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domingo, 30 de junho de 2024

Papa no Angelus: oferecer a mão para acolher o irmão, sem rótulos e preconceitos

Angelus de 30/06/2024 com o Papa Francisco (Vatican News)

Francisco refletiu sobre dois casos de cura relatados no mesmo episódio que traz o Evangelho da liturgia deste domingo (30/06). Dois milagres que aconteceram com o toque de Jesus a duas mulheres consideradas impuras. Sem medo, ele se deixou tocar e tocou para curar, sem "discriminar ninguém porque ama todos", disse o Papa, ao exortar essa proximidade a cada um de nós: "precisamos de uma Igreja e sociedade que não excluam ninguém", para acolher e amar "sem rótulos e preconceitos".

https://youtu.be/uVcdQAaQWt8

Andressa Collet - Vatican News

Neste domingo (30/06), de Solenidade dos Santo Pedro e Paulo no Brasil, o Papa Francisco rezou o Angelus com os fiéis na Praça São Pedro. Na alocução que precedeu a oração mariana, o Pontífice refletiu sobre o Evangelho da liturgia de hoje que trata de dois milagres relatados em único episódio (Mc 5:21-43), "um de cura e outro de ressureição": a cura da mulher que sofria de hemorragia e foi curada apenas tocando no manto de Cristo; e a filha de Jairo que foi tomada pela mão por Jesus, que estando morta, levantou-se e voltou a viver.

Os dois casos "ocorrem por meio do contato físico", recordou o Papa, que indagou: "por qual motivo é importante esse 'tocar'? ". Porque ambas "são consideradas impuras", segundo "uma concepção religiosa errônea", e não se poderia haver um contato físico com elas. Mas, sem medo, Jesus se deixa tocar porque Deus não separa os puros dos impuros. 

“Deus não faz essa separação, porque todos somos seus filhos, e a impureza não vem da comida, da doença ou mesmo da morte, mas a impureza vem de um coração impuro.”

O acolhimento sem discriminação, rótulos e preconceitos 

Deus, insistiu o Papa, não mantém distância "diante do sofrimento do corpo e do espírito, das feridas da alma, das situações que nos esmagam e até mesmo diante do pecado". Deus "não se envergonha de nós, não nos julga; ao contrário, Ele se aproxima para se deixar tocar e para nos tocar, e sempre nos levanta da morte", como fez com a filha de Jairo:

"Fixemos no coração essa imagem que Jesus nos dá: Deus é aquele que toma você pela mão e o levanta, aquele que se deixa tocar pela sua dor e o toca para curá-lo e dar-lhe vida novamente. Ele não discrimina ninguém porque ama todos."

E da nossa parte, então, questionou Francisco ao final da alocução que precedeu a oração mariana do Angelus, "acreditamos que Deus é assim?". E ainda: nos deixamos ser tocados pela Palavra e pelo amor do Senhor? E quando se trata do nosso irmão, a gente oferece a mão para se levantar ou mantém distância, "rotulando as pessoas"?

“Irmãos e irmãs, olhemos para o coração de Deus, precisamos que a Igreja e a sociedade não excluam ninguém, que não tratem ninguém como 'impuro', para que todos, com as próprias histórias, sejam acolhidos e amados sem rótulos, sem preconceitos, sejam amados sem adjetivos.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Primeiros Mártires de Roma

Pedro e Paulo (A12)
30 de junho
Primeiros Mártires de Roma

No ano de 64, um pavoroso incêndio reduziu Roma a cinzas. O imperador Nero, considerado imoral e louco por alguns historiadores, se viu acusado de ter sido o causador do incêndio.

Nero sabia dos boatos e calúnias que eram lançados contra os cristãos e para se defender, acusou os cristãos de terem causado o incêndio, fazendo brotar um ódio dos pagãos contra os seguidores de Cristo. Nero então ordenou o massacre de todos eles.

Houve execuções de todo os tipos e formas das mais cruéis possíveis. Adultos eram queimados vivos, crianças e mulheres eram vestidas com peles de animais e jogadas no circo às feras, para serem destroçadas e devoradas por elas.

A crueldade se iniciou no ano de 64 e se estendeu até 67, chegando a um exagero tão grande que acabou incutindo no povo um sentimento de piedade. O ódio acabou se transformando em solidariedade. Os apóstolos São Pedro e São Paulo foram duas das mais famosas vítimas deste imperador.

Porém, como bem nos lembrou o Papa Clemente, o dia de hoje é a festa de todos os mártires, que com o seu sangue sedimentaram a gloriosa Igreja Católica. No sangue dos homens e mulheres que foram sacrificados em Roma nasceu forte e viçosa a flor da evangelização.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Celebramos nesta festividade a memória dos numerosos mártires que não tiveram um lugar especial na liturgia. Eles são testemunhas da ressurreição de Jesus. Pela fé nos mostram que aqueles que creem em Cristo viverão para sempre, porque Deus é Deus de vivos. Por isso, todo martírio pela fé é um sinal marcante de que vale a pena doar a vida pelo Reino de Deus.

Oração:

Santos mártires de nossa santa Igreja, que passaram por tantos sofrimentos mas não perderam a fé, nós vos louvamos por vossas vidas tão heroicas e santas e nos consagramos a vós para que também nós nos tornemos cristãos em verdade e em vida. Assim seja!


Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 29 de junho de 2024

Óbolo de São Pedro

Óbolo de São Pedro (CNBB)

DIA DA CARIDADE DO PAPA, 30 DE JUNHO, OFERECE ÀS COMUNIDADES A POSSIBILIDADE DE FAZER DOAÇÕES PARA O ÓBOLO DE SÃO PEDRO

No próximo domingo, 30 de junho, a Igreja celebra a solenidade de São Pedro e São Paulo apóstolos. Junho também é tempo de refletir sobre uma tradição muito significativa da Igreja — o Óbolo de São Pedro. Essa prática remonta aos primórdios do cristianismo, quando os fiéis reconheceram a importância de apoiar materialmente aqueles que se dedicam ao anúncio do Evangelho, permitindo-lhes dedicar-se plenamente ao seu ministério, ao mesmo tempo em que cuidavam dos mais necessitados. 

O Óbolo de São Pedro é a oportunidade para ajudar o Papa a se aproximar ainda mais de todos, especialmente daqueles que sofrem. O Dia da Caridade do Papa, que é celebrado no domingo, 30 de junho, oferece às comunidades de todo o mundo a possibilidade de fazer doações para o Óbolo de São Pedro e, assim, apoiar a missão do Bispo de Roma.

Com uma oferta, que pode ser doada nesse dia especial, assim como em qualquer outro dia do ano, qualquer pessoa pode colaborar ativamente na missão universal de Francisco. Graças às atividades de serviço realizadas pelos Dicastérios da Santa Sé que o assistem diariamente, o Papa faz com que sua voz chegue a tantas situações difíceis. Ele apoia obras de caridade em favor de pessoas e famílias em dificuldade, ajuda as populações afetadas por desastres naturais e por guerras.

O Óbolo de São Pedro é uma oferta que pode ser pequena, mas tem grande valor simbólico. É uma maneira concreta de fortalecer o senso de pertença à Igreja e nosso amor pelo Bispo de Roma, que preside todas as Igrejas na caridade.

“Quem doa ao Óbolo não apenas ajuda o Papa a ajudar aqueles que sofrem, mas também participa de sua missão de proclamar o Evangelho e coopera no serviço que o Papa oferece às Igrejas locais por meio dos dicastérios da Santa Sé e da rede de seus representantes no mundo, apoiando a promoção do desenvolvimento humano integral, da educação, da paz, da justiça e da fraternidade”.

Faça sua doação agora:

IT:       https://www.obolodisanpietro.va/it/dona.html

ENG:   https://www.obolodisanpietro.va/en/dona.html

ES:      https://www.obolodisanpietro.va/es/dona.html

 

Ajude o Papa a ajudar através do Óbolo de São Pedro (youtube.com)

 Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Sete chaves para entender por que são Pedro e são Paulo são celebrados juntos

São Pedro e São Paulo, de Peter Paul Rubens | Twitter Museu do Prado

Hoje (29) a Igreja celebra a solenidade de são Pedro e são Paulo juntos, mas no Brasil é  transferida para o domingo e será amanhã (30). Entretanto, há algumas dúvidas sobre as verdadeiras razões do motivo da festa de ambos os apóstolos ser celebrada no mesmo dia.

A seguir, sete chaves que permitem entender isso:

1. Santo Agostinho de Hipona expressou que eram “um só”

Em um sermão do ano 395, o doutor da Igreja, santo Agostinho de Hipona, expressou que são Pedro e são Paulo, “na realidade, eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; Paulo o seguiu. Celebramos o dia festivo consagrado para nós pelo sangue dos apóstolos. Amemos a fé, a vida, os trabalhos, os sofrimentos, os testemunhos e as pregações destes dois apóstolos”.

2. Ambos morreram em Roma

Foram detidos na prisão Mamertina, também chamada Tullianum, localizada no foro romano na Roma Antiga. Além disso, foram martirizados nessa mesma cidade, possivelmente por ordem do imperador Nero.

São Pedro passou seus últimos anos em Roma liderando a Igreja durante a perseguição e até o seu martírio no ano 64. Foi crucificado de cabeça para baixo, a pedido próprio, por não se considerar digno de morrer como seu Senhor. Foi enterrado na colina do Vaticano e a Basílica de São Pedro está construída sobre seu túmulo.

São Paulo foi preso e levado a Roma, onde foi decapitado no ano 67. Está enterrado em Roma, na basílica de São Paulo Extramuros.

3. São fundadores da Igreja de Roma

Na homilia de 2012 na solenidade de são Pedro e são Paulo, o papa Bento XVI afirmou que “a sua ligação como irmãos na fé adquiriu um significado particular em Roma. De fato, a comunidade cristã desta Cidade viu neles uma espécie de antítese dos mitológicos Rómulo e Remo, o par de irmãos a quem se atribui a fundação de Roma”.

4. São padroeiros de Roma e representantes do Evangelho

Na mesma homilia, o santo padre chamou esses dois apóstolos de “padroeiros principais da Igreja de Roma”.

“Desde sempre a tradição cristã tem considerado são Pedro e são Paulo inseparáveis: na verdade, juntos, representam todo o Evangelho de Cristo”, disse.

5. São a versão contrária de Caim e Abel

O santo padre também apresentou um paralelismo oposto com a irmandade apresentada no Antigo Testamento entre Caim e Abel.

“Enquanto nestes vemos o efeito do pecado pelo qual Caim mata Abel, Pedro e Paulo, apesar de ser humanamente bastante diferentes e não obstante os conflitos que não faltaram no seu mútuo relacionamento, realizaram um modo novo e autenticamente evangélico de ser irmãos, tornado possível precisamente pela graça do Evangelho de Cristo que neles operava”, afirmouo Bento XVI.

6. Porque Pedro é a “rocha”

Esta celebração recorda que São Pedro foi escolhido por Cristo – “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” – e humildemente aceitou a missão de ser “a rocha” da Igreja e apascentar o rebanho de Deus, apesar de suas fragilidades humanas.

Os Atos dos Apóstolos ilustram seu papel como líder da Igreja depois da ressurreição e ascenção de Cristo. Pedro dirigiu os apóstolos como o primeiro Papa e assegurou que os discípulos mantivessem a verdadeira fé.

Como afirmou em sua homilia o Bento XVI, “na passagem do evangelho de são Mateus (...), Pedro faz a sua confissão de fé em Jesus, reconhecendo-O como Messias e Filho de Deus; fá-lo também em nome dos outros apóstolos. Em resposta, o Senhor revela-lhe a missão que pretende confiar-lhe, ou seja, a de ser a ‘pedra’, a ‘rocha’, o fundamento visível sobre o qual está construído todo o edifício espiritual da Igreja”.

7. São Paulo também é coluna do edifício espiritual da Igreja

São Paulo foi o apóstolo dos gentios. Antes de sua conversão, era chamado Saulo, mas depois de seu encontro com Cristo e conversão, continuou seguindo para Damasco, onde foi batizado e recuperou a visão. Adotou o nome de Paulo e passou o resto de sua vida pregando o Evangelho sem descanso às nações do mundo mediterrâneo.

“A iconografia tradicional apresenta são Paulo com a espada, e sabemos que esta representa o instrumento do seu martírio. Mas, repassando os escritos do Apóstolo dos Gentios, descobrimos que a imagem da espada se refere a toda a sua missão de evangelizador. Por exemplo, quando já sentia aproximar-se a morte, escreve a Timóteo: ‘Combati o bom combate’ (2Tm 4,7); aqui não se trata seguramente do combate de um comandante, mas daquele de um arauto da Palavra de Deus, fiel a Cristo e à sua Igreja, por quem se consumou totalmente. Por isso mesmo, o Senhor lhe deu a coroa de glória e colocou-o, juntamente com Pedro, como coluna no edifício espiritual da Igreja”, disse Bento XVI em sua homilia.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Com os braços abertos a todos. A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil (3)

A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil | Flickr-Photos/Opus Dei

Com os braços abertos a todos. A visita de São Josemaria Escrivá ao Brasil

1974. São Josemaria Escrivá esteve 15 dias no Brasil. Que mensagem deixou aos brasileiros? Qual foi a sua impressão sobre o país? Este artigo inédito descreve como foram organizados os encontros com o fundador do Opus Dei em São Paulo, e resume a sua mensagem.

29/08/2017

O desenrolar dos eventos

No dia 1o de junho, sábado de manhã, vários membros da Obra estavam no Anhembi já por volta das 8 horas, para receber as pessoas, pois muitos chegaram ao local com bastante antecedência, e para cuidar de todos os últimos detalhes dos aspectos técnicos e logísticos[63]. «O palco, enorme, estava instalado como uma sala de estar, com muitíssimas flores [...] e ficou muito agradável. [...] Estava um dia maravilhoso, com um céu azul limpo, o típico dos bons dias de inverno em que o vento leva para longe a poluição. O auditório ia engolindo rios de gente – famílias inteiras, grupos de amigos, gente de todas as idades, raças e condições... – até acomodar umas 4.000 pessoas»[64].

«O Padre [J. Escrivá] saiu de casa às 10h15 e entrou no Anhembi pela entrada que fica no lado de trás do Palácio de Convenções. Lá estavam alguns à sua espera, para acompanha-lo como “seguranças” até uma sala contígua ao palco. No percurso até lá, já se tinha situado um bom número de pessoas, que iriam ficar no palco – na “sala de estar” da tertúlia [...] – junto ao Padre»[65]. Ao chegar, mons. Escrivá acomodou-se em uma sala preparada para isso, à espera do horário programado para começar, estava «muito bem humorado, brincando com os que lhe tiravam fotografias e acalmando-nos com o seu sorriso. Quando entrou no auditório, foi recebido com um aplauso cerrado, que se prolongou por um bom tempo. Eram 10h30 horas»[66].

O encontro desenrolou-se muito bem, 16 pessoas puderam dirigir-se a São Josemaria, como analisaremos mais adiante. Ao terminar a tertúlia, a alegria e a emoção de todos era visível. As pessoas saíam sem pressa, cumprimentavam-se e reuniam-se para comentar o que acabavam de ouvir. Narra o diário da Casa Nova: «Quando terminou a tertúlia, ficamos um bom tempo nos jardins que rodeiam o Palácio das Convenções, com nossas amigas. Famílias inteiras desde os avós aos netos, todos iam fazendo pequenos grupos comentando com animação sobre este maravilhoso encontro com o nosso Padre»[67]. Particularmente, os organizadores estavam assombrados com a multidão que «se tinha reunido à volta do Padre. Lembrávamo-nos então da natural apreensão de uns dias antes, quando contemplávamos o gigantesco local vazio. Foi maravilhoso ver como os espaços se tinham tornado pequenos para escutar o Padre»[68]. São Josemaria estava igualmente contente ao voltar ao Sumaré: pela sintonia das pessoas, o calor humano e, também, por perceber que a barreira linguística fora ultrapassada com facilidade. Inclusive, na espera do almoço, sugeriu que trouxessem algum refrigerante, como se quisesse celebrar aquele evento maravilhoso[69].

No dia seguinte, domingo de Pentecostes, já vencidas as apreensões da primeira tertúlia geral, os preparativos imediatos se desenvolveram de forma similar. O afluxo de gente, mais uma vez, superou as expectativas. Conta o diário da sede da Comissão, que acontecera o mesmo que no dia anterior: desde cedo começavam a chegar pessoas ao edifício Mauá, em um número muito acima do esperado. Desde as seis horas da manhã, os organizadores colocaram mais quinhentas cadeiras, além das próprias do auditório, ajeitando-as mais próxima do palco, tentando assim criar um ambiente mais familiar[70]. O local, muito menor que o Anhembi, tinha sido pensado para os que não tinham podido ir neste primeiro encontro, mas foram outras tantas pessoas que desejavam estar com mons. Escrivá mais esta vez[71].

Mons. Josemaria Escrivá saiu do Sumaré às 10h30 em direção ao Palácio Mauá. Sendo o dia da Solenidade de Pentecostes, logo após o café, São Josemaria escrevera uma ficha com estas palavras: «Ure ígnea Sancti Spiritus! Pentecostes, Sancti Pauli, 1974. Mariano» e deu-a ao pe. Xavier de Ayala. «No carro, referiu-se ao sacerdócio real dos fiéis, recordando as palavras da Primeira Epístola de São Pedro. Era um tema que, neste dia, o Padre teria bem presente na alma e nos ajudaria a meditar»[72]. Por isso, nas suas primeiras palavras da tertúlia, mons. Escrivá relacionou diretamente o evento de Pentecostes com a grande variedade de raças que convivem em harmonia no Brasil[73]. O «clima vibrante, ardente, apostólico, da festa de Pentecostes foi o tempo todo o pano de fundo da mesma. [...] Foi vivíssima, intensa, enormemente cálida. [...] Quando o Padre entrou no auditório, a alegre expectativa transformou-se num instante de silêncio emocionado, que explodiu logo a seguir num mar de aplausos. No momento em que subiu ao palco, uma menininha que ia levada pela mão da avó, entregou ao Padre uma orquídea. O Padre deu-lhe uma carinhoso abraço e a abençoou»[74].

A tertúlia beneficiou-se do clima de confiança criado no dia anterior. Desta vez, 17 pessoas fizeram perguntas a mons. Escrivá e, ao final, a alegria de todos era grande. Já na sede da Comissão, comentaram muito a respeito da tertúlia, dando graças a Deus pelos seus frutos. O fundador também estava comovido, pois tinha sido uma tertúlia realmente calorosa. Contudo, de forma natural, em um momento de descontração, enquanto alguns observavam as araras que então ficavam no jardim da casa, contou que naquela noite não havia dormido. «Não conto para que se compadeçam de mim», fazia a ressalva com toda naturalidade[75]. O pe. Francisco Faus testemunhou a respeito, manifestando que ele e outros que fazia tempo conheciam São Josemaria ficaram assombrados por aquele comentário pois nunca o tinham visto tão bem disposto, cheio de entusiasmo contagiante, tão ágil e rápido de pensamento e de palavra como nesse dia de Pentecostes[76]. Completa o autor dizendo que a maioria dos que estavam lá sentiram e comentaram a mesma coisa[77].

O diálogo com São Josemaria

Mediados por um intervalo de apenas 24 horas, os dois encontros tiveram um grande paralelismo: foram 16 perguntas no Anhembi, e 17 no Palácio Mauá. Podemos analisar o diálogo e a mensagem destas tertúlias conjuntamente, como se fossem um mesmo encontro, com um grande intervalo. As intervenções do público, bem como as respostas de São Josemaria seguiram um mesmo estilo direto, familiar, ainda que, surpreendentemente, não ocorreram repetições de perguntas. As pessoas que se dirigiram a mons. Escrivá nos dois encontros gerais eram de perfis bem distintos: desde uma mãe de família a um empresário, uma empregada doméstica, juízes, professores, etc... Embora não deixe de ser interessante dar notícias destas pessoas, isso ultrapassaria muito o alcance do presente artigo.

São Josemaria Escrivá fez, em cada uma das tertúlias, um brevíssimo prólogo, com simpatia, incentivando a que lhe perguntassem, que cada um falasse do que tivesse no coração. «Não vim ao Brasil ensinar nada»[78], disse ao iniciar seu encontro no sábado. No dia seguinte, no Palácio Mauá, a mesma coisa: «Estamos reunidos para falar das grandezas de Deus; não do que eu queira, mas do que interessa a vocês»[79]. De fato, era patente o seu “agradecimento” ao final dos dois encontros, como relatam os que estiveram ao seu lado. Após o encontro no Anhembi, relata o diário da Comissão que «um grande grupo acompanhou-o até o carro, e o Padre [J. Escrivá] ia repetindo, também dentro do automóvel, muito comovido: − “Dios os bendiga! ¡Dios os bendiga!”»[80].

Foram as intervenções do público que deram a pauta daquela conversa, muito natural e familiar, de uma intimidade quase inexplicável para um público desconhecido, numeroso, que falava outro idioma e em um local nada propício a este tipo de diálogo. Muitas das perguntas abordaram temas pessoais, em tom confidencial. Ao contrário de deixar o interpelado constrangido, levavam-no a responder também pessoalmente, de uma forma paternal e carinhosa. Muitas vezes, mons. Escrivá brincava com o interlocutor dizendo que ninguém mais os estava escutando, convidando-o a abrir- se, a fazer a sua confidência. Na primeira intervenção no Palácio Mauá, quando a mulher que perguntava dava claras mostras de nervosismo, ele animava: «Estamos em família, como se estivéssemos você e eu sozinhos, com Nosso Senhor que nos escuta e o Espírito Santo que habita na sua alma e na minha»[81].

Das 33 perguntas respondidas pelo fundador nas duas tertúlias, 12 trataram do tema da família. Destas, 4 foram sobre a educação das crianças na família, 3 sobre o relacionamento entre marido e mulher, e 4 sobre a relação entre pais e filhos já adultos, sendo que três destas abordaram o tema da vocação dos parentes próximos. Uma pessoa perguntou sobre o valor do trabalho das pessoas que se dedicam profissionalmente às lides domésticas. Entendemos por que o diário do centro da Casa Nova afirma categoricamente: «O tema central desta tertúlia esteve especialmente relacionado com a família»[82]. Veremos mais adiante, porém, que a vida familiar serviu apenas como pano de fundo para os distintos temas abordados por São Josemaria. Outras 11 abordam a caridade e o apostolado, tocando em distintos problemas do relacionamento humano ou pedindo orientações para que se pudesse esclarecer equívocos morais ou doutrinais. Quatro perguntas entraram em temas relacionados com a luta ascética: como estar alegre nas contrariedades, ou como cumprir os propósitos ou fazer as coisas mesmo quando não se tem vontade. Três perguntas foram sobre vida de oração, e apenas uma pergunta tratou diretamente sobre o Opus Dei, quando pediram-lhe que fizesse um resumo do espírito da instituição, ainda que outras perguntas exigiram-lhe um esclarecimento sobre o modo de viver e fazer apostolado próprios do Opus Dei.

As quatro perguntas restantes que não se encaixaram nos temas citados abordaram os cinquenta anos de sacerdócio que celebraria dentro de alguns meses, suas expectativas sobre o Brasil, sua opinião sobre a Escola Taboão, até uma divertida pergunta sobre os cabeludos. Essas perguntas, tocando em temas pessoais ou pedindo uma “opinião”, deram ocasião a comentários autobiográficos. Aliás, em muitas outras respostas são abundantes as referências à sua própria vida, em um tom sobrenatural e de ação de graças, vista como instrumento de Deus para levar adiante o Opus Dei na terra.

Como dissemos, foram as próprias perguntas que definiram a pauta do que falou mons. Escrivá, e a leitura da transcrição nos leva a pensar que ele não tinha uma mensagem previamente preparada, a não ser a de levar a Deus, fazer crescer a esperança e a fé em todos que lhe escutavam. Alguns recordam que ele não sabia previamente o que iam perguntar-lhe[83]. E suas respostas foram dirigidas a cada pessoa que lhe perguntava; poucas vezes generalizava, lembrando, de certo modo, o modo de atuar de Jesus Cristo, como nos deixam entrever os Evangelhos. Esse modo de dialogar, com intervenções incisivas, concretas, personalizadas e, ao mesmo tempo, repletas de alusões a outros temas e digressões, torna muito difícil responder quais foram os temas mais importantes. Basta a leitura destes diálogos para percebermos uma extraordinária empatia com cada pessoa, o que levava a uma enorme riqueza e vivacidade no seu modo de abordar os temas. A impressão que temos é que não transmitia uma mensagem geral a todos, mas orientava a cada um que se dirigia a ele.

Muitos se admiraram com esta demonstração de caridade de São Josemaria. «A nenhum dos que lá estiveram passou inadvertido – e assim o comentavam – o delicado esforço que o Padre fez para se fazer entender: contendo o ritmo das frases, repetindo-as quando era necessário, “traduzindo” logo depois que empregava uma palavra ou expressão menos frequente»[84]. No encontro de domingo também impressionou o «modo como o Padre se dava a todo o momento, sem parar, mesmo quando, como hoje, tinha motivos de sobra para se sentir muito cansado»[85]. De fato, ao entrar no carro para retornar à casa disse, satisfeito, que tinha falado com claridade e caridade, e não faltam expressões de admiração no diário da Comissão: «Essa clareza e essa caridade vinham tocando fundo, com a graça do Senhor, nestes dias, os corações e as vidas de milhares de pessoas»[86]. E da Assessoria Regional: «Como ontem, ninguém tinha pressa de ir embora. Havia uma comoção geral, um ambiente inexplicável, como se tivéssemos vivendo o primeiro Pentecostes...»[87].

Como se pode perceber, seria muito difícil descrever, nos limites deste artigo, algo tão expressivo e afetuoso como uma mensagem vital que se pode admirar diretamente pelos vídeos. Entretanto, podemos apontar, depois de uma leitura minuciosa das tertúlias gerais, alguns temas que, segundo nossa opinião, acabaram sendo mais ressaltados. Esse esforço tem seu interesse, pois uma análise conjunta do conteúdo das suas palavras nestes dois encontros gerais poderia desvendar o que passava na sua alma naquele momento, o que mais desejava transmitir aos brasileiros. Propomos reunir os temas em cinco grupos: o amor a Deus, vida de oração e santidade; a fé, amor à Igreja e os sacramentos; a santificação do trabalho e a luta ascética; caridade e apostolado e o espírito do Opus Dei. Passemos a descrever cada um destes tópicos, para fazer uma análise final.

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Alexandre Antosz Filho, sacerdote. Licenciado e bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná, mestre em História pela Universidade de São Paulo e doutor em Teologia (especialidade em História da Igreja) pela Pontificia Università della Santa Croce (Roma). e-mail: alexantosz@gmail.com

Notas:

[63] Diário da primeira estadia, pp. 86-87; Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 7

[64] Diário da primeira estadia, p. 87. O Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 7, também fala de 4.000 pessoas.

[65] Ibid.

[66] Diário da primeira estadia, pp. 86-88.

[67] Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 8. Nosso Padre é uma forma carinhosa com a qual os membros do Opus Dei chamam a São Josemaria.

[68] Diário da primeira estadia, pp. 88-89.

[69] Entrevista com Alfredo Canteli, 9 de junho de 2014.

[70] Diário da primeira estadia, p. 96.

[71] Diário da Casa Nova, 2a parte , p. 9.

[72] Diário da primeira estadia, p. 95.

[73] Diário da primeira estadia, p. 96.

[74] Diário da primeira estadia, p. 97.

[75] Entrevista com Alfredo Canteli, 9 de junho de 2014.

[76] Cfr. Faus, São Josemaria, p. 48.

[77] Cfr. ibid., p. 49.

[78] «No he venido al Brasil a enseñar nada». Transcrição da tertúlia geral com mons. Escrivá no Centro de Convenções Anhembi, São Paulo, 1 de junho de 1974, p. 1, 3o parágrafo [tradução nossa]. Passaremos a citar apenas Anhembi, seguido da página e do parágrafo.

[79] «Estamos reunidos para hablar de las grandezas de Dios; no de lo que yo quiera, sino de lo que a vosotros os interese». Transcrição da tertúlia geral com mons. Escrivá no Palácio Mauá, p. 1, 4o parágrafo [tradução nossa]. Passaremos a citar apenas Mauá, seguido da página e do parágrafo.

[80] Diário da primeira estadia, pp. 89-90.

[81] Faus, São Josemaria, p. 49.

[82] Diário da Casa Nova, 2a parte , p. 7.

[83] Entrevista com José María Córdova Fernández, 18 de fevereiro de 2014.

[84] Diário da primeira estadia, p. 89.

[85] Diário da primeira estadia, p. 98. Sobre o contexto desta tertúlia, ver também Faus, São Josemaria, pp. 47-52.

[86] Diário da primeira estadia, p. 98.

[87] Diário da Casa Nova, 2a parte, p. 9.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Papa: seguir a missão de Pedro, de conversão e humildade ao encontro do Senhor

O Papa Francisco durante a oração mariana do Angelus (Vatican Media)

Após a celebração eucarística na Basílica Vaticana neste sábado (29/06), de Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, o Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus e refletiu sobre a missão que Jesus confiou a Pedro, dando as chaves do Reino dos céus. Chaves que podem estar em poder de todos nós que são aquelas "das virtudes como a a paciência, a atenção, a constância, a humildade, o serviço", dadas a quem é humilde e honesto, e não perfeito, como Pedro.

Andressa Collet - Vatican News

Neste sábado, 29 de junho, e de festa para Igreja no mundo que honra a memória dos Santos Pedro e Paulo, o Papa Francisco rezou com os fiéis presentes na Praça São Pedro a oração mariana do Angelus. O Pontífice refletiu sobre a missão que Jesus confiou a Simão, chamado Pedro: "A ti darei as chaves do Reino dos céus" (Mt 16,19):

"É por isso que vemos frequentemente São Pedro representado com duas grandes chaves em sua mão, como na estátua que se encontra aqui nesta Praça. Essas chaves representam o ministério de autoridade que Jesus lhe confiou para servir a toda a Igreja. Porque a autoridade é um serviço, e uma autoridade que não é serviço, é ditadura."

A missão de receber as chaves, como Pedro

No entanto, alertou o Papa, devemos ter cuidado para entender bem o significado dessa missão, que "não é a de trancar as portas da casa" e selecionar os convidados, mas dar acesso a todos - "todos, todos, todos" - ajudando a encontrar o caminho para entrar no Evangelho de Jesus. Atitudes que podem ser praticadas diariamente através, por exemplo, das virtudes:

"As chaves de Pedro, de fato, são as chaves de um Reino, que Jesus não descreve como um cofre ou um quarto blindado, mas com outras imagens: uma pequena semente, uma pérola preciosa, um tesouro escondido, um punhado de fermento (cf. Mt 13,1-33), ou seja, como algo precioso e rico, sim, mas ao mesmo tempo pequeno e discreto. Para alcançá-lo, portanto, não é necessário acionar mecanismos e fechaduras de segurança, mas cultivar virtudes como a paciência, a atenção, a constância, a humildade, o serviço."

Essa missão de abertura e encontro com o Senhor é encarada por Pedro "ao longo de toda a sua vida, fielmente, até o martírio", recordou o Papa, "depois de ter sido o primeiro a experimentar sobre si mesmo". Ele "teve que se converter, e entender que a autoridade é um serviço, e não foi fácil para ele", insistiu Francisco, explicando que "Pedro recebeu as chaves do Reino não porque fosse perfeito, não: é um pecador; mas porque era humilde e honesto" e, "confiando na misericórdia de Deus, foi capaz de apoiar e fortalecer, como lhe foi pedido, também seus irmãos (cf. Lc 22:32)".

Como encontrar Jesus

O Papa finalizou a reflexão pedindo a intercessão de Maria e dos Santos Pedro e Paulo para que, através das orações, nos guiem e apoiem para o encontro com Cristo. Uma missão individual que pode partir de indagações pessoais, como sugeriu Francisco:

“Eu cultivo o desejo de entrar, com a graça de Deus, em seu Reino e de ser, com a sua ajuda, um guardião acolhedor também para os outros? E, para fazê-lo, deixo-me 'limar', adoçar, modelar por Jesus e seu Espírito, o Espírito que habita em nós, em cada um de nós?”

Angelus 29 de junho 2024 – Papa Francisco:

https://youtu.be/tfyVTn_IZ4s

 Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF