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domingo, 2 de março de 2025

Discípulos do Mestre Jesus

Ser discípulos de Jesus (Milícia da Inaculada)

DISCÍPULOS DO MESTRE JESUS

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

“Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre”. Este ensinamento do Mestre Jesus orienta a liturgia dominical (Eclesiástico 27,5-8; Salmo 91, 1 Coríntios 15,54-58 e Lucas 6,39-45). Para os contemporâneos de Jesus era familiar ver um doutor da Lei ou rabi com um grupo de discípulos ou alunos que o seguiam a uma certa distância. Todo povo de Deus deveria ser discípulo tendo a Torá como Mestre e quem se ocupava em ensiná-la eram os mestres da Lei.  

Quando Jesus inicia as pregações também reuniu ao seu redor discípulos que o seguiam. Porém há significativas diferenças entre Jesus e os outros Mestres da Lei. Normalmente, o discípulo escolhia o mestre, mas é Jesus que escolhe os discípulos dos quais pede um seguimento incondicional. Entre os discípulos, estão dos doze apóstolos escolhidos para estarem com ele e para os enviar. Portanto, os termos discípulo e seguir estão em estreita relação entre si. Sempre significa seguir Jesus e sempre estar próximo dele. 

Quando afirma que o discípulo não é maior do que o mestre, obviamente o Mestre ao qual Jesus alude é ele mesmo e é este modelo altíssimo que o discípulo deve alcançar. O discípulo “bem formado será como o mestre”. Agora, um discípulo que é atento ao mestre e deixa-se formar por ele, torna-se um homem sincero, humilde, justo. Ele não arrogará a si o direito de julgar os outros, mas se humilhará “até a condição de servo” como Cristo para salvar o irmão. 

Jesus como mestre quer formar outros mestres semelhantes a ele para guiarem outras pessoas. Devem ser discípulos-mestre. É uma tarefa delicada ser guia, por isso Jesus elenca algumas atitudes fundamentais do guia. Em primeiro lugar deve ver o Caminho que é o próprio Cristo e já estar caminhando nele. É um caminho iluminado onde os obstáculos ficam visíveis. 

Outra condição fundamental do discípulo-mestre é examinar de forma sincera e humilde a própria vida. Ser ciente das “traves” existentes no olho que impedem de ver os “ciscos” nos olhos dos outros. É o que chamamos exame de consciência, autocrítica. Não se faz necessário que alguém de fora nos acuse, mas diante do Cristo Mestre percebermos como anda a própria vida e fazer as mudanças necessárias que impedem de ser discípulo. 

O discípulo também se dá a conhecer pelas palavras: “é no falar que o homem se revela”; “mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”. Portanto, o discípulo-mestre deve preencher “o tesouro do seu coração” com as palavras de salvação do mestre. 

Estas exigências de Jesus são necessárias para que o discípulo-mestre não se torne um hipócrita. O hipócrita no teatro grego era protagonista, por isso o hipócrita procura ser protagonista colocando-se no centro no lugar do Mestre Jesus. Aparentemente procura agradar a Deus, mas na verdade quer manipular a Deus. É um falsário que tenta agradar a Deus e os seguidores com as aparências, enquanto coração está longe. 

“Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos”. Pode-se questionar com palavras os ensinamentos do Cristo Mestre; porém, assim como cada planta produz os seus frutos, do mesmo modo as ações humanas desnudam o que se passa no “tesouro do coração” de cada discípulo. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa Francisco: na fragilidade aprendemos a confiar ainda mais no Senhor

O Pontífice, através do Angelus deste domingo (02/03), agradeceu a proximidade e oração de todo o Povo de Deus (Vatican Media)

A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou o texto do Angelus deste domingo (02/03) entregue pelo Pontífice, ainda internado no Gemelli de Roma. O Papa agradeceu a proximidade de todos, do cuidado da equipe médica à oração de fiéis do mundo inteiro, e disse se sentir “carregado” por todo o Povo de Deus: "sinto no coração a 'bênção' que se esconde na fragilidade, porque nestes momentos aprendemos ainda mais a confiar no Senhor". O pensamento pela paz: "daqui a guerra parece ainda mais absurda".

Andressa Collet - Vatican News

"Sinto no coração a 'bênção' que se esconde na fragilidade, porque justamente nestes momentos aprendemos ainda mais a confiar no Senhor; ao mesmo tempo, agradeço a Deus porque me dá a oportunidade de compartilhar no corpo e no espírito a condição de tantas pessoas doentes e sofredoras."

A mensagem do Papa Francisco, internado desde 14 de fevereiro no Hospital Gemelli de Roma, chega através da Sala de Imprensa da Santa Sé que divulgou o texto do Angelus escrito pelo Pontífice para este domingo (02/03). "Irmãs e irmãos, envio-lhes esses pensamentos ainda do hospital, de onde, como vocês sabem, estou há vários dias, acompanhado pelos médicos e profissionais de saúde, a quem agradeço pela atenção com que cuidam de mim", continuou ele, ao demonstrar gratidão a partir da equipe médica, mas extensiva ao mundo inteiro:

"Gostaria de agradecer as orações que se elevam ao Senhor do coração de tantos fiéis de muitas partes do mundo: sinto todo o carinho e a proximidade de vocês e, neste momento particular, sinto-me como que 'carregado' e apoiado por todo o Povo de Deus. Obrigado a todos!"

A reflexão do Evangelho 

Ao refletir sobre o Evangelho deste domingo (Lc 6,39-45), o Papa recordou como Jesus usou os sentidos da visão e do paladar para demonstrar a importância das relações com o próximo:

"Com relação à visão, pede para treinar os olhos para observar bem o mundo e julgar o próximo com caridade. Diz o seguinte: 'Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão' (v. 42). Somente com esse olhar de cuidado, não de condenação, a correção fraterna pode ser uma virtude. Porque se não for fraterna, não é uma correção!"

"Com relação ao paladar, Jesus nos lembra que 'toda árvore é reconhecida pelos seus frutos' (v. 44). E os frutos que vêm do homem são, por exemplo, as suas palavras, que amadurecem em seus lábios, de modo que 'sua boca fala do que o coração está cheio' (v. 45). Os frutos ruins são as palavras violentas, falsas, vulgares; aqueles bons são as palavras justas e honestas que dão sabor aos nossos diálogos."

E, então, ponderou o Papa, podemos nos perguntar: "como eu olho as outras pessoas, que são meus irmãos e irmãs? E como me sinto visto por eles? As minhas palavras têm um sabor bom ou estão impregnadas de amargura e de vaidade?".

"Daqui a guerra parece ainda mais absurda"

Ao final do texto do Angelus, Francisco, confiante na intercessão de Maria, novamente disse rezar pela paz ao recordar do mundo ferido pelas guerras, e de dentro de um hospital onde a dimensão pode ganhar novos valores:

"Eu também rezo por vocês. E rezo especialmente pela paz. Daqui a guerra parece ainda mais absurda. Rezemos pela martirizada Ucrânia, pela Palestina, Israel, Líbano, Mianmar, Sudão, Kivu."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 1 de março de 2025

Cinco pontos básicos para entender a Quaresma e como ela é vivida

Quaresma 2024 | Shutterstock/Kara Gebhardt

Cinco pontos básicos para entender a Quaresma e como ela é vivida

Por Redação central

1 de março de 2025

A Quaresma é um período litúrgico de oração e penitência para se preparar para o Tríduo Pascal, que celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo.

São Leão Magno afirma que os dias da Quaresma "nos convidam de forma veemente ao exercício da caridade; se quisermos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos ter um interesse muito especial na aquisição dessa virtude, que contém em si todas as outras e cobre uma infinidade de pecados".

1. As três práticas da Quaresma

A primeira prática da Quaresma é a oração, condição indispensável para o encontro com Deus. Por meio dela, o cristão se comunica com o Senhor, permite que a graça entre em seu coração e, como a Virgem Maria, se abre à ação do Espírito Santo, dando uma resposta livre e generosa (Lc 1,38).

A segunda é a mortificação, que inclui o jejum e a abstinência. Ela deve ser vivida diariamente. Significa oferecer a Cristo os momentos que causam desconforto e aceitar a adversidade com humildade e alegria.

A terceira é a esmola ou, de forma mais ampla, a caridade. São João Paulo II explica que ela está enraizada "nas profundezas do coração humano: cada pessoa sente o desejo de estar em contato com os outros, e ele se realiza plenamente quando é dado livremente aos outros".

2. Jejum e abstinência

O jejum consiste em comer apenas uma refeição completa ao dia, e a abstinência se refere a não comer carne. Ambos os sacrifícios reconhecem a necessidade de realizar trabalhos para o bem da igreja e dos irmãos e em reparação dos pecados.

Nesta prática, as necessidades terrenas também são deixadas de lado a fim de redescobrir a sede de Deus. "Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4).

O jejum é obrigatório dos 18 aos 59 anos de idade, e não proíbe a ingestão de um pouco de alimento pela manhã e à noite.

Além da Quarta-feira de Cinzas e da Sexta-feira Santa, a abstinência deve ser observada todas as sextas-feiras do ano e é obrigatória a partir dos 14 anos de idade.

3. Início e fim da Quaresma

A Quarta-feira de Cinzas indica o início dos 40 dias de preparação para a Páscoa. Nesse dia, o padre abençoa e impõe as cinzas extraídas das palmas abençoadas no Domingo de Ramos do ano anterior.

 As cinzas são um sinal de humildade e lembram o cristão de sua origem e seu fim. Elas são impostas na testa com o sinal da cruz e pronunciando as palavras bíblicas: "Lembre-se de que você é pó e ao pó voltará" ou "Arrependa-se e creia no Evangelho".

A Quaresma termina na noite da Quinta-feira Santa. Nesse dia, a igreja comemora a Última Ceia de que o Senhor participou com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.

4. Duração da Quaresma

A Quaresma dura 40 dias. Esse é um número especial na Bíblia, pois o número quatro simboliza o universo material e, seguido de zeros, faz alusão ao tempo de vida na Terra, com suas provações e dificuldades.

Além disso, os 40 dias lembram os dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública.

5. A cor litúrgica da Quaresma

A cor litúrgica dessa época é o roxo, que significa luto e penitência. É um período de reflexão, conversão espiritual e preparação para o mistério pascal.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/57139/cinco-pontos-basicos-para-entender-a-quaresma-e-como-ela-e-vivida

SÃO TOMÁS DE AQUINO: «O princípio da liberdade de cognição está no sentido» (II)

São Tomás, figura lateral do Políptico Guidalotti (século XV), Fra Angelico, Galeria Nacional da Úmbria, Perugia | 30Giorni

SÃO TOMÁS DE AQUINO

Arquivo 30Giorni n. 03 - 1999

«O princípio da liberdade de cognição está no sentido»

O intelecto sem os sentidos não pode saber nada. Um diálogo com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti, jovens estudiosos de Aquino.

Entrevista com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti por Lorenzo Cappelletti

Isto, pelo menos para o leigo, é verdadeiramente surpreendente… 

CARLANI: Mas Tomás diz isso explicitamente, uma e outra vez, é quase um refrão: «Anima non potest aliquid intelligere nisi convertendo se ad phantasmata» ( Summa theologiae I, q. 89, a. 1, co.): a alma não pode compreender nada a menos que se volte para as “imagens” produzidas pela imaginação. E Tomás, como verdadeiro filósofo, não apenas afirma, mas demonstra a unidade essencial dos sentidos e do intelecto. Como o intelecto não possui um órgão corpóreo, ao contrário dos sentidos – diz ele na Summa [ver caixa] – o entendimento não deve ser impedido por uma lesão orgânica. Mas a experiência nos mostra o oposto: aqueles que sofrem, por exemplo, danos cerebrais são impedidos ou pelo menos limitados em sua atividade intelectual, tanto na aquisição de novos conhecimentos quanto na utilização dos conhecimentos que já possuem. Sempre e em qualquer caso, para passar ao ato, o intelecto necessita da ação de alguma faculdade que faça uso de um órgão corpóreo. Isso, como mencionado, também se aplica ao conhecimento já adquirido. Estes também, para serem ativos novamente, precisam dos sentidos, da imaginação e das outras forças pertencentes à parte sensível para agir. Mas isso não é tudo: Thomas traz uma segunda evidência, extraída da experiência comum. Quando queremos entender ou fazer alguém entender alguma coisa – diz ele – propomos exemplos, nos quais quase se consegue ver o que estamos tentando entender. Em suma, nosso pensamento como humanos está sempre ligado a um certo sentimento. Claro que o inverso também é verdadeiro: quando vemos algo, simultaneamente pensamos nisso; nosso sentimento é, no entanto, permeado pelo pensamento. Tomás não poderia ser mais claro sobre isto: a rigor – diz ele – não são os sentidos e o intelecto que conhecem, mas o homem através de ambos: «Non enim, proprie loquendo, sensus aut intellectus cognoscunt, sed homo per utrumque» ( Quaestiones disputatae de veritate q. 2, a. 6, ad 3). Aquele que conhece é o homem em sua unidade e cada um de seus atos de conhecimento é unitário, é um ato tanto sensível quanto intelectual. Nosso conhecimento é o sintoma mais evidente em nós de uma unidade psicossomática muito forte. 

A demonstração anterior parece-me particularmente interessante. Muito oportuno, aliás, também em relação ao debate em andamento sobre transplantes de órgãos. Se entendi corretamente, os sentidos, a imaginação devem ser sempre estimulados de alguma forma, para que algo que já tenha sido compreendido no passado seja realmente compreendido. O fato de o princípio do conhecimento estar nos sentidos significa que os sentidos já entendem de uma certa maneira?

PIETROSANTI: Aristóteles, no segundo livro do De anima , já havia destacado no tato – mas isso se aplica a todos os sentidos – aquela estrutura que ele chama de mediocridade discriminativa (mesóthw), isto é, uma capacidade de julgamento. Uma expressão que pode parecer estranha, mas que na prática significa que os sentidos, e cada sentido individualmente, são uma espécie de sistema — ou subsistema, se quisermos inseri-los no organismo complexo que é o homem — capaz de se reajustar, de se redimensionar, de se reajustar entre seus extremos físicos, um mínimo e um máximo de percepção dentro dos quais pode oscilar: aquele mínimo e aquele máximo que é capaz de perceber em seu sensível (por exemplo, no campo de visão percebemos dentro de certos comprimentos de onda, mas não vemos infravermelho ou ultravioleta). É um tipo de julgamento que valoriza todas as experiências passadas (ele reajusta), mas é capaz de refazer o conhecimento, de reajustá-lo e, naturalmente, também de perdê-lo, ou seja, de recomeçar todas as vezes. O passo seguinte que Tomás dá é ligar a essa dinâmica do conhecimento sensível – que Tomás chamou de immutatio spiritualis (não porque fosse espiritual no sentido estrito, mas porque, não conhecendo o sistema nervoso, os medievais chamavam os neurônios de espíritos corpóreos ) – a dinâmica da participação ontológica da dependência em um ser ligado à matéria como o homem. Em outras palavras, o homem, ser finito e espírito encarnado, necessita de conhecimento sensível para realizar sua abertura ao infinito. Tomás não poderia ser mais explícito quando afirma, em seu comentário ao segundo livro do De anima de Aristóteles (lect. 13, 191-211), que no homem a sensibilidade, em seu auge, participa da capacidade intelectual. Isso é alcançado no mais excelente dos sentidos, o chamado vis cogitativo , que, em última análise, nos permite aplicar também os conceitos e julgamentos do intelecto às realidades materiais individuais.

Muito mais do que se atribui ao conhecimento sensorial, mesmo na tradição escolástica e tomista. 

CARLANI: É isso mesmo. No auge da sensibilidade, como diz Pietrosanti, Tomás coloca uma faculdade ainda sensível, a vis cogitativa . Esta é uma descoberta dos filósofos árabes, que no pensamento de Tomás se torna absolutamente fundamental porque é o lugar onde a unidade dos dois momentos, sensível e intelectual, do conhecimento (que lhe é tão caro), se realiza operacionalmente. Tomás (cf. comentário sobre De anima II, lect. 13) atribui à cogitativa a apreensão não só e não tanto dos aspectos tradicionalmente chamados sensíveis (cores, sons, superfícies figurativas, etc.), mas das realidades corporais individuais em sua totalidade; em suma, de alguma forma de substâncias materiais únicas (este lobo, este homem, etc.). Além disso, Thomas chega a argumentar que o cogitativo tem algum conhecimento, se não do universal (propriamente reservado ao intelecto), pelo menos do geral, uma vez que apreende os indivíduos como existindo sob uma natureza comum, isto é, como pertencentes a uma determinada espécie. É difícil encontrar tamanha valorização do conhecimento sensorial em outro lugar.

O fato é que cada homem é uma realidade material individual, que tem a ver com realidades materiais individuais: se o conhecimento não pudesse de alguma forma referir-se a elas, não seria conhecimento humano. Além disso, não teria utilidade alguma. Enquanto o intelecto dos anjos conhece as substâncias inteligíveis diretamente (e somente através dessas substâncias materiais), o objeto próprio do intelecto humano – diz Santo Tomás – são as essências que existem na matéria corpórea («quidditas sive natura in materia corporali existens»); que, portanto, como tais, não podem ser conhecidos de forma verdadeira e completa a menos que sejam apreendidos neste ou naquele material singular. Mas aprendemos sobre materiais singulares através dos sentidos. Então…

PIETROSANTI: …Então para o homem tudo começa com coisas individuais com vistas a coisas individuais. Uma passagem da Summa Theologiae de São Tomás 

É impossível para o nosso intelecto compreender algo em ação, a menos que se volte para as “imagens” produzidas pela imaginação. «

É impossível para o nosso intelecto, no estado em que se encontra nesta vida presente, isto é, unido a um corpo corruptível, compreender qualquer coisa em ato, a não ser recorrendo às "imagens" produzidas pela imaginação. Isto deve ser reconhecido por duas razões. Primeiro, uma vez que o intelecto é uma faculdade que não opera através de um órgão corpóreo próprio, ele não seria de forma alguma impedido em seu ato pela lesão de algum órgão corpóreo se esse ato não envolvesse o ato de alguma outra faculdade que opera através de um órgão corpóreo. Entretanto, os sentidos, a imaginação e outras faculdades pertencentes à esfera sensível operam por meio de órgãos corporais. Fica claro, portanto, que para que o intelecto possa realmente compreender, não apenas quando adquire novos conhecimentos, mas também quando faz uso de conhecimentos já possuídos, é necessário o ato da imaginação e das outras faculdades sensíveis. Vemos, de fato, que se o ato da faculdade imaginativa é impedido por uma lesão de seu órgão (como acontece nos "frenéticos") ou, similarmente, se o ato da faculdade de memória é impedido (como nos "letárgicos"), o homem não pode realmente compreender nem mesmo aquilo que ele sabia anteriormente. Em segundo lugar, qualquer um pode experimentar por si mesmo que, quando tentamos entender algo, formamos para nós mesmos algumas “imagens” exemplares nas quais, de alguma forma, vemos o que estamos tentando entender. Esta é também a razão pela qual quando queremos fazer com que outra pessoa entenda algo, damos-lhe exemplos a partir dos quais ela pode formar as suas próprias “imagens” e assim compreender. A razão para isso é que a capacidade cognitiva é proporcional ao cognoscível. Portanto, o objeto próprio do intelecto angélico, que é totalmente separado do corpo, são as substâncias inteligíveis separadas dos corpos; e através desses inteligíveis ele também conhece coisas materiais. O objeto próprio do intelecto humano, que está unido a um corpo, são, em vez disso, as “quididades” ou naturezas existentes na matéria corpórea; e através dessas naturezas das coisas visíveis ele também alcança um certo conhecimento das coisas invisíveis. Agora, é próprio desse tipo de natureza existir em realidades corpóreas individuais, assim como é próprio da natureza da pedra existir nesta pedra, e é próprio da natureza do cavalo existir neste cavalo, e assim por diante com outros do mesmo tipo, de modo que a natureza da pedra ou de qualquer outra coisa material não pode ser conhecida completa e verdadeiramente, exceto na medida em que é apreendida como existindo em uma realidade individual. Mas apreendemos realidades individuais através dos sentidos e da imaginação. Portanto, para que o intelecto possa realmente compreender seu objeto próprio, é necessário que ele se volte para as "imagens" produzidas pela imaginação para apreender as naturezas universais em sua existência individual. Se, por outro lado, o objeto próprio do nosso intelecto fossem formas separadas, ou se as naturezas das coisas sensíveis, como acreditam os platônicos, subsistissem independentemente dos indivíduos, não seria necessário que o próprio intelecto se voltasse para as "imagens" produzidas pela imaginação toda vez que compreendesse.

Suma Teológica I, q.84, a. 7, co.)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Bendita Maria

Imaculada Maria de Deus (Vatican News)

BENDITA MARIA

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Maria de Nazaré, Mãe de Jesus,  representa uma revolução silenciosa e profunda na história das mulheres. Vivendo em uma sociedade onde o poder masculino era absoluto e as obrigações femininas impostas com rigor, Maria se manifesta como um símbolo de autonomia e liberdade. Sua força não está na oposição direta, mas na unidade interior que a faz profetisa da igualdade e dignidade entre homens e mulheres.  

Num contexto machista, onde o amor erótico era reduzido ao satisfazer os homens, Maria opta por um amor maior: o ágape, uma entrega total a Deus. Ela desafia não apenas as normas do seu tempo, mas o julgamento masculino que condenava mulheres ao apedrejamento. Seu “sim” ao anjo Gabriel não é ingênuo, mas um ato de coragem. Ela conhece os riscos caso seu noivo não a acolhesse com seu filho, e mesmo assim, confia plenamente no projeto divino.  Sua liberdade não se opõe à condição de serva do Senhor, mas a fortalece. Maria é a mulher que arrisca tudo pelo chamado de Deus. 

Este vínculo de Maria com Deus não se limita ao espiritual; abrange todo o seu ser e agir. Ela não está confinada a uma dimensão meramente religiosa, mas integra todas as dimensões de sua vida para realizar a vontade do Pai. Ela realiza de modo extraordinário e eficaz os valores humanos e femininos de sua condição, e exorta cada mulher e cada homem a entrar nesse caminho. Seu itinerário é universal: homens e mulheres são chamados a um propósito maior, encontrando sentido na entrega livre e generosa ao Criador.  

Na Mãe de Jesus, encontramos não apenas um modelo feminino, mas um modelo humano. Suas virtudes – fé, abertura, humildade, caridade e disponibilidade – têm valor atemporal. Sua grandeza está na extraordinária simplicidade do cotidiano. Mesmo vivendo sob regras patriarcais, ela é livre para abraçar a maior novidade da história: gerar o Cristo ao mundo. Longe de ser submissa. Maria é uma mulher de decisão. Como noiva prometida, não teme acolher um projeto maior do que o seu e de seu noivo. Acusada e mal interpretada, não hesitou em correr o risco de ser rejeitada e apedrejada. Seu sim é um ato de liberdade, um encontro entre a vontade divina e a coragem de uma jovem de Nazaré.   

A presença de Maria na história da salvação evidencia que o plano divino envolve igualmente homens e mulheres. Maria é o testemunho feminino por excelência, o ícone da Igreja. Desde o início, coopera com os discípulos, assumindo papel essencial no cristianismo nascente. Sua presença é ativa, fecunda e indispensável. Na Mãe de Deus, a mulher é valorizada em sua essência, não como figura secundária, mas como participante fundamental na história da redenção.   

Maria nos recorda que a verdadeira força feminina não está na oposição, mas na plenitude de sua identidade, na coragem de dizer sim ao que é maior que ela mesma, na liberdade que encontra no amor a Deus e ao próximo. Seu testemunho é um chamado para que todos, homens e mulheres, vivam em plenitude e liberdade diante do Criador. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Ramadã: tempo de oração e reconciliação pelo bem da criação

A preparação do Ramadã na Tunísia  (ANSA)

O mês sagrado para o Islã, que prevê jejum, orações e atos de caridade, começa neste sábado, 1º de março. Mustafa Cenap Aydin, sociólogo das religiões, diretor do Instituto Tevere - Centro para o Diálogo: a coincidência deste ano com a Quaresma, que começa em 5 de março, é um abraço entre os filhos de Abraão que caminham juntos.

Francesca Sabatinelli - Vatican News

O Ramadã e a Quaresma são um período, para muçulmanos e cristãos, de profunda reflexão sobre temas comuns. Para ambos, é um período de jejum e contemplação, no qual os fiéis são chamados a refletir sobre sua existência, sua relação com a criação e o Criador.

O muçulmano Mustafa Cenap Aydin, sociólogo das religiões e diretor do Instituto Tevere - Centro para o Diálogo, fala - em conversa com a mídia do Vaticano - sobre o significado do mês sagrado para os muçulmanos, que começa neste sábado, primeiro de março, e que, neste ano de 2025, precede em apenas cinco dias a Quaresma cristã, que começará em 5 de março. Essa coincidência, explica ele, ”eu diria que é um abraço entre dois irmãos, entre os filhos de Abraão, que estão caminhando juntos por motivos diferentes. Um exemplo muito concreto é o documento de Abu Dhabi sobre a fraternidade humana assinado pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb. Esse período pode ajudar muito os muçulmanos e os cristãos a entender melhor as questões fundamentais sobre a vida. Deve-se observar também que as coincidências deste ano não terminam aí: a Páscoa católica coincide com a Páscoa ortodoxa, em 20 de abril, e de 12 a 20 de abril celebramos o Pesah, a Páscoa judaica. Este ano teremos muitas oportunidades de colaboração inter-religiosa, também na vida espiritual”.

Ramadã e Quaresma

Esse período, para cristãos e muçulmanos, também será caracterizado pelo jejum, que não deve ser lido apenas como uma disciplina alimentar, mas sim como um período muito importante para entender melhor o que é espiritualidade. “Os muçulmanos”, ressalta Cenap Aydin, "desde a primeira noite do Ramadã recitarão orações específicas, haverá momentos dedicados à reflexão, por exemplo, sobre o significado do texto sagrado, no qual também serão repetidos os muitos e belos nomes de Deus". Na próxima quarta-feira, 5 de março, será a Quarta-feira de Cinzas para os cristãos, o início da jornada de 40 dias rumo à Páscoa. Eis que esses passos, 30 do Ramadã e 40 da Quaresma, serão passos que, para muçulmanos e cristãos, marcarão uma oportunidade de renascimento, uma oportunidade de compreender verdadeiramente quem somos e que compromisso podemos oferecer ao nosso próximo”.

Os 60 anos da Nostra Aetate

A declaração conciliar Nostra aetate, para a qual os pensamentos do sociólogo se voltam este ano, por ocasião do aniversário de 60 anos de sua promulgação por Paulo VI, em 28 de outubro de 1965, explica que os muçulmanos “também têm estima pela vida moral e adoram a Deus, especialmente por meio da oração, da esmola e do jejum”. “Certamente este período do Ramadã é significativo não apenas pelo jejum, mas também por mostrar mais disponibilidade em relação ao próximo, por ser muito mais caridoso. Uma disponibilidade que, em outro sentido, pode ser chamada de oração. Falamos, portanto, da oração oral, entendida como uma invocação para pedir ao Senhor a sua intervenção para o bem, e falamos da oração que se torna um ato concreto, ou seja, a vontade de construir juntos pela paz, para reparar o que está errado, um conflito, sabendo muito bem que a paz e a reconciliação, pelas quais devemos ser ativistas, nunca poderão ser alcançadas sem a vontade de Deus e, portanto, pedindo a sua ajuda com a oração”.

Oração pelo Papa Francisco

Uma invocação especial neste momento sagrado será então para o Santo Padre, conclui Mustafa Cenap Aydin. “Tentaremos, dessa forma, estar próximos a ele, que é um homem de oração, que a vive em todos os momentos de sua vida. É por isso que, como muçulmanos, mesmo durante o mês do Ramadã, estaremos muito próximos a ele, com nossas orações”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Como ser pobre de espírito e rico neste mundo

PeopleImages.com - Yuri A | Shutterstock

Philip Kosloski - publicado em 27/02/25

Não há nada inerentemente errado em ser rico, embora isso venha com maior responsabilidade; Mas, ao mesmo tempo, será mais difícil ser pobre de espírito.

Não é pecaminoso ter uma conta bancária volumosa, onde você não se preocupa em pagar a próxima conta e tem dinheiro sobrando. No entanto, ser rico vem com maior responsabilidade, pois Deus o responsabilizará sobre como você usou seu dinheiro para o benefício dos outros. É melhor ser pobre de espírito. 

Pobres de espírito 

São Francisco de Sales escreve sobre esse tema em sua Introdução à Vida Devota. Ele explica que devemos reconhecer que nosso dinheiro e posses não são verdadeiramente nossos: 

"Minha filha, nossas posses não são nossas; Deus nos deu para cultivar, para tornar frutíferos e proveitosos em Seu serviço, e assim vamos agradá-Lo. E isso devemos fazer com mais zelo do que os homens mundanos, pois eles guardam cuidadosamente suas propriedades por amor próprio, e devemos trabalhar por amor a Deus”. 

Uma maneira de evitar ser muito ganancioso com nosso dinheiro é doá-lo constantemente: 

"Para isso, ele sempre tem uma parte de seus meios, dando-os de coração aos pobres; você se empobrece com tudo o que dá. É verdade que Deus o devolverá a você, não apenas no outro mundo, mas neste, pois nada traz tanta prosperidade temporal quanto a esmola gratuita, mas enquanto isso você é visivelmente mais pobre pelo que dá. Verdadeiramente é uma pobreza santa e rica que resulta da esmola". 

Amando os pobres 

São Francisco de Sales também explica a importância de simplesmente amar os pobres, o que nos ajudará a permanecer pobres de espírito: 

"Amai os pobres e a pobreza, este amor tornar-vos-á verdadeiramente pobres, porque, como diz a Sagrada Escritura, nos tornamos semelhantes àquilo que amamos. O amor torna os amantes iguais. ‘Quem é fraco e eu não sou fraco?’, diz São Paulo. Ele poderia ter dito: 'Quem é pobre e eu não sou pobre?' porque foi o amor que o tornou como aqueles que amava; e assim, se você ama os pobres, você realmente compartilhará sua pobreza e será pobre como eles”. 

Se não buscarmos os pobres e apenas desejarmos acumular uma grande quantia de dinheiro para nós mesmos, Deus será muito mais duro conosco no dia do julgamento. 

Quando Deus nos dá muitos dons, ele faz para que sejamos generosos com eles, não os guardando para nós mesmos, mas dando-os aos outros.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/02/27/como-ser-pobre-de-espirito-e-rico-neste-mundo

SÃO TOMÁS DE AQUINO: «O princípio da liberdade de cognição está no sentido» (I)

O Triunfo de São Tomás de Aquino (final do século XV), detalhe, Filippino Lippi, igreja de Santa Maria sopra Minerva, Roma | 30Giorni

SÃO TOMÁS DE AQUINO

Arquivo 30Giorni n. 03 - 1999

«O princípio da liberdade de cognição está no sentido»

O intelecto sem os sentidos não pode saber nada. Um diálogo com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti, jovens estudiosos de Aquino.

Entrevista com Paolo Carlani e Romano Pietrosanti por Lorenzo Cappelletti

Eles não ousam se chamar tomistas, mas sim realistas. Eles não fazem parte de grupos que os obrigam a defender uma escola em detrimento de outra antes mesmo de estudar, ou seja, antes de terem tempo de se apaixonar. Romano Pietrosanti e Paolo Carlani são dois jovens estudiosos, isto é, apaixonados por São Tomás, que estudam não como curiosos, disputares sillabarum , como dizia São Bernardo, ou seja, para fazer minúcias. Dois homens novos , como Bernard e Thomas foram em seu tempo. Não dois monstros sagrados. Melhor assim, em vez de nos assustar, eles nos deixarão mais tranquilos. E tornarão mais fácil e familiar, como deve ser, o retorno aos clássicos (quem mais do que São Tomás?) esperado pelo Cardeal Schönborn (ver 30Giorni n. 2, fevereiro de 1999, pp. 56-61) como antídoto à confusão teológica atual.

Seus primeiros trabalhos apareceram recentemente nas livrarias. A alma humana nos textos de Santo Tomás. Participação, Espiritualidade, Imortalidade , publicada em 1996 pela Edizioni Studio Domenicano, é a tese de doutorado de Romano Pietrosanti que valoriza, publicando pela primeira vez em tradução italiana, um texto pouco conhecido de Tomás de Aquino: a Quaestio de anima . Em 1998, Paolo Carlani publicou o primeiro volume do Tratado sobre a Filosofia do Conhecimento , publicado pela Edizioni Romane di Cultura. O Tratado foi adotado desde o ano passado como um livro-texto de epistemologia na Pontifícia Universidade Lateranense.

Em ambos os seus livros é destacado como para São Tomás o ato fundamental do conhecimento e da vida psíquica é a percepção sensível. Embora os estudiosos possam não se surpreender com o chamado realismo tomista, os leigos se surpreendem que toda a filosofia de um gênio metafísico como São Tomás comece com o toque e a visão. 

PAOLO CARLANI: Não há dúvida de que a perspectiva de Tomás (e de Aristóteles antes dele) é precisamente a de partir da experiência comum, ou melhor, dos dados simples presentes aos sentidos. Todo conhecimento começa com os sentidos: «Principium igitur cuiuslibet nostrae cognitionis est in sensu» ( In Boethii de Trinitate q. 6, a. 2, co.). Afirmação traduzida em poesia num terceto da Divina Comédia , onde Beatriz assim se dirige a Dante: «Falar assim convém à tua mente, / porque só do sensível [do sensível] aprende / o que depois torna digno do intelecto» ( Paraíso IV, 40-42). 

ROMANO PIETROSANTI: Mesmo o conhecimento mais elevado e espiritual começa com alguma experiência sensível. A própria fé. O homem como tal é um espírito encarnado, ele vive, em relação a si mesmo e ao mundo, numa dimensão sensível: isso só pode ser questionado por um pensamento exageradamente representacionista, idealista em sentido geral; um pensamento que, partindo não da percepção do outro, mas de sua própria representação, tem um diafragma em relação ao mundo e em relação a si mesmo como outro que não ele mesmo, isto é, como corpóreo. Claro, também se pode discutir o retorno do intelecto àquilo por meio do qual ele conhece (representações sensíveis, intelectuais, etc.). Mas o problema é quando os meios de conhecimento são confundidos com o objeto do conhecimento. O homem conhece seu próprio intelecto por meio de suas ações. "Ninguém percebe que compreende, a não ser porque compreende alguma coisa" ( Quaestiones disputatae de veritate q. 10, a. 8, co.). 

Portanto, o conhecimento intelectual não é tão evidente no homem. 

CARLANI: É o conhecimento dos sentidos ou sensível (prefiro “sensível”, apesar da ambiguidade, a “sensitivo”, adjetivo que Tomás reserva para o objeto da apreensão) que imediatamente nos é dado conhecer, o que nos é mais evidente: «Apprehensio sensitiva magis est homini in manifesto» ( Summa theologiae II-II, q. 123, a. 8, ad 3). É o conhecimento intelectual que é problemático, no sentido de que deve ser identificado e destacado em suas características específicas, distinguindo-o do conhecimento sensível.

PIETROSANTI: Paradoxalmente, um espírito incorpóreo aprende o intelecto humano com mais facilidade e segurança do que o homem. O diabo conhece a natureza do pensamento humano melhor do que o homem, diz Tomás (cf. Quaestiones disputatae de malo q. 16, a. 8, ad 7).

Os sentidos são o ponto de partida do nosso conhecimento, concordamos. Mas parece que isso acontece por meio da coleta passiva de dados nos quais somente o intelecto é "digno", para usar as palavras de Dante, de trabalhar. 

PIETROSANTI: Não, Santo Tomás diz que os sentidos são como participações incompletas do intelecto (cf. Summa Theologiae I, q. 77, a. 7, co.). O conhecimento sensorial não é qualquer atividade biológica, ele tem todas as características de relações participativas, que são unidirecionais e irreversíveis. Isso o aproxima de outros fenômenos unidirecionais, de todas as relações causais, por exemplo, como geração ou produção, até mesmo da criação, ou do fluxo banal, porém dramático, do tempo: sua irreversibilidade é um mistério do ponto de vista físico. Enquanto a maioria dos processos físicos são reversíveis (por exemplo, aqueles governados pelo princípio de ação e reação) e, portanto, indiferentes ao tempo, o conhecimento sensível já conhece coisas individuais localizadas no espaço e no tempo ("hoc aliquid hic et nunc", diz Thomas). Além disso, dentro de limites físicos bem definidos, cada órgão sensorial é capaz de perceber infinitas variações de seu objeto. O olho percebe infinitas tonalidades de cor e o ouvido percebe infinitas tonalidades de som, e assim por diante. É isso que Thomas chama de "secundum quid" infinito do conhecimento sensível. Em suma, os sentidos também são “capazes” de uma certa infinidade. 

Onde então reside a superioridade do conhecimento intelectual sobre o conhecimento sensível?

PIETROSANTI: É uma hierarquia de mérito, não de honra. Deixe-me explicar. É observando suas operações que podemos dizer que o intelecto supera o conhecimento sensível, que se exerce por meio de órgãos físicos e é necessariamente limitado por estes órgãos. Por não estar vinculado a um órgão específico e, portanto, em virtude de sua espiritualidade, o conhecimento intelectual, comparado ao conhecimento sensitivo, é capaz de conhecer todos os corpos e, portanto, uma infinidade maior, por assim dizer. Mas é preciso ter em mente que o intelecto realiza essas operações a partir da sensibilidade, porque em todo caso a alma intelectual é feita para o corpo, ela é o princípio formal daquele ser único que entende e julga que é o homem. "Hic homo intelligit", repete Thomas frequentemente, isto é, é este homem aqui, esta única pessoa que entende. A forma substancial do homem é una e única: a única alma intelectual própria de cada homem. Uma tese que, mesmo após sua morte, provocaria a ira do conservador Arcebispo de Canterbury sobre Thomas. Foi muito inovador. E pensar que ainda há quem use Tomás como porta-estandarte de programas filosófico-teológicos de cunho restaurativo.

CARLANI: Não que o intelecto não “acrescente” nada; caso contrário, não haveria necessidade de reconhecer sua existência como distinta daquela do significado. Certamente significa mais e mais profundamente. Mas – e aqui reside um dos aspectos peculiares e, na minha opinião, fundamentais da filosofia do conhecimento de Tomás – o intelecto sozinho, isto é, sem sensibilidade, não faz, nem pode fazer, nada.

Suma Teológica I, q.84, a. 7, co.)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Francisco: que a liturgia seja sem ostentações e sem ignorar alegrias e sofrimentos do povo de Deus

O Papa durante uma celebração na Basílica de São Pedro (foto de arquivo)  (ANSA)

Em uma mensagem enviada do Hospital Gemelli de Roma, o Papa se dirige aos participantes da segunda edição do “Curso Internacional de Formação para Responsáveis das Celebrações Litúrgicas do Bispo”, realizado na capital italiana, de 24 a 28 de fevereiro, no Pontifício Santo Anselmo, e os exorta a “propor e encorajar um estilo litúrgico que expresse o seguimento de Jesus, evitando ostentações ou protagonismos inúteis”.

Tiziana Campisi - Vatican News

A liturgia “deve ser sempre encarnada, inculturada”, pois expressa “a fé da Igreja”, “toca a vida do povo de Deus e lhe revela a sua verdadeira natureza espiritual”. Do Hospital Gemelli de Roma, onde está internado desde 14 de fevereiro e continua a realizar as suas atividades, Francisco se dirige em uma mensagem aos participantes do Curso Internacional de Formação para Responsáveis das Celebrações Litúrgicas do Bispo, realizado na capital italiana de 24 a 28 de fevereiro, no Pontifício Sant'Anselmo.

O Pontífice exorta a não ignorar “as alegrias e os sofrimentos, os sonhos e as preocupações do povo de Deus”, porque “possuem um valor hermenêutico”, e a “propor e encorajar um estilo litúrgico que expresse o seguimento de Jesus, evitando ostentações ou protagonismos inúteis”. “Convido vocês a exercer o ministério com discrição, sem se vangloriar dos resultados do seu serviço”, escreve o Papa, que também incentiva a "transmitir essas atitudes aos ministrantes, aos leitores e aos cantores’.

Acompanhar os fiéis no evento sacramental

O Pontífice enfatiza que “toda diocese olha para o bispo e para a catedral como modelos celebrativos a serem imitados” e que o responsável pelas celebrações litúrgicas “é um mestre colocado a serviço da oração da comunidade” e, portanto, “enquanto ensina humildemente a arte da liturgia, deve guiar” os celebrantes, “marcando o ritmo ritual e acompanhando os fiéis no evento sacramental”. É sua tarefa preparar “cada celebração com sabedoria, para o bem da assembleia”; deve garantir que “os princípios teológicos expressos nos livros litúrgicos” se tornem “práxis celebrativa”; acompanhar e apoiar “o bispo em seu papel de promotor e guardião da vida litúrgica”, de modo que o pastor possa “conduzir gentilmente toda a comunidade diocesana na oferta de si mesmo ao Pai, à imitação de Cristo”.

Na liturgia, o encontro com o Senhor

“O cuidado com a liturgia é, antes de tudo, o cuidado com a oração”, enfatiza Francisco, acrescentando que isso significa cuidar do "encontro com o Senhor". Há uma “grande mestra da vida espiritual” que pode servir de exemplo, Santa Teresa d'Ávila, proclamada Doutora da Igreja por Paulo VI, que observou a “sabedoria das coisas divinas e das coisas humanas”. E “preparar e orientar as celebrações litúrgicas significa” precisamente conjugar “sabedoria divina e sabedoria humana”: “a primeira se adquire rezando, meditando, contemplando”, explica o Papa, “a segunda vem do estudo, do empenho em aprofundar, da capacidade de escutar”.

Ter sempre o povo de Deus no coração

Para realizar “essas tarefas”, o conselho de Francisco é “manter o olhar fixo no povo” - que tem o bispo como “pastor e pai” - e isso para entender “as necessidades dos fiéis, bem como as formas e modalidades para favorecer sua participação na ação litúrgica”. Por fim, o Papa espera que aqueles que cuidam da liturgia “tenham sempre no coração o povo de Deus” e o acompanhem “no culto com sabedoria e amor”, e conclui a mensagem pedindo mais uma vez que rezem por ele.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Jubileu da Espiritualidade Mariana, a imagem de Nossa Senhora de Fátima em Roma

A imagem original de Nossa Senhora de Fátima estará na Praça São Pedro para o Jubileu da Espiritualidade Mariana nos dias 11 e 12 de outubro | Vatican News.

O Dicastério para a Evangelização anuncia que, por ocasião da missa na Praça São Pedro, no domingo 12 de outubro, a famosa imagem da Virgem estará presente entre os fiéis participantes, enriquecendo o momento de oração.

Vatican News

Em vista do Jubileu da Espiritualidade Mariana, previsto para 11 e 12 de outubro de 2025, a imagem original de Nossa Senhora de Fátima estará em Roma. A famosa imagem da Virgem, conhecida pelos fiéis do mundo inteiro e símbolo da “Esperança que não decepciona”, estará presente entre os fiéis participantes da Santa Missa na Praça São Pedro no domingo, 12 de outubro de 2025, às 10h30 locais, enriquecendo ainda mais este momento de oração e reflexão. A entrada na Praça São Pedro, para a celebração eucarística, é gratuita e não é necessário ingresso. As inscrições para participar desse evento jubilar já estão abertas no site do Jubileu e serão encerradas em 10 de agosto de 2025.

Em Roma pela quarta vez

Esta é a quarta vez que a imagem sai do Santuário de Fátima para vir a Roma: a primeira foi em 1984, por ocasião do Jubileu Extraordinário da Redenção, quando em 25 de março São João Paulo II consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria; a segunda vez foi no Grande Jubileu do Ano 2000 e a terceira, em outubro de 2013, por ocasião do Ano da Fé com o Papa Francisco.

A mais carinhosa das mães

"A presença da amada imagem original de Nossa Senhora de Fátima permitirá a todos viver a proximidade da Virgem Maria", enfatizou o pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, dom Rino Fisichella. "É um dos ícones marianos mais significativos para os cristãos de todo o mundo que, como o Santo Padre enfatiza na Bula de Proclamação do Jubileu Spes non confundit, a veneram como a 'mais afetuosa das mães, que nunca abandona seus filhos'. Em Fátima, de fato, a Virgem disse aos três pastorzinhos o que ela continua assegurando a cada um de nós: 'Eu nunca o abandonarei. O meu Imaculado Coração será seu refúgio e o caminho que o levará a Deus'."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF