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segunda-feira, 29 de julho de 2024

"A sociedade Humana"

A sociedade Humana (Maestrovirtuale)

“A SOCIEDADE HUMANA” 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

“A sociedade Humana” 

Cadernos do Concílio – Volume 27 

Hoje nos debruçaremos no volume vinte e sete da coleção “Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II” elaborados em preparação ao Jubileu da Esperança que acontecerá no próximo ano, onde comemoraremos os 60 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. O tema desse volume: “A sociedade humana”.  

A sociedade humana é por vezes complexa, formada por diversos tipos de pessoas em suas diferentes etnias, raças, religião e classe social. A Igreja tem de estar aberta e pronta para falar com toda a sociedade, independente da classificação. Inclusive essa foi a intenção do Concílio Ecumênico Vaticano II falar com todo o povo, da igreja para o mundo, e de certa maneira a Igreja tornar-se mais próxima do povo.  

Por isso, por mais que o Concílio Ecumênico Vaticano II tenha acontecido há praticamente sessenta anos atrás ele continua vivo e atual, tanto é que estamos discutindo os principais temas do Concílio nessa coletânea especial.  

Um documento de grande importância elaborado ao longo do Concílio Ecumênico Vaticano II e conversa diretamente com a sociedade como um todo é a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”. Significa alegria e esperança e trata sobre a Igreja em relação ao mundo contemporâneo, como bem sabemos o mundo passa constantemente por diversas transformações, inclusive o mundo era de um jeito durante o Concílio Ecumênico Vaticano II e hoje já está bem diferente. São mudanças tecnológicas, mudanças de pensamento, mudanças na forma de educar os filhos, dentre outras. Nós chamamos hoje de mudança de época. 

Muitas das discussões do mundo atual estão presentes na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobretudo no que diz respeito a dignidade da pessoa humana, ou seja, respeitar o ser humano em sua integridade, por inteiro, e desde o seu nascimento até a sua morte. Temos que respeitar a vida e não a ferir de jeito nenhum pois ninguém tem o direito de tirar a própria vida ou a vida do outro, se Deus deu a vida, somente Ele tem o poder de tirá-la. 

O documento fala também sobre a comunidade humana, ou seja, essa comunidade humana são todos os que habitam o planeta terra, e cada um deve contribuir para que a nossa sociedade seja sempre mais justa e fraterna e que todos possam conviver bem. Recentemente o Papa Francisco lançou dois documentos: a Carta Encíclica “Laudato Si” (2015) e a Carta Encíclica “Fratelli Tutti” (2020). Os dois documentos em consonância com a Constituição Pastoral Gaudium et Spes falam sobre como cada um deve cuidar bem do planeta em que vive sempre pensando em si mesmo e no próximo. Faz parte dos documentos sociais do magistério. 

Podemos fazer uma reflexão sobre como está o planeta hoje, as catástrofes climáticas que estão cada vez mais severas, o aquecimento global, as ondas de calor que estamos enfrentando sempre mais severas, e ainda, as estações do ano todas misturadas. Portanto, façamos a nossa parte cuidando da comunidade humana respeitando o universo, não poluindo o ambiente em que vive, economizando água, e sempre pensando no que estamos deixando para a próxima geração. 

Um dos mandamentos da lei de Deus e um dos mais importantes é o amor a Deus e consequentemente o amor ao próximo, por isso, viver em comunidade humana conforme ressalta esses documentos, sobretudo a Gaudium et Spes é amar o próximo, muitas vezes se colocando no lugar do outro, e refletindo se aquilo que é ruim para mim é também ruim para o outro, se as consequências dos meus atos não vão impactar de certa forma na vida do outro.  

Outra transformação do mundo atual é o avanço tecnológico, no tempo do Concílio a tecnologia não era tão avançada, mas já tinha a preocupação daquilo que ela poderia vir a ser. A tecnologia teve muitos avanços e com certeza irá avançar cada vez mais, ela ao mesmo tempo que é boa, também pode ser ruim. Tanto podemos usar a tecnologia para o bem quanto para o mal.  

Aqui hoje nós nos colocamos diante da assim chamada “inteligência artificial”. Está comum nos dias de hoje a questão da inteligência artificial, temos que tomar cuidado com ela para que a inteligência artificial não ocupe o lugar do ser humano e construamos uma sociedade de “robôs” e sem sentimentos.  

O que esse documento nos atesta é que devemos nos preocupar com o próximo em vista do bem comum para todos. Todos devem cuidar do lugar em que vivem para que todos se sintam bem ali. As regras de boa convivência devem valer para todos, desde aqueles que ocupam os altos cargos, como por exemplo, políticos até o mais humilde habitante da cidade.  

Cabe a nós respeitarmos a vida, tanto a nossa como a do outro, e ainda respeitá-la desde a concepção até a velhice. Não podemos tirar nem a nossa vida e nem a do outro. Todos os homens e mulheres são iguais perante Deus, ninguém é melhor do que o outro. Por isso, não podemos menosprezar o outro, por ter mais bens ou ser mais rico ou mais pobre, não levaremos nada daqui para a vida eterna, mas somente se fomos capazes de amar o nosso semelhante.  

Convido a tomarem em mãos esse volume vinte e sete da Coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II, bem como a Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, e que possamos viver bem em sociedade, amando e respeitando o próximo, e construindo um mundo melhor para todos. Cuidemos da nossa casa comum para que possamos deixar um futuro melhor para as próximas gerações. Esse é um documento muito interessante e importante do Concílio Vaticano II que devemos nos propor a meditar. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Comunidade de Taizé: à luz da fé ortodoxa

Comunidade Ecumênica de Taizé. Encontro de jovens cristãos e ortodoxos por ocasião da “Semana de partilhas e testemunhos da fé ortodoxa"  | Vatican News

De 4 a 11 de agosto a Comunidade Ecumênica de Taizé na França, organiza uma série de encontros com jovens cristãos e ortodoxos por ocasião da “Semana de partilhas e testemunhos da fé ortodoxa” com orações comunitárias, introduções bíblicas seguidas pelos tempos de partilha em pequenos grupos e os serviços.

Charles de Pechpeyrou - Osservatore Romano

“Pela tua luz vemos a luz": do Salmo 36, 10 é o tema da terceira ‘Semana de partilhas e testemunhos da fé ortodoxa’ organizada pela comunidade ecumênica de Taizé, na França, de 4 a 11 de agosto. Como todos os anos, essa semana será marcada por momentos de oração, tempos de partilha da fé e testemunhos.

Celebrações litúrgicas Ortodoxas

No programa três celebrações litúrgicas ortodoxas: uma vigília de oração na noite de segunda-feira, 5 de agosto, seguida pela Divina Liturgia na terça-feira, 6 de agosto, a Festa da Transfiguração do Senhor, na igreja da aldeia de Taizé, enquanto na sexta-feira, 9 de agosto, o Metropolita Dimitrios (Ploumis) de Paris, do Patriarcado Ecumênico, celebrará a Divina Liturgia na Igreja da Reconciliação.

Partilha da fé ortodoxa

No que se refere ao espaço de compartilhamento da fé ortodoxa estão programados quatro encontros nos dias 6, 7, 9 e 10 de agosto sobre vários tópicos, como “Encontrar seu lugar em uma paróquia” ou “Diálogo ecumênico e inter-religioso do ponto de vista ortodoxo”, em função das questões e interesses. O tema do testemunho da fé também será abordado em vários workshops abertos a todos e animados por cristãos ortodoxos.

No dia 6 de agosto, o tema será “Transfigurar a morte: A Transfiguração de Jesus no Evangelho segundo São Marcos em diálogo com o ícone ortodoxo da Transfiguração”, enquanto no dia 7 de agosto será “Participar na vida de Deus. A Transfiguração de Jesus e a nossa própria participação na vida de Deus, segundo a experiência e o ensinamento de São Gregório Palamas (século XIV)”.

Em 9 de agosto, os participantes da “Semana de partilhas e testemunhos da fé ortodoxa” refletirão sobre “A transfiguração da nossa vida. A liturgia eucarística como uma experiência do Reino de Deus”, com o Arcipreste Serge Sollogoub, do Patriarcado Ecumênico. No sábado, dia 10, haverá uma tentativa de encontrar “Uma nova forma de ser Igreja que transforma as nossas vidas” com jovens ucranianos presentes em Taizé ou ligados por videoconferência. “Criados à imagem de Deus: amar e ser amados” é o tema do último debate, no domingo, 11 de agosto.

Diálogo com jovens muçulmanos

Essa semana especial dedicada à descoberta da ortodoxia é o segundo evento de verão que a comunidade ecumênica de Taizé dedica ao diálogo entre jovens de diferentes religiões. Com efeito, de 7 a 12 de julho foi realizado o sétimo encontro de amizade entre jovens cristãos e muçulmanos. O tema do evento, que envolveu jovens de diferentes países europeus e de outros continentes, foi “Caminhar juntos”. Todas as manhãs foram marcadas por encontros com diálogos baseados em um trecho do Alcorão apresentado por um imame e sobre um texto da Bíblia comentado por um irmão de Taizé.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Marta

Santa Marta (A12)
29 de julho
Santa Marta

Marta era irmã de Maria e Lázaro, um amigo que Jesus iria ressuscitar, morando os três juntos em Betânia, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. A família foi abençoada com uma proximidade preferencial do Senhor, que a procurava para convivência e descanso.

Duas são as passagens que destacam a figura de Marta no Novo Testamento. Na primeira, ela recebe uma bondosa mas importante repreensão de Jesus, pois ao recebê-Lo em casa preocupou-se mais com as providências materiais relativas à Sua chegada do que com a atenção direta à Sua pessoa (Lc 10,38-42).

Na segunda, relativa à doença, morte e ressurreição de Lázaro, ela demonstra a intimidade que sua amizade permitia com o Senhor, expondo-Lhe seu sofrimento, expectativa, confiança, mas sobretudo sua profissão de Fé na divindade de Cristo (Jo 11,1-44).

 Santa Marta é padroeira do lar, das donas de casa, dos anfitriões, hoteleiros, nutricionistas e cozinheiros.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Belíssima é a amizade de Jesus com Marta, Maria e Lázaro. A proximidade dos três com o Senhor nos daria mesmo uma “santa inveja”, não fosse a realidade de que, pela Eucaristia, temos com Ele essa mesma graça. Exatamente por isso devemos estar bem à vontade para expressarmos claramente a Ele os nossos sentimentos, as nossas dúvidas, as nossas fraquezas, e alegrias, e expectativas, sonhos, ideias… a oração verdadeira nada mais é do que este diálogo direto, em que ouvimos e somos ouvidos, com Aquele que nos procura, nos vem visitar justamente para esta conversa individual e exclusiva. A falta de confiança num melhor amigo é algo triste, grave e contraditório. Se Cristo mesmo nos procura para estarmos juntos em profunda união, é no mínimo uma grosseria com o nosso melhor Amigo ocultar ou dissimular Dele o que realmente somos, tentando nos esconder sob aparências artificiais. Em relação a Deus, além disso ser impossível, é uma fraqueza que facilmente se torna pecado. Santa Marta nos ensina que, se crermos e formos sinceros com Jesus, também presenciaremos a ressurreição, Dele, nossa e dos nossos irmãos... As atenções práticas e materiais de Marta para com Jesus eram certamente importantes e necessárias, e o Senhor não as condenou ou desprezou. Porém deixou claro que as coisas materiais, que passam, não podem ter prioridade sobre as espirituais, sobre o Espírito Santo, trazido Nele e por Ele. Há hierarquia de valores, é preciso amar a Deus sobre todas as coisas, como ensina o Primeiro Mandamento, e Jesus é Deus Encarnado. Primeiro Deus, depois, encarnado. Por isso a compreensão de que a vida contemplativa, representada por Maria, é mais importante do que a vida ativa, figura por Marta, como explicita o próprio Jesus: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada” Lc 10,41-42). Ele a advertiu, com carinho mas em verdade, por que a amava. Também ama a nós.

Oração:

Senhor, que nos fizestes à Vossa imagem e semelhança, assim desejando desde sempre que participemos do âmago da Vossa vida Trinitária, concedei-nos por intercessão de Santa Marta não descuidar das obras materiais, mas submetê-las à primazia das espirituais, alcançando assim tamanha intimidade com Jesus que nosso coração seja a casa onde Ele venha conviver e descansar, nos proporcionando o descanso e a vivência infinita com Ele. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

domingo, 28 de julho de 2024

O Sentido da vida

O sentido da vida (Diocese de Valadares)

O SENTIDO DA VIDA 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

O Sentido da vida 

Cadernos do Concílio – Volume 26 

Hoje nos debruçaremos no volume vinte e seis da Coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II, uma tradução publicada pelas Edições CNBB em vistas do Sínodo da Esperança, que tem como tema: “O sentido da vida”, tema debatido também ao longo do Concílio Ecumênico Vaticano II e que é atual também para nós hoje. Sobretudo por aquilo que vivemos no mundo nos últimos tempos com pandemia da Covid-19, guerras, violência, fome e tantas outras coisas.  

É sempre bom falarmos sobre o sentido da vida, quantas pessoas que conhecemos, até mesmo de nosso núcleo familiar, que atravessam um momento de depressão e perdem muitas vezes a vontade de viver. Temos que ter a certeza de que Deus nos deu a vida e somente Ele tem o poder de tirá-la, não podemos tirá-la por vontade própria. Não sabemos qual o dia e a hora, somente Ele o sabe.  

Desde quando fomos concebidos e nascemos, Deus imprimiu em nós o dom do Espírito Santo, confirmado na celebração do Batismo e depois na Crisma. Somos convidados a trilhar a nossa vida segundo o Espírito Santo e esse mesmo Espírito Santo dará sentido a nossa vida. Ao longo da nossa existência nos deparamos com algumas situações que colocam em “xeque” a nossa vida, mas devemos acreditar em Deus e continuar seguindo em frente. Temos que acreditar que vale a pena viver e que temos muito a contribuir com esse mundo até o momento em que Deus nos chamar de volta para Ele.  

Aquelas pessoas que se encontram internadas nos hospitais acometidas por alguma doença, aqueles que estão em casas de repouso, ou nas prisões, colocam em dúvida a própria existência, por conta muitas vezes da solidão e por tudo aquilo que passou para estar ali. Mas, mesmo assim deve confiar em Deus que fará o melhor e conseguirá passar por aquela situação.  

As famílias que perderam seus entes queridos sobretudo recentemente por conta da pandemia da Covid-19, ou que perderam seus entes queridos em acidente, assalto, ou precocemente, ficam abalados e questionam a Deus o porquê. Por mais que essa situação seja difícil é preciso confiar no Senhor e seguir em frente, acreditando que aquele ente querido que morreu está no céu intercedendo por aqueles que ficaram.  

O questionamento sobre a vida humana é bem antigo, vem desde o tempo filosófico. Os pensadores filosóficos se questionavam qual era a razão da existência humana, e ainda, de onde viemos e para onde vamos depois daqui. Nós como cristãos católicos sabemos que viemos de Deus e para Ele voltaremos. A vida não termina aqui, mas continua eternamente.  

Diante dos avanços tecnológicos e científicos a humanidade trouxe à tona novamente esses questionamentos sobre a existência humana. Temos que tomar muito cuidado nos dias de hoje com a “Inteligência Artificial”, que é capaz de criar textos, imagens, e até mesmo criar um “robô” com a imagem semelhante à do ser humano. Esse “robô” não tem sentimento e não tem espírito como um ser humano tem.  

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, documento do Concílio Ecumênico Vaticano II, tem um capítulo que trata sobre a escatologia, ou seja, aquilo que acontecerá no final dos tempos, ou seja, o nosso fim último que é a vida eterna. Enquanto estamos aqui na terra fazemos parte da Igreja peregrina que caminhamos rumo a Igreja triunfante, que é a Igreja celeste, ao encontro do Senhor.  

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, também vai dizer que é por isso que rezamos pelos defuntos, acreditamos que suas vidas estão junto de Deus se viveram de acordo com a vontade do Pai. Por isso, não devemos acumular bens materiais, causar brigas e intrigas com os outros, querer ser melhor do que os outros, enfim, o que levaremos dessa vida será somente o amor. O amor deve ser o nosso “ingresso” para a vida eterna.  

Acredita-se que após essa vida terrena teremos um primeiro encontro com o Senhor, ou seja, será o nosso “juízo particular”, momento em que poderemos nos arrepender de nossos pecados e aguardar a o momento do encontro final com o Senhor, na segunda vinda de Cristo que será o “juízo final” junto com todos.  

A nossa vida tem total sentido, ela não teria sentido se acabasse aqui, mas ela continua na eternidade. Por isso, aproveitemos ao máximo enquanto estamos aqui para amar o nosso próximo e fazer o bem para que ao passar dessa vida possamos habitar eternamente junto de Deus.  

A salvação é para todos, Deus não deseja condenar ninguém, por isso, até o último momento a pessoa tem a oportunidade de se arrepender de seus pecados. E nós que aqui ficamos rezamos sempre na intenção dos entes falecidos, para que alcancem mais facilmente o perdão dos pecados e a salvação eterna.  

Podemos observar que a questão do sentido da vida vem de anos na Igreja, conforme nos exorta a Constituição Dogmática Lumen gentium, e ela ainda continua atual nos dias de hoje. Convido a tomarem esse volume vinte e seis dos Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II em mãos e ainda ler o capítulo sétimo da Constituição Dogmática Lumen Gentium.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Reflexão para o XVII Domingo do Tempo Comum (B)

Evangelho do domingo (Vatican News)

O projeto de Jesus não ensina primeiro acumular para depois dividir, mas partilhar o que cada um possui, para que todos fiquem saciados.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican  News

Para quem diz que a religião deve se preocupar apenas com o espírito, deverá surpreender o tema deste domingo onde na primeira leitura e no Evangelho o pão é multiplicado para que todos se alimentem bem. Aliás, na Sagrada Escritura, o verbo comer aparece quase mil vezes, enquanto que rezar só umas cem.

Na primeira leitura, o profeta Eliseu não aceita comer, em uma situação de penúria, de fome mesmo, os 20 pães que um devoto de outro lugar lhe traz. Ele diz a esse bom homem que o distribua aos seus cem seguidores. O benfeitor diz ser impossível, que o pão é pouco e os ouvintes são cinco vezes mais. Eliseu ordena, confiando na Palavra de Deus dita a ele. “O homem distribuiu e ainda sobrou” nos diz a Sagrada Escritura.

Naquela época isso aconteceu, bem como outros sinais semelhantes, para que o povo confiasse só em Deus e não nos ídolos. Deus se preocupa com nossas necessidades materiais, mas quer a nossa colaboração. Por isso a multiplicação do que foi trazido, do esforço físico de quem trabalhou, da solicitude de quem o trouxe e da generosidade e fé do profeta, que não reteve o dom para si, mas ensinou o homem a partilhar o que Deus criou para todos.

A atitude de Eliseu faz Deus ser verdadeiro e não mentiroso, já que o Senhor havia dito “Comerão e ainda sobrará”.

Em nossa realidade social somos os primeiros a fazer Deus passar por mentiroso, quando vivemos no Brasil, país que faz parte do grupo G20, e apesar disso temos mais de 10 milhões de pessoas vivendo abaixo da “pobreza absoluta”. País tão rico e população tão pobre! Deus não é mentiroso, nós é que somos egoístas e não queremos abrir mão de nossos pães que sobram para saciar a fome dos irmãos.

E não é só o pão. É a saúde, as vestes, o afeto, a educação, tudo aquilo que depende de nós, porque nós os temos, pouco até, mas os temos. Se confiarmos em Deus, Ele cumprirá sua Palavra e do pouco sobrará bastante.  Conta-se que São Vicente de Paulo ao chegar à cidade em que foi destinado como pároco, assistiu a morte de uma senhora e ficou penalizado por ter deixado sua filhinha de pouca idade. Após o sepultamento perguntou à população bastante pobre, quem tinha mais filhos e apareceu uma mãe com seus quatro filhos. Aí São Vicente entregou a ela a pequena órfã e ele acrescentou, mais ou menos assim: quem tem menos posses e mais filhos, sabe dividir e aceita o novo membro como bênção.

No Evangelho, ao mandar as pessoas se sentarem, Jesus quer dizer que todos são cidadãos livres, já que os escravos não se sentavam para comer. Mais ainda, no projeto de Jesus não ensina primeiro acumular para depois dividir, mas partilhar o que cada um possui, para que todos fiquem saciados.

Esta é a autêntica Eucaristia, o dom de Deus, associado ao esforço das pessoas, em vista da partilha, da fraternidade e da igualdade.

E a Carta de Paulo aos Efésios nos diz que há “um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos”.

Que nosso testemunho de crer no Deus único e verdadeiro nos leve a colocar as mãos em nosso bolso e partilhar tudo aquilo que recebemos ou produzimos porque dele tudo recebemos para partilhar, para sermos irmãos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Dar mais sem ser heróis (2)

Foto/Crédito: Opus Dei

Dar mais sem ser heróis

Ser santos é “dar o melhor de si” e, ao mesmo tempo, perceber “que no final é sempre Deus quem faz tudo”. Texto sobre a santidade que Deus nos pede.

23/01/2019

Os santos foram como nós

Na exortação Gaudete et Exsultate, o Papa Francisco recorda que “para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso” (Gaudete et exsultate, nº 14). A santidade não é para pessoas especiais. “Muitas vezes somos tentados – diz o Papa – a pensar que a santidade está reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração”.

É claro que não há santidade sem oração, mas corremos o risco de pensar (talvez depois de ler a biografia de um santo ou o resumo de duas linhas de informação sobre ele na Wikipédia) que os santos são pessoas que tiveram frequentes “arrebatamentos místicos”...

Os santos, pelo contrário, foram como cada um de nós. Não deixaram de ter ocupações diárias, não conseguiram ser santos fugindo da pressão das mil e uma preocupações e ocupações que afetam a todos nós. É graças a elas que eles acudiram à misericórdia do Senhor. Portanto, a santidade é procurar estar na realidade amando os outros, considerando as pessoas e as situações como um presente, vendo a presença de Deus na nossa própria existência diária. A santidade não é alcançada apesar da realidade em que nos encontramos, mas, precisamente, através da realidade, que consiste principalmente na família e no trabalho. É claro que podem ocorrer situações extraordinárias, mas em primeiro lugar, o que importa é a situação em que nos encontramos.

Cada um lave as próprias redes

A santidade também significa lavar as redes quando parece que perdemos o tempo, porque a pesca não serviu para nada. As redes são as ferramentas de trabalho para os apóstolos. Para cada um de nós são as coisas que usamos habitualmente. Lavá-las significa mantê-las em ordem, ou seja, tentar fazer as coisas com pontualidade e bom senso, movidos por uma atitude sorridente enquanto vivemos uma vida normal. E se me parece que tudo deu errado, tento manter o bom humor. Santidade não significa que tudo correu bem e que consegui sorrir. Significa que eu tentei e que, depois de uma noite inteira em que não pesquei nada, no dia seguinte vou tentar de novo, com paciência.

Lutar pela santidade significa também ajudar-nos uns aos outros, de um barco a outro. Talvez na hora da pescaria tenhamos percebido como foi importante lavar as redes, para elas não rasgarem: esse detalhe de cuidado das pequenas coisas fez com que resistissem. E então foi necessário ajudar o outro barco. Lutar pela santidade é procurar ajudar nas necessidades do outro sem pensar que “agora ele tem que se virar. Ele tem o barco dele e eu tenho o meu”.

Lavar as redes e dirigir-se ao outro barco significa cultivar as virtudes e qualidades relacionais que ajudam a pessoa a dar-se bem com os outros, porque não há santidade trancada em uma torre de marfim, em um prédio onde tudo é perfeito e não há contratempos. Na convivência cotidiana, ajuda muito falar com sentido positivo, ainda mais quando se fala de pessoas, para reconhecer as coisas boas que fizeram. Em geral, falar bem dos outros mostra estima, ajuda a criar esse bom ambiente que são Paulo recomenda: “rivalizando-vos em atenções recíprocas” (Rm 12, 10). Isso significa que as pessoas devem perceber esse amor. Não podemos amar uma pessoa sem expressar esse carinho com palavras ou gestos.

É NECESSÁRIO SENTIR-SE ENVIADO, COM A MISSÃO DE LEVAR LUZ E AFETO ONDE CADA UM VIVE A SUA PRÓPRIA VIDA

Na mensagem que o Senhor confiou a são Josemaria, há também outro aspecto essencial. Santidade na vida cotidiana não é apenas um chamado de uma pessoa a uma vida individual: há algo mais. A chamada específica é uma vocação pessoal, uma espécie de “ignição do batismo”, que nos faz descobrir que a normalidade da própria vida é uma chamada e, ao mesmo tempo, uma missão. É necessário sentir-se enviado, com a missão de levar luz e afeto onde cada um vive a sua própria vida. Não porque eu seja melhor, mas porque fui chamado. Não é uma escolha feita em virtude de uma suposta superioridade, mas uma missão para a qual o Senhor, em sua imaginação e bondade surpreendentes, escolhe-nos e envia-nos por meio do batismo.

Atrever-se a fazer mais sem ser heróis

Quando Simão Pedro percebeu o que aconteceu, isto é, que Jesus subiu a seu barco depois de um fracasso e que, então, paradoxal e milagrosamente, a pesca foi um sucesso, ele se jogou aos pés de Jesus dizendo: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou m pecador!” (Lc 5, 8). Pedro tem medo. É um sentimento normal ao perceber que Deus chama. Se esse encontro fosse uma questão acadêmica, histórica, se fosse um objeto de um estudo sobre outra época ou outras pessoas, ele não teria medo. Pedro, por outro lado, tem medo de como a sua vida pode se transformar. Tem medo porque ele se sente chamado pessoalmente a envolver-se, a procurar dar o melhor de si mesmo, aqui e agora.

Lembro-me de que, em uma reunião com jovens, o Papa João Paulo II ouviu um grupo cantando ‘Si può dare di più’ (Pode-se dar mais), uma música que ganhou o festival de San Remo. Imediatamente depois, ele improvisou um comentário sobre a música e disse que havia um verso muito profundo: “‘Pode-se dar mais sem ser heróis’. Há aqueles que pensam que para atrever-se a algo você tem que mostrar já uma virtude heroica. Mas nem tudo é heroico, o que conta é a coragem e sempre podemos atrever-nos a dar mais sem ser heróis” (São João Paulo II, Encontro com os jovens do UNIV, 19 de abril de 1987).

Pode-se dar mais sem que isso nos converta em pessoas diferentes, distintas do que o Senhor quer que sejamos. Poderíamos dizer a Ele: “Você, Senhor, pede para eu ser o que eu sou, mas sendo a melhor versão de mim mesmo”. É como quando sorrimos ao tirar uma foto. Não é que o sorriso seja falso, mas é que ao sorrir damos o melhor que temos dentro. Uma careta é que não seria autêntica. O sorriso é sempre autêntico, mesmo que envolva um esforço, e o Senhor nos pede uma santidade sorridente. Se pensarmos bem, todas as pessoas que nos amam nos imaginam sorrindo, porque esse é o nosso verdadeiro rosto.

TODAS AS PESSOAS QUE NOS AMAM NOS IMAGINAM SORRINDO, PORQUE ESSE É O NOSSO VERDADEIRO ROSTO

Semanas antes de se tornar João Paulo I, o Cardeal Luciani, escreveu que Josemaria Escrivá (que na época nem sequer tinha sido beatificado) havia ensinado a transformar o trabalho em um “sorriso diário”. Muitas vezes a santidade consiste em sorrir para os próprios limites, do cônjuge, do colega, dos amigos... Enfim, sorrir para a realidade, porque sabemos que Deus, nosso Pai, também nos olha com carinho. Não temos que ser heróis, mas, ao mesmo tempo – diria são João Paulo II – podemos fazer mais.

Jesus entende muito bem o nosso medo e o de Simão Pedro e diz: “Não tenha medo”. Pouco antes, podemos ler um detalhe muito bonito no Evangelho de Lucas sobre o estado de espírito do apóstolo: “Ele e todos os que estavam com ele ficaram espantados com a quantidade de peixes que tinham pescado” (Lc 5, 9). Inclusive Tiago e João, os filhos de Zebedeu e companheiros de Simão. É consolador saber que os três apóstolos mais próximos de Cristo sentiram medo quando foram chamados, “ficaram espantados”, talvez pensando: “Não pode ser, eu não sou um profeta, não sou um santo”. Jesus diz a Simão: “Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!” (Lc 5, 10). Isto é, a partir de agora você não terá apenas um emprego, mas ajudará os outros através da sua vida, do seu trabalho, da sua presença. Mas devemos entender bem este “de agora em diante”, que não significa “de uma vez por todas”. Significa que a cada vez que tivermos medo, o Senhor nos dirá: “Não tenha medo, de agora em diante... comece de novo”.

A festa litúrgica de São Josemaria é no dia 26 de junho. No final de março de 1975, algumas semanas antes da sua morte ele celebrou o 50º aniversário de sua ordenação sacerdotal e fez uma reflexão espontânea e improvisada sobre a sua vida: “Eu quis – dizia – fazer a soma destes cinquenta anos e saiu-me uma gargalhada. Eu ri de mim mesmo e me enchi de agradecimento a Nosso Senhor, por que foi Ele quem fez tudo”.

Esta é a santidade a que somos chamados. Não é a daqueles que dizem “a partir de agora meu trabalho, meus relacionamentos, meus filhos serão como eu digo”, mas é a santidade daqueles que percebem que no final é sempre Deus quem faz tudo.

Ao contemplarmos o chamado dos apóstolos no Evangelho, é bom lembrar que Pedro, Tiago e João mais tarde cometerão muitos erros, mas que Jesus vai continuar a chamá-los. O chamado à santidade é diário, não é de uma vez por todas, mas se renova todos os dias.

Com exceção de Nossa Senhora, não há santo que na terra não tenha experiência do pecado, e o Senhor não se afasta de seus filhos por este motivo, não se afasta da nossa casa porque estamos errados, mas entra no nosso barco todos os dias. Cabe a nós acolhê-lo, confiando na promessa de uma vida cheia de frutos, de uma bela vida. E vale a pena tentar responder todos os dias, como Maria: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).

Por: Carlo de Marchi

Tradução: Mônica Diez

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Escândalo das armas contradiz espírito de fraternidade das Olimpíadas, diz Francisco

Gastar recursos que alimentaram guerras grandes e pequenas, "um escândalo que a comunidade internacional não deveria tolerar", diz Papa  (AFP or licensors)

Nas suas saudações após o Angelus, o Papa recorda a população do sul da Etiópia atingida por um deslizamento de terra devastador e condena a fabricação e venda de armas que alimentam “grandes e pequenas guerras”, o que a comunidade internacional “não deveria tolerar”.

Francesca Sabatinelli – Cidade do Vaticano

A população do sul da Etiópia está nas orações do Papa, que nas suas saudações, depois de rezar o Angelus, se dirige àquela parte do mundo que sofre em função de um deslizamento de terras no passado dia 23 de julho, e que deixou ao menos 260 mortos. Francisco dirige seu olhar para o país do Chifre da África para depois estender o seu abraço a todas as pessoas que são afetadas pelos desastres naturais, enquanto há aqueles que lucram com os conflitos:

Asseguro a minha oração pelas vítimas do grande deslizamento de terras que devastou um vilarejo no sul da Etiópia. Estou próximo daquela população tão provada e daqueles que estão levando socorro. E enquanto no mundo há tanta gente que sofre com calamidades e a fome, continua-se a produzir e vender armas e a queimar recursos, alimentando guerras grandes e pequenas. Este é um escândalo que a comunidade internacional não deveria tolerar e que contradiz o espírito de fraternidade dos Jogos Olímpicos que apenas começaram. Não esqueçamos, irmãos e irmãs: a guerra é uma derrota!

Três dias de luto

Na Etiópia, a partir deste domingo, haverá três dias de luto, enquanto as equipes de resgate continuam a escavar em Kencho Shacha Gozdi. Os sobreviventes, sob estado de choque, começaram a sepultar as vítimas daquele que é descrito como o deslizamento de terra mais mortífero já registado na nação do Chifre da África.

As mortes confirmadas até agora são ao menos 260, mas o número pode ser muito maior. O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, visitou ontem, sábado, o local da tragédia, que fica a 480 quilômetros da capital Adis Abeba, e plantou uma árvore em um cemitério. As operações de busca continuarão, garantiu o porta-voz do governo, enquanto cerca de 500 pessoas deslocadas recebem ajuda de emergência.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Uma humanidade que não é uma fachada (2)

João Paulo I e Paulo VI (ACI Digital)

Uma humanidade que não é uma fachada

O cardeal Aloisio Lorscheider, arcebispo de Aparecida, Brasil, fala: «Luciani certamente teria tido em mente a predileção da Igreja pelos pobres. Durante muitos anos guardou a carta com a qual o seu pai socialista lhe deu consentimento para entrar no seminário: “Espero que quando te tornares sacerdote estejas ao lado dos pobres e dos trabalhadores porque Cristo esteve ao lado deles”»

Entrevista com o Cardeal Aloisio Lorscheider por Stefania Falasca

Dos 111 cardeais reunidos na Capela Sistina naquele conclave de agosto de 1978 que levou à eleição do Papa Luciani, o cardeal brasileiro Aloisio Lorscheider era o mais jovem. Conhecia de perto o patriarca de Veneza e estava ligado a ele por uma amizade sincera. Assim que foi eleito papa, João Paulo I revelou que havia reservado o voto no conclave justamente para ele, tamanha a estima que tinha pelo então presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano.

Dom Aloísio Lorscheider (ACI Digital)
Dom Aloísio, representante de uma Igreja que está na linha da frente na defesa dos pobres, é uma testemunha excepcional das expectativas e esperanças que levaram o patriarca de Veneza ao trono de Pedro.
Pela primeira vez o cardeal brasileiro concorda em falar extensivamente sobre suas memórias pessoais daqueles momentos importantes e sobre sua amizade com Albino Luciani.
Nós o encontramos em sua casa em Aparecida, cidade onde fica o maior e mais venerado santuário mariano do Brasil, do qual hoje é arcebispo.

E foi um conclave muito rápido, um dos mais curtos da história. O consenso para o Cardeal Luciani foi quase plebiscito. Como ocorreu essa convergência entre pessoas com sensibilidades tão diferentes?
LORSCHEIDER: Depois das primeiras votações, parecia que o conclave não seria curto. Então, subitamente, o consenso sobre o patriarca de Veneza tornou-se massivo. Para mim esse resultado foi verdadeiramente obra de uma intervenção providencial do Espírito Santo. Mas esta mesma unanimidade revelou que ele não era um Papa programado para um projeto político específico. Com a eleição de Luciani, as linhas entre conservadores e progressistas ruíram, justamente pelas características acima mencionadas e pela fisionomia particular de Luciani, focada no essencial.

Você se lembra da reação de Luciani à sua eleição?
LORSCHEIDER: Da posição em que me encontrava na sala, pude olhá-lo de frente... Luciani empalideceu e à pergunta ritual que lhe foi dirigida pelo Cardeal Villot, respondeu com voz fraca: «Aceito». Quando fomos prestar-lhe a nossa homenagem, ele repetiu a todos: «O que vocês fizeram? Que Deus te perdoe pelo que você fez...". “Santo Padre, tenha coragem, Deus não o abandonará”, alguns lhe responderam, e ele: “Sou um pobre papa”. Também no dia 30 de agosto, na primeira audiência com os cardeais, disse: «Espero que vocês, cardeais, ajudem este pobre Cristo, o Vigário de Cristo, a carregar a cruz». A maneira como ele pronunciou essas palavras causou-me uma grande impressão. Foi o Papa quem falou assim. Sua humilde humanidade não era uma fachada. Foi uma humildade sincera, que nasce apenas da consciência de sermos pobres pecadores e da experiência do perdão.

Depois houve a primeira audiência geral na sala Nervi. Ela estava presente? LORSCHEIDER: Lembro-me que João Paulo I chamou uma criança para perto dele e com tanta simplicidade começou a conversar com ele sobre o catecismo. Naquele momento tive a certeza absoluta de que ele era o homem certo: um Papa que se comporta como pároco, que pensa como pároco... Que maior dom poderia ter a Igreja? 

Na sua opinião, que caminhos teria seguido o pontificado de João Paulo I? LORSCHEIDER: É difícil dizer. Mas podemos desenvolver o que ele já havia mostrado. O traço que teria caracterizado o seu ensino teria sido, sem dúvida, simplicitas
evangélico. No seu discurso programático, Luciani declarou explicitamente que queria ser fiel apenas à grande disciplina da Igreja que remonta às fontes da fé. Fala tão simples, poucos discursos, curtos e ao alcance de todos. Ele disse que seus sermões tinham que ser compreendidos até pelas pessoas menos instruídas. Ele teria então uma atenção privilegiada à diocese de Roma e, ao mesmo tempo, teria promovido a colegialidade, envolvendo concretamente os bispos e os cardeais no governo pastoral. Certamente teria tido presente a predileção da Igreja pelos pobres. Durante muitos anos Luciani guardou a carta com a qual seu pai socialista lhe deu consentimento para entrar no seminário: “Espero que quando você se tornar padre esteja ao lado dos pobres e dos trabalhadores porque Cristo esteve ao lado deles”. E várias vezes Luciani lembrou-se de ter ficado impressionado com aquele ponto do catecismo onde se diz que a fraude contra os trabalhadores é um pecado que clama por vingança diante de Deus. Para Luciani este era o critério para julgar as questões económicas e políticas, daí o seu também muito duro. julgamentos sobre o capitalismo e a exploração do Terceiro Mundo.

Sabemos que Luciani, nos anos anteriores à encíclica Humanae vitae, foi um defensor da contracepção. Na sua opinião, que posição ele teria assumido em questões de ética sexual? LORSCHEIDER: Nenhuma previsão certa pode ser feita. Pode-se certamente dizer que não teria se oposto à Humanae vitae aderindo plenamente ao pronunciamento de Paulo VI, cujo ponto de vista ilustrou aos seus fiéis: «A doutrina habitual garante melhor o verdadeiro bem do homem e da família » . Mas para ele a questão tinha um interesse mais prático do que teórico: estava interessado na relação humana com os fiéis. Por isso, creio, provavelmente não teria insistido no assunto, privilegiando a misericórdia de Deus para com o pecador em vez da coerência do homem. Este aspecto é frequentemente expresso por Luciani em muitas das suas intervenções: “Nenhum pecado é grande demais, nenhum mais do que a misericórdia de Deus”. 

No entanto, alguns, embora apreciando a simplicidade de Luciani, o descreveram como um "ingênuo", incapaz de governar a Igreja...
LORSCHEIDER: Pelo contrário, eu diria que precisamente a simplicidade pastoral e o permanecer ele mesmo foram a sua força. Certamente não é sinal de fraqueza querer permanecer você mesmo e não acrescentar nada aos elementos e funções essenciais do primado de Pedro. Na verdade, isto também teria levado a mudanças na estrutura da Igreja, na Cúria e na relação do Papa com os bispos.

No entanto, o próprio Luciani tinha consciência das suas limitações, tanto que disse de si mesmo: “Eu, como Albino Luciani, sou um chinelo quebrado, mas como João Paulo I, é Deus quem trabalha em mim”.
LORSCHEIDER: João Paulo I estava bem ciente de que não é o papa quem faz a Igreja. «Nós, sacerdotes», dizia muitas vezes, «também podemos instruir, esclarecer e convencer, mas nada mais. Somente a graça de Deus pode tocar o coração e converter”.

Quando foi a última vez que você o viu?
LORSCHEIDER: Foi o dia da coroação. Então não tive mais contato com ele. Dom Ivo Lorscheiter teve a sorte de ser recebido para almoçar por João Paulo I durante os trinta e três dias de seu pontificado. Falou-me daquele encontro extremamente amigável e cordial e disse-me que o Papa tinha apreciado a entrevista que eu, como presidente do Celam, dei a Avvenire na conferência da Igreja Latino-Americana realizada em Puebla.

Precisamente a respeito daquela assembleia geral do episcopado latino-americano estava escrito que alguns cardeais pressionavam para que o Papa assistisse. O Papa Luciani, ao contrário do que fez o seu sucessor, não considerou necessária a sua presença, tanto que recusou o convite. Por que você acha que ele tomou essa decisão em relação a Puebla?
LORSCHEIDER: Eu sabia que o Papa não viria. Acredito que a sua prioridade naquele momento era permanecer em Roma, cidade da qual recentemente se tornou bispo. Ele nem pediu para devolver? LORSCHEIDER: Não. Ele teria deixado os bispos latino-americanos liderarem a assembleia em comunhão com ele. 

João Paulo I morreu no seu quarto, na noite de 28 para 29 de setembro. Falou-se de um infarto do miocárdio. Como você aprendeu sobre a morte? Você teve alguma notícia sobre o estado geral de saúde do Papa?
LORSCHEIDER: Naquela época eu estava em Brasília para uma reunião da Conferência Episcopal Brasileira. Durante aquela reunião adoeci e fui levado ao hospital militar. Lembro-me que na manhã seguinte o General Figueredo, então candidato à presidência do país, veio ter comigo e disse: “Vossa Eminência, o Papa está morto”. Eu respondi: “Sim, sim, eu sei, houve o funeral...”. E ele: «Não, Eminência, não estou falando de Paulo VI, mas deste Papa, João Paulo I...». Eu suspirei. Custou-me muito aceitar a triste notícia. Eu nunca esperei isso. Nenhuma pista, nenhum sinal negativo chegou até mim em relação à saúde do Papa Luciani. Digo isso com toda sinceridade, nunca duvidei da condição física dele. Na verdade, pelo que vi pessoalmente durante sua viagem ao Brasil, Luciani demonstrou forte resistência física.

Entrevista com o Cardeal Aloisio Lorscheider por Stefania Falasca
Como sabem, a morte súbita e algumas notícias falsas contidas na versão oficial fornecida pelo Vaticano alimentaram suspeitas perturbadoras. Muitas coisas foram escritas então sobre sua morte, falava-se até de um “homicídio moral”. Na sua opinião, havia espaço para legitimar tais suspeitas?
LORSCHEIDER: Não estou interessado nas coisas que foram escritas, nem em toda a literatura que floresceu em torno de sua morte. Porém, digo isso com dor, a suspeita permanece em nossos corações, é como uma sombra amarga, uma pergunta que não foi totalmente respondida.

Como é que o mesmo conclave, no mês de Outubro seguinte, elegeu um Papa tão diferente de Luciani?
LORSCHEIDER: Hoje não podemos negar a grande diferença que existe entre o pontificado atual e aquele que o precedeu. Mas o conclave que se reuniu após a morte de João Paulo I moveu-se na mesma direção que levou à eleição do patriarca de Veneza. As intenções eram as mesmas. Eles ainda queriam um papa que tivesse esses requisitos, que fosse principalmente um pastor. Se as circunstâncias e as pessoas evoluem, isso é outra questão. 

Em 1990, doze anos após a morte do Papa Luciani, o episcopado brasileiro encaminhou ao atual Pontífice o pedido de introdução da causa de beatificação de João Paulo I. Como começou esta iniciativa? LORSCHEIDER: O pedido surgiu dentro da nossa Conferência Episcopal, também a pedido de outros episcopados próximos, motivado pela grande admiração e veneração pela figura de Albino Luciani. 

O que aconteceu com esse pedido? Você recebeu alguma resposta sobre isso? LORSCHEIDER: Não, nenhum. Mas normalmente, seguindo a prática, este tipo de solicitação não é respondida oficialmente.

E extraoficialmente? Talvez você tenha recebido alguns comentários ou a impressão de que há reservas quanto à adequação da iniciativa?

LORSCHEIDER: Eu não descarto isso. No entanto, nada me foi relatado pessoalmente. 

Você não tem a impressão de que a figura do Papa Luciani foi esquecida na Igreja hoje? LORSCHEIDER: Talvez em alguns círculos sua memória não esteja muito viva hoje. Mas este não é o caso dos fiéis. As pessoas simples sabem reconhecer e dificilmente esquecem quem se mostra a elas com amor, com o carinho de um bom pai. Lembro que depois da eleição dele, quando estive em Fortaleza, alguns universitários vieram me visitar. “Vossa Eminência”, disseram-me, “viemos para lhe agradecer”. "Sobre o quê?", respondi. “Viemos agradecer a você e a todos os cardeais por nos terem dado um papa como João Paulo I”. "Você gosta muito?", perguntei. Eles responderam: “Sim, ele sabe falar ao coração das pessoas”. Acredito que o seu curto pontificado foi como um grande alento na vida da Igreja. Como a abertura de um dia claro... Temos saudade , saudade desse sorriso. Estou convencido de que um dia, voluntária ou involuntariamente, o Papa Luciani subirá às honras dos altares. 

E se lhe pedissem agora para reenviar o pedido de beatificação? LORSCHEIDER: Eu me inscreveria imediatamente, certamente. Mas nós, como bispos brasileiros, já encaminhamos oficialmente esse pedido. Não é mais aqui que a iniciativa deve recomeçar. Seria importante agora que um pedido neste sentido fosse promovido, por exemplo, pelos bispos da região do Trivêneto. Quero falar sobre isso, farei isso assim que retornar à Itália. Falarei sobre isso com o patriarca de Veneza, cardeal Cé.

Arquivo 30Dias, retirado da edição nº. 07/08 - 1998

Fonte: http://www.30giorni.it/

Papa: saber reconhecer e usufruir todos os dias os milagres da graça de Deus

Angelus 28 de julho de 2024 - Papa Francisco (Vatican News)

Reconhecer e usufruir todos os dias os «milagres» da graça de Deus.

https://youtu.be/DMCMZZEc1pg

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"Oferecer, dar graças e partilhar", três gestos realizados pelos protagonistas da multiplicação dos pães e dos peixes - narrada no Evangelho de João (cf. Jo 6, 1-15), e que Jesus voltará a repetir na Última Ceia.

O maior milagre

Dirigindo-se as milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, sob uma temperatura de 36°C, Francisco explicou o significado de cada um dos três gestos, a começar por "oferecer", que "é o gesto com o qual reconhecemos ter algo de bom para dar e dizemos o nosso “sim”, mesmo que o que temos seja pouco em relação às necessidades":

Isto é sublinhado, na Missa, quando o sacerdote oferece sobre o altar o pão e o vinho, e cada um oferece a si mesmo, a própria vida. É um gesto que pode parecer pouca coisa, se pensarmos nas imensas necessidades da humanidade, precisamente como os cinco pães e os dois peixes diante de uma multidão de milhares de pessoas; mas Deus faz disso a matéria para o milagre, o maior milagre que existe: aquele em que Ele mesmo, Ele mesmo, se torna presente entre nós, para a salvação do mundo.

Oferecer nosso pequeno amor ao Senhor, que o recebe

E o primeiro gesto, leva à compreensão do segundo, dar graças, que significa dizer ao Senhor com humildade, mas também com alegria:

Tudo o que tenho é dom teu Senhor, e para te agradecer só posso devolver-te o que por primeiro me deste, junto com teu Filho Jesus Cristo, acrescentando a isso o que posso, cada um de nós pode acrescentar alguma coisa. O que posso dar ao Senhor? O que o pequeno pode dar ao Senhor? Dar...dizer ao Senhor: "Te amo". Mas nós, pobrezinhos, o nosso amor é tão pequeno, mas dá-lo ao Senhor, o Senhor o recebe.

Viver cada gesto de amor como dom de graça

Por fim, o terceiro gesto, partilhar. "Na Missa - explicou o Santo Padre - é a Comunhão, quando juntos nos aproximamos do altar para receber o Corpo e o Sangue de Cristo: fruto do dom de todos, transformado pelo Senhor em alimento para todos":

É um momento belíssimo, o da Comunhão, que nos ensina a viver cada gesto de amor como um dom de graça, tanto para quem a dá como para quem a recebe.

Então, o convite do Papa para nos perguntarmos:

Acredito realmente, pela graça de Deus, de ter algo único para dar aos meus irmãos, ou sinto-me anonimamente “um entre tantos”? Sou protagonista de um bem a ser doado? Sou agradecido ao Senhor pelos dons com os quais Ele continuamente manifesta a mim o seu amor? Vivo a partilha com os outros como um momento de encontro e de enriquecimento recíproco?

Reconhecer os milagres de cada dia

Que Virgem Maria - disse ao concluir - nos ajude a viver com fé cada Celebração Eucarística e a reconhecer e usufruir todos os dias os «milagres» da graça de Deus.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Inocêncio I

Santo Inocêncio I (A12)
28 de julho
País: Itália
Santo Inocêncio I

Inocêncio nasceu na Itália e é o 40º Papa da Igreja Católica. Governou a Igreja por dezesseis anos, de 401 a 417.

Ele é lembrado como um homem muito enérgico e ativo, grande defensor da doutrina dos apóstolos, da disciplina eclesiástica, da unidade da Igreja e da paz do mundo.

Segundo o Liber Pontificalis, ele nasceu em Albano numa data desconhecida e cresceu entre o clero romano e no serviço à Igreja Católica.

Na época de seu pontificado, Roma estava cercada pelos bárbaros godos que eram liderados por Alarico, e só não tinha sido invadida graças às intervenções do papa junto a Alarico.

O papa tentou mediar a negociação entre o imperador Honório e o invasor bárbaro, mas não conseguiu e a cidade foi saqueada. Foram três dias de roubo, devastação e destruição. Os bárbaros respeitaram apenas as igrejas, por causa dos anos de contato e mediação com o Papa Inocêncio I. Mesmo assim, a invasão foi tão terrível que seria comentada e lamentada depois, por Santo Agostinho e São Jerônimo.

Inocêncio enfrentou muitas dificuldades, mas conseguiu manter a disciplina e tomou decisões litúrgicas vigentes até hoje. Elas se encontram nas correspondências deixadas pelo papa Inocêncio I. Com essas cartas se formou o primeiro núcleo das coleções canônicas, que faz parte do magistério ordinário dos pontífices, alvo de estudos ainda nos nossos dias.

Também foi ele que estabeleceu a uniformidade que as várias Igrejas devem ter com a doutrina apostólica romana. Sua influência política obteve do imperador Honório a proibição das lutas de gladiadores. Durante o seu pontificado difundia-se a heresia pelagiana, condenada no ano 416 pelos concílios regionais de Melevi e de Cartago, convocados por iniciativa de Santo Agostinho e com aprovação do Papa Inocêncio I, que formalmente sentenciou Pelágio e seu discípulo Celestio.

Ele também é conhecido por defender São João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla, da perseguição do Patriarca de Alexandria, Teófilo.

O Papa Inocêncio I morreu em 28 de julho de 417, foi enterrado numa basílica sobre as catacumbas de Ponciano e venerado como um santo.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A vida de Santo Inocêncio foi uma constante luta pela paz e pela pregação da Palavra de Deus. Suas ações na Igreja e no mundo político sempre tiveram como objetivo a luta pela dignidade humana. Que a vida de Santo Inocêncio inspire-nos ações de respeito e solidariedade com as pessoas.

Oração:

Deus eterno e todo poderoso quiseste que Santo Inocêncio I governasse todo o vosso povo, servindo-o pela palavra e pelo exemplo. Guardai, por suas preces, os pastores de vossa Igreja e as ovelhas a eles confiadas, guiando-os no caminho da salvação. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF