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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Nove dados que deve conhecer sobre os Padres da Igreja

São Jerônimo de Estridão, santo Agostinho, são Gregório Magno, santo Ambrósio de Milão. Michael Pacher: Altarpiece of the Church Fathers - Domínio público

Por Redação central*

28 de agosto de 2024

Os Padres da Igreja são santos dos primeiros séculos que, com seus escritos doutrinários, configuraram a Igreja Católica como a conhecemos hoje.

Alguns dos principais Padres da Igreja Grega são santo Atanásio de Alexandria, são Basílio Magno, são Gregório Nazianzeno e são João Crisóstomo; enquanto os quatro Padres mais importantes da Igreja latina são santo Agostinho de Hipona, são Gregório Magno, santo Ambrósio de Milão e são Jerônimo de Estridão.

A seguir, alguns dados importantes sobre eles.

1. Eram em sua maioria pastores, não acadêmicos

Os Padres viviam suas vidas cristãs em resposta à fé única, santa, católica e apostólica que experimentavam na Igreja e na cultura de seu tempo. Seus escritos não provinham de um catedrático titular, mas buscavam servir ao povo de Deus.

2. Santo Tomás de Aquino os citou centenas de vezes

Santo Tomás de Aquino, o doutor Angélico, não é apenas um teólogo e filósofo, mas um brilhante comentarista da Bíblia e da Tradição. Para escrever a Suma Teológica, citou textos de santo Agostinho 3.156 vezes. Citou são Gregório Magno 761 vezes, são Dionísio 607 vezes, são Jerônimo 377 vezes, são Damasceno 367 vezes, são João Crisóstomo 309 vezes, entre outras citações aos Padres da Igreja.

3. Amavam a Igreja

Exemplo disso é uma das passagens do corpus patrístico "sobre a unidade da Igreja", escrito por são Cipriano de Cartago em De Ecclesiae Catholicae Unitate: "Ninguém pode ter a Deus por Pai, se não tem a Igreja como Mãe".

4. Ensinavam sobre a natureza do homem

São Cipriano descreve a cultura pecaminosa na qual vivia antes de sua conversão e seu batismo: “Eu ainda estava deitado na escuridão e na noite sombria, vacilando de um lado para o outro, sacudido sobre a espuma desta idade jactanciosa, e incerta de meus passos errantes, sem saber nada da minha vida real, e distante da verdade e da luz... mas depois disso, com a ajuda da água do novo nascimento, a mancha dos anos anteriores foi lavada, e uma luz do alto, serena e pura, tinha sido infundida no meu coração reconciliado...”.

Da mesma forma o faz santo Agostinho de Hipona em seu livro "Confissões", ensinando a matar o homem velho cheio de pecado e abraçar o novo homem em Cristo.

5. Buscavam a amizade com Deus e com os demais

Os Padres da Igreja buscavam imitar a vida de Cristo, que completamente homem e completamente Deus, foi capaz de fazer grandes amizades.

Assim, são Gregório Nazianzeno revela sobre seu querido amigo São Basílio: “Homens diferentes têm nomes diferentes, que devem a seus pais ou a si mesmos, isto é, às suas próprias buscas e realizações. Mas nossa grande busca, o grande nome que queríamos, era ser cristãos, sermos chamados cristãos”.

6. Eram corajosos e podiam dar a vida pelo Evangelho

Um exemplo é a vida de são Cipriano de Cartago, o primeiro bispo que na África atingiu a coroa do martírio. Durante as grandes perseguições dos cristãos sob o imperador Décio, escreveu cartas pastorais no exílio instruindo o povo de Deus em Cartago. Sob o imperador Valeriano, Cipriano foi condenado à morte e martirizado em 258 d.C. Ao receber sua sentença, disse: "Deo gratias!" (Graças a Deus!).

São Máximo o Confessor foi outro corajoso Padre da Igreja que lutou contra o monotelismo, uma heresia que admitia em Cristo duas naturezas, a humana e a divina, e uma única vontade. O imperador Constante II mandou cortar a língua e a mão direita do santo para impedir seu ensinamento ortodoxo.

7. Defendiam a sã doutrina

No século IV, santo Atanásio teve que enfrentar Ário, um sacerdote de Alexandria que difundiu a doutrina errada de que Cristo não era o verdadeiro Deus. Seu desejo incansável por uma doutrina clara conduziu o Concílio de Niceia à elaboração do Credo Niceno. Hoje, o Credo, como símbolo da fé, é usado de maneira simples e direta pelos cristãos de todo o mundo para professar a fé da Igreja Católica.

8. Amavam profundamente a Virgem Maria

Os Padres da igreja amam a Mãe de Deus. Havia um herege chamado Nestório que ensinava que Maria era apenas Christokos (portadora de Cristo) e não a Theotokos (portadora de Deus). Em outras palavras, Nossa Senhora não era a Mãe de Deus, já que só deu à luz à natureza humana de Jesus. São Cirilo de Alexandria lutou incansavelmente contra esse tremendo erro teológico. Em uma carta que corrige Nestório, Cirilo escreve: “Por nossa causa e para a nossa salvação, assumiu sua natureza humana na unidade de sua Pessoa e nasceu de uma mulher; por isso se diz que nasceu segundo a carne” (Cirilo de Alexandria, Carta II a Nestório).

9. Interpretaram a Bíblia com clareza

Os Padres ensinaram como interpretar a Sagrada Escritura. A maior parte da literatura que temos dos Padres Apostólicos e Pós-Apostólicos são suas homilias, que oferecem algumas das melhores exegeses bíblicas imagináveis. Um exemplo disso são os Tratados de Santo Agostinho sobre o Evangelho de João.

Para a compreensão da Bíblia, devem ser utilizados os sentidos literais, alegóricos, morais e analógicos (como assinala o Catecismo da Igreja Católica no numeral 118) e, por isso, os Padres da Igreja estão entre os melhores exegetas da história.

Publicado originalmente em National Catholic Register.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/53080/nove-dados-que-deve-conhecer-sobre-os-padres-da-igreja

Cardeal Tempesta: Martírio de São João Batista

Martírio de São João Batista (Vatican News)

São João Batista é precursor, ou seja, aquele que prepara o caminho para a vinda de Jesus. Ele vivia no deserto, nas montanhas, e anunciava a todos que o Reino de Deus estava próximo.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. - Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Celebramos no dia 29 de agosto o martírio de São João Batista, que é um dos santos mais importantes da Igreja; tal é a importância que celebramos tanto o nascimento como a morte de São João Batista, o normal é celebrarmos somente o dia da morte do santo. Celebramos a natividade de São João Batista em 24 de junho e o martírio em 29 de agosto.

São João Batista é precursor, ou seja, aquele que prepara o caminho para a vinda de Jesus. Ele vivia no deserto, nas montanhas, e anunciava a todos que o Reino de Deus estava próximo. João é aquele que estava no ventre da mãe quando Nossa Senhora chega na porta da casa, saúda Isabel e, tanto grávida quanto o menino no ventre ficam cheios do Espírito Santo. Esse Espírito Santo, do qual Isabel e o menino ficam cheios, é a força que João recebe de Deus para levar adiante a sua missão. E é o mesmo Espírito Santo que desce sobre Jesus no momento do batismo e o conduz ao deserto. Encontramos bastante referência sobre João Batista sobretudo no tempo do advento.

João Batista batizava com água com o intuito da conversão dos pecados, e preparando o povo para a chegada do Messias. Por isso, ele tem o nome de Batista, pois batizava. Depois dele viria Jesus, que batizaria com a água e o Espírito Santo, até o próprio João não queria, no primeiro momento batizar Jesus, dizendo que Ele é o “autor do batismo”, mas era necessário que Ele fosse batizado para que se cumprisse a promessa de Deus e que o Espírito Santo viesse.

João Batista faz a “transição” entre o Antigo e o Novo Testamento, preparando o povo para o novo tempo que estaria para chegar, e a nova e eterna aliança que Deus selaria com a humanidade a partir da morte e ressurreição de Jesus. O Reino de Deus que João anuncia que estava próximo é o próprio Jesus, pois Ele é o próprio Reino de Deus. O Reino de Deus paz, justiça, misericórdia e perdão, e tudo isso Jesus anunciava.

Temos que diferenciar João Batista do João apóstolo e evangelista, João Batista celebramos em 24 de junho o nascimento e em 29 de agosto o martírio. João apóstolo e evangelista celebramos no dia 27 de dezembro. Após a morte e ressurreição de Jesus, ele acolhe Maria consigo e cuida dela, e depois teria se refugiado perto de Éfeso onde escreveu os seus livros.

João Batista por ser profeta anunciava a verdade contida na Palavra de Deus e denunciava as injustiças. Procurava alertar as pessoas para que vivessem de maneira plena o reino de Deus e que arrependendo-se de seus pecados amassem mais a Deus e ao próximo. Inclusive a causa da morte de João Batista foi, justamente, por denunciar as injustiças e as atitudes das pessoas que desagradavam a Deus.

A exemplo de São João Batista não podemos ter medo de dizer a verdade e denunciar aquilo está errado. Temos que edificar o Reino de Deus aqui na terra, para contemplá-lo de maneira definitiva no céu. Podemos conduzir muitas pessoas ao batismo e a conhecer a Deus, a exemplo do que São João fez.

A exemplo de João Batista somos discípulos e missionários do Senhor, a partir do nosso batismo podemos conduzir muitas pessoas ao batismo. Fomos escolhidos por Deus desde o ventre materno e consagrados pelo Espírito Santo no dia do batismo. Temos que anunciar a verdade e denunciar as injustiças e edificar aqui na terra o Reino de Deus. Temos que edificar o Reino de Deus aqui na terra, para contemplá-lo de maneira plena no céu.

A causa da morte de São João Batista foi uma mulher: Herodíades, atual esposa de Herodes Antipas, ex-esposa do seu irmão de criação. João foi preso por denunciar esse casamento ilegal, por achar que não era certo Herodes ficar com a esposa de seu irmão. Como já dissemos, João Batista denunciava as injustiças e anunciava a verdade.

Durante a festa de aniversário de Herodes, a filha de Herodíades, Salomé, dançou em homenagem ao rei, que era fascinado por ela: se ela dançasse, ele lhe permitiria pedir o que quisesse, até mesmo a metade do seu reino. Depois de consultar a mãe, ela pediu num prato a cabeça de João Batista. Herodes não queria aceitar, pois apesar de não concordar, ficava embaraçado com as palavras de João Batista, mas não pôde recusar, porque lhe havia prometido em juramento na frente de todos os convidados.

Algum tempo depois do pedido de Salomé, o empregado trazia a cabeça do profeta em um prato, entregando-a para Salomé e para sua maldosa mãe que queria vê-lo morto. Ele era um homem “justo e santo”, condenado à morte por sua liberdade de expressão e fidelidade ao seu chamado. Ele “abre” o caminho para tantos outros mártires que virão depois e tantos que morreram injustamente, do mesmo modo que ele.

Celebremos a festa litúrgica do martírio de São João Batista e aprendamos com ele anunciarmos a verdade e denunciar as injustiças. Já estamos quase no fim do ano, por isso, sejamos percussores do Messias e anunciemos a todos que encontramos que o “Reino de Deus” está próximo de nós.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção (3)

BBC NEWS BRASIL

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção

  • Equipe de Jornalismo Visual da BBC News Brasil
  • 18 de dezembro de 2023
  • Brasil

O território brasileiro abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. E, ao contrário de outros países da região, como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e até Argentina, o Brasil não reconhece como oficiais nenhuma de suas línguas indígenas em âmbito nacional.

Ainda assim, o Brasil é considerado um dos 10 países com o maior número de línguas no mundo e um dos que possuem maior diversidade linguística – ou seja, grande quantidade de famílias diferentes e de línguas isoladas.

Para dar uma ideia da diversidade linguística e cultural do país, a BBC News Brasil fez uma seleção com a ajuda de especialistas indígenas e não indígenas.

O resultado é este especial, no qual mostramos 10 das línguas indígenas faladas hoje no Brasil, de diferentes famílias e em distintas situações de preservação.

Guató

a língua recuperada a partir dos últimos falantes

Língua isolada

O guató é a última língua sobrevivente dos povos canoeiros do Pantanal brasileiro, mas deixou de ser transmitido para as gerações mais novas desde meados do século 20. No entanto, a pedido do povo guató remanescente, pesquisadores estão ensinando-os a falar a língua, usando o que aprenderam dos três últimos falantes conhecidos.

Eles conviviam com muitos outros na região que vai até a planície do Chaco, na Bolívia.

"No passado, eles praticamente viviam dentro das canoas, faziam fogueira, cozinhavam, etc. Os outros povos que viviam dessa maneira agora são extintos", diz a linguista Kristina Balykova, que conduz o estudo da língua.

Os hábitos de povo canoeiro podem ter influenciado o modo de falar dos guató, segundo os linguistas. Por exemplo, na existência dos "sufixos direcionais" – partículas colocadas após as raízes dos verbos para descrever a direção do movimento.

"Se em português dizemos 'o cachorro correu na minha direção', é como se em guató eles falasse 'o cachorro correuparamim'. Esse 'para mim' seria um pequeno sufixo no fim do verbo", explica Balykova.

Entre outras direções, o guató tem um sufixo que significa 'descendo o barranco do rio' e outro que é 'subindo o barranco do rio'. Arrastar meu barco descendo o barranco, por exemplo, seria maegopaniayn. Subindo, maegopanigun.

"Há estudos que mostram que os povos que têm muito contato com a água (por exemplo, na Amazônia) costumam ter esses recursos gramaticais para falar de tudo o que se refere a ela. Nós precisamos de uma expressão para dizer 'descendo o barranco'. Eles, de dois sons. É como se eles falassem tanto daquilo que desenvolveram uma forma reduzida", diz.

Guató está sendo recuperado a partir dos dois últimos falantes; entre eles, dona Eufrásia Ferreira | Foto: Cortesia Gustavo Godoy

O sistema numeral dos guató também intriga os pesquisadores. Ao contrário de povos que viviam de maneira semelhante, eles eram capazes de contar até as centenas e os milhares.

"Isso é muito raro entre as línguas indígenas. De um modo geral, a maioria das línguas faladas por povos caçadores e coletores têm poucos numerais. Só têm palavras até o três ou o cinco", afirma Balykova.

"Sabemos, por outras características da língua, que eles davam uma atenção especial a questões matemáticas: contagem, medição. Mas o que exatamente eles contavam? Não se sabe."

As palavras para designar os numerais têm a ver com o corpo. Quinze, por exemplo, significa, literalmente, "os dedos do pé de alguém, já incluídas as mãos".

Segundo Balykova, os guató não fundavam aldeias e, sim, casas dispersas na beira do rio durante a seca. Nas cheias, construíam aterros para se instalarem, nos quais famílias diferentes podiam morar juntas. De modo geral, elas viviam separadas.

Esse modo de vida os manteve integrados durante invasões europeias, guerras locais e epidemias, mas também facilitou sua eventual desintegração.

Com a guerra do Paraguai, na qual lutaram pelo Brasil, e a chegada dos grandes fazendeiros, no século 19, muitas famílias guató perderam território e foram trabalhar nos latifúndios da região – onde falar sua própria língua era proibido.

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As mulheres passaram a casar-se com homens de fora da etnia e os filhos de guatós muitas vezes eram levados para fazendas como "afilhados" trabalhadores, e perdiam contato com a língua.

"As famílias guató foram se desfazendo, e a língua foi acabando junto", afirma a pesquisadora.

Parte dos guató se organizou nos anos 1970 para exigir direitos. Vinte anos depois, foi criada a Terra Indígena Guató, em Mato Grosso do Sul. Outro grupo reivindica também a Terra Indígena Baía dos Guató, em Mato Grosso. Este foi o grupo que pediu ajuda para recuperar a língua.

A partir de estudos e de conversas com três idosos, considerados seus últimos falantes plenos – Vicente Caetano da Silva (Djoguápo), André Luiz de Oliveira (Djógito), seu irmão, e Eufrásia Ferreira (Djariguka, morta em 2021) – o guató, que eles conhecem como gotxeuvy ioty ou "língua de gente", está sendo sistematizado e ensinado ao seu povo.

Os pesquisadores produziram cartilhas para as aulas e o próximo passo foi a produção de um dicionário online português-guató, com apoio do Museu do Índio e da Unesco. Kristyna Balykova, autora do dicionário, trabalha agora em uma gramática da língua no doutorado pela Universidade do Texas em Austin.

"Ainda temos um longo caminho pela frente. Revitalizar uma língua é um processo complexo, e há muitos modelos que podem ser seguidos", diz a linguista.

Os guató estão entusiasmados com a retomada do idioma. Kristina mantém contato com professores locais, que lhe mandam listas de frases que crianças e adultos querem saber. Os adultos pediram uma frase específica: "vamos fazer sexo?".

Para Balykova, "é uma mostra de que eles querem usar a língua cada vez mais na intimidade. Não é apenas para mostrar aos não indígenas".

Os fazendeiros da região dizem que estamos 'ensinando os guató a ser índios', mas não é nada disso. Nós os estamos ajudando a recuperar algo que foi tirado deles, muitas vezes com violência.

Kristina Balykova Linguista da Universidade do Texas em Austin

"É cruel impedi-los de falar sua língua e depois dizer que eles não podem recuperar parte da sua identidade", afirma a pesquisadora.

Yaathê

a língua mantida em rituais secretos

Língua isolada

Conhecida como a única língua indígena do Nordeste que se manteve viva (considerando o Maranhão como parte da Amazônia), o yaathê foi mantido, durante séculos, em rituais secretos no sertão pernambucano.

Os indígenas fulni-ô vivem nos arredores de Águas Belas, a cerca de 273 quilômetros de Recife, desde pelo menos o século 17.

A população da aldeia fulni-ô chegou a cair de cerca de 320 pessoas em 1749 a menos de 100 em 1873.

Hoje, são cerca de 4.690 pessoas, segundo estimativa do Instituto Socioambiental (ISA).

Até o início do século 20, a língua tradicional foi reprimida e chegou a ser proibida pelas autoridades locais.

Isso levou os fulni-ô a sair da aldeia todos os anos para um retiro espiritual secreto — realizado majoritariamente em seu idioma — chamado Ouricuri, segundo explica a linguista Januacele Francisca da Costa.

O Ouricuri começa a ser preparado em agosto e ocorre entre setembro e outubro, um total de 14 semanas. Todo o grupo – incluindo aqueles empregados na cidade – se retira para outra aldeia para permanecer durante todo o ritual. Não indígenas podem visitar o local antes do início do ritual, mas não participam dele.

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Os fulni-ô começam a frequentá-lo desde crianças e, quem não frequenta, perde o direito de participar e deixa de ser considerado parte do grupo.

"Só pode participar quem tem ao menos o pai ou a mãe fulni-ô. Mas mesmo os pequenos filhos de indígenas com brancos evitam falar sobre o ritual para não indígenas, é impressionante", diz a linguista.

Falar sobre o ouricuri é proibido, assim como é vetado o ensino do yaathê para os que não são da comunidade.

Durante as perseguições, o segredo foi fundamental para reforçar o caráter da língua como algo tradicional, ligado ao sagrado e, portanto, importante para a comunidade para além da comunicação do dia a dia.

Segundo a especialista, isso dificultou a sua substituição pelo português, que é a língua dominante na vida social.

Hoje, as crianças fulni-ô também aprendem o yaathê na escola, em cantos tradicionais praticados na comunidade e com filmes – desde 2011, um coletivo de cinema produz documentários na língua nativa.

Originalmente, o yaathê só tem nomes para numerais até o três, algo comum a muitas línguas indígenas. Ao longo do tempo e por causa da convivência com não indígenas, os fulni-ô fizeram adaptações ao seu vocabulário.

Os fulni-ô continuam realizando o ritual secreto do Ouricuri todos os anos, em aldeia próxima de local desconhecido | Foto: Cortesia Marina Costa

"Para o número quatro, por exemplo, eles passaram a usar a palavra fasiska, que significa borboleta, porque esse é o animal do quatro no jogo do bicho. Para cinco eles usam khoho fathowa, que significa 'uma mão'. Já seis é uma expressão que significa 'um em cima de uma mão'. E depois daí vão contanto de cinco em cinco", explica Januacele.

Novas palavras também foram formadas para incorporar conceitos do português que não existiam no yaathê.

"O interessante é que eles fazem as palavras a partir de sua forma, não do significado. A palavra tdia significa 'caminho'. Para dizer 'caminhão', o veículo, eles usam tdia hesa, que é como se fosse 'caminho grande'", conta.

A língua também só permite usar pronomes de posse para coisas que podem ser possuídas, na visão do seu povo.

"Eu posso dizer 'minha mão', em yaathê, mas não 'meu rio'. O rio é de todos, nunca de um indivíduo. Assim como a natureza em geral e os animais que, mesmo caçados, são compartilhados", diz Januacele Francisca da Costa.

Há apenas uma exceção para essa regra: os cachorros. Estes, sim, podem ser de uma só pessoa.

Língua de sinais ka'apor

a primeira sinalização reconhecida do Brasil

Língua de sinais

Ainda menos conhecidas do que as línguas indígenas faladas no Brasil são as línguas de sinais usadas pelos povos nativos. Mas uma delas chegou a ser a primeira sinalização reconhecida como língua no país, décadas antes da Libras (Língua brasileira de sinais) – a língua dos ka'apor.

"Hoje há um reconhecimento oficial, por lei, da Libras, mas a língua não tem um alcance pleno. Já os ka'apor nunca duvidaram que a língua de sinais é uma língua. Eles se referem a ela dessa forma e todo mundo sabe que você pode falar por sinais", explica o antropólogo Gustavo Godoy, pesquisador da língua de sinais ka'apor, da Universidade do Texas em Austin.

"Todos os ka'apor sinalizam e eles prestam atenção nos surdos, se esforçam para entender o que eles estão dizendo."

A língua de sinais é mais integrada na sociedade deles do que na nossa.

Gustavo Godoy Linguista da Universidade do Texas em Austin

Godoy mapeou quase 20 povos com línguas de sinais próprias no Brasil, mas acredita que podem existir muitos mais. "As pesquisas sobre isso mal começaram", diz.

Segundo relatos históricos, os ka'apor teriam surgido há 300 anos entre os rios Tocantins e Xingu. Ao longo dos séculos, por causa de conflitos com colonizadores e com outros povos indígenas, migraram até o Pará e o norte do Maranhão, onde vivem até hoje.

Eles chegaram a ser descritos como um dos povos nativos mais combativos e hostis do Brasil, por sua resistência às tentativas de contato, chamadas de "pacificação". No fim dos anos 1920, os ka'apor aceitaram o contato. E, na década de 1970, tiveram seu território demarcado pela Funai, a Terra Indígena Alto Turiaçu.

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No final dos anos 1960, o linguista James Kakumasu visitou o povo e observou que um em cada 75 ka'apor eram surdos. Era um período em que a população estava em queda, mas o pesquisador notou que esse poderia ser um dos motivos para que toda a tribo fosse fluente na língua de sinais.

Atualmente, a incidência de surdez entre os ka'apor é cerca de 0,6%, segundo Gustavo Godoy. Na população brasileira em geral, essa incidência era de 1% em 2021, de acordo com o IBGE.

Acredita-se que sinalização ka'apor surgiu no mínimo no século 19, pois é quando nasceu a surda mais antiga conhecida entre eles. Ela foi reconhecida como língua em 1966 e nomeada Língua de Sinais Ka'apor Brasileira em 1984. A Libras, também criada no século 19, só obteve o mesmo reconhecimento em 1994.

Só agora, no entanto, os sinais ka'apor começam a ser melhor descritos e compreendidos. Os ka'apor falam uma língua tupi-guarani, mas sua língua de sinais não representa exatamente as palavras da língua falada.

Os ka'apor são conhecidos pela sofisticação da sua arte plumária | Foto: Cortesia André Sanches de Abreu / Endangered Languages Archive

"Uma diferença básica entre as línguas faladas e as de sinais é que as de sinais são visuais. E a gente conceitualiza quase todas as coisas com a visão. Se eu digo 'casa' você imagina uma casa. Mas o som da palavra casa nós inventamos. As línguas de sinais não precisam desse elemento, então todas elas representam imagens do que querem falar", explica Gustavo Godoy.

"O verbo 'comer' em Libras é um gesto de colocar o alimento na boca. No caso dos ka'apor, é um gesto que imita o alimento descendo pela goela. Então a diferença entre as línguas de sinais decorre, em parte, de que cada língua presta atenção em coisas diferentes para criar seus sinais."

Com os animais é possível ver claramente a diferença. Se em Libras o gato é representado pelo bigode, na língua Ka'apor, é pelos olhos redondos. O cachorro, sinalizado em Libras com a imitação do focinho, é representado pelos dentes entre os indígenas.

Créditos:

Texto e reportagem: Camilla Costa
Design: Caroline Souza
Edição e design de vídeo: Daniel Arce
Desenvolvimento: Marta Martí Marques, Alex Nicholas, Matthew Taylor
Edição e coordenação: Carol Olona
Agradecimentos: Felipe Corazza, Marcos Gurgel, Holly Frampton, Denny Moore, Gustavo Godoy, Bruna Franchetto, Hein van der Voort, Kristina Balykova, Januacele Francisca da Costa, Elissandra Barros, Gasodá Suruí, Julien Meyer, Joana Autuori, Andrés Pablo Salanova, Fernando Orphão de Carvalho, Edison Melgueiro Baniwa, Francy Fontes Baniwa, Janina dos Santos, Maria do Carmo Martins, Esmeralda Maria Piloto, Keila Felicio Iaparrá, Kilia Sanumá, Kalepi Amarildo Sanumá, Cacique Djik Fulni-ô, Fábia Fulni-ô, Éxetina Aristides Terena, Aronaldo Júlio, todas as mulheres e homens indígenas que cederam seus vídeos.
Vídeos:
Ikolen - Falantes: Sena Kéré’áàp Gavião e Vása Séèp Gavião Participantes: Oliveira Gavião e Tarami Gavião Imagens e edição: Julien Meyer e Laure Dentel | Cortesia do Museu Emilio Goeldi Tradução: Denny Moore, João Cipiábíìt Gavião e Julien Meyer
Nheengatu - Falantes: Maria do Carmo Martins e Esmeralda Maria Piloto Imagens e tradução: Edilson Melgueiro Baniwa
Parikwaki - Falante, imagens e tradução: Keila Felicio Iaparrá
Terena - Falante: Éxetina Aristides Imagens e tradução: Aronaldo Júlio
Guató - Falante: Eufrásia Ferreira (Djariguka) Imagens: Kristina Balykova e Gustavo Godoy Edição e tradução: Kristina Balykova
Yaathê - Falante: Cacique Djik Fulni-ô (Cícero de Brito) Imagens: Fábia Fulni-ô Tradução: Januacele Francisca da Costa
Ka’apor - Falantes e sinalizantes: Jarara Pirã Ka'apor e Sypo Ruwy mãi (Joana Ka'apor) Imagens, edição e tradução: Gustavo Godoy
Kayapó - Falante: Nhàkture (Maria Eugênia) Imagens, edição e tradução: Andrés Pablo Salanova
Kheuól - Falante, imagens e tradução: Janina dos Santos
Sanöma - Falante: Kilia Sanumá Imagens: Kalepi Amarildo Isaac Sanumá Tradução: Joana Autuori

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-3a23b0c2-e594-4145-ad26-32fbee5e9203

Cardeal Scherer: A coragem de crer

Cardeal Odílio Pedro Scherer - arcebispo de São Paulo (Vatican News)

A fé cresce, desenvolve-se e amadurece, tornando-se capaz de produzir os seus frutos, na medida da nossa correspondência a esse dom precioso.

Cardeal Odilo Pedro Scherer – arcebispo de São Paulo

A fé é um dom de Deus, recebido no Batismo. Jesus elogia com frequência a fé sincera e confiante das pessoas: “ó mulher, grande é a tua fé!” (Mt 15,28). Mas também lamenta a falta de fé em outros casos: “onde está a vossa fé?” (Lc 8,25). A fé também é a resposta humana a Deus, que se nos manifesta e interpela de muitos modos. Sem essa resposta a Deus mediante a atitude da fé, esse dom não se desenvolve e pode até desaparecer em nós. A fé cresce, desenvolve-se e amadurece, tornando-se capaz de produzir os seus frutos, na medida da nossa correspondência a esse dom precioso.

Talvez pretendamos “provas” da parte de Deus para, somente então, acreditar nele. Foi o caso do apóstolo São Tomé que, não acreditando no testemunho dos outros apóstolos, quis primeiro ver Jesus ressuscitado e tocar em suas chagas para, somente assim, acreditar em sua Ressurreição. Ele acabou conseguindo essa graça tão especial e, em compensação, fez a profissão de fé mais completa em Jesus: “meu Senhor e meu Deus!”. Mas Jesus repreendeu-o por sua incredulidade e disse que não seria esse o modo ordinário para se chegar à profissão da fé: “creste porque me viste, Tomé! Felizes aqueles que creem sem terem visto” (cf. Jo 20,26-29).

Pode acontecer que também nós, como São Tomé, pretendamos primeiro “ver, para crer” em Deus. Mas não cabe a nós, exigir sinais extraordinários de Deus, para “provar” sua existência e credibilidade. Cabe-nos abrir os olhos, a inteligência e o coração para reconhecer e acolher os sinais de Deus presentes em toda parte, na natureza, na vida das pessoas, na história humana, na nossa própria história. O ato de fé nunca é uma afirmação abstrata e meramente intelectual: ele vem sempre acompanhado de uma narração das obras de Deus ou de um testemunho pessoal. “Creio, porque… Creio por isso, por aquilo…” E tem muito a ver com uma experiência pessoal: de fato, Deus não é uma ideia abstrata ou uma doutrina, mas um tu, que vem ao nosso encontro, cuja presença e ação percebemos, a quem nos dirigimos e com quem nos relacionamos. Jesus revelou que esse grande Tu é um Pai que nos conhece e nos ama com a filhos muito queridos. Jesus desmistifica o ato de fé por medo ou mera sujeição.

O ato de fé, como adesão a Deus, também tem muito a ver com uma decisão livre e responsável, a partir da tomada de consciência das maravilhas de Deus. São Paulo diz que são insensatos e inexcusáveis aqueles que não chegam a reconhecer Deus mediante os sinais deixados por Ele no mundo (cf. Rm 1,18-23). No Evangelho de São João, Jesus identifica-se como “o verdadeiro pão descido do céu para a vida do mundo” e diz a todos que é preciso alimentar-se do seu corpo e sangue para ter parte na vida eterna. Muitos discípulos, então, murmuram contra ele, dizendo: “essa palavra é muito dura. Quem a pode ouvir?” E abandonaram Jesus, que se voltou aos doze apóstolos e lhes perguntou: “vocês também querem ir embora?” Foi um momento séria crise e de decisão para eles: continuar com Jesus, ou ir-se embora também? (cf Jo 6,60-67). Crises semelhantes podemos enfrentar também nós ao longo da vida, quando nos parece não haver mais sentido no que cremos.

Simão Pedro respondeu à interpelação de Jesus com uma renovada profissão de fé: “a quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6, 68-69). A resposta de Pedro contém  elementos importantes do ato de fé. “Nós sabemos”: isso revela a experiência dos encontros e do convívio com Jesus. O ato de fé está ligado a uma experiência vivida, quer pessoalmente, quer pela comunidade que crê. Nós não cremos sozinhos: cremos com a Igreja, comunidade de fé. E cremos como a Igreja crê. Crer com a comunidade de fé nos dá uma imensa serenidade e segurança no ato de fé e nos pode ajudar a superar nossas crises de fé.

Outro aspecto importante do ato de fé na resposta de Pedro mostra que o ato de fé é também fruto de uma decisão pessoal e envolvente, com a qual se abraça o “risco de crer”. O ato de fé supõe entrega confiante e não podemos pretender clareza absoluta quando o fazemos. Temos motivos para crer, como Pedro, que dá os motivos da sua proclamação e decisão: “A quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos e reconhecemos”. Crer é também um ato de confiança, coragem e até de ousadia. É fruto de humildade sincera e de reconhecimento de Deus, merecedor de nossa confiança. Mas não é uma loucura ou insensatez irresponsável. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santa Joana Maria da Cruz

Santa Joana Maria da Cruz (A12)
29 de agosto
País: França
Santa Joana Maria da Cruz

Santa Joana Maria da Cruz, cujo nome de batismo é Jeanne Jungan, nasceu em 25 de outubro de 1792, em uma aldeia chamada Cancale, na França. É a fundadora da Congregação das Irmãzinha dos Pobres. É considerada a amiga e padroeira dos idosos.

Filha de José e Maria Jungan, era a sexta de oito irmãos, ficou órfã de pai aos quatro anos, sendo cuidada apenas pela mãe. Ela experimentou a pobreza e as dificuldades da vida, por isso, começou a trabalhar cedo como empregada na cozinha dos Viscondes de la Choue, para ajudar no sustento da família.

Com seu trabalho, ela ajudava a sustentar a família e ainda encontrava tempo para cuidar de idosos abandonados e pobres, reservando uma parte de seu salário para eles.

Joana acompanhava sua patroa, que era muito piedosa e católica, em suas visitas aos doentes e aos pobres. Aos 25 anos, Joana deixou sua cidade para ser enfermeira no Hospital Santo Estevão. Nesse meio tempo, entrou para a Ordem Terceira, fundada no século XVII por São João Eudes.

Em 1823, ela deixou o hospital e foi trabalhar como cuidadora de uma senhora de 72 anos de idade, Francisca Aubert Lecog, trabalho que fez por doze anos. As duas alugaram uma pequena propriedade junto com Virginia Tredaniel, uma órfã de 17 anos e fundaram uma comunidade católica de oração, começaram a dar catequese para as crianças e a cuidar de pobres e outros necessitados, até a morte de Lecog.

Joana começou uma campanha junto à população para conseguir dinheiro, conseguindo sensibilizar uma rica comerciante e, com essa ajuda, conseguiu comprar um antigo convento.

Este convento se tornou a casa mãe da nascente Congregação das Irmãzinhas dos Pobres, na qual Joana fundou o seu próprio carisma: “a doação como apostolado de caridade para com quem sofre por causa da idade, da pobreza, da solidão e de outras dificuldades”.

Joana morreu em 29 de agosto de 1879, na casa mãe de Pern, França. As Irmãzinhas dos Pobres tinham quase duas mil e quinhentas irmãs, com cento e setenta e sete casas em dez países. Ela foi sepultada na casa de Pern. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 3 de outubro de 1982 e canonizada em 11 de outubro de 2009, pelo Papa Bento XVI.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Santa Joana Maria da Cruz é um modelo para aqueles que cuidam dos pobres, dos doentes e dos idosos. Para todos os que se sentem ansiosos nestes tempos econômicos difíceis, ela oferece um convite a viver as bem-aventuranças, confiando na providência de Deus. Ela nos ensina a fazer tudo através do amor. Ela é uma santa amiga dos pobres e dos idosos! Que Santa Joana Maria da Cruz nos ajude a refletir em como a sociedade muitas vezes descarta os idosos e não reconhece o seu valor. Que através de sua intercessão, os idosos possam ser acolhidos e valorizados em toda a sociedade, mas principalmente dentro da Igreja.

Oração:

Jesus, alegrastes-Vos e louvastes o Vosso Pai por terdes revelado aos pequeninos os mistérios do Reino dos Céus. Nós vos agradecemos pelas graças concedidas à vossa humilde serva, Santa Joana Maria da Cruz, a quem confiamos os nossos pedidos e necessidades. (pausa para exprimir as necessidades e intenções pessoais) Pai dos pobres, nunca recusastes a oração dos humildes. Pedimos-vos, portanto, que escuteis as petições que ela vos apresenta em nosso nome. Jesus, por Maria, vossa Mãe e nossa, nós vos pedimos isto, que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo, agora e para sempre. Amém. Santa Joana Maria da Cruz, rogai por nós.

Fonte: https://www.a12.com/

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Santo Agostinho

Santo Agostinho (A12)
28 de agosto
País: Argélia
Santo Agostinho

Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, antiga cidade da Numídia. atual Argélia no norte da África, no ano de 354. Filho primogênito de Santa Mônica e de Patrício, rude pagão que depois viria a se converter ao Catolicismo. Teve um irmão, Navígio, e uma irmã, Perpétua, que viria a ser religiosa.

Com inteligência superior, aos 11 anos estudou inicialmente em Madauro, perto de Tagaste. Aprendeu ali sobre literatura latina mas também sobre o paganismo local e romano.

Sua mãe o educara na Fé católica, mas a inconstância, o espírito de insubordinação e a impetuosidade de caráter de Agostinho a levara a adiar o seu batismo, com medo que ele viesse a profanar o Sacramento. E realmente, aos 16 anos, tendo ido estudar Retórica, Filosofia e Literatura em Cartago, adotou uma vida desregrada.

Seu pai tinha preocupação apenas em que tivesse boas notas, brilhasse nas festas sociais e se destacasse nas atividades físicas; com 17 anos, quando seu pai morreu, Agostinho estava corrompido pelo jogo e pela luxúria, e passara a seguir uma seita maniqueísta, onde há um deus bom e outro mau. O hedonismo, a ideia de que o prazer é o fim único da vida, o levou a juntar-se dois anos depois com uma mulher cartaginesa, da qual teve um filho, Adeodato.

Aos 20 anos, Agostinho era professor conceituado de Retórica em Cartago. Mas sua mente inquieta não estava satisfeita. Ao ler “Hortensius”, de Cícero, começou a buscar a sabedoria: “A felicidade – escreveu o grande romano – consiste nos bens que não perecem: sabedoria, verdade, virtudes”. Esta busca o levou a estudar e conhecer diferentes propostas filosóficas, ao longo do tempo. Em 382, procurando algo que o satisfizesse interiormente, e ao mesmo tempo querendo evitar as admoestações de sua mãe, usou de um estratagema para deixá-la no porto de Cartago, enquanto embarcava com a amante e Adeodato para Roma.

Lá teve apoio dos maniqueístas e abriu uma escola, mas já não estava satisfeito com esta seita. Em 384 obtém a cátedra de Retórica na corte imperial em Milão, onde passa a seguir o ceticismo. Nesta cidade estava o bispo Santo Ambrósio, cujos brilhantes sermões começaram a interessá-lo pela refinada técnica oratória e dialética. Ao aspecto intelectual foi acrescentado o espiritual, o conteúdo das pregações, e Agostinho começou a se questionar quanto ao Catolicismo.

Mônica já se mudara também para Milão, para estar mais perto do filho, e suas orações e lágrimas, partilhadas e orientadas por Ambrósio, de quem se aproximou, começaram a dar frutos. Atormentado, Agostinho leu tanto variadas obras filosóficas quanto a Bíblia, interessando-se pelos pensadores gregos e pelos ascetas cristãos. Mas ele buscava a Verdade, e seguindo um impulso interno – como uma voz interior, certamente uma moção do Espírito Santo – que lhe dizia “Pega e lê!”, abriu uma das cartas de São Paulo, em Rm 13,13-14: “Vivamos honestamente, como quem vive à luz do dia. Nada de comilanças ou bebedeiras, nem volúpias, nem luxúrias, nem brigas, nem rivalidades. Pelo contrário, revesti-vos de Jesus Cristo e não tenhais preocupações com a carne, para satisfazer as suas concupiscências”. Estas palavras, e o que ouvira de Santo Ambrósio, o decidiram finalmente. Encerrou o relacionamento indecoroso de 13 anos com a amante, que voltou para a África, abandonou os vícios e maus costumes, e preparou-se para o Batismo. Tanto ele, aos 33 anos, como Adeodato, com 15, foram batizados por Santo Ambrósio na catedral de Milão, na Páscoa de 387.

Não muito tempo depois, Adeodato morreu, e Santa Mônica, junto com Agostinho e seu irmão Navígio, decidiram voltar para Tagaste. No porto de Óstia, próximo de Roma, Mônica, depois de constatar que a sua missão nesta vida fôra completada com a conversão do filho, é acometida por uma misteriosa e fulminante febre, falecendo em poucos dias. Agostinho depois escreveria dela: “Pela carne, me concebeu para a vida temporal, e pelo coração me fez nascer para a eterna” (“Confissões”, IX-8). Sepultada Santa Mônica, Agostinho seguiu para Tagaste, onde chegando em 388, junto com alguns amigos iniciou uma vida monástica com uma regra escrita por ele mesmo. Dedicavam-se à oração, à meditação, ao estudo da Bíblia e a obras de caridade.

Em 390 ou 391, o Bispo Valério de Hipona o ordenou sacerdote, e com o seu falecimento em 396, Agostinho foi aclamado pelo povo como seu sucessor. Por 34 anos fica à frente da diocese e desenvolve um trabalho portentoso, de alcance verdadeiramente católico, isto é, universal, e de verdade perene.

Agostinho foi um bispo sempre atento às necessidades espirituais e materiais dos fiéis, ensinando a Doutrina com toda a ortodoxia e combatendo heresias, e cuidando caridosamente dos pobres. Como mestre incontestável de espiritualidade, a demonstrou por palavras faladas e escritas, e por ações. A sua primeira comunidade deu origem a muitas ordens e congregações, masculinas e femininas, que seguiram as inspirações da Regra que escreveu para ela.

Segundo seu primeiro biógrafo, ele deixou à Igreja um clero muito numeroso, assim como mosteiros de homens e de mulheres cheios de pessoas dedicadas à continência sob a obediência dos seus superiores, juntamente com as bibliotecas que contêm livros e discursos seus e de outros santos […]”. É considerado o mais profundo pensador do mundo antigo, bem como um dos mais importantes teólogos e filósofos da Patrística na Igreja, influenciando e iluminando até hoje o pensamento universal, divulgado na imensa obra escrita – mais de mil publicações – que deixou e que abarca os mais diversos temas filosóficos, doutrinais, apologéticos, morais, monásticos, teológicos e exegéticos. Além disso, muitas de suas homilias transcritas serviram de modelo e inspiração para os religiosos ao longo do tempo.

Santo Agostinho faleceu em Hipona, então sob invasão bárbara e perseguição aos católicos, em 28 de agosto do ano 430, com 76 anos. É Doutor da Igreja e um dos luminares da Patrística.

A sua incessante busca pela Verdade enriqueceu a Igreja, e sobretudo pelas suas obras a Idade Média teve acesso à antiguidade cristã. Seus escritos são fundamentais na formação de toda a cultura do Ocidente; segundo Paulo VI, Pode-se dizer que todo o pensamento da Antiguidade conflui na sua obra e dela derivam correntes de pensamento que permeiam toda a tradição doutrinal dos séculos sucessivos”. Acima de tudo, Santo Agostinho é o Doutor da Graça não somente por ter ensinado como ela opera, mas porque é a prova mesma de como podemos – se o permitimos – ser totalmente transformados por ela: seu exemplo pessoal mostra como alguém que não tinha forças para deixar o pecado foi tomado e imerso na Graça de Deus: “porque é Ele próprio que começa, fazendo com que queiramos, e é Ele que acaba, cooperando com aqueles que assim querem”.

Das suas principais obras, que incluem “A Trindade” (em 15 livros), “O Livre Arbítrio” (em três volumes), “A Graça” (em dois livros, com sete partes no total) e “Comentários Bíblicos” (do Antigo e Novo Testamentos), talvez as amais conhecidas sejam “Confissões” e “Cidade de Deus”. A primeira (em 13 livros) é como que uma sua autobiografia espiritual e um hino de louvor ao Senhor, onde confessa tanto a sua miséria espiritual, dos seus pecados, quanto a grandeza de Deus, que o redimiu. A segunda (em 22 livros) trata da relação entre a Fé a política, retratada nas aspirações da alma e os desejos mundanos, e influenciou diretamente a Teologia cristã e o pensamento político ocidental. Foi escrita no contexto do saque de Roma pelos visigodos em 410, e das críticas pagãs de que Roma estava mais segura na época das divindades pagãs do que com o Cristo. Em resumo, mostra a Humanidade dividida (desde Adão e Eva, diríamos…) entre dois amores: o amor a si mesmo, “até à indiferença por Deus”, e o amor a Deus, “até à indiferença por si mesmo”.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

É da natureza humana buscar a Deus, porque somos Sua imagem e semelhança. Com maior ou menor sensibilidade, todos nós ansiamos por Ele, que é eterno, inesgotável e perfeito. Nesta procura, por causa das consequências do Pecado Original, a confusão do que é “perfeito” com o que traz sensações agradáveis em diferentes níveis da dimensão humana, como o físico, o racional, o emotivo, é uma tendência constante, e que exige um esforço, a partir do espiritual, o aspecto humano mais afim de Deus, para que saibamos distinguir estes apelos inferiores da Verdade, que é o próprio Deus (“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai sensação por Mim. Se conhecêsseis a Mim, conheceríeis também a Meu Pai. Desde já O conheceis e O tendes visto” (Jo 14,6-7), esclareceu Jesus aos Apóstolos, indicando também que é Um com o Pai, na Santíssima Trindade). “conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará” (cf. Jo 8,32): Perfeição – Verdade – Deus, Quem é nossa origem e fim, e o único no Qual encontraremos a felicidade e alegria, perene e completa, que percebemos e naturalmente buscamos naquilo que, nesta vida, percebemos como perfeito. Toda a vida de Santo Agostinho nos coloca diante deste drama essencialmente humano que é a busca ansiosa por Deus, pela plenitude da felicidade-perfeição, que é a Verdade da nossa existência; para o que fomos criados e foi perdido no Pecado Original, mas resgatado na Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus, Deus Encarnado exatamente para que pudéssemos ser resgatados: o preso e miserável não pode ser resgatar-se a si mesmo, precisa de alguém que ofereça por ele, e o Pecado Original prendeu o Homem na miséria, logo, é necessário outro ser humano, livre e rico, que o tire da prisão – mas quem, se a Humanidade inteira, na sua essência, está cativa? Jesus, Deus, Se encarna e Se oferece por nós (“porque é Ele próprio que começa, fazendo com que queiramos, e é Ele que acaba, cooperando com aqueles que assim querem”), e só por isso o desejo natural da perfeição pode ser de novo alcançado, se, libertado, o Homem não se entregar de novo à prisão, ao pecado, voluntariamente... O próprio Agostinho, depois de convertido, dá testemunho deste processo, que demorara a entender, na talvez mais famosa (com justiça) das suas citações: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Estáveis dentro de mim e eu estava fora, e aí Vos procurava; e disforme como era, lançava-me sobre estas coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Mas Vós me chamastes (…) e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me, e comecei a desejar ardentemente a vossa paz” (“Confissões” X, 27, 38). Mas não basta a conversão, “Na vida espiritual, quem não avança retrocede” (São Padre Pio de Pietrelcina). A busca de Santo Agostinho é inerente e natural a qualquer outro homem, mas continuar avançando na vida de santidade, apesar de novas quedas e levantamentos, constantemente e sem desistir, é uma escolha pessoal. Da qual, naturalmente, seremos os únicos responsáveis pelas consequências nesta e na vida futura.

Oração:

Deus de infinita paciência, que por séculos preparastes a Redenção, e nos aguardais com amor assíduo, concedei-nos por intercessão de Santo Agostinho de Hipona a sinceridade da busca e da conversão a Vós, ao longo de toda a nossa vida, e a honestidade de perseverarmos sempre mais no crescimento da santidade, até que o amor por Vós chegue à indiferença por nós mesmos”. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Qual papa você gosta mais?

Papa Francisco (Opus Dei)

Qual papa você gosta mais?

Dom Wilson Angotti
Bispo de Taubaté (SP)

Junho é o mês em que comemoramos São Pedro e o dia do Papa, sucessor de Pedro. Há pouco tempo, um jovem me perguntou qual Papa eu gostava mais? Uma pergunta que em outros tempos poderíamos responder tranquilamente; hoje, porém, devido a grupos ultraconservadores e até sede-vacantistas (que consideram vacante a sede petrina), temos que ter cautela. Há quem diga que esse ou aquele Papa não o representa. Diante da pergunta, respondi que gosto do Papa atual, pois só temos um Papa! Aproveitei a ocasião para mostrar que, do grupo dos apóstolos, Jesus escolheu aquele que ele quis. Quem sabe algum “rebelde contestador” daquela época tenha pensado: por que o Senhor não escolheu um dos escribas, que eram estudiosos e conhecedores da Sagrada Escritura? Ou um dos fariseus, que eram zelosos observantes da lei mosaica, e tinham o propósito de serem exemplos para os outros. Não seria melhor se Jesus tivesse escolhido uma pessoa influente da sociedade como Nicodemos ou alguém que se destacasse no judaísmo como um Sumo Sacerdote? Será que um desses não teria sido uma escolha melhor para Jesus colocar à frente de sua Igreja, ao invés de um rude e, talvez, iletrado pescador? Mas Jesus escolheu quem ele quis. Assim também o Senhor continua a escolher hoje, pela ação do Espírito Santo, prometido e enviado para assistir a Igreja. Não aceitar isso corresponde a negar que Deus conduza sua Igreja. A pessoa escolhida para dirigir a Igreja de Cristo não é alguém para agradar a esse ou a aquele grupo, mas é fruto da vontade divina, que conduz a história. A decisão dessa escolha, na Igreja, não se dá como fruto de uma campanha política. É fruto de um discernimento que se dá em um contexto de oração, diante de Deus, buscando identificar quem melhor poderá desempenhar a função e melhor responder aos desafios da época. Assim, o Senhor vai conduzindo sua Igreja, mediante as escolhas que são feitas, com o intuito de discernir a vontade de Deus, atentos às suas inspirações. 

Humanamente falando, qualquer que seja o papa escolhido pode mesmo agradar mais a uns que a outros; porém, nunca a ponto de fazer oposição a quem foi legitimamente escolhido ou a ponto de dizer “esse Papa não me representa”. Isso corresponde a contrapor-se a Deus. “Não vos arrisqueis em resistir ao próprio Deus” (At.5,39). Pessoas ou grupos que chegam a esse ponto já não se constituem como membros da Igreja. Com tal atitude, de fato, já se colocaram fora da comunhão eclesial. Quem não está com o sucessor de Pedro e sob ele, de fato, já não está na Igreja de Cristo. Ao longo da história da Igreja, num momento ou noutro, grupos desse tipo surgiram e desapareceram. Atualmente, existem grupos que contestam o Concílio do Vaticano II, convocado pelo papa São João XXIII, em 1962, e concluído com o papa São Paulo VI, em 1965. Alguns desses grupos são cismáticos, outros contestam alguns aspectos de mudanças introduzidas pelo Concilio. Concílio que foi o maior da história e reuniu mais de dois mil bispos de todas as partes do mundo. Após o período da cristandade, buscando responder aos desafios do nosso tempo, o Concílio Vaticano II buscou soluções fazendo a Igreja voltar-se ao essencial, buscando esses valores fundamentais em suas origens bíblica, litúrgica e patrística. Assim, a Igreja buscou superar elementos temporais, próprios de um ou outro momento histórico, a fim de redescobrir e valorizar o essencial de sua vida e missão. A Igreja não mudou seus valores, pelo contrário, voltou-se ao que era primordial. Esse foi o intuito do Concílio Vaticano II. Diante disso, alguns grupos se contrapuseram de maneira cismática, separando-se da Igreja; outros, sem se separar, contestaram aspectos do “aggiornamento” ou atualização da Igreja. Tais contestações se evidenciam especialmente em questões litúrgicas e em concepções sobre a Igreja e sua missão no mundo. Interessante é que essa “saudade do passado” se dá, sobretudo, entre aqueles que não viveram antes do Concílio. Em geral, são pessoas que têm saudade do que não conheceram nem viveram. Muitos deles são doutrinados por influenciadores digitais que divulgam suas concepções em cursos que se difundem e multiplicam pela internet. 

Ao contestarem o Magistério (ensinamento oficial) da Igreja, contrapondo-se a bispos, a conferências episcopais, a concílios e até mesmo ao papa entregam-se cegamente ao “magistério” que escolheram segundo suas próprias convicções. Não buscam o que é expressão de fidelidade ao Evangelho, à Tradição secular da Igreja, ao ensinamento Pontifício, mas ao que agrada aos próprios ouvidos. “Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, buscarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão ao que lhes agrada ouvir” (IITm.4,3-4). Rejeitam o Magistério oficial da Igreja (do Papa e dos bispos), estabelecido por Cristo e adotam para si um magistério particular de alguém que diz o que querem ouvir. Na raiz de tudo isso está a busca de si, da “verdade” pessoal, do que agrada a cada um. Relativiza-se a verdade enquanto a concepção de cada pessoa é elevada à verdade incontestável e absoluta. É nesse contexto que se coloca e se entende a extensão da pergunta: de qual papa você gosta mais? 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção (2)

BBC NEWS BRASIL

O som de 10 línguas indígenas brasileiras em perigo de extinção

  • Equipe de Jornalismo Visual da BBC News Brasil
  • 18 de dezembro de 2023
  • Brasil

O território brasileiro abriga hoje apenas 20% das estimadas 1.175 línguas que tinha em 1500, quando chegaram os europeus. E, ao contrário de outros países da região, como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai e até Argentina, o Brasil não reconhece como oficiais nenhuma de suas línguas indígenas em âmbito nacional.

Ainda assim, o Brasil é considerado um dos 10 países com o maior número de línguas no mundo e um dos que possuem maior diversidade linguística – ou seja, grande quantidade de famílias diferentes e de línguas isoladas.

Para dar uma ideia da diversidade linguística e cultural do país, a BBC News Brasil fez uma seleção com a ajuda de especialistas indígenas e não indígenas.

O resultado é este especial, no qual mostramos 10 das línguas indígenas faladas hoje no Brasil, de diferentes famílias e em distintas situações de preservação.

Parikwaki

a língua preservada em um povo multilíngue

Língua aruák

A língua do povo palikur-arukwayene, parikwaki, faz parte da grande família aruák, uma das maiores no Brasil. Essa era certamente uma das línguas faladas já quando os europeus chegaram ao continente, e permanece viva e utilizada até hoje.

Sabemos disso porque os primeiros registros dos palikur foram feitos ainda em 1513, por um viajante espanhol que os encontrou na foz do rio Amazonas — uma enorme sociedade chamada de parikura, de navegadores e guerreiros.

Os palikur eram um dos povos aruák que habitavam a região e hoje são os únicos representantes daquela ocupação. No século 17, eles tiveram que migrar para o interior do Amapá ao serem perseguidos por portugueses — temendo que eles comercializassem com outros europeus que passavam pela região.

Depois da definição da divisão entre Brasil e Guiana Francesa, no começo do século 20, a maioria dos palikur chegou a se mudar para o território francês, por serem mal tratados pelas autoridades brasileiras. Mas epidemias fizeram com que voltassem ao Amapá.

Hoje, os palikur se dividem em 15 aldeias, que podem ter desde apenas um núcleo familiar de sete pessoas até uma população de 670.

BBC NEWS BRASIL

Na região de Oiapoque, eles chegam a eleger, juntamente com outros povos indígenas que vivem ali, um terço da Câmara de vereadores local. Trabalham também no Fórum de Justiça, na Funai, são professores nas escolas em suas aldeias e agentes de saúde.

A língua ainda tem alto grau de transmissão entre os palikur. Um levantamento da linguista Elissandra Barros da Silva, da Universidade Federal do Amapá (Unifap), que trabalha com essa população há 15 anos, mostra que cerca de 33% deles são trilíngues (falam parikwaki, português e a língua crioula khéuol).

Mas isso não quer dizer que o futuro da língua não esteja ameaçado.

Apesar de falarem a língua, as crenças e as atitudes dos palikur em relação a ela são negativas.

Elissandra Barros - Linguista da Universidade Federal do Amapá

"Para eles, falar o parikwaki e não dominar o português está associado com sofrer preconceito na cidade, com terem perdido o domínio comercial na região, com terem dificuldade em alcançar cargos que outros povos conseguem", diz a pesquisadora.

As crianças palikur, segundo as pesquisas da linguista e de seus alunos, já entendem desde cedo que há ambientes específicos para cada língua, e que a língua "mais importante de aprender" é o português.

"O status da língua deles está cada vez mais associado à família. Isso é péssimo a longo prazo, porque a língua está perdendo espaços de uso. Dentro de uma geração, ela não vai mais ser transmitida", alerta.

Com uma eventual perda do palikur, se perderia também um dos sistemas numéricos mais únicos entre as línguas brasileiras. "É uma coisa maravilhosa, porque eles marcam no número a forma do objeto", explica Barros.

Em português, dizemos "um" tanto para uma banana como para um prato, por exemplo. Já os palikur contam com numerais diferentes para objetos compridos, circulares e outros tipos.

"Existem ao menos seis formas diferentes só para indicar o número um, de acordo com a forma das coisas. Isso faz com que as crianças palikur tenham certa dificuldade de aprender matemática na escola. Se a cartilha com o desenho manda somar cenouras e laranjas, elas não entendem como fazer essa contagem", diz a linguista.

Por exemplo, "um homem" é pahavwi awayg. Mas se o objeto contado tiver o formato chato como um prato (miruk), o mesmo número se transforma em pahak. Para "um lugar" (iwetrit), de formato pouco preciso, o número é paha. E para um côco (kuk), objeto redondo, pohow.

Ao menos um terço dos palikur falam, além de sua própria língua, kheuól e português | Foto: Cortesia Elissandra Barros

Para Barros, isso pode se relacionar com o fato de que os palikur são um povo "extremamente hierárquico".

"Eles gostam de classificar tudo. Se dividem em clãs, com suas características e suas origens. E ajuda muito saber a posição de cada pessoa para saber como lidar com ela", afirma.

Segundo Lenise Palikur, estudante e pesquisadora da Unifap, cada clã tinha seu dialeto, seu modo de viver, seu território, seus líderes. Seus nomes são dados de acordo com a função que exercem na organização do povo.

"No decorrer do tempo, muitos clãs foram extintos por guerras entre eles e com outros povos. Hoje temos seis clãs. Wakavunyene (gente da formiga preta) são os responsáveis pela administração da aldeia; Wadahyene (gente da lagartixa) são bons escaladores e ótimos caçadores; Paraymyene (gente do peixe bagre) são os pescadores, considerados também como bons nadadores. E assim por diante", explica.

Terena

a língua que resiste à proximidade com os não indígenas

Língua aruák

Os terena são descendentes modernos dos guaná-chané, o povo de língua aruák a migrar para mais longe a partir da Amazônia. Apesar do seu contato constante com não indígenas e grande presença nas cidades, a língua terena (emo'u têrenoe ou "fala dos Terena") continua sendo falada nas aldeias.

O aruák é uma das grandes famílias de línguas presentes no Brasil e uma das mais espalhadas pela geografia das Américas – em todo o continente, são cerca de 70 línguas, incluindo o taino, língua do povo que teve o primeiro contato com Cristóvão Colombo na ilha de Hispaniola, na atual República Dominicana.

O terena chama a atenção por sua gramática complexa, na qual um verbo simples pode ser acrescido de sufixos, formando um "superverbo" que carrega tanto sentido quanto uma frase inteira no português.

Também é comum usar partes do corpo como metáforas de posições no espaço. Para dizer que alguém vive "em meio a nós", por exemplo, os terena dizem hiyéuke ûti ou, "em nosso cabelo".

Sobre a superfície de algo vira inúku-ke, ou "na testa". Embaixo de algo é opéku-ke, ou "no osso". Na ponta de algo é kiríku-ke ou "no nariz". Assim, algo sobre a água está "na testa da água" o que está no centro do fogo está "no olho do fogo".

Terenas vivem tanto em terras indígenas demarcadas quanto nas que ainda não são oficiais | Foto: Getty

"Em muitas línguas se faz algo parecido, até no português. Dizemos 'no pé da montanha', por exemplo. Mas em algumas línguas isso fica tão automático, tão natural, que as expressões ficam mais generalizadas. Foi o que aconteceu com o terena", explica o linguista Fernando Orphão de Carvalho, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os terena hoje se espalham principalmente pelo Mato Grosso do Sul.

Nos anos 1930, eles também foram levados pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) – órgão antecessor da Funai – para o interior de São Paulo, para ajudar na sedentarização do povo guarani.

"Como eles tinham uma tendência maior de sedentarização e de dedicação à agricultura, eles eram vistos de forma melhor pelo estado brasileiro, considerados 'mais civilizados'", afirma Orphão.

"Então houve algumas tentativas de usá-los para assentar os guarani, que eram mais nômades e para mediar a relação com os guaicurus, que eram mais belicosos."

Hoje, os terena são cerca de 26 mil, formando uma das maiores populações indígenas do Brasil.

Apesar de conhecida e falada pela maioria da população, a língua terena não é igualmente usada em todas as aldeias.

"Há terras indígenas, especialmente mais ao sul do Estado, onde basicamente não se fala mais a língua, eles estão muito cultural e fisicamente misturados com a população não indígena", diz Fernando Orphão.

"Em outras ainda há muitos falantes. Você ouve as crianças brincando em terena e muitos idosos são monolíngues em terena."

BBC NEWS BRASIL

Os terena, no entanto, são um dos casos de povos indígenas muito assimilados à sociedade não indígena, mesmo nas comunidades onde a língua está mais presente.

"Eles compram comida, cozinham em casa como a gente, têm ventilador, tem cama, bebem tereré como a população do Mato Grosso do Sul. A aldeia é organizada em termos de casas e ruas como qualquer pequena cidade do Brasil rural", diz o pesquisador.

Essa assimilação, que também foi uma estratégia de sobrevivência, segundo Orphão, coloca a língua terena em perigo.

"Quando os velhos falam com os jovens, eles entendem tudo, mas respondem em português e muitos assimilam todo tipo de preconceito da nossa sociedade contra os indígenas."

O pesquisador diz que é preocupante a falta de oportunidades de trabalho para os indígenas e que percebeu uma "dissolução gradativa do senso de comunidade". Mas ainda há esperança, segundo ele.

"Na primeira vez em que fui à aldeia de Cachoeirinha, em 2016, eu percebi os terena muito dependentes dos não indígenas. Na segunda vez, em 2018, já vi que as coisas estavam mudando. Eles estavam voltando a cultivar suas roças", diz.

Créditos:

Texto e reportagem: Camilla Costa
Design: Caroline Souza
Edição e design de vídeo: Daniel Arce
Desenvolvimento: Marta Martí Marques, Alex Nicholas, Matthew Taylor
Edição e coordenação: Carol Olona
Agradecimentos: Felipe Corazza, Marcos Gurgel, Holly Frampton, Denny Moore, Gustavo Godoy, Bruna Franchetto, Hein van der Voort, Kristina Balykova, Januacele Francisca da Costa, Elissandra Barros, Gasodá Suruí, Julien Meyer, Joana Autuori, Andrés Pablo Salanova, Fernando Orphão de Carvalho, Edison Melgueiro Baniwa, Francy Fontes Baniwa, Janina dos Santos, Maria do Carmo Martins, Esmeralda Maria Piloto, Keila Felicio Iaparrá, Kilia Sanumá, Kalepi Amarildo Sanumá, Cacique Djik Fulni-ô, Fábia Fulni-ô, Éxetina Aristides Terena, Aronaldo Júlio, todas as mulheres e homens indígenas que cederam seus vídeos.
Vídeos:
Ikolen - Falantes: Sena Kéré’áàp Gavião e Vása Séèp Gavião Participantes: Oliveira Gavião e Tarami Gavião Imagens e edição: Julien Meyer e Laure Dentel | Cortesia do Museu Emilio Goeldi Tradução: Denny Moore, João Cipiábíìt Gavião e Julien Meyer
Nheengatu - Falantes: Maria do Carmo Martins e Esmeralda Maria Piloto Imagens e tradução: Edilson Melgueiro Baniwa
Parikwaki - Falante, imagens e tradução: Keila Felicio Iaparrá
Terena - Falante: Éxetina Aristides Imagens e tradução: Aronaldo Júlio
Guató - Falante: Eufrásia Ferreira (Djariguka) Imagens: Kristina Balykova e Gustavo Godoy Edição e tradução: Kristina Balykova
Yaathê - Falante: Cacique Djik Fulni-ô (Cícero de Brito) Imagens: Fábia Fulni-ô Tradução: Januacele Francisca da Costa
Ka’apor - Falantes e sinalizantes: Jarara Pirã Ka'apor e Sypo Ruwy mãi (Joana Ka'apor) Imagens, edição e tradução: Gustavo Godoy
Kayapó - Falante: Nhàkture (Maria Eugênia) Imagens, edição e tradução: Andrés Pablo Salanova
Kheuól - Falante, imagens e tradução: Janina dos Santos
Sanöma - Falante: Kilia Sanumá Imagens: Kalepi Amarildo Isaac Sanumá Tradução: Joana Autuori

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-3a23b0c2-e594-4145-ad26-32fbee5e9203

Na alegre esperança de Cristo (2)

Na alegre esperança de Cristo (Opus Dei)

Na alegre esperança de Cristo

Deixar que o amor de Deus nos toque, deixar que Cristo olhe para nós. A esperança abre um mundo diante de nós, porque se fundamenta no que Deus quer fazer em nós.

04/12/2017

Deixar Cristo olhar para nós

Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia de Deus, porque n’Ele Deus nos fala com uma linguagem à nossa medida: uma linguagem em escala humana que vem ao encontro da sede do amor fora de toda escala que Ele mesmo colocou em cada um de nós. “E você, já sentiu alguma vez pousar sobre você este olhar de amor infinito que, para além de todos os seus pecados, limitações e fracassos, continua a confiar em você e a olhar com esperança para a sua vida? Você está consciente do valor que tem diante de um Deus que, por amor, deu-lhe tudo? Como nos ensina São Paulo, assim “Deus demonstra o seu amor para conosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós” (Rom 5, 8). Mas compreendemos verdadeiramente a força destas palavras?”[8]

E VOCÊ, JÁ SENTIU ALGUMA VEZ POUSAR SOBRE VOCÊ ESTE OLHAR DE AMOR INFINITO QUE, PARA ALÉM DE TODOS OS SEUS PECADOS, LIMITAÇÕES E FRACASSOS, CONTINUA A CONFIAR EM VOCÊ E A OLHAR COM ESPERANÇA PARA A SUA VIDA? (PAPA FRANCISCO)

Para descobrir o rosto de Jesus, é necessário percorrer o caminho da adoração e da contemplação. “Que doce é estar diante de um crucifixo, ou de joelhos diante do Santíssimo e simplesmente ser diante de seus olhos! Quanto bem nos faz deixar que Ele volte a tocar nossa existência e nos lance a comunicar sua nova vida!”[9]. Trata-se, como dizia o Papa em outra ocasião, de “olhar Deus, mas acima de tudo [de] sentir-se olhado por Ele”[10]. Parece algo simples: deixar-se olhar, simplesmente ser na presença de Deus... Mas o certo é que, em um mundo hiperativo e saturado de estímulos como o nosso, isso nos custa terrivelmente. Por isso, é necessário pedir a Deus o dom de entrar no seu silêncio e de deixar que Ele olhe para nós: convencer-se, em suma, de que estar na sua presença já é uma oração maravilhosa e tremendamente eficaz, mesmo se não tirarmos dela nenhum propósito imediato. A contemplação do rosto de Cristo tem em si mesma um poder transformador que não podemos medir com os nossos critérios humanos. “Ponho sempre o Senhor diante dos olhos, pois ele está à minha direita; não vacilarei. Por isso meu coração se alegra e minha alma exulta, até meu corpo descansará seguro” (Sal 15, 8–9).

O rosto de Jesus é também o rosto do Crucificado. Ao constatar a nossa fraqueza, poderíamos pensar, com um critério exclusivamente humano, que o decepcionamos: que não podemos nos dirigir a Ele como se não tivesse acontecido nada. No entanto, essas objeções delineiam somente uma caricatura do Amor de Deus. “Há uma falsa ascética que apresenta o Senhor na Cruz enraivecido, rebelde. Um corpo retorcido que parece ameaçar os homens: vós me quebrantastes, mas eu lançarei sobre vós os meus pregos, a minha cruz e os meus espinhos. Esses não conhecem o espírito de Cristo. Ele sofreu tudo quanto pôde — e, por ser Deus, podia tanto! — . Mas amava mais do que padecia... E, depois de morto, consentiu que uma lança Lhe abrisse outra chaga, para que tu e eu encontrássemos refúgio junto ao seu Coração amabilíssimo.”[11]

Como São Josemaria compreendia o Amor que irradia o rosto de Jesus! Lá da Cruz Ele nos olha e nos diz: “Conheço você perfeitamente. Antes de morrer pude ver todas as suas debilidades e misérias, suas quedas e traições... E conhecendo você tão bem, tal como você é, julguei que vale a pena dar a vida por você”. O olhar de Cristo é amoroso, afirmativo, que vê todo o bem que existe em nós – o bem que nos somos – e que Ele mesmo nos concedeu ao chamar-nos à vida. Um bem digno de Amor, mais ainda, digno do Amor maior. (cfr. Jo 3,16; 15,13).

Caminhar com Cristo deixando sua marca no mundo

O olhar de Jesus nos ajudará a reagir com esperança diante das quedas, das escorregadelas, da mediocridade. E não é simplesmente porque sejamos bons do jeito que somos, mas também porque Deus conta com cada um de nós para transformar o mundo e enchê-lo do seu Amor. Também essa chamada está no olhar amoroso de Cristo. “Você me dirá: “Padre, mas eu sou muito limitado, sou pecador, que posso fazer?” Quando o Senhor nos chama, não pensa no que somos, no que éramos, no que fizemos ou deixamos de fazer. Ao contrário: No momento que nos chama, Ele está olhando tudo o que poderíamos dar, todo o amor que somos capazes de contagiar. Sua aposta sempre é no futuro, no amanhã. Jesus te projeta no horizonte, nunca em um museu.”[12]

O olhar de Cristo é um olhar do Amor, que afirma sempre a pessoa que está na sua frente e exclama: “É bom que você exista, que maravilha ter você aqui”![13] Ao mesmo tempo, conhecendo-nos perfeitamente, conta conosco. Descobrir essa dupla afirmação de Deus é o melhor modo de recuperar a esperança e de nos sentirmos novamente atraídos para cima, em direção ao Amor, e depois lançados ao mundo inteiro. Essa é, no fim das contas, nossa segurança mais firme: Cristo morreu por mim, porque acreditava que valia a pena fazer isso.

Cristo, que me conhece, confia em mim. Por isso o Apóstolo exclamava: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?" (Rom 8, 31-32).

Dessa segurança nascerá o nosso desejo de retomar o caminho, de lançar-nos ao mundo inteiro para deixar nele as marcas de Cristo. Sabendo que, muitas vezes, tropeçaremos, que, nem sempre, conseguiremos realizar o que nos propusermos... Mas, no fundo, não é isso o que conta. O que importa é seguir em frente, com o olhar fixo em Jesus: “expectantes beatam spem” acordados e atentos à sua alegre esperança[14]. É Ele que nos salva e conta conosco para encher o mundo de paz e de alegria. “Deus criou-nos para estarmos de pé. Existe uma bela canção que os alpinos cantam quando sobem. A canção diz assim: “na arte de subir, importante não é o não cair, mas não ficar caído”!”[15] Em pé, alegres. Seguros. A caminho. Com a missão de acender “todos os caminhos da terra com o fogo de Cristo” que levamos no coração[16].

Lucas Buch

Tradução: Mônica Diez


[8] Francisco, Mensagem, 15-VIII-2015.

[9] Francisco, Ex. Ap. Evangelii Gaudium (26-XI-2013), n. 264.

[10] S. Rubin, F. Ambrogetti, El Papa Francisco. Conversaciones con Jorge Bergoglio, Edições B, Barcelona 2013, p. 54.

[11] São Josemaria, Via Sacra, estação XII, nº 3.

[12] Francisco, Vigília de oração, 30-VII-2016.

[13] Cfr. J. Pieper, Las Virtudes fundamentales, Rialp, Madrid 2012, 435-444.

[14] Missal Romano, Rito de Comunhão.

[15] Francisco, Homilia, 24-IV-2016.

[16] Caminho, nº 1.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF