX e autor do livro "El porqué de todas las ceremonias de la Iglesia y sus misterios" (O porquê de todas as cerimônias da Igreja e seus mistérios, em tradução livre ao português), esta penitência deve vir acompanhada de arrependimento e dor por ter ofendido a Deus.

O artigo 125 do Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia diz que o rito da imposição das cinzas, longe de ser "um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal”.

As cinzas também simbolizam a mortalidade dos homens. Isso se reflete claramente quando o padre impõe cinzas na testa dos fiéis enquanto diz "lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar".

Origem

No Antigo Testamento, as cinzas são usadas para expressar luto (Jeremias 6,26), desejo de obter algum favor de Deus (Daniel 9,3) e arrependimento (Judite 4,11).

A Enciclopédia Católica diz que durante a Quinta-feira Santa os primeiros cristãos colocavam cinzas sobre a cabeça e um "hábito penitencial", como símbolo de penitência pública.

Embora a Quaresma tenha adquirido um caráter totalmente penitencial no século IV, só no século XI que o rito da imposição de cinzas na Quarta-Feira de Cinzas foi implementado.

O rito da imposição das cinzas rapidamente se espalhou pela Igreja Católica e tornou-se uma parte importante da Quaresma.

Atualmente, outras denominações cristãs (anglicanos, luteranos, metodistas, presbiterianos, ortodoxos) também utilizam a cinza no início da Quaresma, embora seus ritos sejam diferentes aos da Igreja Católica.

*Yhonatan Luque Reyes es redator de ACI Prensa. Cuenta con 10 años de experiencia en el desarrollo, creación de contenido y posicionamiento de sitios web, y ha desarrollado exitosas iniciativas de evangelización en redes sociales.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/54524/o-significado-e-a-origem-das-cinzas-de-quaresma

Quaresma, De Donatis presidirá a liturgia das cinzas no Aventino

Na Quarta-feira de Cinzas haverá o rito de imposição das Cinzas na Basílica de Santa Sabina em Roma (Vatican Media)

O Departamento das Celebrações Litúrgicas Pontifícias anuncia que, por causa da internação do Papa no Hospital Gemelli, o penitencieiro-mor presidirá a celebração que marca o início do tempo de preparação para a Páscoa. Liturgia estacional na Igreja de Santo Anselmo no Aventino seguida da procissão penitencial até a Basílica de Santa Sabina. O evento será transmitido pela Rádio Vaticano-Vatican News, em português, a partir das 12h30 no horário de Brasília.

Vatican News

O Departamento das Celebrações Litúrgicas Pontifícias informa que na Quarta-feira de Cinzas, 5 de março, dia que marca o início da Quaresma, às 16h30 locais, o cardeal Angelo De Donatis, penitencieiro-mor e delegado do Papa Francisco, presidirá a liturgia estacional na Igreja de Santo Anselmo no Aventino, em Roma, seguida da procissão penitencial até a Basílica de Santa Sabina.

A procissão contará com a presença de cardeais, arcebispos, bispos, monges beneditinos de Santo Anselmo, padres dominicanos de Santa Sabina e alguns fiéis. No final da procissão, será celebrada a missa, na Basílica de Santa Sabina, com o tradicional rito de imposição das cinzas.

O evento será transmitido pela Rádio Vaticano-Vatican News, em português, a partir das 12h30 no horário de Brasília.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 2 de março de 2025

REALIDADE: «Muitos só pedem que a Igreja seja ela mesma» (I)

Bento XVI e Carlo Maria Martini [© Osservatore Romano] | 30Giorni

Arquivo 30Giorni n. 02/03 - 2010

"Da boca das crianças, Senhor, fizeste louvores a ti mesmo."

«Muitos só pedem que a Igreja seja ela mesma»

«A Igreja não pode ter medo de parecer cordial com os outros na vida pública. Mas é fato que seu verdadeiro tesouro é o Evangelho lido em nós pelo Espírito Santo. Um tesouro de oração e humildade." Entrevista com o Cardeal Carlo Maria Martini.

Entrevista com o Cardeal Carlo Maria Martini por Gianni Valente

“Primeiro aprendemos, depois ensinamos, depois recuamos e aprendemos a ficar em silêncio. E no quarto estágio, o homem aprende a mendigar." O provérbio indiano que ele quis citar em um de seus últimos livros, para o Cardeal Carlo Maria Martini, representa quase uma fotografia de sua longa vida. Ele aguarda a Páscoa na tranquilidade laboriosa do Aloisianum, o glorioso lar dos jesuítas em Gallarate, enquanto mesmo naquele canto isolado os ecos das tempestades midiáticas que mais uma vez atingem sua Igreja chegam até ele. Ele diz que sente muita falta de Jerusalém. Com palavras inusitadas para a Cidade Santa, ele explica que para ele aquele lugar tem um efeito quase tônico, porque «é muito rico em lugares e motivos que impelem à ação. Graças a Deus”, acrescenta, “conservo também aqui esse desejo de sair de mim mesmo e lançar-me nas coisas que Jerusalém me transmitiu”.

O que ele pede agora em suas orações miseráveis?

CARLO MARIA MARTINI: Agora minha mendicância também é física, o que me obriga a pedir ajuda a alguém, talvez à noite. Esta é a primeira pobreza que o Senhor me faz passar agora, mas não me custa muito, porque assim dou aos outros a oportunidade de realizar atos de caridade. Então agora minha oração é pela Igreja de Milão, é uma oração de intercessão por todas as realidades e pessoas da diocese, que recomendo uma por uma à graça de Deus. Pela Igreja do mundo - mas talvez esse objetivo seja grande demais - peço que a fé e a esperança aumentem e que se expressem na caridade. Estas são as virtudes às quais Bento XVI também dedicou suas encíclicas.

Ela falou sobre sua oração de intercessão. Em seu livro recente, Something So Personal , ele reuniu algumas de suas meditações sobre os muitos aspectos da oração.

MARTINI: Há muitas maneiras de rezar. Há a oração de petição, que pede milagres, curas e maravilhas, como ver almas que se odiavam virem a perdoar umas às outras; há a oração de louvor, ou a oração daqueles que lutam, se esforçam, são frágeis; daqueles que precisam de perdão, ou dos pobres que precisam de pão. Mas o que distingue a oração cristã da oração, por mais elevada que seja, de outras religiões, é que a oração cristã é um dom direto de Deus, que nos envia o Espírito. Podemos dizer: Senhor, eu não sou capaz, faça essa oração em mim, coloque-a em meu coração. E o ápice da oração é a oração de entrega, a entrega de nossas vidas em suas mãos.

Nesse livro há algumas páginas dedicadas à oração do velho Simeão. E ela se concentra na imagem do velho abraçando a criança. Ele escreve: «Simeão representa cada um de nós diante da novidade de Deus», que «se apresenta como criança». Ela escreveu seu último livro, Uma Palavra para Você, especialmente para crianças. Páginas bíblicas narradas aos pequenos , com reflexões sobre algumas páginas bíblicas narradas aos pequenos.

MARTINI: "Da boca das crianças e dos recém-nascidos, Senhor, saíste o teu louvor": esta é a frase do salmo citado por Jesus, quando os sumos sacerdotes e os anciãos o criticam por acharem inapropriado o grito de hosana das crianças dirigido a ele. Hoje em dia, as crianças muitas vezes me parecem abandonadas. As notícias de hoje nos mostram o quão indefesos eles estão diante dos danos que podem ser causados ​​a eles. Mas o que me impressiona neles é essa abertura natural e confiante em relação aos pais e à vida, que também é essencial na fé.

Às vezes, em vez de incentivar e nos comover com essa abertura, buscamos técnicas e estratégias que aproximem as crianças da fé. O que você espera deles?

MARTINI: A fé é transmitida às pessoas a partir do ambiente que as cerca, mas pode então entrar concretamente em cada pessoa por quatro vias: a cabeça, o coração, as mãos e os pés. Ou seja, formação humana e intelectual, oração ou trabalho com as próprias mãos para ajudar os outros. Dependendo do tipo, uma ou outra funciona como rota preferencial.

E o que os pés têm a ver com isso?

MARTINI: Os escoteiros usam os pés para percorrer quilômetros em suas caminhadas.

No entanto, em outro de seus livros recentes, é relatada a objeção de um menino: «Não sei o que fazer com a fé. Não tenho nada contra, mas o que a Igreja deveria me dar? […] Estou bem, o que mais preciso?”.

MARTINI: Muitos jovens têm o inferno no coração, não há como negar. No entanto, vejo que para os jovens que não sabem nada sobre a Igreja, muitas vezes é mais fácil começar pelas mãos. Eles se dedicam a obras de caridade quando veem outros fazendo coisas com paz e serenidade em seus corações.

Fonte: https://www.30giorni.it/

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”

Palavra de Vida Março 2025 (Editora Cidade Nova)

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?” (Lc 6,41) | Palavra de Vida Março 2025.

por Organizado por Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida.   publicado às 00:00 de 21/02/2025, modificado às 09:43 de 21/02/2025

Tendo descido da montanha, depois de uma noite de oração, Jesus escolhe os seus apóstolos. Chegando a um lugar plano, faz-lhes um longo discurso que começa com a proclamação das Bem-aventuranças.

No texto de Lucas, diferentemente do Evangelho de Mateus, as Bem-aventuranças são apenas quatro e se referem aos pobres, aos que passam fome, aos sofredores e aos aflitos. Lucas acrescenta ainda quatro advertências contra os ricos, os fartos e os arrogantes(1). Na sinagoga de Nazaré(2), Jesus tinha assumido a missão de cumprir esta predileção de Deus pelos últimos, ao afirmar que sobre Ele está o Espírito do Senhor e que leva a Boa Nova aos pobres, a libertação aos presos e a liberdade aos oprimidos.

Jesus continua seu discurso exortando os discípulos a amar até mesmo os inimigos(3). Essa mensagem encontra a raiz de sua motivação no comportamento do Pai Celeste: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Essa afirmação é também o ponto de partida para o que vem a seguir: “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados” (Lc 6,37). 

Mais adiante Jesus adverte, por meio de uma imagem deliberadamente exagerada:

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”

Jesus conhece realmente o nosso coração. Quantas vezes, na vida quotidiana, fazemos esta triste experiência: é fácil criticar, até severamente, os erros e as fraquezas de um irmão ou de uma irmã, sem considerar que, fazendo isso, atribuímos a nós mesmos um direito que pertence somente a Deus. O fato é que, para “tirar a trave” do nosso olho, precisamos daquela humildade que vem da consciência de sermos pecadores, continuamente necessitados do perdão de Deus. Somente quem tem a coragem de perceber a própria “trave”, de ver o que precisa fazer pessoalmente para se converter, será capaz de compreender as fragilidades e as fraquezas suas e dos outros, sem julgar, sem exagerar. 

Contudo, Jesus não está convidando a fechar os olhos e ficar no “deixa pra lá”. Ele deseja que seus seguidores se ajudem uns aos outros a progredir no caminho para uma vida nova. Também o apóstolo Paulo pede com insistência que nos preocupemos uns com os outros: admoestando os que levam vida desordenada, encorajando os desanimados, sustentando os fracos, sendo pacientes para com todos(4). Só o amor é capaz de realizar um serviço dessa natureza.

“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”

Como colocar em prática esta Palavra de Vida?

Além do que já foi dito, podemos pedir a Jesus, a partir deste tempo de Quaresma, que nos ensine a ver os outros como Ele os vê, como Deus os vê. E Deus vê com os olhos do coração porque o seu olhar é um olhar de amor. Depois, como ajuda mútua, poderíamos retomar uma prática que foi decisiva para o primeiro grupo de jovens do Focolare em Trento.

“No início”, dizia Chiara Lubich a um grupo de amigos muçulmanos, “nem sempre era fácil […] viver o radicalismo do amor. […] Também entre nós, em nosso relacionamento, podia-se ‘depositar um pouco de poeira’, e a unidade podia esmorecer. Isso acontecia, por exemplo, quando percebíamos defeitos, imperfeições nos outros e os julgávamos. Então, a corrente do amor mútuo esfriava. Para reagir a essa situação, pensamos um dia estabelecer um pacto entre nós, e o chamamos de ‘pacto de misericórdia’. Decidimos ver, cada manhã, o próximo que encontrávamos – em casa, na escola, no trabalho etc. –, como novo, sem nos lembrar de maneira alguma dos seus defeitos, mas cobrindo tudo com o amor. […] Era um compromisso forte, assumido por nós todas juntas, que ajudava cada uma a ser sempre a primeira a amar, à imitação de Deus misericordioso, que perdoa e esquece.(5)” 

Organizado por Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida.

Notas:

1) Cf. Lc 6,20-26.

2) Cf. Lc 4,16-21.

3) Cf. Lc 6,27-35.

4) Cf. 1Ts 5,14.

5) LUBICH, Chiara, O amor ao próximo, Diálogo com os amigos muçulmanos, Castel Gandolfo, 1/11/2002. Cf. LUBICH, Chiara, O amor mútuo, São Paulo: Cidade Nova, 2021, p. 102-103.

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/editorial/inspira/4052-por_que_reparas_no_cisco_no_olho_do_teu

Reflexão para o 8° Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

O Evangelho, Lucas narra um ensinamento de Jesus, dizendo que, antes de querermos corrigir o nosso semelhante, temos que analisar os nossos próprios erros.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Celebramos neste domingo o oitavo deste Tempo Comum. Na próxima terça-feira, o Tempo Comum fará uma pausa, e, na Quarta-Feira de Cinzas, iniciaremos o Tempo da Quaresma. O Tempo Comum retomará após a Solenidade de Pentecostes e permanecerá até o fim do ano litúrgico, na Solenidade de Cristo Rei do Universo.

Estamos nos dias de Carnaval e, em nossa arquidiocese, no tempo dos retiros espirituais. Terça-feira é o dia do Carnaval, e, na Quarta-Feira de Cinzas, à 0h, inicia o Tempo da Quaresma com a celebração das Cinzas. Aproveitemos o Carnaval com consciência e moderação e, caso viagem para desfrutar o feriado prolongado, não se esqueçam da celebração da missa dominical e depois, da Quarta-Feira de Cinzas. Este ano, o Carnaval é um pouco mais tarde; aproveitemos este terceiro mês do ano para realizar nossa confissão sacramental e nos prepararmos bem para a Páscoa do Senhor.

A cada domingo, celebramos a Páscoa semanal de Cristo e recordamos a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Dia de estarmos em família e, juntos, participarmos da celebração eucarística. Sejamos gratos ao Senhor por ter dado a sua vida por nós na Cruz e por se fazer presente entre nós através da Eucaristia, por meio do Espírito Santo. É bom e prudente, todos os domingos, agradecermos ao Senhor pela semana que tivemos e pedirmos por aquela que está iniciando.

A liturgia de hoje nos diz que, antes de olharmos o erro do outro e buscarmos corrigi-lo, temos que observar como está a nossa vida, olhar primeiramente os nossos atos para depois corrigir o outro. Infelizmente, no mundo de hoje, muitas pessoas são muito boas para apontar o dedo para o outro e indicar-lhe seus defeitos, mas essa pessoa que faz isso não olha primeiro para o seu interior. Portanto, irmãos, olhemos antes para nós do que para os outros.

A primeira leitura da missa deste domingo é do livro do Eclesiástico (Eclo 27,5-8). Esse trecho do livro do Eclesiástico nos diz para tomarmos cuidado antes de elogiarmos alguém, pois observaremos os defeitos dessa pessoa quando a ouvirmos falar. Procuremos não fazer elogios antes de conhecer alguém profundamente, pois a nossa confiança, em primeiro lugar, deve estar em Deus.

Até mesmo dentro da comunidade, no trabalho, na escola ou no bairro, antes de elogiarmos alguém ou de expormos a nossa vida para alguém que não conhecemos, procuremos primeiro conhecer essa pessoa, criar uma intimidade com ela e ouvi-la antes de falarmos de nós.

O Salmo responsorial é o 91 (92), que diz em seu refrão: “Como é bom agradecermos, agradecermos ao Senhor!” Sejamos sempre gratos ao Senhor por tudo de bom que acontece em nossa vida e por aquilo que não seja tão bom também. O Senhor saberá conduzir a nossa vida, por isso, procuremos trilhar o caminho da justiça e da paz para que as coisas boas aconteçam em nossa vida e sejamos merecedores da vida eterna.

A segunda leitura da missa deste domingo é da primeira carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,54-58). Nesse trecho da leitura, Paulo vai dizer que a vida venceu a morte, ou seja, a vida não termina aqui, mas continua na vida eterna. Por mais que o corpo mortal se corrompa, a nossa alma, com o corpo glorioso, vai para junto de Deus. Tudo aquilo que passamos nesta vida, tanto as dores como as alegrias, será levado em conta na vida eterna. Por isso, trilhemos o caminho da justiça, respeitando e amando os nossos semelhantes. Tenhamos a certeza de que, ao final da nossa vida terrena, seremos merecedores da vida eterna e que tudo aquilo que passamos aqui será recompensado.

O Evangelho da missa deste domingo é de Lucas (Lc 6,39-45). Nesse trecho do Evangelho, Lucas narra um ensinamento de Jesus, dizendo que, antes de querermos corrigir o nosso semelhante, temos que analisar os nossos próprios erros. Infelizmente, no mundo de hoje, muitos querem apontar o dedo para os defeitos dos outros, julgar ou condenar o próximo, mas, muitas vezes, aqueles que fazem isso têm “pecados” piores.

Portanto, antes de corrigirmos alguém, vejamos as nossas atitudes e se elas condizem com aquilo que nos diz o Evangelho ou com aquilo pelo qual estamos corrigindo o próximo. Somente Deus pode julgar o outro; é a consciência dele com Deus que fará com que durma ou não tranquilamente. Que cada um de nós possa produzir frutos bons de justiça, paz, amor e misericórdia e que não sejamos árvores secas, mas árvores verdes que produzam bons frutos e, dessa forma, possam ajudar o próximo.

Que possamos tirar palavras boas do nosso coração, palavras que confortem o próximo, e não palavras más que o destrua. Em nosso coração deve estar aquilo que recebemos da Palavra de Deus, e o que recebemos da Palavra devemos transmitir ao próximo. Agora, se não guardarmos no coração aquilo que recebemos da Palavra, não transmitiremos ao próximo palavras boas.

Celebremos com alegria este oitavo domingo do Tempo Comum, e que possamos confiar somente em Deus. Antes de corrigirmos o próximo, verifiquemos se as nossas atitudes condizem com as do Evangelho. Sejamos ainda como árvores verdes que produzam bons frutos e que ajudem o próximo a seguir no caminho do bem. Sejamos homens e mulheres bons, e que possamos produzir palavras que edifiquem o nosso irmão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Você sabe qual é mais antigo registro audiovisual de um Papa?

Public Domain | Aleteia

J-P Mauro - publicado em 07/08/19

Aos 93 anos, o Papa Leão XIII foi filmado quando estava rezando em latim.

O Papa Bento XVI foi o primeiro papa a se comunicar pelas mídias sociais - um avanço tecnológico ao qual o Papa Francisco deu continuidade.

Embora o Vaticano nunca tenha tido a reputação de ser especialmente conhecedor de tecnologias, ao longo do século 20 o papado foi capaz de utilizar métodos modernos de comunicação para produzir éditos na própria voz do pontífice, ao invés de usar apenas a palavra escrita. Mas essa tradição realmente começou no século XIX.

O vídeo apresentado abaixo reproduz as imagens audiovisuais mais antigas de um bispo de Roma. Gravado em 1896, o filme mostra o Papa Leão XIII chegando a um evento, embora não esteja claro se é uma Missa ou um discurso papal. Na gravação de áudio, o Papa Leão recita a Ave Maria em latim.

Leão XIII foi Papa de 1878 a 1903. Durante seu pontificado, escreveu onze encíclicas sobre o tema da devoção à Virgem Maria, e por tais obras ficou conhecido como o "Papa do Rosário". Seu papado, de 25 anos, é o terceiro mais longo, atrás de Pio IX (32 anos) do apóstolo Pedro (34 anos).

Assista a este vídeo histórico.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/08/07/historico-o-mais-antigo-registro-audiovisual-de-um-papa

Discípulos do Mestre Jesus

Ser discípulos de Jesus (Milícia da Inaculada)

DISCÍPULOS DO MESTRE JESUS

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

“Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre”. Este ensinamento do Mestre Jesus orienta a liturgia dominical (Eclesiástico 27,5-8; Salmo 91, 1 Coríntios 15,54-58 e Lucas 6,39-45). Para os contemporâneos de Jesus era familiar ver um doutor da Lei ou rabi com um grupo de discípulos ou alunos que o seguiam a uma certa distância. Todo povo de Deus deveria ser discípulo tendo a Torá como Mestre e quem se ocupava em ensiná-la eram os mestres da Lei.  

Quando Jesus inicia as pregações também reuniu ao seu redor discípulos que o seguiam. Porém há significativas diferenças entre Jesus e os outros Mestres da Lei. Normalmente, o discípulo escolhia o mestre, mas é Jesus que escolhe os discípulos dos quais pede um seguimento incondicional. Entre os discípulos, estão dos doze apóstolos escolhidos para estarem com ele e para os enviar. Portanto, os termos discípulo e seguir estão em estreita relação entre si. Sempre significa seguir Jesus e sempre estar próximo dele. 

Quando afirma que o discípulo não é maior do que o mestre, obviamente o Mestre ao qual Jesus alude é ele mesmo e é este modelo altíssimo que o discípulo deve alcançar. O discípulo “bem formado será como o mestre”. Agora, um discípulo que é atento ao mestre e deixa-se formar por ele, torna-se um homem sincero, humilde, justo. Ele não arrogará a si o direito de julgar os outros, mas se humilhará “até a condição de servo” como Cristo para salvar o irmão. 

Jesus como mestre quer formar outros mestres semelhantes a ele para guiarem outras pessoas. Devem ser discípulos-mestre. É uma tarefa delicada ser guia, por isso Jesus elenca algumas atitudes fundamentais do guia. Em primeiro lugar deve ver o Caminho que é o próprio Cristo e já estar caminhando nele. É um caminho iluminado onde os obstáculos ficam visíveis. 

Outra condição fundamental do discípulo-mestre é examinar de forma sincera e humilde a própria vida. Ser ciente das “traves” existentes no olho que impedem de ver os “ciscos” nos olhos dos outros. É o que chamamos exame de consciência, autocrítica. Não se faz necessário que alguém de fora nos acuse, mas diante do Cristo Mestre percebermos como anda a própria vida e fazer as mudanças necessárias que impedem de ser discípulo. 

O discípulo também se dá a conhecer pelas palavras: “é no falar que o homem se revela”; “mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”. Portanto, o discípulo-mestre deve preencher “o tesouro do seu coração” com as palavras de salvação do mestre. 

Estas exigências de Jesus são necessárias para que o discípulo-mestre não se torne um hipócrita. O hipócrita no teatro grego era protagonista, por isso o hipócrita procura ser protagonista colocando-se no centro no lugar do Mestre Jesus. Aparentemente procura agradar a Deus, mas na verdade quer manipular a Deus. É um falsário que tenta agradar a Deus e os seguidores com as aparências, enquanto coração está longe. 

“Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos”. Pode-se questionar com palavras os ensinamentos do Cristo Mestre; porém, assim como cada planta produz os seus frutos, do mesmo modo as ações humanas desnudam o que se passa no “tesouro do coração” de cada discípulo. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa Francisco: na fragilidade aprendemos a confiar ainda mais no Senhor

O Pontífice, através do Angelus deste domingo (02/03), agradeceu a proximidade e oração de todo o Povo de Deus (Vatican Media)

A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou o texto do Angelus deste domingo (02/03) entregue pelo Pontífice, ainda internado no Gemelli de Roma. O Papa agradeceu a proximidade de todos, do cuidado da equipe médica à oração de fiéis do mundo inteiro, e disse se sentir “carregado” por todo o Povo de Deus: "sinto no coração a 'bênção' que se esconde na fragilidade, porque nestes momentos aprendemos ainda mais a confiar no Senhor". O pensamento pela paz: "daqui a guerra parece ainda mais absurda".

Andressa Collet - Vatican News

"Sinto no coração a 'bênção' que se esconde na fragilidade, porque justamente nestes momentos aprendemos ainda mais a confiar no Senhor; ao mesmo tempo, agradeço a Deus porque me dá a oportunidade de compartilhar no corpo e no espírito a condição de tantas pessoas doentes e sofredoras."

A mensagem do Papa Francisco, internado desde 14 de fevereiro no Hospital Gemelli de Roma, chega através da Sala de Imprensa da Santa Sé que divulgou o texto do Angelus escrito pelo Pontífice para este domingo (02/03). "Irmãs e irmãos, envio-lhes esses pensamentos ainda do hospital, de onde, como vocês sabem, estou há vários dias, acompanhado pelos médicos e profissionais de saúde, a quem agradeço pela atenção com que cuidam de mim", continuou ele, ao demonstrar gratidão a partir da equipe médica, mas extensiva ao mundo inteiro:

"Gostaria de agradecer as orações que se elevam ao Senhor do coração de tantos fiéis de muitas partes do mundo: sinto todo o carinho e a proximidade de vocês e, neste momento particular, sinto-me como que 'carregado' e apoiado por todo o Povo de Deus. Obrigado a todos!"

A reflexão do Evangelho 

Ao refletir sobre o Evangelho deste domingo (Lc 6,39-45), o Papa recordou como Jesus usou os sentidos da visão e do paladar para demonstrar a importância das relações com o próximo:

"Com relação à visão, pede para treinar os olhos para observar bem o mundo e julgar o próximo com caridade. Diz o seguinte: 'Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão' (v. 42). Somente com esse olhar de cuidado, não de condenação, a correção fraterna pode ser uma virtude. Porque se não for fraterna, não é uma correção!"

"Com relação ao paladar, Jesus nos lembra que 'toda árvore é reconhecida pelos seus frutos' (v. 44). E os frutos que vêm do homem são, por exemplo, as suas palavras, que amadurecem em seus lábios, de modo que 'sua boca fala do que o coração está cheio' (v. 45). Os frutos ruins são as palavras violentas, falsas, vulgares; aqueles bons são as palavras justas e honestas que dão sabor aos nossos diálogos."

E, então, ponderou o Papa, podemos nos perguntar: "como eu olho as outras pessoas, que são meus irmãos e irmãs? E como me sinto visto por eles? As minhas palavras têm um sabor bom ou estão impregnadas de amargura e de vaidade?".

"Daqui a guerra parece ainda mais absurda"

Ao final do texto do Angelus, Francisco, confiante na intercessão de Maria, novamente disse rezar pela paz ao recordar do mundo ferido pelas guerras, e de dentro de um hospital onde a dimensão pode ganhar novos valores:

"Eu também rezo por vocês. E rezo especialmente pela paz. Daqui a guerra parece ainda mais absurda. Rezemos pela martirizada Ucrânia, pela Palestina, Israel, Líbano, Mianmar, Sudão, Kivu."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 1 de março de 2025

Cinco pontos básicos para entender a Quaresma e como ela é vivida

Quaresma 2024 | Shutterstock/Kara Gebhardt

Cinco pontos básicos para entender a Quaresma e como ela é vivida

Por Redação central

1 de março de 2025

A Quaresma é um período litúrgico de oração e penitência para se preparar para o Tríduo Pascal, que celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo.

São Leão Magno afirma que os dias da Quaresma "nos convidam de forma veemente ao exercício da caridade; se quisermos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos ter um interesse muito especial na aquisição dessa virtude, que contém em si todas as outras e cobre uma infinidade de pecados".

1. As três práticas da Quaresma

A primeira prática da Quaresma é a oração, condição indispensável para o encontro com Deus. Por meio dela, o cristão se comunica com o Senhor, permite que a graça entre em seu coração e, como a Virgem Maria, se abre à ação do Espírito Santo, dando uma resposta livre e generosa (Lc 1,38).

A segunda é a mortificação, que inclui o jejum e a abstinência. Ela deve ser vivida diariamente. Significa oferecer a Cristo os momentos que causam desconforto e aceitar a adversidade com humildade e alegria.

A terceira é a esmola ou, de forma mais ampla, a caridade. São João Paulo II explica que ela está enraizada "nas profundezas do coração humano: cada pessoa sente o desejo de estar em contato com os outros, e ele se realiza plenamente quando é dado livremente aos outros".

2. Jejum e abstinência

O jejum consiste em comer apenas uma refeição completa ao dia, e a abstinência se refere a não comer carne. Ambos os sacrifícios reconhecem a necessidade de realizar trabalhos para o bem da igreja e dos irmãos e em reparação dos pecados.

Nesta prática, as necessidades terrenas também são deixadas de lado a fim de redescobrir a sede de Deus. "Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4).

O jejum é obrigatório dos 18 aos 59 anos de idade, e não proíbe a ingestão de um pouco de alimento pela manhã e à noite.

Além da Quarta-feira de Cinzas e da Sexta-feira Santa, a abstinência deve ser observada todas as sextas-feiras do ano e é obrigatória a partir dos 14 anos de idade.

3. Início e fim da Quaresma

A Quarta-feira de Cinzas indica o início dos 40 dias de preparação para a Páscoa. Nesse dia, o padre abençoa e impõe as cinzas extraídas das palmas abençoadas no Domingo de Ramos do ano anterior.

 As cinzas são um sinal de humildade e lembram o cristão de sua origem e seu fim. Elas são impostas na testa com o sinal da cruz e pronunciando as palavras bíblicas: "Lembre-se de que você é pó e ao pó voltará" ou "Arrependa-se e creia no Evangelho".

A Quaresma termina na noite da Quinta-feira Santa. Nesse dia, a igreja comemora a Última Ceia de que o Senhor participou com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.

4. Duração da Quaresma

A Quaresma dura 40 dias. Esse é um número especial na Bíblia, pois o número quatro simboliza o universo material e, seguido de zeros, faz alusão ao tempo de vida na Terra, com suas provações e dificuldades.

Além disso, os 40 dias lembram os dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública.

5. A cor litúrgica da Quaresma

A cor litúrgica dessa época é o roxo, que significa luto e penitência. É um período de reflexão, conversão espiritual e preparação para o mistério pascal.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/57139/cinco-pontos-basicos-para-entender-a-quaresma-e-como-ela-e-vivida

SÃO TOMÁS DE AQUINO: «O princípio da liberdade de cognição está no sentido» (II)

São Tomás, figura lateral do Políptico Guidalotti (século XV), Fra Angelico, Galeria Nacional da Úmbria, Perugia | 30Giorni

SÃO TOMÁS DE AQUINO

Arquivo 30Giorni n. 03 - 1999

«O princípio da liberdade de cognição está no sentido»

O intelecto sem os sentidos não pode saber nada. Um diálogo com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti, jovens estudiosos de Aquino.

Entrevista com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti por Lorenzo Cappelletti

Isto, pelo menos para o leigo, é verdadeiramente surpreendente… 

CARLANI: Mas Tomás diz isso explicitamente, uma e outra vez, é quase um refrão: «Anima non potest aliquid intelligere nisi convertendo se ad phantasmata» ( Summa theologiae I, q. 89, a. 1, co.): a alma não pode compreender nada a menos que se volte para as “imagens” produzidas pela imaginação. E Tomás, como verdadeiro filósofo, não apenas afirma, mas demonstra a unidade essencial dos sentidos e do intelecto. Como o intelecto não possui um órgão corpóreo, ao contrário dos sentidos – diz ele na Summa [ver caixa] – o entendimento não deve ser impedido por uma lesão orgânica. Mas a experiência nos mostra o oposto: aqueles que sofrem, por exemplo, danos cerebrais são impedidos ou pelo menos limitados em sua atividade intelectual, tanto na aquisição de novos conhecimentos quanto na utilização dos conhecimentos que já possuem. Sempre e em qualquer caso, para passar ao ato, o intelecto necessita da ação de alguma faculdade que faça uso de um órgão corpóreo. Isso, como mencionado, também se aplica ao conhecimento já adquirido. Estes também, para serem ativos novamente, precisam dos sentidos, da imaginação e das outras forças pertencentes à parte sensível para agir. Mas isso não é tudo: Thomas traz uma segunda evidência, extraída da experiência comum. Quando queremos entender ou fazer alguém entender alguma coisa – diz ele – propomos exemplos, nos quais quase se consegue ver o que estamos tentando entender. Em suma, nosso pensamento como humanos está sempre ligado a um certo sentimento. Claro que o inverso também é verdadeiro: quando vemos algo, simultaneamente pensamos nisso; nosso sentimento é, no entanto, permeado pelo pensamento. Tomás não poderia ser mais claro sobre isto: a rigor – diz ele – não são os sentidos e o intelecto que conhecem, mas o homem através de ambos: «Non enim, proprie loquendo, sensus aut intellectus cognoscunt, sed homo per utrumque» ( Quaestiones disputatae de veritate q. 2, a. 6, ad 3). Aquele que conhece é o homem em sua unidade e cada um de seus atos de conhecimento é unitário, é um ato tanto sensível quanto intelectual. Nosso conhecimento é o sintoma mais evidente em nós de uma unidade psicossomática muito forte. 

A demonstração anterior parece-me particularmente interessante. Muito oportuno, aliás, também em relação ao debate em andamento sobre transplantes de órgãos. Se entendi corretamente, os sentidos, a imaginação devem ser sempre estimulados de alguma forma, para que algo que já tenha sido compreendido no passado seja realmente compreendido. O fato de o princípio do conhecimento estar nos sentidos significa que os sentidos já entendem de uma certa maneira?

PIETROSANTI: Aristóteles, no segundo livro do De anima , já havia destacado no tato – mas isso se aplica a todos os sentidos – aquela estrutura que ele chama de mediocridade discriminativa (mesóthw), isto é, uma capacidade de julgamento. Uma expressão que pode parecer estranha, mas que na prática significa que os sentidos, e cada sentido individualmente, são uma espécie de sistema — ou subsistema, se quisermos inseri-los no organismo complexo que é o homem — capaz de se reajustar, de se redimensionar, de se reajustar entre seus extremos físicos, um mínimo e um máximo de percepção dentro dos quais pode oscilar: aquele mínimo e aquele máximo que é capaz de perceber em seu sensível (por exemplo, no campo de visão percebemos dentro de certos comprimentos de onda, mas não vemos infravermelho ou ultravioleta). É um tipo de julgamento que valoriza todas as experiências passadas (ele reajusta), mas é capaz de refazer o conhecimento, de reajustá-lo e, naturalmente, também de perdê-lo, ou seja, de recomeçar todas as vezes. O passo seguinte que Tomás dá é ligar a essa dinâmica do conhecimento sensível – que Tomás chamou de immutatio spiritualis (não porque fosse espiritual no sentido estrito, mas porque, não conhecendo o sistema nervoso, os medievais chamavam os neurônios de espíritos corpóreos ) – a dinâmica da participação ontológica da dependência em um ser ligado à matéria como o homem. Em outras palavras, o homem, ser finito e espírito encarnado, necessita de conhecimento sensível para realizar sua abertura ao infinito. Tomás não poderia ser mais explícito quando afirma, em seu comentário ao segundo livro do De anima de Aristóteles (lect. 13, 191-211), que no homem a sensibilidade, em seu auge, participa da capacidade intelectual. Isso é alcançado no mais excelente dos sentidos, o chamado vis cogitativo , que, em última análise, nos permite aplicar também os conceitos e julgamentos do intelecto às realidades materiais individuais.

Muito mais do que se atribui ao conhecimento sensorial, mesmo na tradição escolástica e tomista. 

CARLANI: É isso mesmo. No auge da sensibilidade, como diz Pietrosanti, Tomás coloca uma faculdade ainda sensível, a vis cogitativa . Esta é uma descoberta dos filósofos árabes, que no pensamento de Tomás se torna absolutamente fundamental porque é o lugar onde a unidade dos dois momentos, sensível e intelectual, do conhecimento (que lhe é tão caro), se realiza operacionalmente. Tomás (cf. comentário sobre De anima II, lect. 13) atribui à cogitativa a apreensão não só e não tanto dos aspectos tradicionalmente chamados sensíveis (cores, sons, superfícies figurativas, etc.), mas das realidades corporais individuais em sua totalidade; em suma, de alguma forma de substâncias materiais únicas (este lobo, este homem, etc.). Além disso, Thomas chega a argumentar que o cogitativo tem algum conhecimento, se não do universal (propriamente reservado ao intelecto), pelo menos do geral, uma vez que apreende os indivíduos como existindo sob uma natureza comum, isto é, como pertencentes a uma determinada espécie. É difícil encontrar tamanha valorização do conhecimento sensorial em outro lugar.

O fato é que cada homem é uma realidade material individual, que tem a ver com realidades materiais individuais: se o conhecimento não pudesse de alguma forma referir-se a elas, não seria conhecimento humano. Além disso, não teria utilidade alguma. Enquanto o intelecto dos anjos conhece as substâncias inteligíveis diretamente (e somente através dessas substâncias materiais), o objeto próprio do intelecto humano – diz Santo Tomás – são as essências que existem na matéria corpórea («quidditas sive natura in materia corporali existens»); que, portanto, como tais, não podem ser conhecidos de forma verdadeira e completa a menos que sejam apreendidos neste ou naquele material singular. Mas aprendemos sobre materiais singulares através dos sentidos. Então…

PIETROSANTI: …Então para o homem tudo começa com coisas individuais com vistas a coisas individuais. Uma passagem da Summa Theologiae de São Tomás 

É impossível para o nosso intelecto compreender algo em ação, a menos que se volte para as “imagens” produzidas pela imaginação. «

É impossível para o nosso intelecto, no estado em que se encontra nesta vida presente, isto é, unido a um corpo corruptível, compreender qualquer coisa em ato, a não ser recorrendo às "imagens" produzidas pela imaginação. Isto deve ser reconhecido por duas razões. Primeiro, uma vez que o intelecto é uma faculdade que não opera através de um órgão corpóreo próprio, ele não seria de forma alguma impedido em seu ato pela lesão de algum órgão corpóreo se esse ato não envolvesse o ato de alguma outra faculdade que opera através de um órgão corpóreo. Entretanto, os sentidos, a imaginação e outras faculdades pertencentes à esfera sensível operam por meio de órgãos corporais. Fica claro, portanto, que para que o intelecto possa realmente compreender, não apenas quando adquire novos conhecimentos, mas também quando faz uso de conhecimentos já possuídos, é necessário o ato da imaginação e das outras faculdades sensíveis. Vemos, de fato, que se o ato da faculdade imaginativa é impedido por uma lesão de seu órgão (como acontece nos "frenéticos") ou, similarmente, se o ato da faculdade de memória é impedido (como nos "letárgicos"), o homem não pode realmente compreender nem mesmo aquilo que ele sabia anteriormente. Em segundo lugar, qualquer um pode experimentar por si mesmo que, quando tentamos entender algo, formamos para nós mesmos algumas “imagens” exemplares nas quais, de alguma forma, vemos o que estamos tentando entender. Esta é também a razão pela qual quando queremos fazer com que outra pessoa entenda algo, damos-lhe exemplos a partir dos quais ela pode formar as suas próprias “imagens” e assim compreender. A razão para isso é que a capacidade cognitiva é proporcional ao cognoscível. Portanto, o objeto próprio do intelecto angélico, que é totalmente separado do corpo, são as substâncias inteligíveis separadas dos corpos; e através desses inteligíveis ele também conhece coisas materiais. O objeto próprio do intelecto humano, que está unido a um corpo, são, em vez disso, as “quididades” ou naturezas existentes na matéria corpórea; e através dessas naturezas das coisas visíveis ele também alcança um certo conhecimento das coisas invisíveis. Agora, é próprio desse tipo de natureza existir em realidades corpóreas individuais, assim como é próprio da natureza da pedra existir nesta pedra, e é próprio da natureza do cavalo existir neste cavalo, e assim por diante com outros do mesmo tipo, de modo que a natureza da pedra ou de qualquer outra coisa material não pode ser conhecida completa e verdadeiramente, exceto na medida em que é apreendida como existindo em uma realidade individual. Mas apreendemos realidades individuais através dos sentidos e da imaginação. Portanto, para que o intelecto possa realmente compreender seu objeto próprio, é necessário que ele se volte para as "imagens" produzidas pela imaginação para apreender as naturezas universais em sua existência individual. Se, por outro lado, o objeto próprio do nosso intelecto fossem formas separadas, ou se as naturezas das coisas sensíveis, como acreditam os platônicos, subsistissem independentemente dos indivíduos, não seria necessário que o próprio intelecto se voltasse para as "imagens" produzidas pela imaginação toda vez que compreendesse.

Suma Teológica I, q.84, a. 7, co.)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF