Translate

domingo, 9 de março de 2025

Sabedoria Mongol: como uma Igreja distante nos ajuda a viver o Evangelho

Mongólia | Dmitry Pichugin | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 02/03/25

A partir da missão da Igreja na Mongólia, Marie-Lucile Kubacki propõe uma reflexão sobre a evangelização na Ásia e o futuro da Igreja no Ocidente.

A I.Media entrevistou recentemente a jornalista Marie-Lucile Kubacki, que mora em Roma, que acaba de publicar um livro “Jesus na Mongólia”, em francês Jésus en Mongolie, sobre a missão da Igreja na Mongólia. Aqui estão seus insights e reflexões. 

"Sussurrar" o Evangelho

Seu livro foi inspirado no anúncio em maio de 2022 de que Giorgio Marengo, Prefeito Apostólico de Ulan Bator, na Mongólia, seria nomeado Cardeal, o membro mais jovem do Colégio Cardinalício na época. O que o impressionou na personalidade do cardeal Marengo? 

Marie-Lucile Kubacki: Estudando seu perfil para me preparar para uma entrevista em 2023, descobri que ele havia teorizado sua abordagem da evangelização como um "sussurro", falando de "sussurrar o Evangelho no coração da Mongólia". Isso despertou minha curiosidade. 

O que me impressionou nele foi sua grande simplicidade e profundidade espiritual. Ele fala facilmente com as pessoas em um tom informal, mas essa informalidade não é muito familiar; É um hábito com base evangélica. Ele também respeita uma certa distância; Isso reflete um desejo de não ser arrogante, mas sim de ouvir. 

Isso se reflete em sua abordagem missionária, em sua concepção da evangelização como "sussurro", que implica ouvir os outros para construir um diálogo autêntico. Não há anulação de sua parte, porque ele está totalmente comprometido com a proclamação de Deus, mas não há nada de invasivo ou proselitismo nisso. 

Aprendendo a cultura local

O que também me impressionou foi seu compromisso em transmitir a cultura mongol. Ao conhecê-lo, senti imediatamente seu amor por este país, sua cultura e sua história. Por exemplo, ele sugeriu que eu visitasse Karakorum, a antiga capital do império mongol. 

Ele é um grande conhecedor dessa cultura e, em particular, da língua mongol, que fala fluentemente. É uma língua muito difícil de aprender, diferente das línguas ocidentais, e a maioria dos missionários leva dois, três ou até quatro anos para poder usá-la corretamente. 

O Cardeal Marengo não apenas dominou a língua mongol: ele também realizou uma extensa pesquisa sobre a história e a antropologia do país. Ele está bem familiarizado com a vida mongol hoje, tanto no campo quanto na cidade. 

Ele está consciente de que desempenha o seu ministério numa sociedade enraizada em fortes tradições, mas também sujeita aos efeitos diretos da modernidade globalizada. Isso é particularmente verdadeiro em Ulaanbatar, uma cidade em plena transformação com canteiros de obras em todos os lugares. O cardeal entende a complexidade da Mongólia sem reduzi-la ao folclore. 

Uma Igreja em construção

A decisão do Papa Francisco de nomear Giorgio Marengo cardeal em 2022, bem como sua decisão de visitar a Mongólia – a primeira para um papa – em 2023, podem ter surpreendido muitos observadores. Afinal, este país tem menos de 1.500 católicos. Como você explica essa escolha? 

Kubacki: Neste livro eu queria observar como uma minoria cristã vive em uma sociedade não cristã. É interessante, especialmente em um momento em que a Europa está passando por uma sensação de colapso político e religioso. As curvas da prática religiosa e dos batismos infantis [na Europa] estão despencando, atestando um fenômeno contínuo de minorização. Eu me perguntava o que esses primeiros cristãos da Mongólia, que estão presentes há cerca de 30 anos - e em particular esses 1.450 fiéis católicos - poderiam nos ensinar. 

Esta não é uma lição pronta, é claro, porque as situações não são comparáveis. A Europa é moldada pelo cristianismo, mesmo que estejamos testemunhando um processo de descristianização que está sacudindo os fiéis em seu relacionamento com o mundo. Como podemos ser cristãos em uma sociedade que é cada vez menos? 

O que vi na Mongólia foi a realidade germinal de uma Igreja em construção, construída em torno do essencial da fé. Estamos redescobrindo uma espécie de seiva viva que às vezes se perdeu ao longo dos séculos ou através das decepções da história, como recentemente com os escândalos de violência e abuso sexual. 

O papel da fraternidade

Qual é o carisma original ou "fé das origens" que você observa na comunidade católica mongol? 

Kubacki: É a noção de simplicidade, que é central. Porque o primeiro anúncio do Evangelho exige testemunhar e viver com simplicidade. Os cristãos mongóis atribuem grande importância aos relacionamentos e à comunidade: apoio mútuo, oração comunitária e compartilhamento de preocupações. Mas também a possibilidade de um relacionamento pessoal com Deus. Isso lembra muito a Igreja Cristã primitiva. A fraternidade é muito importante, assim como a simplicidade. 

Hoje, na Mongólia, há apenas um padre local de plantão, e a "equipe eclesial" é composta por cerca de 60 missionários estrangeiros. Há também cerca de 40 catequistas mongóis. Esta é uma Igreja que favorece encontros pessoais, e não há lugar para peso institucional. 

Não há debates sobre detalhes, nem disputas teológicas, que às vezes são encontradas em outros lugares. Aqui, tudo acontece à volta da mesa: servimos, partilhamos o pão, a Palavra de Deus e as amizades. 

Evangelização através da atração

Foi aqui que entendi a ideia de evangelização que procede por atração, não por proselitismo. A atração vem através de encontros humanos genuínos. Ao coletar testemunhos de mongóis explicando como eles chegaram à fé, percebi que muitas vezes evocavam a estranheza da vida desses missionários estrangeiros. "Você tem um passaporte Schengen, poderia ter se casado, vivido em seu próprio país; por que você está aqui?", perguntou um deles a um missionário italiano. 

Se a presença deles pode despertar suspeitas, também é um enigma propício para provocar um encontro desinteressado, onde os mongóis sentem que não há desejo de "capturá-los". É neste momento de compartilhamento gratuito que nasce a centelha da fé. Para mim, isso está no cerne do testemunho da Igreja mongol. 

Sabedoria mongol

O Papa Francisco também insiste frequentemente que cada cultura tem a capacidade de iluminar a fé cristã à sua maneira. O que ele vê na Igreja na Mongólia? 

Kubacki: Em sua última autobiografia, o Papa Francisco fala de sua viagem à Mongólia como a mais "excêntrica" e diz que foi tocado pela dimensão "sabedoria" da cultura mongol. Essa palavra se repetiu várias vezes em seus discursos durante a viagem. 

A sabedoria mongol é antes de tudo uma relação com a natureza, pois esta é uma cultura moldada pelo nomadismo, uma relação permeada pelo xamanismo. O nomadismo implica uma certa frugalidade: um nômade que possui muitos objetos é um nômade morto, porque você não pode se sobrecarregar. 

Trata-se de ouvir o ritmo da natureza e as estações. Isso se relaciona com todas as preocupações expressas por Francisco na Laudato si' sobre proteger a casa comum, não anteceder o meio ambiente e não saquear as riquezas ambientais. 

Durante sua viagem, o Papa também destacou a importância da meditação e da contemplação no budismo. Todas essas dimensões, que dão lugar de destaque ao lado espiritual de cada ser humano, formam para Francisco uma sabedoria popular que ele procura valorizar. 

É por isso que ele incentiva expressões de fé popular. Ele enfatiza a maneira simples pela qual as pessoas se relacionam com Deus. A este respeito, a cultura mongol deixou sua marca no Papa. 

A Igreja na Ásia

Seu livro amplia sua reflexão a partir da Mongólia para tentar entender melhor a realidade da Igreja na Ásia, que, como você observa, parece ser de particular interesse para o Papa Francisco. Quais são as características específicas da Igreja católica neste continente? 

Kubacki: A maioria das Igrejas na Ásia, com algumas exceções, opera como uma minoria, mesmo que cada "minoria" seja diferente. É este contexto que dá origem a uma atitude de diálogo com outras culturas e religiões. 

O Cardeal Marengo, por exemplo, está fortemente envolvido no diálogo em nível institucional e organizou os dois primeiros encontros entre líderes budistas mongóis e o Papa no Vaticano, o último dos quais ocorreu em janeiro passado. As igrejas na Ásia precisam se adaptar a contextos muito diversos. A Ásia é sem dúvida caracterizada por sua extrema diversidade de situações religiosas, sociais e políticas, o que a diferencia de outros continentes. 

O interesse do Papa Francisco pela Ásia, além do que se costuma dizer – o fato de ser jesuíta, sua vocação missionária no Japão, etc. – reside nessa relação com a multiplicidade e nessa capacidade de integrá-la na vida das pessoas. 

Um papa asiático?

Você acha que seria possível ter um papa asiático em um dos próximos conclaves? 

Kubacki: Essa é uma pergunta impossível! E a história dos conclaves sugere que devemos ser cautelosos ao fazer previsões. O que pode ser novo é que o número de cardeais neste vasto continente dobrou sob o pontificado de Francisco e que, na Ásia, há uma consciência emergente da possibilidade de uma voz asiática própria. 

Isso ficou evidente no Sínodo sobre a Sinodalidade, durante o qual os participantes experimentaram essa consciência compartilhada. Eles sentiram que a Ásia poderia ter sua própria voz. Se essa experiência amadurecer e um cardeal asiático se reunir além da Ásia, poderemos ter um papa asiático. 

No entanto, minha análise por enquanto é que a Ásia ainda está muito fragmentada para imaginar um bloco asiático votando massivamente em um papa asiático, sem mencionar que os critérios para a escolha de um papa vão além da questão de suas origens. 

A Ásia está encontrando sua voz na Igreja

Além da dinâmica geral, você vê alguma personalidade notável surgindo? 

Kubacki: O que é realmente novo é que, de fato, algumas grandes figuras asiáticas surgiram nos últimos anos. Isso vale tanto para aqueles que estão na Cúria – Cardeal Tagle ou Cardeal You – quanto para personagens como o Cardeal Arcebispo de Tóquio, que atualmente dirige a Caritas em todo o mundo, ou o Arcebispo de Hong Kong, Stephen Chow. 

Alguns desses cardeais asiáticos podem encarnar uma voz profética, ainda mais em sociedades arquipelágicas e fragmentadas, onde a globalização torna a diversidade uma questão cada vez mais importante. 

Cada vez mais, o desafio para os cristãos será encontrar seu lugar dentro de uma multiplicidade de vozes e grupos que pensam de forma diferente. Nesse sentido, a Igreja mongol pode inspirar a Igreja universal. Nossas Igrejas estão morrendo de debater demais e mal. Muitas vezes somos prisioneiros de conflitos ideológicos às vezes muito míopes, mas sobretudo de atitudes de julgamento de nossos irmãos. São contratestemunhos, fenômeno agravado pelas redes sociais e pela cultura do confronto e do escárnio alheio. O resultado é o medo de abordar as questões em profundidade. 

As Igrejas asiáticas não são perfeitas, mas em sua capacidade de permanecer unidas em situações muitas vezes minoritárias, elas poderiam nos ajudar a esse respeito. Isso se relaciona com o que Ratzinger disse em uma entrevista em 1969 sobre o futuro da Igreja, que sem ter "o poder dominante do passado" será cada vez mais chamada a experimentar a "renovação". 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/03/02/sabedoria-mongol-como-uma-igreja-distante-nos-ajuda-a-viver-o-evangelho

Reflexão para o I Domingo da Quaresma (C)

As tentações de Cristo no deserto (Pinterest)

Não basta a profissão de fé, mas é imperiosa a solidariedade e a generosidade em favor dos necessitados. Reconheço a bondade de Deus, sua generosidade para comigo, partilhando com os pobres o que d’Ele recebi.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

Iniciamos nosso tempo quaresmal com a reflexão sobre a gratidão a Deus pelos frutos recebidos, expressada pela restituição ao Senhor, através de seus pobres, das primícias dos frutos do trabalho. Essa atitude reconhecedora de que tudo o que temos vem de Deus, reafirma nossa absoluta dependência d'Ele.

No passado, as primícias eram entregues aos representantes de Deus: os levitas, os estrangeiros, os órfãos, as viúvas, enfim a todos aqueles que não possuíam terras, que eram socialmente pobres.

Não basta a profissão de fé, mas é imperiosa a solidariedade e a generosidade em favor dos necessitados. Reconheço a bondade de Deus, sua generosidade para comigo, partilhando com os pobres o que Dele recebi.

O Evangelho nos fala das tentações a que o ser humano é exposto. Lucas nos mostra Jesus, o Homem por excelência, vivenciando essas tentações e saindo imune dessas ações demoníacas.

A primeira tentação é em relação à comida, à subsistência. Todos precisamos nos alimentar para viver. Todavia Jesus passa um longo tempo sem se alimentar e, apesar da fome, não dá vazão aos apelos do próprio corpo para que se alimente e se mantém fiel a Deus.

Se tivesse usado seus poderes para saciar suas necessidades, teria sido um vencedor aos olhos do mundo, mas um derrotado aos olhos do Pai. Jesus rebate o Mal com um pequeno texto da Sagrada Escritura: “Não só de pão viverá o homem!” 

Somente aquele que considera sua vida à luz da Palavra de Deus está em condições de atribuir às realidades terrenas seu exato valor!

A segunda tentação está voltada ao modo de nos relacionarmos com as pessoas. Somos levados a uma escolha entre dominar ou servir, competir ou solidarizar, explorar ou disponibilizar-se. O intelectual, o rico, o mais forte, todos esses podem se transformar em opressores daqueles que não tiveram oportunidades.

Onde quer que se espezinhe a dignidade humana, aí entra a lógica do diabo. Para Jesus, grande não é o bem sucedido, aquele perante a quem o mundo se ajoelha, mas aquele que se ajoelha para lavar os pés do irmão mais pobre.

A terceira tentação, a que deturpa o relacionamento entre o homem e Deus. Satanás usa a palavra de Deus, o famoso “Está escrito ...”  para desviar Jesus do caminho. Com isso o Mal corrói os fundamentos da relação com Deus. Colocar Deus à prova, incutir no ser humano a dúvida quanto à fidelidade do Senhor, fazer o homem desejar ter provas da existência e da bondade do Pai. Jesus se mantêm firme em toda e qualquer situação, inclusive no momento final da grande provação, a  da agonia no horto e crucifixão.

Somos tentados cotidianamente e o seremos também no final de nossa vida, como foi o Mestre.

A segunda leitura nos alenta diante desses espinhos diários, Diz-nos o Apóstolo: “Se, pois, com tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo!”  As obras só têm valor em virtude da união com Cristo. É ele quem dá a dimensão transformadora dos bens materiais em espirituais.

Nossa relação com Deus é expressada em relacionamentos fraternos com os homens  e no bom uso dos bens materiais. Se formos livres, já ressuscitados, a maturidade espiritual falará mais alto, mas se formos imaturos, escravos de nossos desejos, o egocentrismo ditará nossas escolhas.

Que esta Quaresma , tempo de conversão, seja uma caminhada feliz, alegre que purifique e intensifique nosso relacionamento com Deus! 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 8 de março de 2025

A tentação da realidade virtual: o entretenimento nunca mais será o mesmo

© nmedia / Shutterstock

Philip Kosloski - publicado em 16/01/17

O que é realidade virtual e por que todo mundo está falando sobre isso?

O futuro dos games e do entretenimento é agora. O que costumava ser restrito a simuladores de voo e exercícios de treinamento militar, agora, está se tornando comum e se transformando em uma incipiente indústria multimilionária.

A realidade virtual (VR, em inglês) está disponível para o consumidor médio e todas as grandes empresas de tecnologia estão despejando dinheiro nesta área promissora do entretenimento. Alguns chamaram 2017 de "o ano da realidade virtual", uma vez que a tecnologia, finalmente, alcançou os sonhos dos desenvolvedores e o custo para criar dispositivos VR diminuiu, tornando a compra mais fácil para o consumidor final.

Mas, o que é “realidade virtual” e por que todo mundo está falando nisso?

Uma breve história sobre a realidade virtual

Vários tipos de VR existem desde a década de 1930, começando com o famoso "View-Master", que consistia em um visor de plástico acompanhado de um disco de papelão circular que continha pequenas fotografias coloridas de filme, com uma pequena alavanca no lado. Após o desenvolvimento e lançamento do computador, da década de 1950 até a década de 1980 os desenvolvedores começaram a testar tecnologias para criar tipos mais imersivos de dispositivos.

Os simuladores tornaram-se amplamente utilizados nas décadas de 1980 e 1990 e começaram a aparecer em salas de jogos, provando ser um modo popular de entretenimento para crianças e adultos. No entanto, na época, os gráficos eram claramente granulados e a experiência estava longe de ser realista.

Depois, a partir da virada do novo milênio, as empresas começaram, cada vez mais, a mudar o seu foco para a VR. Em 2013, os Óculus Rift, um fone de ouvido VR altamente imersivo, foram inventados e produzidos através de uma campanha no Kickstarter [uma plataforma de financiamento coletivo] que arrecadou US $ 2,5 milhões. Isso chamou a atenção do mundo da tecnologia e o Facebook, em 2014, comprou os Óculus Rift por US $ 2 bilhões.

Outras empresas, como PlayStation, Microsoft, HTC e Google seguiram o exemplo e, rapidamente, começaram a desenvolver suas próprias versões, a fim de capitalizar sobre o que eles acreditavam que poderia ser um novo mercado lucrativo.

Como é a realidade virtual?

A realidade virtual evoluiu muito desde o "View-Master", na década de 1930, e pode ser tão realista que o corpo humano pode ser enganado para acreditar que você está andando em uma montanha russa, nadando no mar ou bem no meio de uma batalha.

John Pullen, da Time Magazine, testou recentemente um dispositivo VR e falou sobre suas experiências:

"Minha experiência de VR me levou a um lugar que eu nunca imaginei que fosse visitar: O convés de um naufrágio. Uma experiência no HTC Vive com fones de ouvido da Wevr, theBlu: Encounter [ver vídeo abaixo] teletransporta as pessoas para as profundezas do oceano. Lá, nada uma baleia animada por computador, aparentemente das mesmas medidas que uma verdadeira. É uma batida rápida em um ambiente simples, mas uma agitação. A baleia olhou-me nos olhos e pareceu dar um ligeiro sorriso. Eu não pude evitar de sorrir de volta. Foi um momento bonito, mas solitário. Mais do que qualquer outra coisa, eu desejava que minha esposa pudesse ter estado lá para compartilhar a experiência submarina comigo. Eu queria que ela conhecesse essa beleza impressionante. Eu também queria que ela abandonasse um mundo cheio de hipotecas, fraldas e compras de supermercado, mesmo que apenas por um minuto.”

Sonte: https://pt.aleteia.org/2017/01/16/a-tentacao-da-realidade-virtual-o-entretenimento-nunca-mais-sera-o-mesmo

As dores e alegrias de São José

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

As dores e alegrias de São José

Os sete domingos de São José são um costume da Igreja para preparar a festa de 19 de março. Meditar sobre as “dores e alegrias de São José” nos ajuda a conhecer melhor o santo Patriarca e a lembrar que ele também enfrentou alegrias e dificuldades.

27/02/2025

O Papa Gregório XVI inscreveu a festa de São José no calendário de toda a Igreja em 1621, e fomentou a devoção dos sete domingos de São José, concedendo-lhe muitas indulgências.

O Santo Padre Pio IX outorgou-lhes atualidade perene com o seu desejo de que se recorresse a S. José para acudir à então situação aflitiva da Igreja universal.

Um antigo costume da Igreja encoraja os fiéis a acudir ao pai adotivo de Jesus, de forma mais assídua ao longo dos sete Domingos que precedem a sua festa, com vista a considerar aspectos, muitas vezes menos conhecidos, daquele que é Padroeiro da Igreja Universal.

As sete dores e alegrias de São José

Primeira Dor: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo (Mt 1,18).

Primeira Alegria: O anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo (Mt 1, 20-21).

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

Segunda Dor: Veio para o que era seu, e os seus não o acolheram (Jo 1,1).

Segunda Alegria: Foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura (Lc 2,16).

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

Terceira Dor: Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido (Lc 2,21).

Terceira Alegria: A quem porás o nome de Jesus, será chamado Filho do Altíssimo..., e o seu reino não terá fim (Lc 1, 31 e 32).

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

Quarta Dor: Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações (Lc 2, 34).

Quarta Alegria: Porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações (Lc 2, 30.32).

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

Quinta Dor: O Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! (Mt 2,13).

Quinta Alegria: Ali ficou até à morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 'Do Egito chamei o meu Filho' (Mt 2,15)

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

Sexta Dor: José levantou-se, pegou o menino e sua mãe, entrou na terra de Israel. Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá (Mt 2, 22).

Sexta Alegria: Depois de receber um aviso em sonho, José retirou-se para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno (Mt 2,23).

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

Sétima Dor: Começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura (Lc2, 44)

Sétima Alegria: Três dias depois, O encontraram no Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas (Lc 2,45 )

Nos sete domingos anteriores à festa de São José, a Igreja convida-nos a contemplar a vida do Pai de Jesus | Opus Dei

Como é que São Josemaria imaginava São José?

Eu imagino-o jovem, forte, talvez com alguns anos mais do que a Virgem, mas na plenitude da vida e do vigor humano. Sabemos, porém, que não era uma pessoa rica: era um trabalhador, como milhões de outros homens em todo o mundo; exercia o ofício fatigante e humilde que Deus havia escolhido para Si ao tomar a nossa carne e ao querer viver trinta anos entre nós como outra pessoa qualquer.
A Sagrada Escritura diz-nos que José era artesão. Vários Padres acrescentam que foi carpinteiro. Das narrações evangélicas depreende-se a grande personalidade humana de José: em nenhum momento surge aos nossos olhos como um homem apoucado ou assustado perante a vida; pelo contrário, sabe enfrentar os problemas, ultrapassar as situações difíceis, assumir com responsabilidade e iniciativa as tarefas que lhe são confiadas. (É Cristo que passa, n. 40).


Textos sobre São José

∙ Carta apostólica ‘Patris corde’ (Com coração de Pai)).

∙ Homilia de São Josemaria: Na Oficina de José.


São José na vida cristã e nos ensinamentos de São Josemaria - artigo publicado no nº 59 de “Romana”, sobre a devoção de São Josemaria a São José.

Exortação apostólica “Redemptoris Custos” - do sumo pontífice João Paulo II sobre a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja.

O trabalho de cuidar o mundo - Artigo de Mons. Fernando Ocáriz publicado no jornal Folha de São Paulo, no dia 1º de maio, festa do trabalho.

Devoção a São José - São Josemaria Escrivá explica como São José ajuda a conhecer a Humanidade de Jesus Cristo, por ter sido escolhido por Deus para ser aparentemente o seu pai na terra.

https://youtu.be/G5_yCNSwaHs

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/as-dores-e-alegrias-de-sao-jose/

sexta-feira, 7 de março de 2025

Fraternidade e Ecologia Integral

Ecologia integral (Vatican News)

Esse ano, a CF tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e como lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). É um convite a refletir sobre os sintomas e as causas da crise socioambiental (ver/ouvir), a contemplar a obra criadora de Deus e meditar sobre a missão confiada ao ser humano.

Francisco de Aquino Júnior* - Presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte – CE.

Todos os anos, a Igreja do Brasil promove durante a quaresma uma Campanha da Fraternidade – CF. Assim como somos chamados a uma conversão pessoal (conversão do coração), também somos chamados a uma conversão social (transformação da sociedade). A CF chama atenção para a dimensão social do pecado que se concretiza na ruptura da fraternidade, nas injustiças sociais e na destruição de nossa casa comum. E a consciência do pecado social convida a uma conversão social que se concretiza em relações de fraternidade e cuidado entre as pessoas, na defesa da dignidade e dos direitos dos pobres e marginalizados e no cuidado da casa comum.

Esse ano, a CF tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e como lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). É um convite a refletir sobre os sintomas e as causas da crise socioambiental (ver/ouvir), a contemplar a obra criadora de Deus e meditar sobre a missão confiada ao ser humano (iluminar/discernir) e a buscar alternativas de superação da crise socioambiental e cuidado da casa comum (agir/propor).

Não é preciso fazer muito esforço para reconhecer que vivemos uma profunda crise socioambiental com consequências trágicas para grande parte da humanidade. Os sintomas estão aí bem perto de nós: secas, enchentes, tempestades, desmoronamentos, furacões, calor, queimadas, agrotóxicos, doenças, pandemias etc. Ainda está muito viva em nossa memória e em nossa carne a pandemia da covid-19 e a tragédia no Rio Grande do Sul em 2024. Mas não basta reconhecer os sintomas. É preciso se perguntar pelas causas da crise. E em grande medida ela é fruto da ação humana. Isso faz da crise ecológica uma crise socioambiental. O Papa Francisco tem insistido muito na “raiz humana da crise ecológica”. O planeta não suporta nem acompanha o ritmo de exploração da natureza e o consumismo desenfreado das elites. Como bem destaca o Texto-Base da CF, “o modelo de desenvolvimento capitalista, baseado na exploração dos patrimônios naturais, na queima de combustíveis fósseis, como os derivados de petróleo, na expansão desenfreada do consumo e na relação mercantilista com a natureza, tem contribuído para uma série de problemas ambientais, como a degradação do solo, o desmatamento, o extrativismo predatório, a poluição, a escassez de água, o comprometimento da biodiversidade com a extinção de algumas espécies e as mudanças climáticas”.

A fé cristã nos faz ver ainda mais longe. A ruptura da fraternidade, as injustiças e desigualdades sociais e a destruição da natureza são, em última instância, um atentado contra obra criadora de Deus e seu desígnio para a humanidade. Está em jogo a criação de Deus e a missão que ele confiou ao ser humano de cuidar da criação. Como recorda Francisco, “dizer ‘criação’ é mais do que dizer natureza, porque tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado” (LS 76). Os relatos da criação apresentam todos os seres como obra de Deus e em harmonia uns com os outros e apresentam o ser humano como parte da criação e com a missão de “cultivar e guardar” o jardim da criação. E a expressão ecologia integral chama atenção tanto para o valor de cada ser e a relação entre eles, como para o “valor peculiar” do ser humano que implica uma “tremenda responsabilidade” com a casa comum. Não se pode reduzir os bens da criação a meros “recursos” a serem explorados pela ganância humana. Nem se pode pensar o ser humano separado da criação nem como senhor absoluto da criação. A ruptura da fraternidade dos seres humanos entre si com a natureza é um atentado contra a criação de Deus. Nas palavras do Patriarca Bartolomeu: “um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus” (LS 8).

E a consciência do pecado socioambiental (destruição da criação) é um chamado à conversão ecológica (cuidado da criação). Ela nos leva a assumir a missão que Deus nos confiou de “cultivar e guardar” o jardim da criação (Gn 2,15). Isso implica mudança de mentalidade: a natureza não é mero “recurso” a ser apropriado; o ser humano é parte da natureza; a destruição da natureza é destruição do próprio ser humano e pecado contra Deus; muitos projetos de desenvolvimento produzem mais males do que bens para sociedade etc. Mas implica também atitude pessoal e social

1) superar o consumismo, não desperdiçar água, cuidar dos resíduos etc.; 

2) apoiar a agricultura familiar camponesa e suas lutas contra agrotóxicos, desmatamento e destruição da biodiversidade; 

3) tomar posição contra projetos políticos que destroem a casa comum como pulverização área, mineração, destruição das leis de proteção ambiental para favorecer os interesses do capital etc.; 

4) Defender e apoiar comunidades e movimentos que lutam pela preservação ambiental e por justiça social; 

5) escutar e se deixar comover pelo “grito dos pobres e da terra”, através do qual Deus nos chama à conversão social e política.

*Francisco de Aquino Júnior:  Presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte – CE; professor de teologia da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Mensagem do Papa Francisco por ocasião do início da Campanha da Fraternidade

Mensagem do Papa Francisco por ocasião do início da Campanha da Fraternidade | Vatican News

Papa Francisco: “Que todos nós possamos, com o especial auxílio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”.

Vatican News

A cada ano, os bispos do Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), acolhendo as sugestões vindas dos regionais, dos organismos do Povo de Deus, das ordens e congregações religiosas e dos fiéis leigos e leigas, escolhem um tema e um lema para a Campanha da Fraternidade, com o objetivo de chamar a atenção sobre uma situação que, na sociedade, necessita de conversão, em vista do bem de todos.

Neste ano de 2025, motivados pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; pelos 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato si’; pela recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum; pelos 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM) e pela realização da COP 30, em Belém (PA), a primeira na Amazônia, acolhendo a sugestão da Comissão Episcopal Especial para a Mineração e a Ecologia Integral, foi escolhido o tema: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).

Campanha da Fraternidade 2025 | CNBB

A Ecologia é a questão mais tratada pelas CF’s ao longo destes 61 anos de existência. Foram 8 as CF’s que de alguma forma abordaram essa temática.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade aborda outra vez a temática ambiental, com o objetivo de “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra” (Objetivo Geral da CF 2025).

“Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado”.

Como todos os anos, também neste ano de 2025 o Santo Padre envia uma mensagem para o início da Quaresma no Brasil e para o início da Campanha da Fraternidade. Eis a íntegra da mensagem o Papa Francisco enviou para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, com data de 11 de fevereiro de 2025, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil,

Com este dia de jejum, penitência e oração, iniciamos a Quaresma deste Ano Jubilar da Encarnação. Nesta ocasião, desejo manifestar a minha proximidade à Igreja peregrina nessa Nação e felicitar os meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil pela iniciativa da Campanha da Fraternidade, que se repete há mais de 60 anos e que neste ano tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e como lema a passagem da Escritura na qual, contemplando a obra da criação, “Deus viu que tudo era muito bom” (cf. Gn 1,31).

Com a Campanha da Fraternidade, os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Laudato Si’, que publiquei há quase 10 anos, em 24 de maio de 2015, e que senti necessidade de complementar com a Exortação Apostólica Laudate Deum, de 4 de outubro de 2023.

Nestes documentos, quis chamar a atenção de toda a humanidade para a urgência de uma necessária mudança de atitude em nossas relações com o meio ambiente, recordando que a atual «crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior» (Laudato Si’, 217). Neste sentido, o meu predecessor de venerável memória, São João Paulo II, já alertava que era «preciso estimular e apoiar a “conversão ecológica”, que tornou a humanidade mais sensível» (Audiência, 17 de janeiro de 2001) ao tema do cuidado com a Casa Comum.

Por isso, louvo o esforço da Conferência Episcopal em propor mais uma vez como horizonte o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal de cada fiel a Cristo. Que todos nós possamos, com o especial auxilio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas.

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano expressa também a disponibilidade da Igreja no Brasil em dar a sua contribuição para que, durante a COP 30 do próximo mês de novembro, que se realizará em Belém do Pará, no coração da querida Amazônia, as nações e os organismos internacionais possam comprometer-se efetivamente com práticas que ajudem na superação da crise climática e na preservação da obra maravilhosa da Criação, que Deus nos confiou e que temos a responsabilidade de transmitir às futuras gerações.

Desejo que esse itinerário quaresmal dê muitos frutos e nos encha a todos de Esperança, da qual somos peregrinos neste Jubileu. Faço votos que a Campanha da Fraternidade seja novamente um poderoso auxílio para as pessoas e comunidades desse amado País no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e de compromisso concreto com a Ecologia Integral.

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, concedo de bom grado a Bênção Apostólica a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham no cuidado com a Casa Comum, pedindo que continuem a rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 11 de fevereiro de 2025, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.

Franciscus

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Conversão

A necessidade de conversão (Canção Nova)

CONVERSÃO 

Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí (MG)

O tempo litúrgico da Quaresma é direcionado à conversão. Através das práticas da oração, do jejum e da solidariedade, a Igreja nos chama a mudar os rumos de nossa vida. Trata-se de um caminho propício de volta ao Evangelho. Voltar a Jesus é o grande apelo que a espiritualidade quaresmal nos chama a vivenciar. Olhos fixos na Páscoa da Ressurreição de Jesus Cristo, caminhamos, com esperança, para a nossa Páscoa que é travessia para a vida nova do Ressuscitado. 

O Papa Francisco nos ajuda a compreender o que é conversão: “Na Bíblia, significa primeiro mudar a direção e a orientação; e depois também mudar a maneira de pensar. Na vida moral e espiritual, [conversão significa] converter meios de passar do mal ao bem, do pecado ao amor de Deus” (Angelus, 6/12/2020). Numa Catequese anterior, o Papa já havia se referido ao tema: “A verdadeira conversão acontece quando acolhemos o dom da graça e o claro sinal da sua autenticidade é quando percebemos as necessidades dos irmãos e nos sentimos prontos a ir ao seu encontro” (Audiência, 18/06/2016). E continuou depois: “Nós nos convertemos verdadeiramente na medida em que nos abrimos à beleza, à bondade, à ternura de Deus. Então deixamos o que é falso e efêmero, para o que é verdadeiro, belo e dura para sempre” (Angelus, 6/12/2020). 

Neste sentido, Guimarães Rosa nos ajuda a compreender o sentido de conversão: “O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro — dá gosto! A força dele, quando quer — moço! — me dá o medo pavor!  Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza” (Grande sertão: veredas, 13ª ed., 1979, p. 20-21). Conversão é transformar, pela sutileza da força de Deus, o grande sertão em veredas. 

Neste Tempo da Quaresma, a Igreja no Brasil nos chama a aprofundar o tema proposto para a Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e Ecologia Integral”, tendo como lema: “Deus viu que era tudo muito bom” (Gn 1,31). No âmbito do chamado à conversão, nos deparamos com o apelo a uma “conversão ecológica”, como nos é apresentado pelo Texto-base desta Campanha, embasado num documento de São João Paulo II: “É evidente que está em jogo não só uma ecologia física, ou seja, preocupada com tutelar o habitat dos vários seres vivos, mas também uma ecologia humana, que proteja o bem radical da vida em todas as suas manifestações e prepare para as futuras gerações um ambiente o mais próximo possível do projeto do Criador. Há necessidade, pois, de uma conversão ecológica, para a qual os Bispos hão de dar a sua contribuição, ensinando a correta relação do homem com a natureza” (Pastores Gregis, 16/10/2003, 70). 

De fato, a expressão “conversão ecológica” entrou para o Magistério da Igreja por meio de São João Paulo II, numa mensagem intitulada “O compromisso para afastar a catástrofe ecológica”, pronunciada na Praça de São Pedro, na Audiência geral de 17 de janeiro de 2001. Após analisar a beleza da obra do Criador e os desvios causados pela ação humana, São João Paulo II assim se expressou: “Por isso, é preciso estimular e apoiar a ‘conversão ecológica’, que nestes últimos decênios tornou a humanidade mais sensível aos confrontos da catástrofe para a qual estava a caminhar” (Audiência, 17/01/2001, 4). 

Para isso, São João Paulo II procurou fundamentar-se numa importante encíclica sua, datada de 25 de março de 1995, na qual tratara do valor da vida em suas variadas dimensões: “É, pois, de saudar favoravelmente a atenção crescente à qualidade de vida e à ecologia, que se regista sobretudo nas sociedades mais avançadas, nas quais os anseios das pessoas já não estão concentrados tanto sobre os problemas da sobrevivência como sobretudo na procura de um melhoramento global das condições de vida” (Evangelium vitae, 27)”. Daí, nos adverte: o que está em jogo é “uma ‘ecologia humana’ que torne mais digna a existência das criaturas, protegendo o bem radical da vida em todas as suas manifestações e preparando para as futuras gerações um ambiente que se aproxime cada vez mais do projeto do Criador” (Audiência, 17/01/2001, 4). 

Bento XVI tratou da questão ecológica, com grande preocupação. “A terra é um dom precioso do Criador, que delineou os ordenamentos intrínsecos, indicando-nos assim os sinais orientativos que devemos respeitar como administradores da sua criação. É precisamente a partir desta consciência, que a Igreja considera as questões ligadas ao meio ambiente e à sua salvaguarda intimamente vinculadas ao tema do desenvolvimento humano integral” (Audiência 26/08/2009). E cita sua própria encíclica que havia sido lançada há menos de dois meses (29/06/2009): “quando a ‘ecologia humana’ é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental” (Caritas in veritate, 51). E Bento XVI conclui sua mensagem: “é indispensável transformar o atual modelo de desenvolvimento global numa tomada de responsabilidade, maior e mais compartilhada em relação à criação: exigem-no não só as emergências ambientais, mas inclusive o escândalo da fome e da miséria” (Audiência, 26/08/2009). 

O Papa Francisco desenvolveu, no seu Magistério, essa categoria teológica de “conversão ecológica”, aprofundando as raízes encontradas em seus predecessores. Uma conversão ecológica “deve traduzir-se em atitudes e comportamentos concretos mais respeitadores da criação” (Mensagem, 1/09/2016). Na sua encíclica social e ecológica, Francisco dedica seis parágrafos a este tema, definido como um novo comportamento para “deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa” (Laudato Si’, 217). 

A conversão ecológica, proposta pelos últimos três papas, “supõe uma mudança do nosso modo de ser, pensar e agir, como pessoas e comunidade. Buscamos um modo de viver mais integrativo entre Deus, os seres humanos e toda a criação, no qual a cultura do amor e da paz tenha a primazia. Os apelos para uma conversão ecológica propostos pelo Papa Francisco na Laudato Si’ permitem resgatar uma Ecologia Integral, unindo fiéis e não fiéis na missão da Casa Comum, construindo grandes e pequenas alianças, reforçando os laços da Amizade Social” (Texto-base da CF 2025, 56). 

As propostas práticas para se efetivar a conversão ecológica são simples de serem assumidas por nós. Para isso, é preciso “incluir a revisão de nossas relações com os animais, a preservação de suas moradas nos biomas, a redução da produção industrial (alimentos ultraprocessados) e do consumo excessivo de carne. Isso comporta adotar padrões de alimentação saudáveis e sustentáveis, redescobrindo as comidas tradicionais das diferentes regiões do país” (Texto-base da CF 2025, 60). É por esse caminho que precisamos trilhar para voltarmos à harmonia perdida do paraíso terrestre. A ressurreição de Jesus e nossa, para a qual nos encaminhamos, nesta Quaresma, supõe nossa responsabilidade com o mundo criado, pois ela tem uma dimensão cósmica. Há que se perguntar: o que posso fazer? Por onde começar? Temos um longo caminho pela frente! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

São Gerásimo

São Gerásimo com seu amigo leão. | Domínio Público - Wikimedia Commons.

São Gerásimo tinha um leão de estimação, que fez um gesto emocionante em seu túmulo

Por Abel Camasca*

5 de março de 2025

Dia (5) foi dia de são Gerásimo. Segundo uma tradição antiga, perto do rio Jordão, ele tinha um leão de estimação que fez um gesto emocionante e carinhoso em seu túmulo. O animal é lembrado até hoje com estátuas em um santuário religioso, que possui uma caverna onde a Sagrada Família teria se refugiado durante a fuga para o Egito.

Segundo o livro Vidas dos Santos, do padre Alban Butler, são Gerásimo nasceu na Lícia, no sul da atual Turquia. Ele se tornou um eremita e viajou para a Terra Santa. Ele acreditava na heresia do eutiquianismo, onde Cristo não tinha duas naturezas (Deus e homem), mas apenas a divina. Algo que o grande são Leão Magno (400-461 d.C.) lutou naquela época.

Com a ajuda de santo Eutímio, são Gerásimo abandonou esta falsa crença teológica e mais tarde teve muitos seguidores que quiseram seguir o seu estilo de vida radical.

Mais tarde fundou uma laura, perto do rio Jordão. Segundo a Enciclopédia Católica, esta palavra vem do grego e significa “caminho estreito”. Este centro semi-eremita (quase eremita) do santo tinha um cenóbio (mosteiro) e 70 celas separadas onde apenas alguns viviam como eremitas de segunda a sexta-feira.

São Gerásimo e o leão

O livro de Butler descreve uma história retirada do texto "Prado Espiritual", que segundo os católicos maronitas foi escrito pelo monge João Mosco no século VII. Ali está descrito que são Gerásimo estava às margens do Jordão quando viu um leão que mancava porque tinha um espinho cravado na pata. O santo tirou o espinho, cuidou dele e o animal ficou com ele.

Os monges do santo tinham um burro que usavam para buscar água e pediam que o leão cuidasse dele enquanto pastava.

Porém, um dia alguns comerciantes roubaram o burro. Portanto, são Gerásimo, pensando que a fera o havia comido, disse-lhe que agora faria o trabalho do burro e ele obedeceu.

Algum tempo depois, o animal selvagem viu os mercadores voltando pelo caminho com o burro e três camelos. O leão assustou os ladrões e levou os quatro animais para o mosteiro. Assim, o humilde santo reconheceu seu erro e passou a chamá-lo de Jordão.

O site de pesquisa sobre os santos Santi e Beati diz que são Gerásimo morreu em 5 de março de 475. Quando o leão percebeu que ele havia partido, ficou muito triste. O novo abade dos monges viu-o e disse-lhe que o seu amigo tinha ido com “o Mestre a quem servia”, mas que devia continuar comendo.

O animal ficou imerso em profunda desolação até que o novo superior o levou ao túmulo de são Gerásimo. O leão deitou-se no nicho e começou a bater a cabeça no chão. Há até histórias que dizem que começou a rugir muito alto. O leão nunca mais saiu de lá e morreu ao lado do túmulo de seu querido amigo.

O que aconteceu com laura?

laura de são Gerásimo continuou florescendo em vocações e era muito famosa. Santi e Beati diz que foi destruída no século XIII. Segundo o Christian Media Center, centro audiovisual da Custódia da Terra Santa, hoje existe na área o Mosteiro de São Gerásimo, onde há estátuas de leões.

Também existe uma caverna onde se acredita que a Sagrada Família se escondeu ao fugir para o Egito. O piso deste recinto, guardado pelos ortodoxos gregos, apresenta figuras de leões e animais em homenagem a são Gerásimo.

Abel Camasca é comunicador social. Foi produtor do telejornal EWTN Noticias por muitos anos e do programa “Más que Noticias” na Rádio Católica Mundial.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/57517/sao-gerasimo-tinha-um-leao-de-estimacao-que-fez-um-gesto-emocionante-em-seu-tumulo

quarta-feira, 5 de março de 2025

O que fazer quando você se sentir desiludido(a) com seu casamento

La experiencia de la fé en el matrimonio ha de encajar para bien de los dos.
KieferPix - Shutterstock

Tom Hoopes - publicado em 07/11/22

Procurar aconselhamento é o primeiro passo, mas não o único.

Sentir-se desiludido(a) com o casamento acontece com todos os casais em menor ou maior grau. Um dia você olha do outro lado da mesa para seu cônjuge (ou para o lugar em que seu cônjuge deveria estar, mas não está) e percebe que “o amor se foi”.

 Você é tentado a dizer: “Estamos levando vidas separadas”, “Eu não te conheço mais” ou ainda “Eu acho te amo, mas não gosto mais de você”. 

O que fazer nestas situações? Com certeza você dever procurar aconselhamento. Mas também há outras atitudes a tomar.

1 - Agradeça a Deus pela desilusão

Nós tendemos a pensar que estar “desiludido” é uma coisa ruim. Não é. Pense no significado da palavra "desilusão". Ela nos leva a remover uma ilusão, um erro, uma mentira sobre alguém e, finalmente, nos faz enxergar a realidade.

Isso é exatamente o que os mestres entendem como uma parte natural do amadurecimento e do aprofundamento na vida espiritual. Você começa amando sua ideia de Deus, depois você acaba tendo que aprender a amar o verdadeiro Deus. Você começa amando sua ideia de seu cônjuge. No final, você tem que amar seu verdadeiro cônjuge.

2 - Cumpra seus votos

O primeiro lugar para buscar forças é o sacramento, que nos garante a graça. Comece pedindo a Jesus para te ajudar a cumprir teus votos. Ore: “Jesus, eu tomei (nome) para ser meu/minha (esposo/esposa). Prometi ser fiel nos bons e maus momentos, na doença e na saúde, amar (nome) e honrar (nome) todos os dias da minha vida. Dai-me a graça de dizer 'sim' todos os dias.”

Seu voto é a rocha em que você deve se firmar. Viva-o fielmente, apesar de seus sentimentos - e isso te sustentará.

3 - Fortaleça as coisas que permanecem

O que restou do seu casamento? Viva isso ao máximo. Dedicação aos filhos? Então agradeça ao seu cônjuge pelo que ele faz e ofereça-se para ajudar. Intimidade conjugal? Então viva isso de uma maneira mais centrada no outro. Talvez um pequeno interesse compartilhado por política, esportes, música ou caminhadas? Valorize isso.

É importante lembrar a si mesmo e ao seu cônjuge todas as razões pelas quais você se apaixonou por ele.

4 - Reze

Eu já dei meu testemunho sobre como meu casamento mudou depois que minha esposa e eu começamos a rezar juntos. No nosso caso, fazemos juntos a Liturgia das Horas, mas no final acrescentamos nossas próprias petições. Você pode fazer o mesmo com o Rosário, um terço ou uma pequena oração com seu cônjuge na hora das refeições. 

Mas e se seu cônjuge não rezar com você? Então ore por seu cônjuge e, talvez, no lugar de seu cônjuge. Diga: “Senhor Jesus, fizeste (nome) e eu uma só carne, mas somente eu posso orar a ti agora. Eu oro em nome (dele, dela). Amém."

5 - Descubra a cruz

Os santos místicos chamam isso de “a noite escura da alma”. Já os maratonistas chamam de “bater no muro”. Ou seja: em algum momento, você chega a um ponto de sua vida em que sente que está tentando arrastar um trem morro acima e só pode continuar com muita força de vontade.

Essa é a cruz, e ninguém pode evitá-la!

Ao carregar a cruz e continuar a luta, você descobrirá que ali, uma vez que todas as ilusões se dissipam, você encontra os alicerces da realidade que são a humildade e a obediência de Jesus Cristo. Do outro lado está a ressurreição e a alegria.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2022/11/07/o-que-fazer-quando-voce-se-sentir-desiludidoa-com-seu-casamento

IGREJA: “Só o fato do perdão permite o reconhecimento do pecado”

Um momento da conferência de imprensa, realizada em 7 de março | 30Giorni

Arquivo 30Giorni n. 03 - 2000

“Só o fato do perdão permite o reconhecimento do pecado”

Respostas do Cardeal Joseph Ratzinger às perguntas dos jornalistas durante a conferência de imprensa

No ambiente eclesiástico há dúvidas sobre a eficácia da mensagem que está sendo lançada. Dizem que o nosso é o tempo da superficialidade e da pressa. Muitos crentes não sabem nada sobre teologia. O nosso também é o tempo das simplificações jornalísticas por vários motivos. Os fiéis dizem: «Se a Igreja de hoje se arrepende dos erros da Igreja do passado, a Igreja de amanhã poderá arrepender-se dos erros da Igreja de hoje. Então, que credibilidade devemos dar à Igreja hoje?
JOSEPH RATZINGER: A Igreja de hoje, com este documento, não condena a Igreja do passado; ela reconhece as raízes das suas próprias deficiências do passado, e o faz precisamente para lançar luz sobre a situação atual, sobre a necessidade de se arrepender, de se converter.

A Igreja tem plena consciência de que o pecado se encontra dentro dela e sempre lutou contra a ideia de uma Igreja somente de santos. Sabemos das grandes lutas contra os donatistas, os cátaros, etc. Justamente para nos fazer reconhecer isso, o Senhor está no barco com os pecadores desde o início.
Os Evangelhos também recordam o pecado da queda de Pedro. Esta é uma confissão de pecado repetido, o que deve ter feito Pedro corar. Nós o encontramos no Evangelho de Marcos, que foi inspirado pelo próprio São Pedro, e é a confissão mais dura desse pecado.

Portanto, a Igreja de hoje, com este ato de arrependimento, não diz que o pecado ficou no passado e que somos puros, e depois espera até amanhã que nossos pecados sejam descobertos, mas diz: no coração da Igreja, e sobretudo em mim, encontra-se o pecado, e para que a Igreja seja penetrável pela graça divina, eu mesmo devo abrir-me a esta graça e confessar publicamente que os pecados, já enraizados no passado, constituem o meu presente. Contudo, o Senhor sabe agir e faz o bem, por meio da Igreja. Este pequeno navio sempre será seu, e até mesmo o campo com as ervas daninhas continuará sendo seu. Mesmo que as ervas daninhas sejam muitas, mesmo que a rede contenha peixes ruins e inferiores, ela continua sendo sua. Reconhecer o pecado é um ato de sinceridade por meio do qual podemos fazer as pessoas entenderem que o Senhor é mais forte que nossos pecados.

Vem à mente uma anedota contada sobre o Cardeal Consalvi, Secretário de Estado de Pio VII. Foi-lhe dito: "Napoleão pretende destruir a Igreja". O cardeal responde: "Não conseguirá, nem mesmo nós conseguimos destruí-lo."

Como pode esta grande cerimónia, esta confissão de mea culpa, ajudar também o impulso de ré-evangelização com que se abre o terceiro milénio?
O primeiro dos pecados é a divisão entre os cristãos, por isso, há poucos dias, no Sinai, o Papa reiterou com força a necessidade deste diálogo com os chefes de outras Igrejas e com os teólogos de outras Igrejas para reestudar as formas do ministério papal. Depois de Ut unum sint, o que foi feito em termos concretos para esse diálogo, ou o que será feito para garantir que haja esse diálogo com os chefes de outras Igrejas cristãs, para rever as formas de exercício do ministério papal?

RATZINGER: Provavelmente não sou a pessoa mais competente para responder à segunda pergunta, mas refiro-me imediatamente ao primeiro ponto.

Penso que este ato de purificação da memória, de autopurificação, de abertura à graça do Senhor, que nos impele a agir bem, serve também para nos tornar credíveis diante do mundo.
Todos veem e sabem, mesmo sem a nossa confissão, que fizemos o mal e que somos pecadores, mas também veem que existe o dom do perdão e, portanto, existe uma força de reconciliação que vai além das deficiências permanentes da humanidade.

Penso que a sinceridade desta confissão, a sinceridade em nos apresentarmos não como se fôssemos os grandes heróis do mundo, mas como pessoas de boa vontade, ainda que pecadoras, com a mensagem que não é feita por nós, mas que vem do Outro, pode provocar mais eficazmente as forças de reconciliação de que o mundo, em toda a parte, tanto necessita. Parece-me, portanto, que a dimensão do perdão e da reconciliação, a capacidade de renovação depois de cada pecado, brilha intensamente neste ato. Certamente será um elemento importante da evangelização, que é sempre reconciliação com Deus e entre os homens. Quando os homens se reconciliam com Deus, eles também encontram paz entre si. São Paulo, na segunda carta aos Coríntios, exorta-nos, com o grito do evangelista: «Reconciliai-vos com Deus!»; «Reconciliai-vos com Deus!» ( 2 Cor 5, 20). Este é o sinal de reconciliação oferecido a todos nós. Quanto ao diálogo ecumênico, vimos no Sinai os dois aspectos da situação atual: por um lado, a grande e comovente hospitalidade e amizade dos monges, que nos faz entender que são verdadeiramente pessoas que vivem no espírito de Cristo, e por outro lado, a barreira que, por enquanto, não nos permite rezar juntos com o Papa. Vimos, portanto, a situação atual em seu drama e em suas esperanças.

Posso dizer que tanto o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos como cada uma das conferências episcopais, com os seus instrumentos, fazem todo o possível para manter vivo o diálogo com os irmãos separados e para favorecer o encontro mútuo, onde, juntamente com as memórias do passado, surge o espírito de reconciliação, de que todas as partes têm necessidade; a purificação da memória; a necessidade de um novo começo. Somente com a disposição de nos purificarmos desse passado, daquilo que dissemos uns contra os outros, poderemos nos abrir para uma renovação da reconciliação à qual todos aspiramos.

Penso, portanto, que tanto do ponto de vista institucional como do ponto de vista das pessoas envolvidas, fazemos todo o possível para aderir ao gesto do Senhor de convidar todos para uma mesa comum.

A Tempestade (1633), Rembrandt, Museu Isabella Stewart Gardner, Boston | 30Giorni

Você acha que este documento é mais amplo do que aquele intitulado Nós Lembramos: Uma Reflexão sobre a Shoah ? Aquele documento falava dos pecados dos irmãos e irmãs da Igreja, mas não da Igreja. Você acha que este documento é uma confissão mais ampla? Ratzinger: São dois documentos muito diferentes, tanto em termos de autoridade (era um documento da Santa Sé) quanto em termos de assunto (era voltado para o problema deste passado recente). O documento da Comissão Teológica Internacional, como foi dito, é um documento de teólogos, não do Magistério. Sua finalidade é acompanhar e aprofundar com uma reflexão teológica o fato deste ato de penitência do Santo Padre. Parece-me que é um serviço da comunidade teológica aos cristãos, para que possam ler e interpretar melhor a profundidade e a extensão deste gesto, sem qualquer pretensão de ser completo. Muito mais poderia ser dito, mas ele oferece uma chave para entender melhor as necessidades pastorais da Igreja hoje. 

O temporalismo da Igreja nas formas do passado constitui uma falha? Ratzinger: Falando do chamado temporalismo, eu havia mencionado Dante, que vê de Constantino a Filipe, o Belo, uma cadeia de pecados na aliança com o poder. Geralmente sabemos bem que a relação entre a Igreja que vive no mundo e o poder temporal apresenta problemas e, portanto, sempre implica a possibilidade de posições errôneas, mas, ao mesmo tempo, devemos confessar que a Igreja (e este para mim é o sinal decisivo) sempre permaneceu a Igreja dos mártires (os mártires são, portanto, a verdadeira apologia da Igreja), apesar dos pecados que todos nós conhecemos. A Igreja permaneceu unida ao Senhor crucificado e não se opõe fundamentalmente ao Estado, mas reconhece o Estado. Hoje lemos no Evangelho: “Dai a César o que é de César” ( Mt 22,21). A Igreja sempre reconheceu o Estado como uma ordem necessária a ser respeitada. Ao mesmo tempo, porém, ele também reconheceu que há um limite para o poder imperial mundano, contra o qual a Igreja deve se opor ao testemunho do martírio. Apesar de todas as deficiências ocorridas, a Igreja, por um lado, sempre soube reconhecer os direitos do Estado, mas também sempre teve, com a graça do Senhor, a força para o martírio. Essa dinâmica de pedir perdão, de reconhecer pecados, deve ser acompanhada de perdão. Então, como podemos saber que a Igreja recebe perdão dessa confissão?

RATZINGER: Está na consciência fundamental da Igreja que o Misereator responde ao rito litúrgico do Confiteor . É uma oração que contém a certeza de que se a nossa confissão for sincera o Senhor nos aceita. É a certeza do perdão que permite a franqueza da confissão. Se não há perdão, o que resta? Até o pecado não tem mais explicação e talvez possamos encontrar refúgio na psicanálise para devolver a paz à nossa alma abatida. Parece-me, ao contrário, que só o perdão, o fato do perdão, permite a franqueza de reconhecer o pecado. Além disso, a certeza de que Deus nos perdoa, nos renova, é parte essencial do Evangelho.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF