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domingo, 29 de setembro de 2024

Oração da Liturgia das Horas

Liturgia das Horas (CNBB)

Oração da Liturgia das Horas torna a Sagrada Escritura fonte principal de toda oração cristã.

27 de setembro de 2024

Neste mês especial dedicado à Palavra de Deus, a Igreja no Brasil motiva os fiéis e comunidades a terem maior contato com a Bíblia. E uma das formas de aprofundar essa relação é por meio da oração Liturgia das Horas, também chamada de Ofício Divino.

A Liturgia das Horas é a oração oficial da Igreja, composta de salmos, hinos e leituras bíblicas e dividida em momentos específicos ao longo do dia (Laudes, Vésperas, Hora Média, Completas).

No dia 1º de outubro, às 8h30, será realizada uma live no Instagram da CNBB com a oração das Laudes, uma oportunidade de mergulhar na Palavra por meio dessa tradição da Igreja.

Oração pública da Igreja

Desde de 1970, quando Papa Paulo VI promulgou a reforma da Liturgia das Horas, através da Constituição Apostólica Laudis Canticum, ela se tornou uma oração pública da Igreja, povo de Deus, não apenas reservada ao clero ou a algumas ordens religiosas, mas podendo ser rezada também pelos fiéis leigos.

No documento, o Papa Paulo VI manifestou sua intenção de que a Sagrada Escritura torne-se “a fonte principal de toda oração cristã, sobretudo a oração dos salmos que acompanha e proclama a ação de Deus na história da salvação”. A Constituição Laudis Canticum marca ainda a reformulação da Liturgia das Horas feita pelo Concílio Vaticano II.

“A oração cristã é, antes de tudo, oração de toda a família humana, que está associada em Cristo. Cada um participa desta oração, mas é típica de todo o corpo; Por isso exprime a voz da amada Esposa de Cristo, os desejos e votos de todo o povo cristão, as súplicas e os pedidos pelas necessidades de todos os homens”, escreveu o Papa Paulo VI.

Voz de Cristo e da Igreja

No caderno de número 10 da coleção sobre o Concílio, preparada por ocasião do Jubileu 2025, o padre Edward McNamara, professor de Liturgia na Pontifício Ateneu Regina Apostolorum, em Roma, explica que o Ofício Divino ocupa um lugar especial nas muitas iniciativas individuais e comunitárias de oração, justamente por ser “a voz de Cristo e da Igreja, unidos ao dirigir-se ao Pai por meio do Espírito Santo”. Além disso, a Liturgia das Horas tem a característica de santificar as horas do dia.

“Quando rezamos a Liturgia das Horas, não estamos usando um livro de orações devocionais, mas nos unimos à Igreja de Cristo que eleva orações de louvor, ação de graças e intercessão pelo mundo inteiro. De certa forma, tornamo-nos a Igreja em oração e cumprimos o seu destino e propósito”, explicou padre McNamara.

Caderno de Estudo (CNBB)

O caderno de estudo, oferecido pela Edições CNBB, também apresenta o desenvolvimento do Ofício Divino desde os primórdios do cristianismo, seguindo o mandato de Cristo de orar incansavelmente.

O desenvolvimento dessa forma de oração com a Sagrada Escritura teve, no século IX, a definição de formato, por volta do ano 225, e recomendação de que os cristãos participassem do encontro da manhã. Cerca de cem anos depois, o desenvolvimento do “Ofício da Catedral”, com salmos selecionados por Santo Ambrósio de Milão, e o desenvolvimento do Ofício Monástico. Em 1215, a recitação diária do Ofício Divino tornou-se obrigatória a todos do clero. Antes com o formato de recitação de todos os 150 salmos em uma semana, o ofício foi gradualmente substituído pelo Breviário, que ganhou nova edição em 1568, por São Pio V. Confira os detalhes na publicação oferecida pela Edições CNBB.

Como rezar? 

A Liturgia das Horas pode ser rezada ao longo de todo dia. É possível começar com as Laudes (manhã) e as Vésperas (tarde). Em cada oração, consagramos, pelo louvor a Deus, cada momento do nosso dia:

OFÍCIO DAS LEITURAS

Em sua origem, o Ofício das Leituras é uma oração noturna, rezada ao longo da madrugada. Após a reforma litúrgica, ele pode ser feito em qualquer momento do dia ou da noite.

LAUDES

As laudes são o louvor da manhã. Com elas, consagramos o início do dia a Deus.

HORA MÉDIA

É uma oração recitada ao longo do dia, dividida em três horários: Terça (9h), Sexta (12h), e Nona (15h). Essas horas têm significados específicos, como a descida do Espírito Santo em Pentecostes (9h), a crucificação do Senhor ao meio-dia, e sua morte na cruz (15h).

VÉSPERAS

Rezamos as Vésperas ao final do dia, ao pôr do sol. Nela refletindo sobre a fragilidade da vida humana e a esperança da renovação em Deus.

COMPLETAS

Rezando as Completas antes de dormir, pedimos a proteção divina durante a noite.

Cada hora do Ofício Divino começa com o hino, depois rezamos com os salmos, fazemos a leitura breve e, por fim, a oração. Para esse percurso, é possível usar um livro com os textos litúrgicos ou baixar o aplicativo da CNBB, onde você também encontra a Liturgia das Horas para rezar todos os dias gratuitamente. Baixe aqui para Android e aqui para iOS.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A Igreja Católica na Bélgica

Igreja Santo Antônio em Bruxelas (AFP or licensors)

A primeira evangelização do território belga remonta ao século IV. O primeiro bispo residente foi São Servásio, bispo de Tongeren entre 346 e 359. Nesta fase a difusão do cristianismo ocorreu sobretudo nas pequenas cidades galo-romanas e começou a ser definida a geografia eclesiástica do território: a leste a Diocese de Tongeren-Maastricht-Liège, incluída na Província eclesiástica de Colônia, na Alemanha; no centro a Diocese de Cambrai e a oeste a Diocese de Tournai, incluídas Província de Reims.

Vatican News

A Igreja Católica na Bélgica tem 9 Circunscrições Eclesiásticas na qual estão distribuídas 3.656 paróquias e outros 434 centros pastorais. Os católicos do país (72% de uma população total de 11.618.000) são pastoreados por 22 bispos e assistidos por 2.066 sacerdotes diocesanos e 1.677 sacerdotes religiosos (3.743 no total). Os diáconos permanentes são 577, os religiosos não sacerdotes 355, as religiosas professas 5.045, os membros dos institutos seculares 91, os missionários leigos 34 e os catequistas 4.803. Há 1 seminarista menor e 197 seminaristas maiores

Os centros de educação de propriedade e/ou dirigidos por eclesiásticos ou religiosos (dados de 31 de dezembro de 2022) são: 3.368 creches e escolas primárias, que atendem 608.989 crianças; 1.076 escolas médias inferiores e secundárias, com 572.292 estudantes; 30 escolas superiores e universidades que atendem 172.562 estudantes.

No país, a Igreja administra 88 hospitais, 19 ambulatórios, 8 leprosários, 360 casas para idosos, pessoas com invalidez ou deficiência, 181 orfanatrófios e jardins da infância, 52 consultórios familiares, 5 centros especiais de educação ou reeducação social, 142 outras instituições.

A Conferência Episcopal da Bélgica

A Conferência Episcopal da Bélgica (Conférence Episcopale du BelgiqueBelgische Bischofskonferenz - CEB) reúne os prelados da Arquidiocese de Malines-Bruxelas, das suas 7 Dioceses sufragâneas e do Ordinariato Militar. 

O seu presidente é dom Luc Terlinden, arcebispo de Malines-Bruxelas; os seus vice-presidentes são dom Patrick Hoogmartens, bispo de Hasselt, e dom Jean-Pierre Delville, bispo de Liège, enquanto o secretário-geral é Bruno Spriet, um leigo.

Arquidiocese de Mechelen-Brussel, Malines-Bruxelles

A Arquidiocese de Mechelen-Brussel, Malines-Bruxelles foi ereta em 12 de maio de 1559, sendo acrescentada a denominação de Bruxelas em 8 de dezembro de 1961). Abrange uma área de 3.635 km² onde vivem 3.022.681 habitantes, dos quais 1.931.000 são católicos. Há 573 paróquias, 452 sacerdotes diocesanos (5 ordenados no último ano), 1.006 sacerdotes regulares residentes na diocese; 88 diáconos permanentes; 13 seminaristas dos cursos filosóficos e teológicos; 1.253 membros de institutos religiosos masculinos; 1.075 membros de institutos religiosos femininos; 1.221 instituições de ensino; 141 institutos de caridade; 9.399 batismos no último ano.  

O arcebispo de Mechelen-Brussel, Malines-Bruxelles é dom Luc Terlinden, nascido em Etterbeek, Arquidiocese de Mechelen-Bruxelas, em 17 de outubro de 1968; ordenado em 18 de setembro de 1999; eleito em 22 de junho de 2023. É o ordinário militar para a Bélgica.

 As origens da Igreja Católica na Bélgica

A primeira evangelização do território belga remonta ao século IV. O primeiro bispo residente foi São Servásio, bispo de Tongeren entre 346 e 359. Nesta fase a difusão do cristianismo ocorreu sobretudo nas pequenas cidades galo-romanas e começou a ser definida a geografia eclesiástica do território: a leste a Diocese de Tongeren-Maastricht-Liège, incluída na Província eclesiástica de Colônia, na Alemanha; no centro a Diocese de Cambrai e a oeste a Diocese de Tournai, ambas incluídas na Província eclesiástica de Reims, na França.

O cristianismo consolidou-se no território no século VII graças aos monges escoceses, irlandeses, aquitanos e anglo-saxões, entre os quais se destaca São Willibrord de Utrecht (658-739). A eles se deve a construção de vários mosteiros, que em pouco tempo se tornaram também centros econômicos, culturais e missionários em torno dos quais gravitavam muitas cidades: Gand, Mons, Nivelles, Mechelen, Ronse, Leuze, Andenne, St. Trond, Saint-Ghislain, Soignies. O assassinato em Liége de São Lamberto, bispo de Maastricht, por volta de 703, transformou esta última em meta de peregrinação e logo no principal centro da diocese.

Por volta do ano 1000, o bispo de Liège Notker ajudou o imperador Otão II e o Papa Silvestre II (Gerberto de Aurillac) a retomar o projeto europeu de Carlos Magno. Em troca recebeu territórios que fizeram dele um príncipe-bispo e Liège a capital com numerosas igrejas. Este período conheceu uma grande vitalidade religiosa e cultural. Cresceu a influência da Igreja na sociedade, como evidenciado pela fundação de numerosos mosteiros e pela grande mobilização popular para a primeira Cruzada liderada por Godfrey de Bouillon. Dois bispos de Liège tornaram-se Papas: Frederico de Lorena (Estêvão IX) e Jaime Pantaléon (Urbano IV).

O desenvolvimento urbano entre os séculos XII e XIII coincidiu com o nascimento de novas ordens religiosas (Dominicanos, Franciscanos, Agostinianos, Carmelitas) que se estabeleceram no coração das cidades, e com a difusão dos beguinários, irmandades leigas fundadas principalmente na Holanda no século XIII por mulheres solteiras ou viúvas dedicadas à oração e às obras de caridade. Nestes ambientes floresceu uma nova espiritualidade que seria valorizada por Irmã Hadewijch, Santa Lutgard de Tondres e por Santa Juliana, prioresa do Hospício Cornillon de Liège, promotora da festa do Santíssimo Sacramento (1246).

A Igreja Belga receberá um novo impulso da "Devotio Moderna", o movimento de renovação espiritual que se difundiu na Holanda, Alemanha, Flandres e Itália entre os séculos XIV e XV que aspirava uma religiosidade intimista e que influenciaria a reforma religiosa do século sucessivo e os caminhos espirituais de figuras como Erasmo de Rotterdam.

A este período remonta a fundação da Universidade católica de Louvain, o renomado instituto de ensino superior fundado em 1425 pelo Papa Martinho V por desejo do Duque João IV de Brabante, que se tornaria um dos mais importantes centros de pensamento da Contrarreforma católica após a Reforma protestante no século XVI. 

No século XVI, no âmbito da Contrarreforma, o rei Filipe II de Espanha decidiu reorganizar a Igreja no território, então Países Baixos espanhóis, e impôs a Inquisição para contrastar a expansão do protestantismo.

Em 1679, o rei Carlos II pediu e obteve do Papa Inocêncio XI que esta região fosse dedicada a São José, que se tornaria assim o Santo Padroeiro da Bélgica.

No final do século XVIII, numerosos bens eclesiásticos foram confiscados ou destruídos, primeiro pelo imperador José de Habsburgo, no âmbito da sua política eclesiástica voltada a redimensionar a autoridade da Igreja Católica no Império habsburgo e mais tarde durante a Revolução Francesa.

Em 1801, a Concordata com Napoleão e as Bulas "Ecclesia Christi" e "Qui Christi Domini" redefiniram a organização das Circunscrições Eclesiásticos, prefigurando os contornos das dioceses no futuro Reino da Bélgica.

A Igreja Belga após a independência

A independência conquistada em 1830 foi reconhecida pelo Papado graças aos bons ofícios do cardeal Engelbert Sterckx, arcebispo de Malines, que conseguiu fazer com que o Papa Gregório XVI aceitasse a Constituição do novo Estado (1831), não obstante sancionasse a liberdade de consciência e não reconhecesse um estatuto especial para a Igreja.

Em 1832, o Papa Cappellari fez da Bélgica uma nova província eclesiástica metropolitana. No novo contexto político, surgirão progressivamente as correntes do catolicismo liberal belga inspiradas no pensamento do padre e pensador católico francês Félicité Robert de La Mennais (1782-1854).

O final do século assistiu a um breve período de tensões entre Igreja e Estado, ligadas à chamada "Guerra Escolar" ("Guerre Scolaire") antes da subida ao poder do Partido Católico que dominaria a cena política do país até 1914. Após a Primeira Guerra Mundial, entre 1920 e 1925, a Bélgica acolheu as históricas “Conversas de Malines”, a primeira tentativa de diálogo entre a Igreja Católica e a Comunhão Anglicana, que reuniu estudiosos católicos e anglicanos em cinco encontros para discutir uma série de questões cruciais que tornavam difícil a unidade entre as duas Igrejas, como o ministério petrino do Papa e a natureza das definições dogmáticas.

Na década de 1930, o padre Edouard Froidure (1899-1971) deu impulso ao catolicismo social belga por meio da fundação de obras como as Stations de Plein-air e Les Petits Riens para crianças de famílias desfavorecidas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o episcopado belga tentou encontrar um modus vivendi com o ocupante alemão, mas assumiu uma posição clara contra o colaboracionismo, mantendo distância dos partidos e movimentos pró-nazistas no país.

A Igreja Belga deu uma contribuição decisiva para os trabalhos do Concílio Vaticano II, nomeadamente por meio da figura do cardeal e teólogo Leo Jozef Suenens, arcebispo de Malines-Bruxelas, expressão da Escola de Lovaina atenta aos fermentos de renovação que surgiram na Igreja nas décadas anteriores.

Visitas dos Papas

A Bélgica foi visitada duas vezes por São João Paulo II: a primeira de 16 a 21 de maio de 1985, por ocasião da sua Viagem Apostólica ao Benelux (11 a 21 de maio), a segunda de 3 a 4 de junho de 1995, para a beatificação do missionário belga padre Damiano de Veuster, posteriormente canonizado pelo Papa Bento XVI em 2009.

A Igreja Belga depois do Concílio

Tal como acontece com outros países europeus, ao longo das últimas seis décadas a sociedade belga assistiu a uma profunda transformação cultural e religiosa: por um um  lado, tornou-se cada vez mais multirreligiosa, com um aumento da presença muçulmana ligada aos fluxos migratórios; por outro, tornou-se profundamente secularizada, como indica o declínio significativo de praticantes e vocações, e o crescimento de católicos que abandonaram a Igreja ou que não se reconhecem nos seus ensinamentos sobre moral e bioética.

Segundo o último relatório anual sobre a Igreja na Bélgica publicado pela Conferência Episcopal (CEB) em 2023, 50% dos belgas consideram-se católicos, em comparação com quase 53% registados em 2018. A este percentual não correspondem, no entanto, os dados relativos à prática religiosa e à frequência na Igreja, significativamente menor.

Em 2022, 8,9% dos belgas declararam que frequentam regularmente a Missa (em comparação com cerca de 50% na década de 1960). O declínio da prática religiosa é, no entanto, menos pronunciado na capital, Bruxelas, graças a uma forte presença estrangeira.

Ao mesmo tempo, nos últimos anos também surgiu o fenômeno dos que pedem a anulação do registo de batismo: foram 5.237 em 2021 e 1.270 em 2022.

Quanto à participação nos Sacramentos (Batismo, Primeiras Comunhões e Crismas, casamentos religiosos e funerais), o declínio sofreu um revés em 2022, com uma recuperação significativa após a pandemia de Covid. Da mesma forma, as peregrinações foram retomadas. Em 2022, os quatro santuários marianos do país (Scherpenheuvel, Oostakker, Banneux et Beauraing) totalizaram 1.270.000 visitantes.

A queda na participação também levou ao fechamento de várias igrejas católicas. Entre 2018 e 2022, 131 igrejas foram suprimidas do culto, enquanto desde 2010, 30 igrejas também foram inteiramente transferidas para outras denominações cristãs (principalmente ortodoxas).

Estas mudanças também levaram a alterações legislativas substanciais em relação ao aborto (legalizado em 1990), ao fim da vida (a eutanásia é legal desde 2002) e aos casamentos homossexuais (legalizados em 2003).

Outro fato diz respeito ao envelhecimento dos religiosos, ligado ao declínio das vocações. Em 2018, nas 278 comunidades de língua flamenga e 101 de língua francesa, entre 70 e 80% tinham mais de 70 anos.

Face a estes dados, a Igreja belga demonstra uma vitalidade discreta, como indica o aumento da sua oferta digital, a começar sobretudo pela pandemia, que constata um discreto sucesso, as suas obras de caridade e pastorais e o número de voluntários que contribuem para isso e também as contribuições dos fiéis leigos para o processo sinodal sobre a sinodalidade.

Com a evolução da sociedade, a composição interna da Igreja Católica belga também mudou: ao longo dos anos, outras comunidades linguísticas resultantes da imigração foram acrescentadas às três comunidades francófonas, flamengas e germanófonas: em 2021 existiam cerca de 150 comunidades católicas de língua estrangeira (especialmente polonesa, filipina e ucraniana) e cerca de um quinto dos sacerdotes, diáconos e assistentes paroquiais provenientes do exterior (principalmente da República Democrática do Congo, uma antiga colônia belga).

O escândalo da pedofilia

O compromisso da Igreja Católica Belga com a proteção dos menores remonta a 1995, quando o episcopado criou uma comissão independente com o objetivo de lidar com todos os casos que deixaram de ser da competência civil porque foram prescritos e intensificados na esteira da indignação suscitada pelo caso Dutroux, o "monstro de Marcinelle" preso em 1996 após ter sequestrado e estuprado seis meninas e adolescentes, matando quatro deles.

Em 1997, o cardeal Godfried Daneels, então arcebispo de Malines-Bruxelas, criou uma “linha direta” para ouvir as vítimas e em 2000 foi criada outra comissão para lidar com queixas de abuso sexual por parte de sacerdotes. Mas foi depois do caso Vangheluwe, o bispo de Bruges que renunciou em 2010 depois de admitir ter abusado do sobrinho na época do seu sacerdócio e nos primeiros dias do seu ministério episcopal, que os bispos deram um novo impulso decisivo à luta à pedofilia na Igreja, incentivando as vítimas a apresentarem-se à comissão para o tratamento das denúncias de abuso sexual. Após a eclosão do escândalo, o episcopado publicou uma carta pastoral na qual reconheceu que os líderes da Igreja no país não enfrentaram de modo adequado a tragédia dos abusos sexuais e compreenderam a gravidade das suas consequências, pedindo perdão às vítimas e pedindo a difusão de “uma cultura da verdade e da justiça”. Entre as decisões tomadas, destaca-se a de uma aplicação mais rigorosa dos critérios de admissão ao sacerdócio e de combate aos abusos de poder.

Em 2016, foi apresentado o primeiro relatório dos bispos sobre casos de abuso sexual na Igreja belga, com base nos relatórios registados entre 2012-2015 pelos centros de escuta estabelecidos em todas as dioceses e congregações religiosas na Bélgica (dez em cada diocese e dois para as congregações religiosas), para acolher as vítimas para as quais o crime está prescrito.

No quadriênio em questão, 418 vítimas apresentaram-se nestes centros, enquanto outras 628 recorreram ao centro de arbitragem, um procedimento que não prevê a passagem por instituições eclesiais, para um total de 1.046 reclamações e 95 novos dossiês. 80% das denúncias ocorreram há mais de 30 anos. 71% das vítimas eram homens e os agressores eram praticamente sempre (em 95% dos casos) homens. 

Na ocasião, os bispos reiteraram que a colaboração com a justiça é total e que – caso a prescrição já tenha ocorrido – vai-se ao encontro das vítimas por meio de centros de escuta aos quais foi acrescentado um Comitê de Fiscalização composto por pessoas externas à Igreja que podem  ajudar os bispos a compreender como intervir.

A Igreja belga voltou a estar no centro da tempestade em dezembro de 2023, após a transmissão de um podcast do jornal flamengo Het Laatste Nieuws intitulado “Kinderen van de Kerk” (“Filhos da Igreja”) com entrevistas com mães e seus filhos dados em adoção para instituições católicas que as teriam vendido por grandes somas para famílias adotivas. Em 2015, a Conferência Episcopal Belga já tinha pedido desculpas às vítimas de adoções forçadas em instituições católicas no Parlamento Flamengo. Em resposta aos testemunhos transmitidos pelo programa, os bispos expressaram a sua compaixão pela dor e pelo trauma das vítimas e apelaram a uma investigação independente sobre as condições descritas pelas mulheres envolvidas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael no seu dia a dia

Steve Estvanik | Obturador

Os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael no seu dia a dia

Por Karen Hutch - postado em 28/09/24

Você já se perguntou qual a importância que os arcanjos têm, não só na Bíblia, mas também no nosso dia a dia? Eles nos aproximarão de Deus.

Primeiramente, é importante reconhecer como verdade de fé a existência dos anjos como seres espirituais e incorpóreos, como mencionado na Sagrada Escritura e no Catecismo; A partir daí podemos definir as três hierarquias angélicas, cada uma composta por três ordens, também chamadas de coros. Entre eles estão os arcanjos. 

Esta estrutura é composta da seguinte forma:

  • Primeira hierarquia: Serafins, Querubins, Tronos;
  • Segunda hierarquia: Dominações, Virtudes, Poderes;
  • Terceira hierarquia: Principados, Arcanjos, Anjos.

Como você vê, os Arcanjos estão na terceira hierarquia e a partir daí podemos reconhecer três que a Sagrada Escritura menciona, cada um com uma mensagem e missão diferente, da qual queremos apresentar a você e assim incluir no seu dia. 

Um chamado específico

Embora a Sagrada Escritura nos permita saber que existem muitas criaturas dentro de cada categoria citada acima, Deus quis nos revelar três figuras importantes quando falamos dos arcanjos, como: Miguel, Rafael e Gabriel. 

A seguir apresentamos cada um deles e explicamos como você pode integrá-los ao seu dia a dia, já que às vezes tanto nossos anjos da guarda quanto nossos arcanjos são esquecidos pelos fiéis. O Catecismo da Igreja Católica nos diz:

“Os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e que servem aos seus desígnios salvíficos com outras criaturas.”

São Miguel Arcanjo, defensor contra os demônios

Pré-arrastar Lukic | Obturador

É ele quem luta contra Satanás e seus emissários, pois é um guerreiro que nos defende como filhos de Deus diante daquela que é chamada de serpente antiga, segundo a interpretação de São João em seu evangelho. 

Além disso, procura manter a nossa unidade com Deus, pois evidentemente o diabo procura constantemente distanciar-nos de Deus e privar-nos da nossa liberdade. Com Deus há liberdade e com a serpente a opressão. 

Como isso ajuda na sua vida: Você pode se aproximar dele para pedir sua proteção durante o dia e deixar que ele seja seu escudo de defesa contra tentações e pensamentos que não vêm de Deus. Além disso, o Arcanjo Miguel é considerado o patrono e protetor dos policiais e militares. 

São Gabriel, o arcanjo, aquele que anuncia

Ele é o encarregado de anunciar a mensagem de Deus a Maria Santíssima. É também um dos mais próximos de Deus, pois segundo a Sagrada Escritura está diante do Trono Celestial de Deus. Assim como também anunciou a Daniel os segredos do plano de Deus e a Zacarias o nascimento de João Batista. 

Como isso ajuda na sua vida: Da mesma forma podemos pedir a Ele que se encarregue de anunciar o plano de Deus em nossa vida, aproximando-nos assim de Deus e abrindo-lhe a porta do nosso coração, pois Ele está constantemente batendo em nosso porta, sem pneu. 

São Rafael, o arcanjo, aquele que cura e cuida

Obturador

Encontramos este arcanjo presente especialmente no livro de Tobias, onde ele cura e cuida de Tobias e sua esposa, que viviam em conflito, mas São Rafael dá-lhes a paz que precisavam, afastando a perturbação entre eles, curando assim o seu amor. 

Da mesma forma, também expulsou os demônios, pois são os mesmos que buscam que o homem viva em paz e não possa vivenciar o amor para o qual fomos criados. 

Como isso ajuda na sua vida: Na verdade, se você está em um relacionamento, que parece ser afetado pela má comunicação ou onde você acha que o amor está acabando, peça a este arcanjo para expulsar o egoísmo e assim como ajudou Tobias e sua esposa, pode ajudar em seu casamento. 

Como você pode ver, esses arcanjos de Deus que vivem em sua presença estão dispostos a ajudá-lo em suas atividades diárias, bem como nos problemas que possamos enfrentar. Não hesite em pedir a sua intercessão.

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/09/28/los-arcangeles-miguel-gabriel-y-rafael-en-tu-rutina-diaria

sábado, 28 de setembro de 2024

7 razões para os cristãos se interessarem por política

Israel Gutiérrez | Shuttestock

7 razões para os cristãos se interessarem por política

Mónica Muñoz - publicada em 28/09/24

Um tema que escapa aos cristãos é o da política, no entanto, a Igreja dá razões convincentes para que ela comece a fazer parte das suas vidas.

Falar de política é difícil para os cristãos, principalmente porque é um tema em que as divergências aquecem o ânimo de quem ousa abordá-lo. Contudo, a Igreja convida os fiéis a interessarem-se pelo assunto.

A autoridade civil

Todos os seres humanos estão sujeitos a uma autoridade civil, cuja finalidade é salvaguardar o bem comum dos cidadãos.

Lemos o que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre isso:

“O quarto mandamento de Deus também nos ordena honrar todos aqueles que, para o nosso bem, receberam autoridade de Deus na sociedade. Este mandamento determina tanto os deveres de quem exerce autoridade como daqueles que estão sujeitos a ela”.

CEC 2234 )

Por que os cristãos deveriam estar interessados ​​em política?

Uma nota sobre o compromisso e a conduta dos católicos na vida pública do Dicastério para a Doutrina da Fé e o Catecismo da Igreja Católica nos dão as diretrizes para nos interessarmos pela questão política:

1 - PELO COMPROMISSO CRISTÃO

O compromisso do cristão no mundo, em dois mil anos de história, expressou-se de diversas maneiras. Uma delas tem sido a participação na ação política: os cristãos, afirmou um escritor eclesiástico dos primeiros séculos, “cumprem todos os seus deveres de cidadãos” ( Nota n.º 1 ).

É, portanto, importante que saibamos como esta área está estruturada no nosso país para que possamos participar ativamente e quando necessário.

2 - CONTRIBUA VOTANDO

Uma forma de contribuir efetivamente é votando, por isso não podemos deixar de exercer esse direito:

“...todos podem contribuir através do voto para a eleição de legisladores e governantes e, de diversas formas, para a formação de orientações políticas e opções legislativas que, segundo eles, mais favoreçam o bem comum”.

3 - CONHEÇA SEUS DIREITOS

Cada cristão deve conhecer os seus direitos humanos e civis para que a autoridade que exerce o poder político os respeite plenamente.

O poder político está obrigado a respeitar os direitos fundamentais da pessoa humana.

CEC 2237

"A proteção 'dos ​​direitos da pessoa é condição necessária para que os cidadãos, como indivíduos ou como membros de associações, possam participar ativamente na vida e no governo dos assuntos públicos'" ( Nota n.º 3 )

4 - CUMPRA SEU DEVER

Não podemos esquecer que o cristão deve partilhar os seus valores enquanto cumpre o seu dever:

“O dever dos cidadãos é cooperar com as autoridades civis para o bem da sociedade, no espírito da verdade, da justiça, da solidariedade e da liberdade”.

CEC 2239 )

5.1

Andrea Izzotti | Shuttestock

5 - POR AMOR AO PAÍS

Claro, você também deve amar o seu país e respeitar as suas autoridades:

“O amor e o serviço à  pátria  fazem parte do dever de gratidão e da ordem da caridade. A submissão às autoridades legítimas e o serviço ao bem comum exigem que os cidadãos cumpram a sua responsabilidade na vida da comunidade política”. ( CEC 2239 ).

6 - ENTENDA O PAGAMENTO DE SEUS IMPOSTOS

A arrecadação de impostos, que são utilizados para o bem comum, é tarefa da autoridade, portanto, o cristão não deve deixar de pagá-los:

“A submissão à autoridade e a corresponsabilidade pelo bem comum exigem moralmente o pagamento dos impostos, o exercício do direito de voto, a defesa da pátria: 'Dê a cada um o que é devido: a quem impostos, impostos; a quem eu prestar homenagem, a quem respeito, respeito; a quem honro, honro” ( Romanos  13:7).

CEC 2240 )

7 - ORE POR SUAS AUTORIDADES

E não menos importante, o cristão deve orar pelas suas autoridades, porque sem a ajuda de Deus nenhum cargo pode ser ocupado.

“O apóstolo exorta-nos a oferecer orações e ações de graças pelos reis e por todos os que exercem autoridade, ‘para que possamos viver uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade’” ( 1 Tim  2:2).

CEC 2240 )

Cumpramos o nosso dever de cidadãos e cristãos comprometidos com Deus, com a Igreja e com os nossos semelhantes.

Fonte: https://es.aleteia.org/2024/09/28/7-razones-para-que-el-cristiano-se-interese-en-la-politica

Dos Tratados sobre os salmos, de Santo Hilário, bispo

(Crédito: liturgiadashorasonline)

Dos Tratados sobre os salmos, de Santo Hilário, bispo

(Ps 64,14-15:CSEL 22,245-246)                 (Séc.IV)

O rio impetuoso alegra a cidade de Deus

O rio de Deus enche-se a transbordar; e o trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra (Sl 64,10). Não há dúvida quanto à significação do rio. Pois o Profeta diz: O rio impetuoso alegra a cidade de Deus (Sl 45,5). E o próprio Senhor diz no Evangelho: Quem beber da água que eu lhe der, de seu seio brotarão rios de água viva, que jorra para a vida eterna (Jo 4,14). E de novo: Do seio daquele que crer em mim, como está escrito, jorrarão rios. Queria com isto significar o Espírito Santo que iriam receber aqueles que nele cressem (Jo 7,38-39). Portanto, este rio de Deus transborda de água. Pelos dons do Espírito Santo somos inundados e, correndo daquela fonte de vida, o rio de Deus cheio de águas se derrama em nós. Encontramos também o trigo preparado. 

Que trigo é este? Certamente aquele que nos prepara para o consórcio com Deus, pela comunhão do santo corpo, que nos insere, em seguida, na comunhão do santo corpo. É este o sentido do salmo que diz: O trigo sois vós que o preparais; deste modo preparais a terra. Com este trigo, embora já sejamos salvos no presente, preparamo-nos para o futuro. 

Para nós, renascidos pelo sacramento do batismo, é imensa a alegria quando percebemos em nós certas primícias do Espírito Santo, quando se insinua a compreensão dos sacramentos, a ciência da profecia, a palavra da sabedoria, a firmeza da esperança, os dons de cura e o domínio sobre os demônios vencidos. Quais gotas de chuva tudo isto vai nos penetrando e aos poucos aquilo que germinou se multiplica em frutos copiosos.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

A Palavra que na liturgia arde o coração

Celebração da Santa Missa na Basílica de São Pedro (Vatican Media)

"Tal como os discípulos de Emaús, é na Liturgia celebrativa e na Leitura orante que nosso coração necessita arder ao ouvir as Escrituras, reconhecendo o Ressuscitado na fração do pão e, como consequência disso, partir para a missão, anunciando que o Ressuscitado vive entre nós, seja no caminhar, seja na celebração, seja na fração cotidiana do pão de cada dia."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

 "A beleza intrínseca da liturgia tem, como sujeito próprio, Cristo ressuscitado e glorificado no Espírito Santo, que inclui a Igreja na sua ação". Neste sentido, ao falar da participação dos fiéis na celebração do mistério da fé, a Constituição Sacrosanctum Concilium (n. 48) recomenda que os fiéis «sejam instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do corpo do Senhor; deem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo Mediador, progridam na unidade com Deus e entre si».

Na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, Bento XVI afirma que o "Sínodo dos Bispos refletiu demoradamente sobre a relação intrínseca entre fé eucarística e celebração, pondo em evidência a ligação entre a norma da oração (lex orandi) e a norma de fé (lex credendi) e sublinhando o primado da ação litúrgica. É necessário viver a Eucaristia como mistério da fé autenticamente celebrado, bem cientes de que «a inteligência da fé (intellectus fidei) sempre está originariamente em relação com a ação litúrgica da Igreja".

Neste sentido, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "A Palavra que na liturgia arde o coração":

"Nunca atravessamos o mesmo rio na caminhada da Igreja e da liturgia. Num mesmo rio que atravessamos não há repetição ou mesmice, porque as águas antigas já se foram rio abaixo e nós não permanecemos os mesmos. De igual maneira, é o ciclo pascal e o ano litúrgico, que é atualizado em nós e a na vida comunitária. Nunca há repetição. Nunca existe monotonia. Os ritos, mesmo repetitivos, trazem sempre uma graça nova de salvação, que faz arder em nós a vida renovada batismal. Diz São Basílio de Selêucia: “O corpo do Ressuscitado, retirado da Cruz e colocado no sepulcro, vive agora permanentemente ao lado do homem, antes de tudo nas Escrituras, porque é Ele quem fala quando a Palavra de Deus é anunciada na Igreja. Ela, no poder do Espírito Santo, proclamada na Assembleia litúrgica, não é letra morta, mas Palavra viva que revive no Cristo Vivo. O que é a Liturgia da Palavra senão o diálogo interpessoal com o Cristo, Palavra viva? A Deus que fala, por intermédio das leituras, o povo responde com cânticos e a ele adere com a profissão de fé. Neste tempo pascal (homilia da Páscoa), somos chamados a fazer arder o nosso coração, como os discípulos de Emaús, na escuta atenta da Palavra de Salvação”[1].

Tal como os discípulos de Emaús, é na Liturgia celebrativa e na Leitura orante que nosso coração necessita arder ao ouvir as Escrituras, reconhecendo o Ressuscitado na fração do pão e, como consequência disso, partir para a missão, anunciando que o Ressuscitado vive entre nós, seja no caminhar, seja na celebração, seja na fração cotidiana do pão de cada dia.

Devemos ter atitude semelhante à dos discípulos de Emaús escutando com ardor ao Senhor que nos fala por meio da Sua Palavra. Na Liturgia celebrada, nosso coração necessita arder ao ouvir as Escrituras, reconhecendo o Ressuscitado na partilha do pão e, como consequência disso, partirmos para a missão. Os discípulos foram ao encontro dos apóstolos em Jerusalém para comunicar o que havia lhes acontecido no caminho e como O reconheceram vivo e ressuscitado na fração do pão. Não poderiam guardar para si essa Boa Notícia, que lhes ardia a alma, impulsionando para proclamar aos outros a bombástica novidade. Viveram dois momentos da celebração eucarística atual: a Liturgia da Palavra (no caminho em direção a Emaús) e a Liturgia Eucarística (a fração do Pão à noite). A atitude dos discípulos de Emaús, abrasados pela Palavra e pela partilha, é a mesma que Jeremias no capitulo 20 de seu livro: “Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo. Sou objeto de contínua irrisão, e todos zombam de mim. Cada vez que falo é para proclamar a aproximação da violência e da devastação. E dia a dia a palavra do Senhor converte-se para mim em insultos e escárnios.  E, a mim mesmo, eu disse: Não mais o mencionarei, nem falarei em seu nome. Mas em meu seio havia um fogo devorador que se me encerrara nos ossos. Esgotei-me em refreá-lo, e não o consegui” (Is 20,7-9). Jeremias também não conseguiu frear o fogo abrasador de sua alma. Cabe a nós, de igual maneira, proclamar esse ardente anúncio: Cristo Vive e está Ressuscitado!

O caderno número 02, em preparação ao Ano Jubilar 2025, intitulado “A Revelação como Palavra de Deus”, falando da Dei Verbum, recupera, em seu anexo, um Discurso do Papa Bento XVI, aos participantes no Congresso Internacional por ocasião do 40º aniversário da Constituição Dogmática Dei Verbum, datado de 16 de setembro de 2005. Dizia assim o Papa Bento XVI: “A Constituição dogmática Dei Verbum, de cuja elaboração fui testemunha participando pessoalmente como jovem teólogo nos debates acesos que a acompanharam, abre-se com uma frase profundamente significativa:  "Dei Verbum religiose audiens et fidenter proclamans, Sacrosancta Synodus..." (A Palavra de Deus, ouvindo religiosamente e proclamando-a com confiança, o sagrado Concilio...). São palavras com as quais o Concílio indica um aspecto qualificante da Igreja:  ela é uma comunidade que escuta e anuncia a Palavra de Deus. A Igreja não vive de si mesma, mas do Evangelho e dele tira sempre de novo a orientação para o seu caminho. Trata-se de uma observação que cada cristão deve acolher e aplicar a si mesmo:  só quem se coloca antes de tudo à escuta da Palavra pode depois tornar-se anunciador. De facto, ele não deve ensinar a sua própria sabedoria, mas a sabedoria de Deus, que muitas vezes, aos olhos do mundo, parece loucura (cf. 1 Cor 1, 23)”. E conclui o Papa Bento assim: “Neste contexto, gostaria sobretudo de evocar e recomendar a antiga tradição da Lectio divina:  a leitura assídua da Sagrada Escritura acompanhada pela oração realiza aquele diálogo íntimo no qual, lendo, escutamos Deus que fala e, rezando, Lhe respondemos com confiante abertura do coração (cf. DV 25). Esta práxis, se for promovida de maneira eficaz, levará a Igreja disto estou convencido a uma nova primavera espiritual. Este ponto firme da pastoral bíblica, a Lectio divina, deve ser por isso ulteriormente encorajada, mediante o uso também dos métodos novos, atentamente ponderados, ao passo com os tempos. Jamais devemos esquecer que a Palavra de Deus é lâmpada para os nossos passos e luz sobre o nosso caminho (cf. Sl 118/119, 105)”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cadernos do Concilio de número 13, Edições CNBB, p. 31-32.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Venceslau

São Venceslau (A12)
28 de saetembro
País: República Tcheca
São Venceslau

Venceslau, nascido em 907, era filho de Vratislau, regente do ducado da Boêmia (atual República Tcheca), sábio e homem de caráter, e foi educado pela avó, Santa Ludmila, no Catolicismo. O pai morreu em 920 guerreando contra os húngaros, e antes de falecer lhe deixou expressamente o trono, apesar de Venceslau ter apenas 13 anos.

A Boa Nova de Cristo tinha chegado há pouco tempo na Boêmia, com São Cirilo e São Metódio, e não possuía ainda raízes fortes; por isso a corte era dividida, e a rainha, Draomira, era pagã, além de cruel e ambiciosa, como seu filho mais novo, Boleslau. A mãe assumiu a regência e iniciou a perseguição aos cristãos, expulsando os missionários católicos e declarando que o Catolicismo não era mais a religião oficial do ducado, e tentou paganizar Venceslau, mas sem sucesso.

Os representantes provinciais do ducado, porém, conseguiram estabelecer a vontade de Vratislau, depondo a impopular Draomira, e Venceslau assumiu o governo em 921, com 14 anos. Seu primeiro ato, a conselho da santa avó, foi restabelecer oficialmente o Catolicismo, promovendo a volta de missionários, especialmente monges beneditinos, e construindo igrejas.

Com raiva, Draomira contratou assassinos que estrangularam Ludmila com seu próprio véu.

Em pouco tempo, Venceslau conquistou a simpatia, confiança e apoio do povo, pela liderança e bondade cristãs; manteve-se casto de corpo e alma, sendo virtuoso e caridoso como poucos príncipes jovens. Rezava durante muitas horas e dedicou cuidado aos pobres, doentes, presos, viúvas e órfãos, a quem pessoalmente ajudava, consolava e transmitia a Fé.

Contestado por um opositor, o duque Radislau, que aspirava ao governo, enfrentou o risco de uma guerra fratricida; para evitá-la, propôs decidir a questão num duelo pessoal com ele, aliás muito mais capacitado para o combate do que Venceslau. Radislau aceitou, e quando estava a ponto de acertar o legítimo regente com uma lança, dois anjos apareceram e o mandaram parar. Radislau caiu do cavalo e, ao levantar-se, pediu perdão, jurando fidelidade ao seu senhor, no que foi imediatamente atendido. Seguiu-se um período de paz.

Em 929, para evitar uma outra guerra, Venceslau aceitou a soberania das pretensões do império germânico sobre a Boêmia, mantendo porém a sua autoridade no território do ducado. Seus adversários na corte, incluindo sua mãe e seu irmão, irados com esta atitude sábia e diplomática, decidiram matá-lo. Em 28 de setembro de 935, Venceslau foi convidado para a festa de batismo do seu sobrinho, filho de Boleslau, e em determinado momento dirigiu-se sozinho à capela para rezar. Draomira sugeriu então ao filho mais novo que este seria o momento apropriado, e Boleslau matou o irmão com uma espada ou um punhal.

Poucos dias depois Draomira morreu tragicamente. Boleslau I, “o Cruel”, assumiu o governo.

 São Venceslau é padroeiro da Boêmia, da Hungria e da Polônia, bem como dos exércitos tchecos, e herói nacional do seu povo.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

No mundo repaganizado de hoje, hipocritamente são criticados com azedume os crimes das gerações passadas, enquanto que, por motivos mesmo mundanamente muito menos significativos que o governo de um ducado, pais e mães matam os filhos, especialmente através do aborto, e filhos matam os pais e se matem entre si, com muito mais frequência. Questões relativas ao uso de drogas são responsáveis por inúmeros assassínios entre familiares… e isto parece incomodar pouco a grande mídia e os responsáveis maiores pela sociedade, nos seus cargos governamentais. Mas os crimes hediondos de Draomira não são maiores do que o das mães abortistas, e Boleslau I assumiu o governo de um território impossível de manter perenemente às custas de perder o governo da própria alma imortal. A insensatez deste novo Caim almejava também a ambição pessoal, que levou o ducado a confrontos e mortes desnecessários, e não ao benefício da população e do país, como a sabedoria diplomática de Venceslau (que incluía o bom senso de compreender a impossibilidade de derrotar, à frente de um ducado, os exércitos de um grande império). Venceslau venceu antes de tudo o duelo pessoal na escolha entre o Bem e o mal, o mais importante, e trocou um ducado terreno e instável pelo Reino, Celeste e infinito; incerto é futuro dos assassinos de todos os tempos, e os responsáveis que os facilitam e/ou permitem agir, pois só podemos pedir, em sincera oração, pelas suas conversões antes da morte.

Oração:

Senhor, Deus da vida, concedei-nos por intercessão de São Venceslau a graça de guerrear contra o mal, pela oração e caridade, e contarmos com a Vossa proteção contra as lançadas das tentações que pretendem governar o território das nossas almas; dignai-Vos igualmente impedir, pela Vossa Misericórdia, a destruição muito possível das nações em conflito, e dos crimes abominavelmente covardes contra os nascituros. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

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A solidão

A solidão (Mood Psi)

A solidão

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RS)

Geralmente, enfatizamos o aspecto negativo da solidão, como canta Alceu Valença: “a solidão é fera, a solidão devora”, personificando-a como uma força avassaladora e feroz que permeia e está presente em tudo, no cosmos, no silêncio e na escuridão da noite, e até nas ruas, onde a vida aparentemente vibrante pode ser substituída pela sensação de vazio. Na solidão, o tempo se alonga e se arrasta, causando um “descompasso no coração”, refletindo a dor emocional e o vazio que acompanham quem a experimenta. 

A solidão pode se manifestar em qualquer lugar. Ela se revela no anonimato das grandes cidades e no distanciamento emocional dos conglomerados urbanos, onde, apesar da proximidade física entre as pessoas, elas amargam o isolamento e a indiferença. Nem mesmo as interações superficiais das redes sociais e as conexões digitais conseguem preencher o vazio existencial. 

Apesar dessa visão sombria, a solidão possui um lado positivo, que pode ser cultivado na introspecção e para o autoconhecimento. Os místicos veem na solidão um caminho para a reconexão com o divino e com o próprio eu. No âmbito filosófico, Nietzsche, em particular, reconhece os desafios da solidão, mas a exalta como uma virtude moral e um antídoto contra o conformismo. Para ele, a solidão torna-se fecunda, funcionando como uma ferramenta de transformação pessoal, autossuficiência e criação. Portanto, a solidão não é um estado de isolamento a ser temido, mas uma condição essencial para a liberdade interior e o florescimento espiritual. 

Segundo Nietzsche, a solidão é fundamental para a autenticidade e a criação de novos valores. Ele critica o modo como a vida em sociedade distrai os indivíduos com suas exigências diárias, impedindo o silêncio necessário para o amadurecimento. Em Aurora (aforisma 177), ele critica os que habitam as grandes cidades e se perdem nos ruídos e nas distrações da vida pública, impedindo a verdadeira produtividade. Somente na solidão, longe das influências externas, os indivíduos podem cultivar suas próprias ideias e alcançar uma profundidade autêntica. 

A solidão, segundo Nietzsche, é uma forma de resistência à massificação. “O homem receoso não sabe o que é estar só; há sempre um inimigo atrás de sua cadeira” (Aurora, aforisma 249). A metáfora do “inimigo” sugere que aqueles que projetam seus medos internos no ambiente ao redor impossibilitam uma verdadeira experiência de solitude. Esse medo impede o indivíduo de enfrentar a si mesmo e de experimentar uma introspecção genuína. A solidão, em vez de ser uma experiência negativa, é uma oportunidade para o crescimento pessoal e a liberdade interior. 

Para os que temem a solidão, ela parece insuportável, pois a ausência de distrações os força a confrontar seus medos. No entanto, é justamente na solidão que o indivíduo se distancia das pressões sociais e pode reconquistar seu eu e produzir novos valores. Segundo Nietzsche, embora traga tédio e desalento, a solidão oferece a oportunidade de acessar a profundidade interior, proporcionando momentos de recolhimento comparáveis a uma “poção tonificante” retirada do próprio íntimo. “Quem se entrincheira totalmente contra o tédio, entrincheira-se também contra si mesmo: nunca lhe será dado beber a mais tonificante poção do seu próprio manancial íntimo” (Humano, Demasiado Humano, aforisma 200). 

A solidão também é uma resposta à alienação que a vida em sociedade pode causar. O homem, quando imerso na multidão, acaba vivendo como os outros, perdendo sua autenticidade. Ao se isolar no “deserto”, ele recupera sua bondade e reencontra sua verdadeira essência, longe das influências superficiais que permeiam a sociedade. “E é por isso que vou para a solidão — para não beber das cisternas que estão dispostas para todos. […]. Tenho então necessidade do deserto para voltar a ser bom” (Aurora, aforisma 491). 

Enfim, a solidão é um meio necessário para a reconexão com o próprio eu, com Deus, e é uma fonte de força criativa. Apenas ao se afastar do barulho da vida cotidiana, o indivíduo pode criar algo novo e significativo, transcendendo as limitações impostas pela massificação social. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa em Bruxelas: que a Igreja se torne serva de todos, sem subjugar ninguém

Papa se reuniu com membros da Igreja belga na Basílica do Sagrado Coração de Koekelberg (Vatican Media)

Francisco definiu a Igreja belga como uma "encruzilhada em movimento", propondo à reflexão três palavras: evangelização, alegria, misericórdia.

Vatican News

Na Basílica do Sagrado Coração de Koekelberg, em Bruxelas, o Papa se reuniu com os Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Consagrados/as, Seminaristas e Agentes de Pastoral.

Francisco definiu a Igreja belga como uma "encruzilhada em movimento", propondo à reflexão três palavras: evangelizaçãoalegriamisericórdia.

Para o Pontífice, a crise da fé que vive o Ocidente impele a regressar ao essencial, isto é, ao Evangelho: "A crise – cada uma delas – é um momento que nos é oferecido para nos sacudir, para nos questionar e para mudar. É uma oportunidade preciosa".

De um cristianismo instalado se passou a um cristianismo “minoritário”, ou seja, um cristianismo de testemunho, em que se exige coragem. "Sejam padres que não se limitam a conservar ou a gerir um patrimônio do passado, mas pastores apaixonados por Jesus Cristo". O Papa ressaltou a importância de percursos comunitários, recordando que na Igreja há lugar para todos e ninguém deve ser uma fotocópia do outro. E o processo sinodal deve ser um regresso ao Evangelho para perguntar-se como fazê-lo chegar a uma sociedade que já não o escuta ou que se afastou da fé.

Para isso, serve a alegria suscitada por Jesus. Em todos os âmbitos, na pregação, na celebração, no serviço e no apostolado devem transparecer a alegria do coração, porque esta suscita interrogações e atrai também aqueles que estão longe. A alegria é o caminho que conduz à felicidade.

Por sua vez, o Evangelho, acolhido e partilhado, recebido e dado, conduz-nos à alegria porque faz descobrir que Deus é o Pai da misericórdia, que se comove conosco, que nos levanta das nossas quedas, que nunca desiste de nos amar.

"Gravemos isto no nosso coração: Deus nunca desiste de nos amar. 'Até mesmo se eu cometi algo de grave?' Deus nunca deixa de te amar." 

É a misericórdia, prosseguiu o Papa, que pode salvar mesmo em casos de abusos, que geram sofrimentos e feridas atrozes, minando até mesmo o caminho da fé.

"E é necessária tanta misericórdia, para não ficar com um coração de pedra diante do sofrimento das vítimas, para as fazer sentir a nossa proximidade e lhes oferecer toda a ajuda possível, para aprender com elas a ser uma Igreja que se torna serva de todos sem subjugar ninguém. Sim, porque uma das raízes da violência é o abuso de poder, quando usamos as nossas funções para esmagar ou manipular os outros."

A misericórdia é a palavra-chave para os prisioneiros, acrescentou. "Jesus mostra-nos que Deus não se afasta das nossas feridas e impurezas. Ele sabe que todos nós podemos errar, mas ninguém é um fracassado. Ninguém está perdido para sempre. (...) Misericórdia, sempre misericórdia."

O quadro do pintor belga Magritte, intitulada “O Ato de Fé”, é a imagem que Francisco deixa à Igreja local, uma Igreja que nunca fecha as portas, que oferece a todos uma abertura para o infinito, que sabe olhar mais além. "Esta é a Igreja que evangeliza, que vive a alegria do Evangelho, que pratica a misericórdia."

Caminhem juntos, concluiu o Papa: "Sem o Espírito, não acontece nada de cristão. É o que nos ensina a Virgem Maria, nossa Mãe". 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

São Vicente de Paulo

São Vicente de Paulo (A12)
27 de setembro
País: França
São Vicente de Paulo

Vicente de Paulo nasceu em 1581, na cidade de Pouy, Landes, no sul da França, e foi batizado no mesmo dia. Foi o terceiro filho de um casal de camponeses muito fervorosos, e sua mãe educou os seis filhos no catolicismo. Já em criança, Vicente ajudava nos trabalhos familiares, principalmente nos cuidados ao rebanho.

O século da sua vida foi conhecido como um apogeu francês, destacando-se o reinado de Luís XIV, o “Rei sol”, cuja magnificência da corte ficou famosa. Mas na verdade a maior parte da realidade francesa era caracterizada por crianças abandonadas, prostituição, pobreza, guerras e revoluções internas, ignorância religiosa nas áreas rurais e lamentável estado de boa parte do clero.

Os pais de Vicente muito se esforçaram para que ele pudesse ter o melhor estudo possível, ao perceberem sua potencialidade, e com a ajuda de um benfeitor, o advogado Comet, ele teve a oportunidade de estudar com os franciscanos, e ao mesmo tempo educar os filhos dele. Aprendeu Humanidades na cidade de Dax, e em 1596, aos 15 anos, foi estudar Teologia em Toulouse, para o que seus pais venderam uma junta de bois. Ordenou-se sacerdote em 1600, e começou a dar aulas particulares para complementar a renda.

Uma senhora, viúva, que gostava das suas pregações e sabendo da sua difícil condição financeira, deixou-lhe em herança uma propriedade e certa quantia de dinheiro, que estavam só os cuidados de um comerciante na cidade de Marselha. Vicente prontificou-se a viajar até lá para receber e doar o valor total aos pobres, e na volta, embarcando de Marselha para Narbonne, seu navio foi capturado por piratas turcos, que o venderam como escravo em Túnis, na Tunísia, África.

Foi revendido a outro homem, que ao morrer o incluiu como herança para um sobrinho fazendeiro. Este era um ex-católico que, por medo da perseguição muçulmana, adotara o islamismo; uma das suas três esposas encantou-se com as músicas que Vicente cantava ao rezar, e pediu-lhe que explicasse o significado do que dizia.

Assim evangelizada, repreendeu o marido por ter abandonado aquela religião… o patrão se arrependeu e voltou à Fé católica. Em 1607, este homem e Vicente foram juntos para a França, escondidos dos muçulmanos, chegando a Paris em 1608. Em Avignon, o vice-legado do Papa concedeu de volta a Vicente as suas credenciais sacerdotais, e seu companheiro entrou para a vida monacal.

Nomeado capelão da rainha Margarida (Margot) de Valois pelo rei Henrique IV, em 1610, assumiu também a função de esmoler, isto é, distribuidor de esmolas, e a assistência espiritual de um hospital. Em 1612 o bispo de Paris o nomeou vigário de Clichy, um bairro na periferia da cidade. Dois anos depois, recebe a função de educar os filhos do casal Gondi, uma das mais influentes famílias francesas, bem como do cuidado espiritual e pastoral dos serviçais da família, sete mil pessoas em inúmeras propriedades em solo francês.

Esta experiência lhe proporcionou constatar, por quatro anos, o abismo material e social, além do espiritual e moral, entre os mais e menos favorecidos. Desenvolveu-se nele assim a base do futuro carisma vicentino no modo de atender às necessidades dos mais pobres.

Em 1617, numa dessas propriedades, em Folleville, constatando a carência espiritual da população quanto à confissão, a própria marquesa de Gondi, sabendo da situação por Vicente, lhe pediu que orientasse os católicos do local para que buscassem o Sacramento da Reconciliação, e não se perdessem as almas. Depois de um famoso sermão, a procura pelo confessionário foi tão grande que se fez necessária a ajuda de outros padres da região. A marquesa também disponibilizou muito dinheiro para que Vicente instituísse uma obra de pregação quinquenal aos camponeses das suas terras.

Muito tocado pelas ocorrências em Folleville, e desejando um auxílio mais próximo junto à população, ele passou a trabalhar como pároco na periferia de Châtillon-le-Dombes, onde uma nova situação aconteceu, sendo também importante para definir os moldes da sua obra futura. Toda uma família encontrava-se doente, sem que pudessem cuidar uns dos outros, e passavam fome e necessidades. Ao saber disso, Vicente pediu, na homilia, ajuda para eles. De modo surpreendente, muitas senhoras providenciaram alimento e companhia à família, e Vicente determinou-se a organizar esta forma de caridade: surgiu a instituição das “Servas dos Pobres”.

Vicente voltou à casa dos Gondi, buscando mais auxílio para os camponeses. Nas suas relações com a nobreza em geral, soube tocar-lhe o coração para o cuidado dos mais pobres. Em seguida, foi para Paris, onde eram muitas as carências, onde repetiu e ampliou a atuação das senhoras de Châtillon-le-Dombes: as Senhoras da Caridade, Damas da Caridade, Confraria das Irmãs da Caridade ou Confraria da Caridade, hoje conhecida internacionalmente como Associação Internacional de Caridades, iniciada em agosto de 1617, foi oficializada em dezembro do mesmo ano, e era formada por senhoras de posse que tinham tempo e recursos disponíveis para atender os menos favorecidos. As confrarias, rapidamente, se espalharam pelo país.

Em 1625 Vicente, também em Paris, fez uma nova fundação, a Congregação da Missão (Padres da Missão), também conhecidos como Padres Lazaristas (o nome vem da sua primeira casa, o Leprosário de São Lázaro), com o auxílio financeiro da família Gondi. Seu carisma é voltado principalmente para a evangelização nas áreas rurais, e fazem o voto obrigatório de apostolado com os pobres, em qualquer lugar; atuam por missões populares, e também cuidam da direção de seminários, pois uma outra grande preocupação de Vicente era a boa formação dos padres, que por isso também criou seminários.

Assim, às terças feiras, pregava para os seminaristas, e recebia sábios e nobres que buscavam conselhos. Sempre que possível, de outubro a junho, todos os anos, Vicente ia pessoalmente pregar nas áreas rurais. Em Paris fomentou ardentemente a prática dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola (nos quais se preparara em anos anteriores), principalmente entre o clero.

Em 1633 Vicente fundou outra congregação feminina, inovadora para a época, que em tempo recorde obteve a aprovação do Bispo de Lyon. As Filhas da Caridade (“Irmãs Vicentinas”), ainda hoje a maior família religiosa feminina da Igreja, não atuam como monjas dedicadas à contemplação monástica, mas “terão por mosteiro as casas dos enfermos, por cela um quarto de aluguel, por capela a igreja das paróquias, por claustro as ruas da cidade ou as salas dos hospitais, por clausura a obediência, por grades o temor de Deus e por véu a santa modéstia”. Este modo de atuação visava cooperar e ampliar os trabalhos das Damas da Caridade, e teve por cofundadora Santa Luísa de Marillac.

São Vicente de Paulo faleceu em Paris, aos 27 de setembro de 1660, com a idade de 79 anos, tendo participado ativa e decisivamente na reforma católica do século XVII na França. Seu corpo, exumado 52 anos depois, foi encontrado incorrupto, e está exposto à visitação na Capela de São Vicente de Paulo, em Paris; o coração está conservado em um relicário na Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Ele é o patrono de todas as Associações católicas de caridade, e também, na França, da Assistência Pública.

 As três fundações de São Vicente inspiraram muitas outras com o seu carisma, de modo a Família Vicentina é o conjunto de congregações, organismos, movimentos, associações, grupos e pessoas que, de forma direta ou indireta, prolongam no tempo a sua obra de dedicação no serviço aos pobres. Está presente nos cinco continentes, com mais de 225 ramos incluindo religiosos e leigos. Os mais conhecidos são, além das três fundações originais, a Sociedade de São Vicente de Paulo (também conhecida por Conferências de São Vicente de Paulo ou Conferências Vicentinas, para leigos, fundada pelo beato Frederico Ozanam em 1833, Paris), a Associação da Medalha Milagrosa, a Juventude Vicentina Mariana e os seculares Lazaristas.

A Família Vicentina cuida dos abandonados, órfãos, idosos, inválidos, doentes, moças em perigo, sendo talvez a instituição católica e cristã, dedicada à caridade pura, de maior extensão geográfica e no tempo, agindo em leprosários, orfanatos, hospitais, escolas, manicômios, asilos, etc.. Os vicentinos possuem um imenso acervo escrito do seu fundador, embora ele não tenha se dedicado ao labor literário; são correspondências (só 400 forma para Santa Luísa de Marillac) e documentos redigidos por ele ou alocuções e conferências suas anotados por outros.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Como deixa evidente a Família Vicentina, dentro da Igreja, todos podem ser caridosos, de inúmeras formas muito concretas, sendo que as pessoas abastadas, sem deixarem de o ser, podem enriquecer também no espírito: a experiência de São Vicente de Paulo evidenciou não apenas a solicitude amorosa de senhoras camponesas como também a sincera preocupação da marquesa Gondi e outras nobres, não apenas com o material, como também pelas necessidades espirituais dos mais desfavorecidos financeiramente: aliás, o primeiro incentivo que ela fez a São Vicente foi para incrementar as confissões, de modo a salvar almas – a mesma e primeira preocupação dele no cuidado com os pobres, a salvação das almas. A Igreja nunca pode ser entendida como um mero veículo de mitigação de carências materiais, mas sim como a legítima anunciadora da Boa Nova da salvação trazida por Jesus, cuja exigência é a conversão das almas para Deus e assim, como consequência e não premissa, externa seus bons frutos também pela caridade material. A caridade bem organizada, como percebeu São Vicente, realiza melhor a sua função, mas é a miséria espiritual que deve ser atendida primeiro, como ele fez atendendo às confissões. Na História da Igreja, o destaque às contribuições femininas mostra, pela primeira vez no correr dos séculos, a verdadeira e correta valorização das mulheres, começando obviamente por Nossa Senhora. A mulher, pela sua própria feminilidade, querida e portanto expressamente criada por Deus, é algo sublime e sem dúvida precisa ser corretamente entendida, algo que desde Eva, e muito claramente nos tempos atuais, o diabo quis desfigurar, exatamente porque sua missão específica constitui a base da santa organização natural que Deus quis para o ser humano: de modo que, tentando primeiramente Eva, por sua influência sobre Adão, e atualmente incentivando uma “igualdade” mentirosa e impossível através de muitos e diversificados meios, o demônio induz ao pensamento de que as mulheres não devem se preocupar em ser mães, esposas, as principais responsáveis pelos lares, mas devem “competir” com os homens em outras atividades, particularmente as laborais – supervalorizando o dinheiro (e a sua “liberdade”) em detrimento da família – e assim obtendo o evidente e facilmente observável caos social presente, com os flagelos do divórcio, das uniões apenas civis e não abençoadas por Deus, da recusa a gerar filhos que chega ao assassinato por meio de abortos. Ora, a célula da sociedade é a família, e a base da família é a esposa; se esta não quer assumir o que a caracteriza como mulher, como mãe, um dom de geração de vida infinita exclusivo, que só é compartilhado com Deus, como ter famílias e portanto sociedades santas e equilibradas? O diabo é muito mais inteligente do que o ser humano, e da mesma forma que agiu com Eva, age e agirá até o final dos tempos: apresentando o mal como um bem, e o Bem como um mal, procurando enganar as pessoas de modo que, além de perderem o Paraíso Terrestre, não cheguem ao Paraíso Celeste… poderia Deus, que é perfeito, criar a mulher, caracterizada particularmente pela maternidade, de modo a que fosse infeliz gerando filhos?? Esta é a vocação natural da mulher, embora Deus as chame também, conforme a Sua sabedoria, para as vocações religiosas; ocorrem ainda exceções de vida nas quais, por circunstâncias diversas, os homens e mulheres nãos se casam sem terem o chamado para a vida consagrada: exceções, não a regra, e muitas vezes não por escolha pessoal, mas devidas a problemas sérios. O católico que não compreende isso, e eventualmente aceita ideias diferentes avassaladoramente despejadas por ideologias contrárias e irreconciliáveis com a Fé, devem se questionar seriamente sobre o seu conhecimento e fidelidade ao ensinamento de Deus e da Sua Doutrina, pois colocam suas almas em imenso risco – e na prática podem já estar agindo de forma herética.

Oração:

Senhor Deus, que na Vossa infinita bondade e sabedoria criastes os homens e as mulheres para viverem na alegria da caridade, concedei-nos por intercessão de São Vicente de Paulo a proteção contra os piratas de alma, para que, sendo Vossos escravos, possamos libertar-nos a nós mesmos dos enganos do pecado e auxiliar os irmãos a fazerem o mesmo, na prática da caridade a todas as suas necessidades; e assim, tendo o coração preservado no relicário das virtudes, tenhamos o corpo e a alma incorruptos no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF